A reabilitação do barão
Na sexta-feira seguinte o próprio Argemiro foi ao casarão levar a edição extra do ‘Correio’. O jornal estava uma beleza, muito bem feito e diagramado, com oito páginas falando, apenas, sobre os acontecimentos relatados no diário de Clara. Na primeira página estava publicado o meu ‘release’ com uma foto tirada pelo ‘factótum’ Argemiro; aliás, o jornal estava cheio de fotografias: do casarão, minhas, de Rozendo, de Maurine, do retrato do barão e da baronesa...
A notícia caiu como um meteoro na cidade; em pouco tempo a edição estava esgotada e todos comentavam pelas esquinas e cafés admirados com a história, até então, desconhecida. Nem uma linha fazia menção ao assombramento, mas falava-se da fama que o solar adquirira dura
E para encerrar, um ato socialO tempo passou. Agora eu ia à capital apenas três dias por semana para entregar minhas matérias e, depois, voltava correndo para meu refúgio de Samambaias; aqui entre a amizade, a maneira interessante e culta de Rozendo explicar os assuntos que eu gostava de conhecer e entender e, o que era melhor, curtindo o amor de Maurine bem pertinho de mim, eu escrevia minhas histórias e me deleitava com o sossego gostoso sem o rebuliço e agitação da cidade grande. Sem qualquer dúvida, eu já me acostumara à vida do interior! Acho que, de forma inconsciente sempre desejei estar num cantinho, quieto, lendo, escrevendo e sentindo a natureza ao meu redor.Nas tardes mais quentes dos tórridos dias do verão tropical, o pomar ainda se constituía em um lugar fresquinho, um refúgio onde, sentado no meu banco de pedras preferido, ficava aprovei
CIP-BRASIL.CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS ESCRITORES DE LIVROS, RJC364cCavalca, FergiO Casarão de Samambaias / Fergi Cavalca – Clube de Autores. 2016Inclui índiceISBN 978-857923-640-2Romance Brasileiro. 1, Título12-9293 CDD: 869.93 CDU: 821.1134.3(81)-3
Esta é uma obra de ficção onde os personagens são um produto da minha imaginação. Qualquer semelhança com pessoas conhecidas é mera coincidência.Entretanto, a cronologia dos episódios em que alguns dos acontecimentos são relatados, principalmente no que tange à Independência do Brasil e ao ciclo do café fluminense baseia-se em fatos e faz parte do acervo histórico e cultural de nosso país.A cidade de Samambaias é fictícia. Mas poderá ser confundida com qualquer das florescentes cidades da época áurea do café no interior fluminense.Eu nasci em Vassouras, a bela cidade serrana que foi a detentora do título “Cidade dos Barões”. Samambaias, a quem dei também este epíteto, bem que poderia ser ali! Aliás, muita gente verá nos traços da descriç
Todos os dias pela manhã eu vou ao boteco da Shirley para tomar o desjejum; ali eu tenho, praticamente, uma mesa cativa; quando não chove ela fica instalada na calçada onde costumo sentar-me olhando o movimento da rua enquanto beberico café, a deliciosa infusão tão típica do Brasil.Na época em que inicio essa narrativa, eu morava em um pequenino apartamento num bairro residencial de classe média na cidade do Rio de Janeiro; como vivia sozinho, o espaço que ocupava era mais do que suficiente. O apartamento era pequeno, porém bastante aconchegante. Havia quatro cômodos na habitação: Uma sala com um sofá, duas poltronas, uma estante com vários livros e um aparelho de TV; um quarto com uma cama de casal e um guarda-roupa; uma cozinha minúscula, mas com um fogãozinho de duas bocas, alguns utensílios para fazer comida, uma geladeira duplex e um
SamambaiasNo sábado às nove da manhã cheguei à pequena e simpática cidade de Samambaias, no interior do estado.Estacionei o carro na praça principal em frente à prefeitura. É uma praça imponente! Grande e toda orlada de centenárias palmeiras imperiais; a praça exibe um traçado bonito, com trechos gramados, canteiros com flores variadas e coloridas, dando um efeito alegre às alamedas de areia que formam o ‘passeio’, caminho por onde transitam as pessoas. Em toda a extensão árvores de fícus aparadas e dispostas em forma geométrica.Um coreto, um chafariz antigo e sextavado com duas bandejas, muitos bancos de madeira pintados de branco, com assento de ripa, e um laguinho, com peixes vermelhos ornamentais, completam o belo recanto.A praça é aladeirada; no alto ostenta imponente igreja matriz, com
O casarãoEra imponente, bonito, majestoso...E ao mesmo tempo, um tanto lúgubre. O terreno, segundo a escritura, possuía cinquenta metros de frente e duzentos metros de frente a fundos. Era uma chácara relativamente grande, mas pequena para ser um sítio. Apenas um hectare de área.Toda a parte que compunha a entrada era protegida por uma grade de ferro escura, meio oxidada, mas não muito, e fixada sobre uma mureta de alvenaria de, aproximadamente, sessenta centímetros de altura. A grade atingia bem uns três metros e possuía duas barras horizontais para dar firmeza às hastes. Na época em que foi colocada não existia máquina de solda, portanto fora toda ela fundida em módulos nas forjas de alguma ferraria. Os ferros verticais terminavam com a forma da ponta de uma lança.Na frente, exatamente na direção
Rozendo― Bom dia!A voz sobressaltou-me, pois estava bem distraído e, por isso virei rápido: parado atrás de mim estava um ancião trazendo nas mãos algumas ferramentas de jardinagem. Imediatamente lembrei-me que o Betinho citara o caseiro. Também dona Aurora havia falado sobre ele.― O senhor é o Rozendo? ― Perguntei.― Sim. ― Respondeu o homem.― Muito prazer, eu sou José Matias, o novo proprietário ― disse estendendo a mão para o velho. ― Acabo de comprar a chácara da viúva do General Eustáquio. Desculpe-me por ter invadido sem chamá-lo, mas o portão estava aberto e não resisti...Ele retribuiu meu cumprimento; tinha as mãos ásperas e calosas devido ao trabalho rude do amanho e cultivo da terra.― Dona Aurora ligou dizendo que o senhor viria; por isso deixei o portão ape
A casa do BarãoRozendo e eu fomos caminhando em direção a casa: depois da “praça do chafariz” o caminho largo se unificava novamente e ia em direção ao solar. Perto do alpendre da entrada ele desembocava em um estacionamento calçado com as mesmas pedras; de uma das extremidades do estacionamento saía outro caminho rodeando a casa que, provavelmente levava à garagem, nos fundos.Subimos uma escadinha com três degraus e entramos no varandão; uma porta antiga de madeira maciça, com aldrava, ligava o exterior a um grande salão de estar. Este salão era iluminado e ventilado por quatro janelas que se abriam duas para frente e duas para a lateral à esquerda da entrada. Rozendo sacou um molhe de chaves do bolso; abriu a porta e as janelas; uma rajada de vento soprou pela sala. Senti um ligeiro arrepio e a sensação de