Zara continuava sentada no banco do carona.Ela achava que já tinha se tornado insensível a muitas coisas, mas naquele momento, uma dor aguda atravessava seu peito como se algo estivesse corroendo por dentro.De repente, uma memória antiga tomou conta de seus pensamentos. Foi logo depois que ela voltou a morar com a família Garcia. Zara se lembrava com clareza. Naquele dia chovia, e sua mãe havia ido buscá-la na escola junto com Fiona. No caminho de volta, eles sofreram um acidente de carro.O acidente não foi grave, mas o motorista, tentando evitar um veículo que vinha atrás, acabou jogando o carro contra o canteiro central.Naquele momento, a cabeça de Zara bateu contra o vidro, e ela perdeu a consciência. Mas, mesmo desmaiada, ela ainda conseguia ver, como em um sonho confuso, sua mãe a ignorando completamente e abraçando Fiona enquanto chorava desesperada.Foi naquele dia que Zara entendeu. Eles a haviam trazido de volta porque ela tinha o sangue deles, mas, no fundo, Fiona era a
Zara não se lembrava de quanto tempo fazia desde a última vez que alguém lhe perguntou aquilo. Na verdade, nem ela mesma se permitia perguntar se estava feliz.A resposta era óbvia. Mas, ainda assim, ela respondeu sem hesitar:— Estou feliz.— Que bom. — Evander disse, mas logo ficou em silêncio.— Se não tiver mais nada, vou desligar. — Acrescentou Zara.— Tudo bem. — Ele concordou rapidamente, mas, quando Zara já ia encerrar a chamada, ele falou novamente. — Eu sinto muito por ter ido embora sem avisar naquela época. Esses anos fora foram duros, mas eu pensei muito em você. Está tarde, descanse bem.Depois de dizer isso, ele desligou.Zara ficou parada nos degraus, segurando o celular, imóvel por alguns instantes. Só então virou-se devagar e voltou para o quarto.Naquela noite, Orson não foi atrás dela, mas, mesmo assim, Zara não conseguiu descansar direito.Talvez fosse a ligação de Evander que a tivesse deixado inquieta. A noite inteira ela sonhou.Nos sonhos, ela voltou para os pr
A personalidade de Zara, aos olhos dos outros, era sempre rígida e sem graça. Muitas vezes, ela parecia tão apática que raramente alguém notava qualquer oscilação em suas emoções.Mas, naquele momento, ela mais parecia um animal selvagem encurralado à beira de um penhasco, guardando sua docilidade habitual e mostrando as garras.Só que, para Orson, aquela tentativa de resistência não significava absolutamente nada. Ele sequer deu uma resposta. Simplesmente a ergueu da cama, sem esforço algum, e começou a trocar suas roupas ele mesmo.Zara tentou empurrá-lo, mas a diferença de força entre os dois era gritante. No fim, ela foi arrastada por ele escada abaixo.— Sr. Orson, Sra. Harris... — Ivone, que já estava no andar de baixo, ficou visivelmente surpresa ao presenciar a cena.Ao notar a presença da empregada, Zara rapidamente reprimiu suas emoções e parou de lutar. Permitiu que Orson a levasse para fora.Quando o carro já havia percorrido uma boa distância, Zara finalmente conseguiu se
Mesmo o médico mais experiente não conseguiu esconder um breve instante de surpresa ao ouvir aquelas palavras. Afinal, os pacientes que o procuravam sempre tinham o mesmo objetivo: ter filhos. E então, Zara solta aquilo — que estava tomando anticoncepcionais?O médico não pôde evitar e lançou um olhar para Orson, que, ao que parecia, também desconhecia essa informação. Ele franziu a testa imediatamente.Logo, o médico se recompôs. Após uma breve pausa, disse com calma:— A partir de agora, pare de tomar esse remédio. Vou te prescrever uma fórmula de ervas para fortalecer seu corpo primeiro.Zara não argumentou. Quando o médico entregou a receita, ela prontamente a pegou.— Obrigada. — Sem mais palavras, virou-se e saiu sem olhar para trás.Orson não demorou muito para segui-la.Zara sabia que ele estava ocupado demais para se importar com ela, então, ao sair do consultório, ela se preparava para chamar um táxi. No entanto, Orson rapidamente segurou seu braço.— Entra no carro. — A voz
Orson, no final, não levou Zara de volta para a mansão. Depois de deixar sua posição bem clara, ele parou o carro em um cruzamento qualquer e mandou que ela descesse.Zara mal teve tempo de se equilibrar quando ele pisou no acelerador, e o Porsche preto arrancou, desaparecendo pela rua sem a menor hesitação.Ela já estava acostumada com isso, mas, mesmo assim, fechou as mãos em punho. As unhas se cravaram em sua pele, causando uma leve dor. Era um aviso para si mesma: ela precisava parar de alimentar qualquer tipo de ilusão sobre ele.Já que estava fora de casa, Zara decidiu aproveitar para dar uma volta. No entanto, sua sorte não era das melhores. Assim que entrou no shopping, esbarrou com alguém bem no meio do corredor.— Ora, ora, se não é a Sra. Harris. — Ophelia, com um sorriso que mais parecia um deboche, olhou para ela. — Que surpresa! Achei que você fosse do tipo que não pisa no mundo real, que nunca faz compras como nós, meros mortais.Ophelia era a melhor amiga de Fiona e, se
Ophelia terminou de falar, mas Zara, de repente, soltou uma risada curta. Ao ver a reação dela, o sorriso de Ophelia desapareceu instantaneamente. Sua testa se franziu, e ela perguntou irritada: — Está rindo de quê? — Ophelia, se você está sem nada para fazer, seria melhor gastar seu tempo lendo alguns livros. Caso contrário, além de mal-educada, você só vai continuar falando idiotices e se tornando motivo de piada. É realmente uma mistura de burrice com maldade. Se antes Zara ainda escondia sua ironia nas entrelinhas, agora ela já não fazia questão de disfarçar. Era uma acusação direta, e o rosto de Ophelia ficou imediatamente carregado de raiva. Quando Zara tentou passar por ela, Ophelia agarrou seu cabelo sem pensar duas vezes. — Você, uma caipira que veio do interior, acha que pode falar assim comigo? Já se olhou no espelho para ver quem você é? Acha mesmo que virou uma dama porque casou com alguém rico? Você... Antes que pudesse terminar, Zara já tinha se virado e lhe
— Mana! — Fiona segurou firme na mão de Zara. — Mana, você está brava comigo? Mamãe não quis dizer nada de mal, a culpa é toda minha. Foi minha distração… Mas não se preocupe, eu prometo que vou sair da sua casa. Não vou atrapalhar você e o cunhado…— Uhum, tá bom. — Zara respondeu de imediato, sem rodeios.Vera, que estava por perto, não conseguiu evitar franzir a testa, enquanto o olhar de Fiona transbordava em confusão e surpresa.— Eu preciso ir. — Zara não se deu ao trabalho de explicar mais nada. Com um movimento rápido, soltou a mão de Fiona e virou-se para sair.Logo atrás, o choro abafado de Fiona ecoou pelos corredores.— Mamãe, o que eu faço agora? Com certeza a mana me odeia… Naquele momento, Zara quis se virar e confirmar com todas as letras: sim, ela realmente odiava Fiona. Mas essa ideia foi imediatamente reprimida. Ela sabia muito bem o que aconteceria se desse vazão a esse pensamento. Um tapa de Vera, talvez? Afinal, não seria a primeira vez.Por muito tempo, Zara se
Zara levou um susto. Instintivamente, puxou a camiseta para cobrir o corpo e, em seguida, franziu a testa ao olhar para quem havia entrado.A expressão de Orson também não era das melhores. Os dois ficaram se encarando em silêncio, como adversários prontos para um confronto, em vez de um casal.— Se não tem mais nada, pode sair. Vou dormir. — Foi Zara quem quebrou o silêncio primeiro.Para sua surpresa, Orson não perdeu a paciência. Apenas virou-se para sair e disse sem rodeios:— Reserve o horário do almoço de amanhã.— Pra quê? — Zara perguntou no impulso.Mas ele não respondeu.Zara observou sua silhueta enquanto saía e, como se algo clicasse em sua mente, disparou:— Se você quer que eu peça desculpas para a Fiona, esqueça. Eu não vou.Orson parou de caminhar. Esse pequeno gesto foi o suficiente para confirmar as suspeitas de Zara. Apertando os punhos, ela sentiu o sangue ferver.— Zara, ela é sua irmã. — Ele disse, com a voz totalmente desprovida de emoção.— Eu não tenho irmã. E,