Na memória de Orson Harris, Zara Garcia sempre fora uma mulher de personalidade apagada, rígida e sem graça. Durante todo o casamento, ele a via como alguém previsível, quase invisível em sua monotonia. Apenas depois do divórcio, Orson começou a perceber nuances que antes ignorava. Sua ex-mulher, outrora tão discreta, agora parecia brilhar de uma forma que ele nunca havia notado. Era delicada, encantadora, cheia de graça e mistério. Aquilo o corroía. Cada gesto dela, cada sorriso, fazia algo dentro dele se revirar. E quando finalmente cedeu à inquietação e tentou se aproximar novamente, Zara, com um sorriso que era ao mesmo tempo doce e cruel, respondeu com leveza: — Orson, você já está fora do jogo!
Ler maisOrson olhou primeiro para a tela do celular dela antes de perguntar:— Onde você estava?Zara apertou os lábios, visivelmente incomodada:— Quem te deu o direito de trocar a minha fechadura?— Responda à minha pergunta.O rosto de Orson estava sombrio e ameaçador.Zara queria discutir, insistir no assunto, mas, ao encarar o olhar dele por alguns segundos, acabou cedendo:— No hospital.A expressão de Orson mudou levemente, e ele a observou da cabeça aos pés, como se buscasse algum sinal.Zara, no entanto, não percebeu o olhar dele. Continuou:— À tarde, me disseram que minha mãe tinha acordado. Mas, quando cheguei lá, ela já tinha voltado a dormir. Fiquei esperando um pouco, para ver se ela acordava de novo.A voz dela era baixa, carregada de tristeza.O rosto frio de Orson finalmente suavizou um pouco, mas, em seguida, ele pareceu lembrar de algo:— E por que não atendeu o telefone?— Estava no silencioso. Não vi as chamadas.Enquanto Zara respondia, aproveitou para perguntar:— Posso
Orson já havia presenciado todo tipo de tentação ao longo da vida. E, claramente, a mulher à sua frente era do tipo mais medíocre. Ele sequer a olhou. Pegou o celular e ligou para Zara. O telefone chamou, mas ninguém atendeu. A expressão de Orson ficou ainda mais sombria. A mulher, parada logo atrás dele, sentiu-se desconfortável com a forma como ele a ignorava. Mesmo assim, ao lembrar do carro que ele dirigia e das roupas caras que ele usava, ela decidiu reunir coragem e se aproximar.— Qual é o seu relacionamento com a Zara? Vocês são amigos? — Perguntou a mulher, tentando parecer casual. — Mas acho que ela não vai atender o telefone agora… tão tarde da noite, certeza que está com algum homem por aí. Você sabe, né? Ela não é tão certinha quanto parece. Pelas costas, ela se diverte bastante. Hoje de manhã mesmo, eu vi… Antes que a mulher pudesse terminar, os olhos de Orson se voltaram para ela. O olhar frio e cortante que ele lançou foi como uma mão invisível apertando seu pesco
Já era noite. As luzes lá fora haviam se acendido, e os neons coloridos se misturavam às lanternas vermelhas dos carros presos no trânsito da hora do rush. Juntos, formavam uma das cenas mais emblemáticas desta cidade: próspera, mas fria e indiferente. O edifício do Grupo Harris, localizado bem no coração da cidade, tinha janelas panorâmicas enormes que pareciam molduras de um quadro. Tudo aquilo estava ali, enquadrado, como se fosse feito para ser admirado. Orson estava parado ali, observando sem expressão. Segurava um isqueiro entre os dedos e, mecanicamente, pressionava o botão, fazendo a chama azul surgir e desaparecer, repetidas vezes. As lembranças que ele tinha de seu pai eram poucas e dispersas. Quando tentava se recordar, o que vinha à mente era apenas aquele rosto sempre sério, as exigências rigorosas que ele lhe fazia, e, por fim, a imagem de um homem deitado em uma cama de hospital, incapaz de cuidar de si mesmo. Orson tinha apenas 12 anos quando ele morreu. Embora
As lágrimas de Zara também começaram a escorrer sem que ela pudesse evitar. — Canalha. — Zara murmurou entre dentes, com a voz trêmula. Orson, que estava prestes a morder o pescoço dela, parou o movimento assim que ouviu aquelas palavras. Ele ergueu os olhos. O batom de Zara já estava borrado, o delineador manchado pelas lágrimas que haviam caído, e seus cabelos estavam completamente bagunçados. Ela parecia um retrato de puro desespero e desordem. Mas, ao ver as lágrimas penduradas nas pontas de seus cílios, o coração de Orson deu uma batida estranha. Ele suspirou fundo, desacelerando os movimentos. Então, segurou com cuidado a nuca dela e a beijou. Diferente de antes, dessa vez o beijo foi mais suave, mais delicado, e Zara parecia não resistir tanto quanto no início. Mesmo assim, a dor que ela sentia ainda era intensa. E, para ser justo, Orson também não estava se sentindo exatamente confortável. No entanto, agora que ela parecia ceder, ele conseguiu recuperar um pouco de ca
— O que você está fazendo? — Zara ficou paralisada por um instante, mas logo começou a se debater. — Me solta! Orson, me larga agora!Suas pernas se moviam freneticamente, tentando chutá-lo. Um de seus saltos altos acabou saindo do pé e voando em direção ao chão. O corredor do hotel estava coberto por um carpete espesso, então o impacto do sapato não fez nenhum som.Quando chegaram ao elevador, Orson finalmente a colocou no chão. No entanto, ela mal teve tempo de reagir. Ele a encurralou contra o canto do elevador, e, no momento em que Zara tentou se mover, ele segurou seu rosto com firmeza e a beijou.Foi um beijo sem espaço para hesitação ou resistência. Orson não lhe deu qualquer chance. Assim que seus lábios tocaram os dela, sua língua invadiu sua boca com uma determinação avassaladora, rompendo qualquer barreira.O beijo era tão intenso e dominador que Zara sentiu o ar faltar. Suas mãos estavam presas pelos pulsos, sem qualquer possibilidade de empurrá-lo. Como se não bastasse, Or
Zara finalmente percebeu o que estava acontecendo. O pé que ainda pensava em chutar novamente foi lentamente recolhido. Orson continuava com a máscara perfeitamente posicionada no rosto, mas os olhos dele eram como lâminas gélidas, tão frios que pareciam querer despedaçá-la por completo.— Você… por que me trouxe aqui? — Perguntou Zara, depois de sustentar o olhar dele por alguns segundos.— O que foi? Está chateada porque atrapalhei a sua diversão? — Respondeu Orson.O tom de Orson ficou ainda mais áspero, enquanto os dedos dele apertavam com força o queixo de Zara.A rejeição ao convite para dançar e o chute que ela havia desferido antes claramente não haviam sido esquecidos. A pressão em seu queixo parecia determinada a esmagar os ossos.Zara franziu as sobrancelhas, sentindo a dor crescente, e estava prestes a afastar a mão dele quando Orson segurou seus dois pulsos de uma só vez. Com um movimento brusco, ele empurrou o joelho entre as pernas dela, reduzindo ainda mais a distância
A conversa entre Zara e Arthur fluía com naturalidade. Após o término da primeira música, eles sequer deixaram a pista de dança e continuaram com a próxima.— Ainda não sei seu nome. — Arthur não resistiu e perguntou.Zara arqueou as sobrancelhas, com um leve sorriso:— Não acha que, em um baile de máscaras, trocar nomes é um pouco desnecessário?— Mas você sabe quem eu sou. Isso não parece muito justo, não acha?— Muitas pessoas aqui sabem quem é o Sr. Arthur. O senhor é tão famoso que é impossível não saber. — A voz de Zara carregava um tom de leve resignação.Arthur, no entanto, não se ofendeu. Apenas comentou, com um sorriso insinuante:— Então isso significa que, quando a noite acabar, eu não vou ter chance de convidá-la para jantar?— Claro que vai. — Zara respondeu com seriedade, assentindo levemente. — Desde que o senhor traga seu pai, e eu vá acompanhada do Sr. Ivo. Não seria perfeito?— Então, afinal, você trabalha para o Ivo? É sua assistente? Secretária? Ou talvez uma artis
— O senhor não sabe o que é ordem de chegada?Arthur virou-se, com um sorriso divertido, enquanto fazia a pergunta.Sem qualquer alteração na expressão, Orson respondeu:— Sei, mas acredito que a escolha deva ser da dama, não acha?Sua resposta deixou Arthur sem palavras. Não havia muito o que contestar.Orson, no entanto, não deu mais atenção a ele. Seus olhos estavam fixos em Zara. O olhar dela, sempre tão calmo e controlado, parecia agora esconder algo que borbulhava em suas profundezas, como uma corrente oculta prestes a transbordar.A mão de Zara, pendendo ao lado do corpo, fechou-se em um punho por um breve instante. Depois de um momento, ela sorriu. Então, calmamente, colocou a mão na palma de Arthur, aceitando o convite dele.O brilho nos olhos de Orson apagou-se instantaneamente. A mão que ele mantinha estendida fechou-se em um punho rígido. Ele tentou olhar para Zara novamente, mas ela já havia se virado e seguia ao lado de Arthur, sem hesitar.Assistindo os dois se afastarem
— Na sua direção às seis horas, está vendo o homem parado ali?Ivo perguntou enquanto conduzia Zara pela pista de dança. Os movimentos os aproximavam, e seus corpos estavam tão próximos que Zara podia sentir a respiração dele. Fazia muito tempo que ela não dançava assim. Sua própria respiração estava um pouco descompassada, e uma fina camada de suor se formava sob a máscara que cobria seu rosto.Com a pergunta, Zara rapidamente olhou na direção indicada:— Estou vendo. E daí?— Aquele é o filho do Sr. Arthur, do Grupo Surfing. Ele está te observando já há um bom tempo. Depois vou apresentá-lo a você. Que tal dançar com ele por alguns minutos?Zara soltou uma risada leve:— E por que eu faria isso?— Estou negociando uma parceria com o pai dele. — Ivo respondeu diretamente, sem rodeios. — Se você me ajudar dessa vez, posso garantir sua entrada como sócia no projeto dos direitos autorais. Quando a série explodir, você terá uma bela fatia nos lucros.Zara continuava sorrindo, mas sua expr