Ana Faz quase duas horas que estou no hospital, sentada na recepção aguardando notícias do homem que me salvou.Liguei para Lili assim que cheguei aqui, a pobrezinha estava desesperada atrás de notícias minha, afinal desapareci o dia todo. Conto a ela parte do que aconteceu e como boa amiga que é, sem pensar duas vezes disse que está a caminho. Não tenho muitos amigos, e Lili é mais que especial.Os médicos me chamam para dar notícias do homem internado, estou angustiada por informações dele. - Senhorita, Ana Meireles.Me levanto para falar com o doutor.- Sim, sou eu.Ele analisa a prancheta em suas mãos e se vira para mim novamente.- Bom, o homem que a polícia trouxe, não tem nome, nem endereço... Não conseguimos nenhum contato de familiar pra avisar sobre a briga. O quadro dele é estável. Fizemos um raio x, todos os exames necessários, ele teve muitas escoriações e... Uma entorse de tornozelo grave. Vai ficar em observação por vinte e quatro horas. Mas o que nos preocupa é sobre
AnaQuando estaciono no meu prédio, vejo que meu convidado, observa cada detalhe. Ajudo-lhe a subir até o elevador, enquanto ele me pergunta:— Você mora aqui há muito tempo?Aperto o botão do 3° andar enquanto respondo:— Há 5 anos.Chegamos e abro meu apartamento, somente agora me lembro sobre o quanto está tudo sujo e bagunçado. Sou a desorganização em pessoa. Tem roupas espalhadas por toda parte e enquanto ele se senta vou recolhendo pelo menos algumas peças, principalmente meu sutiã branco de renda na qual ele acaba de se sentar em cima. Fico vermelha de vergonha, ele sorri como se não se importasse. Porém, eu me importo, e desejo sumir neste momento. Noto também, que há sacos de salgadinhos espalhados, latinhas de refrigerante no canto da sala e meus sapatos próximos do corredor.Bufo.— Me desculpe a bagunça, é que não tenho muito tempo para faxinar a casa.— Tudo bem.Tudo bem nada! Estou morta de vergonha. Procuro um assunto para disfarçar:— Já que você resolveu vir, pode fi
AnaDepois do meu chororô, meu amigo, foi se vestir para comemos nossa pizza, o que é bom, pois estava difícil focar em algo que não fosse seu corpo escultural e nu tão próximo de mim. O que é estranho, não costumo ser tão assanhada.Me recomponho e coloco a mesa para o nosso almoço. Ele chega e percebo que as roupas ficaram perfeitas, uma blusa de gola alta e um jeans básico. São roupas usadas que arrecado para doar todos os anos aos nessecitados, levando em consideração que ele é um morador de rua, não saí da proposta.— As roupas serviram, ficaram ótimas — ele fala animado.Ainda estou analisando a perfeição desse homem. É incrível como ele estava escondido naquela cabeleira toda, parece outra pessoa.— Sim, ficaram, boas!— falo sem conseguir tirar os olhos dele.Nosso olhos se encontram e ele disfarça, mas eu, não consigo desviar. Não se trata somente de atração física, a forma como ele me defendeu ainda não sai da minha cabeça, ele parece ser uma boa pessoa.Fico rubra de vergonh
AnaAcordo cedo e saio bem devagar para não acordar meu hóspede. Na noite de ontem ele chegou tarde, me avisou que precisava sair mas que não iria longe. Fiquei preocupada, pensei várias coisas, mas não perguntei nada. Esse homem é um verdadeiro mistério.Encontro Lili logo na entrada do café, hoje decidimos sentar em uma mesa, temos muita coisa pra conversar. Ela parece ansiosa como sempre fica. Faz tempo que rola uma química entre ela e o rapaz atendente, porém minha amiga é muito orgulhosa pra assumir. Seu término com Bruno foi doloroso, ela quase nunca fala sobre o que houve entre eles. Mas sei que Lili ainda não superou tudo, e acredita naquela famosa frase que diz " que todos os homens são iguais e não prestam".Quando entramos, começo a compreender o motivo de sua aflição, mesmo que Lili tente disfarçar, sei que toda essa inquietação é porque já fizemos nossos pedidos e o rapaz que nos atende todos os dias, ainda não apareceu.— Por que será que ele não está aqui. Logo hoje que
AnaEstaciono meu carro no estacionamento da empresa. Em seguida vejo o carro de Lili parar bem ao meu lado, pela forma brusca que ela freia, sei que está irritada, hoje não deve estar nos seus melhores dias.Descemos juntas. Ela se aproxima e nos cumprimentamos.— Tudo bem? — vou logo perguntando.Ela coloca seus óculos escuros e sorri meio falso.— Ótimo! Nada que um café no Majestic não resolva.Ela sugere o café da rua Dourados, não compreendo pois ela odeia o café de lá, desde que abriu o Café Mix, nunca fomos em outro.— Lili — a chamo indo atrás dela.— Já tomei café.Ela para no mesmo instante e me analisa por cima dos óculos.— Como assim? Você não faz café em casa.— Sem perceber estou sorrindo ao me lembrar da mesa impecável que Marco havia feito. — Marco preparou nosso café, hoje.Ela continua me olhando.— Marco? Quem é Marco, Ana?— Meu hóspede, Lili! Hoje ele me falou como se chama, Marco Fontanni.— Então quer dizer que você não vai ao Majestic comigo?Noto que seu mal
AnaSaio do trabalho as pressas. Marco e eu combinamos de levar comida hoje aos moradores de rua, juntos. Não foi um dia fácil, Lili e eu ainda não fizemos as pazes, tive vontade de me aproximar, não consigo ficar sem minha amiga, ela é muito importante pra mim, apesar de ter errado em seu julgamento com Marco, sei que ela adoraria estar conosco nesse programa. Talvez à noite eu lhe mande pelo menos uma mensagem, hoje a vi apenas duas vezes e estava com um semblante nada bom, nunca passamos tanto tempo sem nos falarmos.Chego em casa e sou recebida com aquele cheiro delicioso de comida caseira. Tenho uma grande surpresa ao ver Marco em pé caminhando pela cozinha sem as muletas, ele finalmente conseguiu colocar o pé no chão. Ainda tem um pouco de dificuldade, mas é notória sua boa recuperação.— Marco, você conseguiu colocar o pé no chão! — falo admirada.Ele sorri enquanto termina de embalar a comida.— Sim, fiz repouso como prometido durante o dia todo. Mas confesso que desde ontem à
AnaSão cinco da tarde, hoje Marco e eu realizamos uma boa faxina na casa, estou exausta, ainda não sei como ele me convenceu. Mas confesso que valeu a pena, meu apartamento está um brilho! Dona Márcia iria me encher de elogios se visse minha casa assim, ou não, minha mãe sempre procura motivos para me criticar. Desde a segunda não nos falamos, ela não me enviou nem se quer uma mensagem. Também não dei o braço a torcer, saber que ela está com aquele maldito e isso me dói. Respiro fundo e decido focar na noite de hoje, falta muito pouco, estou ansiosa pra ver a cara de Nicolas e sua noivinha ao me ver chegar com o meu "namorado". Por falar nisso, ele foi entregar a comida sozinho, precisei passar no salão para cortar o cabelo, estava me incomodando, aproveitei e fiz uma escova modelada, adorei o resultado. Coloco meu vestido novo e termino minha maquiagem, na verdade esse nunca foi meu forte, passo um blash, um rímel que deixam meus cílios com mais volume, passo uma sombra escura e pa
AnaParo o carro na entrada do condomínio, há uma enorme fila de veículos para entrar. Aguardo a chegada de Lili do outro lado da rua. Enquanto esperamos, Marco pede para colocar música. Fico curiosa pra saber o que ele vai escolher. Logo o som de Jota Quest- Sol, invade meu carro.Vou ao delírio, adoro essa música! Imediatamente aumento o volume e canto junto com o som que toca:Jota Quest - O solEi, dor!Eu não te escuto maisVocê não me leva a nadaEi, medo!Eu não te escuto maisVocê não me leva a nadaE se quiser saberPra onde eu vouPra onde tenha solÉ pra lá que eu vouE se quiser saberPra onde eu vouPra onde tenha solÉ pra lá que eu vouEi, dor!Eu não te escuto maisVocê não me leva a nadaEi, medo!Eu não te escuto maisVocê não me leva a nadaNoto que Marco não para de me olhar! Para minha surpresa ele canta o refrão comigo.E se quiser saberPra onde eu vouPra onde tenha solÉ pra lá que eu vou, é pra lá que eu vou!Quando a música termina, estamos completamente à v