Ana— Ana Jully! — ele fala meu nome com seu tom de voz grave.Não lhe encaro, tento olhar apenas para frente contando ansiosamente cada andar que o elevador irá subir até chegar na redação.— Olá... Nicolas — digo formalmente, para parecer educada.Sem notar estou esfregando as mãos, mais precisamente em minha aliança.— Então você se casou mesmo, com o falso... Mateo — ele ri de forma sarcástica.— Sim, eu me casei — tento não estender nosso diálogo e já aproveito para colocar as coisas em seu devido lugar. Lhe encaro: — E agora você está aqui e será o meu chefe. Vamos tentar tornar as coisas menos esquisitas, afinal somos adultos e civilizados.Ele me observa e confesso que isso me deixa irritada. Ainda mais que ele me analisa da cabeça aos pés.— Você está muito bem, senhora Jully.— novamente fala com sarcasmo ao me chamar pelo nome que odeio e ainda por cima como senhora. Parece não ter ouvido nada do que eu disse.Pela primeira vez o encaro nos olhos.— Olha aqui, Nicolas! — fal
AnaAcordo me sentido fraca, tento me lembrar do que aconteceu. Aos poucos me recordo da queda. Olho para os lados e parece que estou em um hospital, em uma enfermaria, meu braço esquerdo está imobilizado por uma tipóia e ainda dói um pouco.— Você rompeu os ligamentos do ombro. Precisará de bastante repouso para não fazer uma cirurgia. — Esta voz me é familiar, olho rapidamente e vejo a figura de Nicolas ao meu lado. Bufo:— Droga!Ele continua:— Precisou levar pontos no braço, mas seu tornozelo está bom, não houve torção.Aos poucos tudo fica nítido em minha mente, e a única coisa em que penso é em Marco, e se ele soube da minha queda, afinal ele já teve muito problema por hoje.— Avisaram meu marido?Quando termino a frase, Liliane entra no quarto, minha amiga parece preocupada comigo.— Ana, pelo amor de Deus como você está?Ela se aproxima e com seu jeito bronco me abraça. E é claro que dói. Eu gemo.— Vou ficar bem, eu acho.Somente neste momento minha amiga nota a presença d
AnaAcordo e ouço batidas de leve na porta, na sequência vejo a figura de Mara, uma senhora baixinha de cabelos escuros presos em um coque, ela tem me ajudado com a casa alguns dias da semana e até havia me esquecido que hoje ela vinha.- Senhora, Ana. Fiquei sabendo o que houve. Como está? - ela pergunta preocupada.Mesmo decepcionada por não ser o meu marido na porta, tento ser o mais gentil possível com ela, Mara é uma pessoa muito agradável.- Estou bem melhor, obrigada por se importar.Ela não parece muito convencida.Na verdade, meu braço está ótimo de verdade, mas meu coração está destroçado. Acordei com uma forte angustia no peito, dormi longe de Marco não foi nada bom.- Humm, vai precisar de algo?Faço gesto de cabeça de que no vou precisar de nada. Tento me levantar e ela se aproxima para me ajudar.- Mara, você sabe se meu marido já acordou? - pergunto temerosa em saber sua resposta.Fico imaginando se ela presenciou a mesma cena que eu vi ontem a noite, pelo menos me liv
AnaSaio da sala de Nicolas ainda um pouco surpresa com sua atitude. Pelo menos sinto que ele não se tornará mais um problema entre mim e Marco. Passo rapidinho na sala de minha amiga e lhe conto sobre minha conversa com ele. Lili fica tão surpreendida quanto eu. Depois da nossa conversa, ela me mostra um vídeo da pequena Lígia que já está ficando de pé sozinha, juntas rimos e babamos da fofura que ela é. Depois minha amiga insiste que eu devo ir atrás do meu marido e acertar as coisas. Por mais que eu saiba que Lili tem razão, sinto muito medo, pois nossa briga da noite anterior foi feia e as lembranças de Marco, completamente apagado de bêbado não foi nada bom de se ver. Minha amiga me dá um forte abraço. Não sei o que seria de mim sem ela. Nos conhecemos a pouco mais de cinco anos, mas Liliane tem se tornado como uma irmã.— Tudo irá se resolver, basta ter paciência. Vocês se amam, e o amor sempre vence! — Lili fala em meu ouvido enquanto me abraça. Me surpreendo ouvir minha ami
AnaDois meses depois...Depois da nossa última briga, Marco e eu conversamos bastante. Decidimos confiar um no outro e prometi nunca mais esconder nada dele. Ele compreendeu meus medos e não me pressionou com a gravidez tão desejada. Continuo tomando meu anticoncepcional até decidir que é o meu melhor momento. Já retirei a tipóia e estou fazendo muitas seções de fisioterapias. Felizmente estou praticamente recuperada.É feriado, e por isso Marco resolveu tirar uma folga para visitar os pais. Claudio está na churrasqueira, há também alguns parentes, entre eles Bruno e sua família. Estou com Helena, ajudando com um molho especial quando de repente sinto muito mal estar, esta e a segunda vez que me sinto mal hoje, conversamos sobre o quanto fiquei enjoada no vôo, mas isso e normal, sempre passo mal ao viajar de avião, isso não muda.Helena me encara com um brilho nos olhos.— Ana, você pode estar grávida novamente! — fala empolgada.Reviro os olhos, meus sogros ao contrário de Marco não
AnaCinco meses...Desde o descobrimento da minha gravidez, precisei me afastar do trabalho presencial. Marco e eu decidimos que eu faria repouso e me cuidaria ao máximo. Então comecei a trabalhar em home office, de casa. A gestação não é de risco, porém achamos melhor nos cuidarmos, principalmente depois que a ultrassom mostrou nossos dois bebês. Marco e eu, não acreditamos quando a doutora nos disse que batiam dois corações. Ele não se conteve de emoção, chorou muito. Afinal esperou muito para ser pai novamente e agora teve esta grande surpresa. Decidimos que ele escolheria o nome da nossa bonequinha, Marco queria algo que remetesse a Melissa, então escolhemos Melina, e é claro eu não apenas aceitei como amei. Escolhi o nome de Marcio para meu menino, queria algo que homenageie minha mãe, sinto tanto sua falta, e me recordo do último sonho que tive com ela, mamãe me disse que viriam mais pessoas para eu amar e cuidar, acho que ela quis dizer sobre meus filhos. Por isso eu precisava
AnaJamais imaginei que duas crianças fossem capaz de fazer tanta bagunça. Minha rotina não é nada fácil, manter a casa em ordem, cuidar das crianças e ainda auxiliar na administração do restaurante e nas doações aos moradores de rua. Há dias em que acho que vou enlouquecer, mas confesso que nunca fui tão feliz em toda minha vida. Há dois anos larguei meu trabalho como editora no jornal, então resolvi que ficar em casa para me dedicar a minha família, seria uma boa ideia. Gosto do que faço, por isso criei coragem e me aventurei como colunista, assim não fico totalmente longe do que sempre gostei de fazer.O FontanniDuo se tornou um dos pontos forte da nossa cidade, Marco nunca esteve tão bem. Fico feliz pois conseguiu superar de vez todos seus traumas e dores do passado, nem de longe ele é aquele Marco que conheci, primitivo, arisco, mergulhado em sofrimento. Ele também me ajudou a curar algumas feridas, infelizmente adquiri uma ansiedade, por causa de tudo o que aconteceu quando per
Ana Jully Meireles Olho no espelho pela terceira vez numa ansiedade absurda. Nunca fui vaidosa, entendo muito pouco de maquiagem e moda, e com a correria do dia a dia quase não tenho tempo para isso, mas confesso que sinto vontade de mudar um pouco, talvez minha autoestima melhore.Situações como esta, me deixam um pouco perdida. Nicolas, meu amigo de trabalho, acaba de me enviar uma mensagem dizendo que está a caminho, faz alguns dias que estou revisando sua tese de mestrado, e segundo ele, precisamos discutir o assunto, hoje. Depois que ele e Laura romperam, ficamos mais próximos, e mesmo minha amiga Lili insistindo que é fruto da minha imaginação, às vezes sinto que ele me paquera. Talvez ela esteja certa, Nicolas sempre esteve ocupado com todas as mulheres que se lançam ao seus pés, para me notar. Não posso negar que me sinto muito atraída por ele, afinal se tratando de um homem tão charmoso, fica difícil não ter nenhum tipo de interesse, é do tipo alto, forte, pratica vários esp