“Trilhas Convergentes” é um conto de ficção. Os personagens são frutos de nossa imaginação e qualquer semelhança com pessoas reais é mera coincidência. Os estabelecimentos comerciais também são fictícios, mas a cidade de São João Batista do Glória é real. Ao procurar um cenário para expandir nosso conto, foi na pequenina cidade mineira encravada na Serra da Canastra, lugar misterioso e de rara beleza, que fomos buscar o ambiente propício para o incremento místico e esotérico necessário ao desenvolvimento da obra. “Trilhas Convergentes” narra momentos de encontro entre a mente espiritual, mais elevada e plena de sentimentos virtuosos com o homem corpo, cheio de sensações e desejos; a alquimia mental que busca a transubstanciação das paixões mais grosseiras em sublimações sutis, capazes de polir asperezas de nosso caráter, aparece como o alvo principal, o objetivo fundamental e a aspiração primordial do indivíduo que percorre o caminho em busca da luz. O objetivo da obra não é ser um livro de autoajuda, mas um relato que mostre ao leitor como se pode operar, no âmago do indivíduo, uma substituição dos estados mórbidos profundamente instalados na natureza de cada um em novos momentos de grata regeneração da alma para alçar voos mais elevados. É um livro que exalta a superação do homem em seus caminhos terrestres. Todos os personagens que compõe esta obra são ricos em detalhes psicológicos, e buscam realizar seus intentos da forma mais humana e verossímil, sem qualquer atributo fantástico que os remeta a aventuras mirabolantes e de difícil digestão pelo leitor exigente. As explicações místicas e esotéricas que recheiam as páginas de “Trilhas Convergentes” fazem parte do acervo ocultista do qual somos aficionados estudantes. Na verdade, são convicções próprias que produzem uma filosofia que não pretende ser impositiva e nem angariar prosélitos.
Ler maisNossa narrativa termina aqui! Como a única coisa que cria do nada é o pensamento, ao criarmos os nossos personagens também assumimos responsabilidades por eles perante o Cósmico.Durante o tempo que passamos convivendo, eu, o criador, e as criaturas que tomaram forma em minha imaginação e ganharam uma vida própria durante seu trajeto, muitos laços de carinho, respeito e amizade surgiram entre nós, provando que “... o que está em cima é como o que está embaixo e vice-versa, para que se cumpram todos os milagres da unidade”. A verdade é que eles agora têm vida própria, vão partir pelo mundo e não consigo mais decidir o seu destino, o seu curso... E irão cumprindo sua missão! Certamente levarão alegria, ensinamento, amor... quantos ouvirão as suas palavras ou lerão as suas façanhas?&nb
Estavam todos reunidos na praia que margeia a “Maria Augusta”. O quadro era de inigualável beleza! A cachoeira se debruçava sobre a penha e caía com estertor despejando a espuma branca de suas águas abundantes no lago que se espraiava na base da catadupa e as pedras daquela fonte uniam suas frontes no murmúrio do rio que chorava e sorria...O sol invernal do domingo límpido, embora frio, arrancava reflexos iridiados do espelho líquido, decompondo a sua luz soberba nas cores básicas do espectro; belos pássaros multicoloridos riscavam o céu em trânsito com os colibris, joias aladas que se entretinham beijando lilases, jasmins, açucenas...A flora e a fauna casavam-se felizes junto com Eva e Domingos, que haviam escolhido aquele belo sítio para oficializarem a cerimônia mística de seu casamento. Era o mês de maio e Domingos escolhera a data para comemor
Estavam todos reunidos ao redor da mesa cheia de acepipes armada na casa de Vicente para comemorar a passagem do ano.Estavam presentes Vicente e Vera, os dois velhinhos que tiveram a coragem de vir para o Glória montar a pousada quando a cidade ainda não oferecia muitas condições de sobrevivência; seus filhos Lúcio e Carlos, que tinham vindo de Belo Horizonte com suas esposas, os filhos também casados, as esposas dele e os netos, para passar o ano junto com os pais, avós e bisavós; Linda com o marido Alfredo e Eva, belíssima em seu magnífico vestido branco que assentara como uma luva; seu irmão Ernani com a noiva que veio de Betim romper o ano na companhia dos pais e dos avós; Frederico, Domingos, Lazinha, Chico, Silvia e os três filhos, Valter e, também, duas famílias de hóspedes que não saíram para comemorar a passagem do ano em outras festas.
