Na quarta-feira, Domingos viajaria para o Rio de Janeiro. Ia passar o Natal com seu irmão, mas voltaria para o réveillon. Na véspera da viagem, após o almoço, encontrou Eva sentada numa das poltronas da varanda com o pé destroncado descansando sobre uma cadeira; ela tinha feito as radiografias e constatou que não havia fratura, mas sofrera uma forte torção que lhe deixaria uns quinze dias em repouso com o pé imobilizado.
Domingos sentou-se a seu lado:
― Está melhor? ― a pergunta foi feita com carinho demonstrando um real interesse pela condição física da jovem.
Eva sorriu agradecida pelo interesse do moço:
― Estou bem melhor, mas vou ficar de molho alguns dias. Não vou poder dar os três pulinhos para entrar o Ano Novo ― comentou divertida. ― E você? Como vai o ombro?
Domingos fez um movimento com o braço como a mostrar
Estavam todos reunidos ao redor da mesa cheia de acepipes armada na casa de Vicente para comemorar a passagem do ano.Estavam presentes Vicente e Vera, os dois velhinhos que tiveram a coragem de vir para o Glória montar a pousada quando a cidade ainda não oferecia muitas condições de sobrevivência; seus filhos Lúcio e Carlos, que tinham vindo de Belo Horizonte com suas esposas, os filhos também casados, as esposas dele e os netos, para passar o ano junto com os pais, avós e bisavós; Linda com o marido Alfredo e Eva, belíssima em seu magnífico vestido branco que assentara como uma luva; seu irmão Ernani com a noiva que veio de Betim romper o ano na companhia dos pais e dos avós; Frederico, Domingos, Lazinha, Chico, Silvia e os três filhos, Valter e, também, duas famílias de hóspedes que não saíram para comemorar a passagem do ano em outras festas.
Estavam todos reunidos na praia que margeia a “Maria Augusta”. O quadro era de inigualável beleza! A cachoeira se debruçava sobre a penha e caía com estertor despejando a espuma branca de suas águas abundantes no lago que se espraiava na base da catadupa e as pedras daquela fonte uniam suas frontes no murmúrio do rio que chorava e sorria...O sol invernal do domingo límpido, embora frio, arrancava reflexos iridiados do espelho líquido, decompondo a sua luz soberba nas cores básicas do espectro; belos pássaros multicoloridos riscavam o céu em trânsito com os colibris, joias aladas que se entretinham beijando lilases, jasmins, açucenas...A flora e a fauna casavam-se felizes junto com Eva e Domingos, que haviam escolhido aquele belo sítio para oficializarem a cerimônia mística de seu casamento. Era o mês de maio e Domingos escolhera a data para comemor
Nossa narrativa termina aqui! Como a única coisa que cria do nada é o pensamento, ao criarmos os nossos personagens também assumimos responsabilidades por eles perante o Cósmico.Durante o tempo que passamos convivendo, eu, o criador, e as criaturas que tomaram forma em minha imaginação e ganharam uma vida própria durante seu trajeto, muitos laços de carinho, respeito e amizade surgiram entre nós, provando que “... o que está em cima é como o que está embaixo e vice-versa, para que se cumpram todos os milagres da unidade”. A verdade é que eles agora têm vida própria, vão partir pelo mundo e não consigo mais decidir o seu destino, o seu curso... E irão cumprindo sua missão! Certamente levarão alegria, ensinamento, amor... quantos ouvirão as suas palavras ou lerão as suas façanhas?&nb
C364tCavalca, FergiInclui índiceISBN 978-85-7923-422-4Ficção Brassileira I. Título11-6249. CDD: 869.93 CDU:821.134.3(81)-3Esclarecimento ao leitor“Trilhas Convergentes” é um conto de ficção. Os personagens são frutos de nossa imaginação e qualquer semelhança com pessoas reais é mera coincidência. Os estabelecimentos comerciais também são fictícios, mas a cidade de São João Batista do Glória é real.Ao procurar um cenário
O doutor Túlio Bevenuto ajeitou os óculos sem aro e olhou novamente os exames que tinha na mão. Dificilmente ele encarava o seu interlocutor, principalmente na hora de dar um diagnóstico. Remexeu-se inquieto na cadeira, espantou uma possível mosca de cima do telefone, olhou demoradamente para a estante de livros na parede, deu umas pancadinhas no relógio de pulso...Ele era um homem já entrando na terceira idade, calvo no topo da cabeça e com os cabelos das têmporas e da nuca, os únicos que lhe restavam, grisalhos. Tinha uma reputação excelente como cardiologista e era complicado conseguir uma vaga para ser atendido em seu consultório particular.Depois de todos os rodeios ― olhou a mobília, cruzou os braços, consultou a folhinha... ― voltou os olhos para o paciente que estava sentado à sua frente e, muito sem jeito examinando a ficha que estava em suas m&atil
Em casa, Domingos procurou conhecer o lugar para onde a sorte lhe apontava. No computador, iniciou uma pesquisa na rede para tomar conhecimento de seu futuro domicílio: conseguiu estabelecer que a cidade de São João Batista do Glória foi emancipada em 1949, no dia primeiro de janeiro, tem uma população de, mais ou menos, sete mil habitantes, e, portanto, é uma cidade pequena.Chega-se até lá ou de balsa atravessando o Rio Grande, em Passos, ou de carro por uma estradinha de terra que se entronca com a rodovia que vem de Belo Horizonte, passando por Formiga e Piumhi em direção ao estado de São Paulo.Pela dificuldade para aportar no município, pode-se esperar que seja um cantinho calmo e sereno. A principal atividade é o turismo. Situa-se na região da Serra da Canastra, que ostenta em seu território inúmeras cachoeiras. Segundo as fontes, mais de
Frederico Adler estacionou o jipe em frente à Pousada do Monjolo. Saltou lentamente do veículo, reclamando das dores nas juntas, efeito natural daqueles que chegam aos sessenta e cinco anos sem se preocuparem muito com exercícios físicos regulares.Frederico era de estatura mediana, um metro e setenta e cinco centímetros mais ou menos, um pouco corpulento sem chegar a ser gordo, mas com uma barriguinha instalada e tomando forma. Tinha os cabelos cheios e lisos, penteados para trás e grisalhos; a barba é que já estava completamente branca. Ele a exibia orgulhoso emoldurando o rosto crestado pelo sol e pela vida ao ar livre. Frederico detestava se barbear e por isso a solução encontrada foi deixar a barba crescer. Seus cabelos também só eram cortados a cada seis meses, mas isso não era desleixo: era um costume que acompanhava o velho há muitos anos e do qual ele se agradava.
A caminhonete cinza cabine dupla de Domingos entrou em São João Batista do Glória pela rua principal, coberta de poeira, mostrando a viagem longa que fizera e o trecho de terra percorrido. Era pouco mais de onze horas da manhã; o dia seguia ensolarado e a temperatura amena típica do final de maio. Nessa época, os dias são frescos e secos em sua maioria e as noites frias.Domingos estacionou na praça procurando um lugar para almoçar. Da rua se avistava a igreja monumental ao fundo. Era a matriz. Igreja grande, debruada de relevos rosados, ostentando duas torres majestosas. Dizem que os construtores das igrejas do período barroco, principalmente no interior de Minas, contratados pelas paróquias, cobravam um sinal e construíam, em primeiro lugar, uma das torres. Caso não recebessem o restante do pagamento, iam embora deixando a obra com apenas uma torre construída. Caso lhes pagasse