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5. Você Realmente Confia Nele?

“Evie Ashford”

O som familiar dos passos de Sebastian no corredor me faz sorrir antes mesmo de ele entrar. Como todas as manhãs deste último mês, ele chega ao quarto trazendo meu café da manhã, mas desta vez, sua energia é contagiante: abre as cortinas, cantarola… 

Desde o acidente, Sebastian tem sido meu porto seguro, o único que permaneceu. Seguindo seu conselho, tenho evitado contato direto com as pessoas. A ideia de sentir a pena nos olhares alheios, mesmo sem poder vê-los, me sufoca.

Mas, às vezes, no silêncio da casa, sinto falta das minhas amigas. Das risadas, das conversas, da cumplicidade. Sebastian diz que elas me mandam mensagens, sempre com desculpas elaboradas sobre compromissos inadiáveis. É mais fácil assim, suponho. Mais fácil para elas lidarem com minha ausência do que com minha nova realidade.

Ao menos tenho Sebastian. Seu otimismo teimoso, sua presença constante. E, por enquanto, isso precisa ser suficiente.

— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave. — Dormiu bem?

— Bom dia, meu amor. Sim, mas senti falta de você. Não percebi quando chegou ontem. Por que se levantou tão cedo?

— Fiquei até tarde resolvendo algumas coisas da empresa e, quando vim para o quarto, te vi dormindo tão serenamente que preferi dormir no quarto de hóspedes para não te acordar — ele responde, sentando-se ao meu lado e colocando a bandeja no meu colo.

— Sinto tanto por deixar a Majestic nas suas costas — sussurro.

— Faço isso porque te amo. Para mim, é um prazer, não um trabalho — ele responde com carinho, beijando minha bochecha. Enquanto tomo o café da manhã, ele acrescenta: — Querida, sabe que, por mim, esperava você se recuperar para voltar, mas como você insistiu, o Sr. Thompson virá daqui a pouco. Infelizmente, o conselho está pressionando.

Ao ouvir suas palavras, sinto um nó se formar na garganta, tão intenso que dificulta engolir o chá. A ideia de alguém ver minha situação atual, sem que eu mesma saiba como estou fisicamente, apenas aumenta meu desconforto.

— Não sei se estou pronta para… — corto minhas palavras, entregando-lhe a xícara. — ...ser vista assim. Pareço um monstro cego.

— Pare com isso. Você continua linda — ele diz, acariciando minha perna. — Mas, como imaginei que você se sentiria mal, ele também não sabe que você está… nessas condições. Acho um exagero você se esconder, mas disse ao Sr. Thompson que você chegou de viagem há pouco e está completamente exausta. Isso justificará seu olhar cansado, quase distante.

— Sebastian, eu não vou conseguir assinar os papéis soz…

— Também pensei nisso, querida — meu marido me corta, suspirando. — Expliquei que você sofreu uma queda durante a viagem e ainda sente dores ao realizar certos movimentos. Algo simples, mas suficiente para justificar minha ajuda para assinar. — Sebastian se levanta lentamente, segurando minha mão em seguida. — