Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.
Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.
Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.
Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.
Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se aproxima da minha cama.
— Sra. Ashford? — Uma voz masculina, calma e controlada, quebra o silêncio. — Como está se sentindo?
— O que... o que aconteceu comigo… com meus olhos? — pergunto, sentindo minha voz falhar pelo medo. — Quem é você?
— Sra. Ashford, sou o Dr. Freeman. A senhora sofreu um acidente, caiu da escada — ele explica, fazendo uma pausa antes de continuar. — Houve lesões significativas em seu rosto e, devido ao trauma em sua cabeça, sua visão foi a parte mais afetada.
— Isso significa que eu… estou cega? — pergunto, com a voz embargada, enquanto o pânico toma conta de mim. — Não, eu não acredito em você! Sebastian… Cadê o meu marido?
— Por favor, tente se acalmar. A senhora não pode…
— Não, eu não estou cega! — interrompo-o, negando a cabeça freneticamente enquanto sinto as lágrimas arderem sob os curativos. — Chame o meu marido, ele precisa me tirar daqui!
O médico suspira e se retira do quarto. Após alguns minutos encolhida, ouço o som da porta se abrindo novamente e passos apressados se aproximando. Logo, sinto o toque inconfundível do meu marido em minha mão, e isso é o suficiente para me acalmar.
— Estou aqui, querida — Sebastian diz em um tom calmo, e imediatamente sinto meu corpo relaxar.
— Sebastian… — minha voz falha entre os soluços. — Não estou cega… Eu não posso estar…
— Shh, querida — ele murmura, apertando minha mão levemente. — Está tudo bem. Estou aqui.
— Sr. Morgan — o Dr. Freeman começa, impaciente, mas Sebastian o interrompe rapidamente.
— Dr. Freeman, me permita acalmá-la antes de iniciarmos aquela conversa — ele diz, acariciando meus dedos. Ouço um suspiro pesado, seguido pelo som da porta se abrindo e fechando novamente.
— Sebastian… Por que ele está dizendo isso? Estou… realmente cega? — pergunto, sentindo o desespero crescer. Ele aperta minha mão e meu peito aperta com a resposta que sei que está por vir. — O que aconteceu comigo?
— Querida, infelizmente, com a queda… — ele pausa, respirando profundamente. — Você ficou três dias desacordada, teve algumas fraturas pelo corpo e, infelizmente, um trauma na cabeça que resultou em danos no nervo óptico. — Seu aperto se torna mais firme quando continua: — Eles ainda não têm certeza sobre sua visão. Estão fazendo tudo o que podem para reverter isso, mas também me disseram para nos prepararmos para todas as possibilidades.
— Possibilidades? — As palavras escapam em meio aos soluços. — Eu não quero ficar no escuro para sempre… Se for assim, prefiro que Deus me leve… Não quero… não quero!
Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, ouço passos leves e a porta se abre novamente.
— Com licença, Sr. Morgan — uma voz feminina suave interrompe. — Preciso administrar o medicamento que o Dr. Freeman solicitou para a Sra. Ashford.
— Claro — Sebastian responde, mas sua mão não larga a minha. Sinto a presença da enfermeira ao lado da cama, e ela toca meu braço.
— Isso vai ajudar a senhora a relaxar e descansar um pouco — a enfermeira diz gentilmente.
— Não quero dormir agora… — sussurro. — Não posso…
Sinto a agulha penetrando minha pele e, lentamente, meus olhos começam a pesar. A sonolência logo chega, e tudo o que posso fazer é me agarrar à mão de Sebastian enquanto o sono me consome.
[…]
“Sebastian Morgan”
Observo Evie e solto um suspiro aliviado, mal contendo o sorriso de satisfação que ameaça se formar ao vê-la finalmente adormecida. Agora, terei algumas horas de sossego antes de decidir o que fazer com ela, agora que acordou.
A enfermeira, tão frustrada pela interrupção quanto eu, me encara. Sinalizo para a porta e, assim que saímos, ela abre um sorriso malicioso.
— Quanto tempo o efeito do calmante vai durar? — pergunto em tom baixo.
— Três ou quatro horas.
Excelente. Isso será mais do que o suficiente. Não consigo evitar um sorriso satisfeito, mas antes que pudesse voltar ao que estava fazendo, meu celular vibra no bolso.
— Volte para o quarto onde estávamos — ordeno, olhando para o visor. — Preciso atender essa ligação antes de voltar a te foder, delícia.
Ela umedece os lábios, obviamente tentada, e se afasta rapidamente em direção ao quarto ao lado de onde Evie está. Afasto-me um pouco antes de atender o telefone.
— Sebastian… onde você está? — A voz sedutora soa do outro lado, me fazendo sorrir.
— Estou fazendo meu papel de marido perfeito, linda. O que houve? Já está com saudades? — provoco, ouvindo-a suspirar.
— Por que você continua aí? Você já não disse que conseguiu transferir tudo para você?
— Quase tudo, mas com Evie viva, vou precisar dar um jeito de fazê-la assinar aquele maldito documento — respondo, cerrando os punhos. — Enquanto isso, não posso simplesmente abandoná-la, ou aquele velho enxerido pode desconfiar. Prometo te encontrar amanhã, OK? Se comporte até lá, minha putinha.
— Estarei ansiosa pelos seus toques, Sebastian. Até amanhã!
Guardo o celular no bolso, sentindo a frustração se misturar à satisfação de finalmente colocar meu plano em ação. No entanto, Evie não deveria ter sobrevivido àquela queda. Agora, em vez de uma mulher morta e um império no bolso, ganhei uma mulher cega e incapacitada…
— Ah, querida esposa… — resmungo, seguindo em direção ao quarto onde a enfermeira me aguarda. — Por bem ou por mal, a Majestic será totalmente minha. Ou não me chamo Sebastian Morgan.
“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”É inevitável não soltar uma risada ao ler a última
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas
“Evie Ashford”O som familiar dos passos de Sebastian no corredor me faz sorrir antes mesmo de ele entrar. Como todas as manhãs deste último mês, ele chega ao quarto trazendo meu café da manhã, mas desta vez, sua energia é contagiante: abre as cortinas, cantarola… Desde o acidente, Sebastian tem sido meu porto seguro, o único que permaneceu. Seguindo seu conselho, tenho evitado contato direto com as pessoas. A ideia de sentir a pena nos olhares alheios, mesmo sem poder vê-los, me sufoca.Mas, às vezes, no silêncio da casa, sinto falta das minhas amigas. Das risadas, das conversas, da cumplicidade. Sebastian diz que elas me mandam mensagens, sempre com desculpas elaboradas sobre compromissos inadiáveis. É mais fácil assim, suponho. Mais fácil para elas lidarem com minha ausência do que com minha nova realidade.Ao menos tenho Sebastian. Seu otimismo teimoso, sua presença constante. E, por enquanto, isso precisa ser suficiente.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave.
“Henry Blackwood”Desde as últimas notícias e, principalmente, a ligação anunciando que a disputa pelo resort em Capri seria entre a All Seasons e a Majestic, a imagem de Evie Ashford insiste em permanecer na minha mente. Com seus cabelos loiros, olhos esverdeados, corpo escultural e um atrevimento que parece grande demais para alguém tão baixinha, ela se tornou uma lembrança constante de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Passei os últimos dias em um misto de ansiedade e irritação, tentando manter a cabeça fria. Torcia para que as propostas surpreendentemente parecidas fossem apenas uma coincidência infeliz, mas a verdade é que a incerteza não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando, no entanto, desde aquela apresentação, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.Ao entrar na minha sala, solto um suspiro pesado e me jogo na cadeira. Ligo o computador, sentindo a familiar tensão no estômago. Em poucos
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que está fazendo aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo na bochecha, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava i
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar alguma
“Sebastian Morgan” Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. Ou talvez Henry sempre soubesse como manipular as coisas a seu favor. Desde que os problemas na minha empresa começaram, ele parecia saber exatamente onde atacar. Quando tudo finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la. Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim. Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante. — Com licença, senhores. — digo, ol
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto s