5. Confio Em Você, Querido

O silêncio após minha pergunta paira pesado no quarto, interrompido apenas pelo som constante “bip” ao meu redor. Sinto um frio percorrer minha espinha. A incerteza sobre minha visão é tão dolorosa quanto as contusões físicas. Minhas mãos, ainda trêmulas, se apertam com força no lençol.

— Não podemos confirmar o estado definitivo da sua visão neste momento — o Dr. Freeman responde, sua voz tranquila contrastando com o tom grave que não alivia a tensão. — A senhora sofreu um trauma considerável, e a extensão dos danos ainda precisa ser avaliada com mais detalhes. 

— Quando… poderei retirar os curativos? Preciso ver como estou, onde estou… — Minha voz é apenas um sussurro desesperado.

— Entendo sua preocupação — ele responde, mexendo em algo ao meu lado. — No momento, os curativos são essenciais para proteger suas feridas e permitir que o processo de cicatrização ocorra sem complicações. Administrei um analgésico, isso deve ajudá-la a se sentir um pouco melhor.

— Preciso falar com meu marido. Por favor, espere… — peço, levantando o braço direito. Sem saber onde estou tocando, sinto minha unha pressionar algo e ouço um gemido de dor vindo dele. — Me… me desculpe. Machuquei você?

— Não, fique tranquila. Vou verificar se seu marido deixou algum recado e se podemos contatá-lo para você. Com licença.

Os passos do médico se afastam, e mais uma vez fico sozinha com meus pensamentos. Meu corpo treme, resultado da dor e do medo, e as lágrimas começam a escorrer sem controle, intensificando a ardência nos meus olhos. O desespero se instala, enquanto o vazio ao meu redor parece cada vez mais sufocante.

Algum tempo depois, imersa em lágrimas e soluços intermináveis, ouço o barulho da porta se abrindo novamente, e todo o meu corpo se alerta.

— Querida, graças a Deus você acordou — a voz reconfortante de Sebastian preenche o silêncio. Ele se senta ao meu lado, segurando minha mão com firmeza. — Tive tanto medo de perder você, meu amor.

— Sebastian… Seja sincero, por favor. Estou muito machucada? Há quanto tempo estou aqui? Foi grave? — Pergunto, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos novamente. Ouço um suspiro pesado, e o aperto dele em meus dedos se intensifica.

— Você ficou inconsciente por dois dias. — ele responde em um tom baixo, cheio de culpa. — Infelizmente, a queda foi grave. Estávamos todos em estado de choque, e eu… me sinto tão culpado. Eu deveria ter sido mais cuidadoso, deveria ter subido aquelas escadas com você.

— Não, Sebastian… — Tento acalmá-lo, mesmo com minha própria angústia me consumindo. — Não é sua culpa. E a minha visão? O que eles disseram de verdade? O médico tentou me tranquilizar, mas sei que há mais.

— Eles… ainda não têm certeza, querida. — O aperto dele em minha mão se fortalece, como se tentasse me passar a força que sabe que vou precisar. — Evie, os traumas foram significativos. Os médicos estão fazendo tudo o que podem. Precisamos ter esperança, mas também nos preparar para todas as possibilidades.

— Possibilidades? — As palavras escapam em meio aos soluços. — Eu não quero ficar no escuro para sempre… Se for assim, prefiro que Deus me leve… Não quero… não quero!

— Não fale besteiras, meu amor. Estou aqui ao seu lado, como sempre estive. Vamos buscar outras alternativas, mas nunca, jamais, deseje a sua própria morte — ele diz, acariciando meus cabelos com delicadeza. Sua voz embarga, e ele continua: — Eu não existiria em um mundo sem você, Evie. Nunca mais fale isso.

— Me desculpe… me desculpe… Só estou assustada, Sebastian — confesso, sentindo meu corpo tremer novamente. — Quero sair daqui, estou com medo.

— Não tenha medo, meu amor. Estou aqui para te ajudar, para cuidar de você. Você não está sozinha, e nunca estará — ele diz, apertando minha mão com firmeza. — Agora, descanse. Você receberá alta em breve, eu prometo.

[…]

Três semanas se arrastaram desde o dia em que minha vida pareceu ter sido roubada de mim. Cada momento é um tormento, marcado por uma escuridão que me envolve cruelmente. Sinto-me como se minha existência agora se resumisse a esperar o tempo passar, uma sombra do que eu era. A sensação de inutilidade é quase esmagadora.

No final da tarde, enquanto estou deitada na cama do novo quarto, que agora fica no andar de baixo, o som familiar dos passos de Sebastian no corredor avisa de sua chegada. O barulho de algo sendo colocado ao meu lado me faz sentar lentamente. O aroma de camomila é o primeiro sinal do que ele trouxe.

— Olá, meu amor — ele me cumprimenta, dando-me um beijo calmo que traz um pouco de ânimo.

— Oi, querido. Como foi seu dia? — pergunto. Sebastian hesita por um momento, e posso sentir que algo não está certo. Ele se senta ao meu lado, passando a mão pelo meu cabelo de forma reconfortante. — O que há de errado, Sebastian?

— Prometi não te preocupar com negócios, mas… — ele responde, ainda hesitante. — O conselho da empresa está cobrando um posicionamento sobre quem assumirá a liderança enquanto você estiver… impossibilitada. Prefiro que você decida isso. Podemos ver alguém que…

— Não precisamos ver ninguém, meu amor — interrompo-o rapidamente. — Não há ninguém melhor do que você para assumir meu lugar. Peça ao Sr. Thompson que prepare os documentos necessários. Você precisa assumir, pelo menos até que eu… — Pauso, engolindo o nó na garganta. — possa voltar.

— Tem certeza, Evie? Isso significa que tomarei a maioria das decisões — ele diz, num tom baixo. Mesmo sem vê-lo, sei que a hesitação está estampada em seu olhar por mencionar isso.

— Confio em você, querido. Mais do que em qualquer outra pessoa — concluo, forçando um sorriso. Ele me dá um beijo na testa, puxando-me para seus braços. — Faça isso. Por mim, por nós.

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