Na quarta-feira, Domingos viajaria para o Rio de Janeiro. Ia passar o Natal com seu irmão, mas voltaria para o réveillon. Na véspera da viagem, após o almoço, encontrou Eva sentada numa das poltronas da varanda com o pé destroncado descansando sobre uma cadeira; ela tinha feito as radiografias e constatou que não havia fratura, mas sofrera uma forte torção que lhe deixaria uns quinze dias em repouso com o pé imobilizado.Domingos sentou-se a seu lado:― Está melhor? ― a pergunta foi feita com carinho demonstrando um real interesse pela condição física da jovem.Eva sorriu agradecida pelo interesse do moço:― Estou bem melhor, mas vou ficar de molho alguns dias. Não vou poder dar os três pulinhos para entrar o Ano Novo ― comentou divertida. ― E você? Como vai o ombro?Domingos fez um movimento com o braço como a mostrar
Frederico aproveitara o domingo para ir almoçar com Vicente e Vera. Linda se dispusera a preparar uma deliciosa lasanha para deleite do médico que adorava massas. Durante o almoço, o assunto versou sobre o piquenique que Eva e Domingos foram fazer em visita às cachoeiras.Linda achava que Eva e Domingos ainda não se conheciam direito:― Ele é quase dezessete anos mais velho do que Evinha! Um coroa já usado! Minha filha é jovem, precisa de jovens cheios de vida...Vera, que não era fácil e tinha um temperamento bem mordaz, comentou:―Tens razão, Linda! Eva precisa de um jovem. Exatamente como aquele que ela arranjou em Belo Horizonte...Linda fez uma careta azeda:― Lá vem você, mamãe! Para você está tudo sempre bem! Aposto que gosta desse velho que veio de outra cidade e que nem conhecemos.― Gosto mesmo. Ele é bonit&at
Sabendo do movimento que agitava a pousada no verão, Linda deixou a loja no centro da cidade, que apesar de estar em um momento de afluência devido à alta estação, poderia ficar a cargo do marido e das duas funcionárias, e foi ajudar na Pousada. Ela sabia que a filha ficava esgotada nessa época e precisava de um pouco de descanso para poder “recarregar as baterias”. Eva agradeceu o gesto da mãe e ambas passaram a dividir o serviço, sobrando um pouco mais de tempo para a moça.Era mês de dezembro e as festas de fim de ano se aproximavam trazendo a sua aura de magia e beleza. Frederico adorava a época de Natal e saía para comprar presentes que distribuía com gosto entre seus clientes e amigos. Eva havia montado uma grande Árvore de Natal na portaria e no salão das refeições construíra um belo presépio. Domingos preparou no computa
O verão foi chegando! Com ele as férias escolares. A cidade encheu-se de turistas à procura dos seus belos e aprazíveis sítios; gente que vinha atrás de tranquilidade, de descanso. Chegavam aos montes, queriam conhecer tudo, como se fosse possível ver tanta beleza de uma só vez. Era gente que queria tomar banho nas cachoeiras deixando a água gelada escorrer pelo corpo; nadar nas piscinas naturais; caminhar pelas trilhas; fotografar paisagens da flora e da fauna do cerrado, das matas, dos altiplanos, da serra...Muitos procuram a natureza para desafiar os seus próprios limites praticando esportes radicais como o rapel, canyonning, mountain-byke, off-road e outras modalidades de ecoturismo e esportes de aventura. Outros vêm em busca de descanso e lazer, prontos para respirar o ar puro do campo, provar da culinária famosa, apreciar uma prosa ao pé do fog&
Domingos e Eva continuaram sentados na varanda aproveitando a pequena folga. Nos dias anteriores, o movimento tinha sido intenso. Nesse dia, a maioria dos hóspedes havia saído cedo em excursões ou visitas às belas cachoeiras e trilhas.Depois de alguns minutos de silêncio no qual cada um remoeu as palavras com as quais iniciaria a conversação, Domingos tomou a dianteira e falou:― Nossa última conversa longa e agradável foi antes do distúrbio que sofri... de lá para cá não temos tido muita oportunidade de conversar, não é mesmo?Eva abaixou os olhos e ficou calada. Depois levantou um pouquinho a cabeça e deu um sorriso tímido, olhando Domingos meio de lado. Com a voz bem baixinha sussurrou:― Não queria perturbá-lo! Vô Fred alertou que você precisava de muito repouso para poder se restabelecer. Ele falou que voc&e
Quando os dias passaram a ficar mais quentes e mais longos, a afluência turística em São João Batista do Glória aumentou consideravelmente. Com isso, a Pousada do Monjolo estava sempre cheia e a azáfama para atender aos hóspedes que vinham em busca de descanso ou aventuras redobrava.Nessa época Eva não tinha folga, correndo para providenciar compras para o restaurante, elaborar o cardápio, mandar a roupa suja para a lavanderia, atender aos hóspedes... Gumercindo e Valter ajudavam; e muito! Mas ainda assim era para a jovem dona que sobravam os trabalhos mais complicados e de maior responsabilidade.À noite, Eva estava cansadíssima e a única coisa que pedia para si era o descanso momentâneo do corpo que no dia seguinte deveria estar pronto, à primeira hora matinal, para servir o café no salão de refeições.Domingos, que estava