Que mistério envolve o casarão colonial da cidade de Samambaias? O jornalista José Matias compra, da viúva de um militar, a bela propriedade que pertenceu ao barão de Monte Belo, um dos “barões do café” do Vale do Paraíba. O solar, entretanto, tem fama de agourento, azarento e mal-assombrado, pois nenhum dos proprietários que o adquiriu conseguiu prosperar ali; doenças na família, prejuízos, falências e até mortes fizeram com que seus ocupantes, durante um longo tempo, acabassem vendendo a propriedade a preços baixos ‘batendo em retirada’ com uma pressa, realmente, urgente. José Matias, o caseiro Rozendo e sua bela neta Maurine, a negra ‘Mãe’ Sabina, o parapsicólogo Amaury e a sensitiva Beatriz formam um grupo decidido a desvendar o mistério que perdura por cento e cinquenta anos e descobrem uma terrível tragédia envolvendo o barão e sua família. “O Casarão de Samambaias” relata o período do apogeu do café no Vale do Paraíba, uma região que foi a detentora de todos os recordes nacionais de produção dessa riqueza agrícola que tanto prosperou o Brasil. “O Casarão de Samambaias”é mais um romance de Fergi Cavalca, autor de “Arcanos da Eternidade", “Trilhas Convergentes", a Alma no Reflexo da Vida e vários outros romances de cunho místico e esotérico, cheios de aventura, história, esoterismo, misticismo e amor que prende o leitor do inicio ao fim da trama.
Ler maisE para encerrar, um ato socialO tempo passou. Agora eu ia à capital apenas três dias por semana para entregar minhas matérias e, depois, voltava correndo para meu refúgio de Samambaias; aqui entre a amizade, a maneira interessante e culta de Rozendo explicar os assuntos que eu gostava de conhecer e entender e, o que era melhor, curtindo o amor de Maurine bem pertinho de mim, eu escrevia minhas histórias e me deleitava com o sossego gostoso sem o rebuliço e agitação da cidade grande. Sem qualquer dúvida, eu já me acostumara à vida do interior! Acho que, de forma inconsciente sempre desejei estar num cantinho, quieto, lendo, escrevendo e sentindo a natureza ao meu redor.Nas tardes mais quentes dos tórridos dias do verão tropical, o pomar ainda se constituía em um lugar fresquinho, um refúgio onde, sentado no meu banco de pedras preferido, ficava aprovei
A reabilitação do barãoNa sexta-feira seguinte o próprio Argemiro foi ao casarão levar a edição extra do ‘Correio’. O jornal estava uma beleza, muito bem feito e diagramado, com oito páginas falando, apenas, sobre os acontecimentos relatados no diário de Clara. Na primeira página estava publicado o meu ‘release’ com uma foto tirada pelo ‘factótum’ Argemiro; aliás, o jornal estava cheio de fotografias: do casarão, minhas, de Rozendo, de Maurine, do retrato do barão e da baronesa...A notícia caiu como um meteoro na cidade; em pouco tempo a edição estava esgotada e todos comentavam pelas esquinas e cafés admirados com a história, até então, desconhecida. Nem uma linha fazia menção ao assombramento, mas falava-se da fama que o solar adquirira dura
Reescrevendo a história do CasarãoNo dia seguinte, por ser domingo, todos acordamos mais tarde. Depois do almoço fomos levar Amaury e Beatriz para embarcarem de volta. Despedimo-nos de ambos, rogando que voltassem todas as vezes que quisessem. Amaury disse que voltaria sim, pois queria estudar com maior profundidade o animismo de Mãe Sabina, a quem ele reputou como uma enciclopédia de ocultismo caboclo, uma verdadeira sacerdotisa dentre as tantas que habitam as cidadezinhas pequeninas do interior brasileiro. É ali, na humildade de seus casebres de palha, que as rezadeiras, na maior parte das vezes analfabetas, são as detentoras de uma cultura ancestral que se transmite de boca a ouvido, de pais a filhos nos sertões da pátria.No regresso ao casarão sentamo-nos no salão para conversarmos sobre tudo que acontecera, pois ainda não tivéramos oportunida
Fim do pesadeloAmaury, após uma prece de agradecimento, acendeu as luzes. Todos nós permanecíamos sentados ao redor da mesa de olhos bem arregalados e semblante pálido pela emoção dos últimos instantes. Mãe Sabina estendeu os braços para Beatriz e Amaury apertando as mãos de ambos entre as suas.Mostrando as gengivas quase centenárias e totalmente lisas, sorriu e falou:― Meus filhos, hoje a velha está feliz! Viu coisas muito bonitas e muito grandes. Esses dois meninos ― e apontou com o beiço Amaury e Beatriz ― sabem cumprir muito bem a missão que Nosso Senhor deu pra eles e eu vou bater palmas agradecendo por estar viva e ainda poder ver estas coisas. Parabéns a todos.Rozendo aproveitou para completar:― Com certeza vi mais coisas nesse fim de semana do que nos oitenta e tantos anos de minha vida. A reuniã
Completando o trabalhoChegamos à feira, onde compramos os mantimentos necessários para passar a semana. Depois demos uma esticada até o bar do Betinho para fazer um lanche.Ali, sentados em uma mesa de frente para a agradável e bela praça samambaiense, comentei com Maurine:― É um processo contínuo que acontece, agora, comigo! — Falei admirado.— Aos poucos vou prendendo-me sempre mais a essa cidade, não só à cidade, mas a você, minha querida. São surpresas em cima de surpresas. Quer dizer que você fazia seu trabalho filantrópico quietinha, sem falar com ninguém!Ela sorriu com deleite e olhou para mim com os olhos meigos e ternos:― Sou nutricionista, esqueceu? Posso contribuir muito elaborando dietas para os velhinhos. E eles também precisam de carinho, de atenção. É
O asiloAcordei cedo, lavei-me, tomei um gole de café e desci para o quintal. Como já estava se tornando hábito, procurei o banco do quintal perto da senzala. De longe avistei Maurine sentada ali e meu coração bateu mais rápido. O dia já subia claro e o sol começava a dourar o horizonte, enchendo o céu de revérberos alaranjados.Aproximei-me da jovem e sentei-me ao seu lado; ela recebeu-me com um sorriso satisfeito. Vestia o mesmo ‘robe-de-chambre’ grosso, até os tornozelos, amarrado na cintura e por cima da roupa, pois a manhã estava bastante fria e um tanto úmida em virtude de uma tênue névoa matinal.― Acordei muito cedo e não consegui dormir outra vez ― explicou a moça.― Não precisa se desculpar ― asseverei. ― Eu também perdi o sono. Até parece que estamos marcando encont
Balanço geralFui para a cozinha, esquentei água para o café solúvel e coloquei uma jarra de leite no forno micro-ondas. Abri alguns pacotes de biscoitos, juntei ao lanche manteiga e queijo que eu guardava na geladeira. Depois fui chamar todos para um merecido café.Reunimo-nos ao redor da mesa participando da frugal refeição; pouca comida, apenas o suficiente para refazer nossas forças sem sobrecarregar o organismo depois de uma sessão como a que havíamos passado, onde nossas energias físicas atingiram baixo nível devido ao esforço psíquico desprendido. As moças já estavam parcialmente restabelecidas.Estávamos quietos olhando um para o outro. Ninguém se dispunha a falar; por isso mesmo fui o primeiro a formular uma pergunta, sem destinatário, de maneira geral:― Fazendo um balanço, o q
A reuniãoAmaury dirigiu-se ao banheiro para lavar as mãos e recomendou-nos o mesmo procedimento. Depois bebeu um copo de água fresca, fechou as portas, acendeu a fraca lamparina e apagou as luzes; em seguida instalou Beatriz na cadeira que ficava ao abrigo de qualquer luminosidade, deixando outra ao seu lado vazia, certificando-se de que a jovem estaria em posição confortável; com passes longitudinais fez com que ela entrasse em um transe profundo. O próximo passo foi compor a mesa, sentando-se ele em uma extremidade e colocando Rozendo na outra; eu e Maurine ficamos frente a frente. A mim ele incumbiu de anotar em um caderno tudo aquilo que acontecesse durante o procedimento da reunião.Logo que estávamos ocupando os nossos devidos lugares, o professor recomendou que nos mantivéssemos em comunhão de pensamentos e apagou todas as luzes acendendo apenas a fraca l
Analisando a situaçãoDepois da explicação técnica do professor Amaury, ficamos todos em silêncio procurando digerir, da melhor maneira possível, toda a informação recebida.Passados alguns minutos Rozendo inquiriu:― Meu caro professor; e quanto ao casarão a que conclusão chegou?Amaury não se fez de rogado:― Pelas primeiras observações de Beatriz, trata-se de um grupo com fortíssimo entrelaçamento psicológico; mas deixemos, inicialmente, que ela nos fale a respeito.E virando-se para a moça pediu:― Fale-nos do que você conseguiu ‘enxergar’.Beatriz endireitou seu corpo mantendo a coluna ereta. Sutilmente sua expressão fisionômica foi-se transformando e ela ficou extática, rígida como em um estado de profunda catalepsia. Com um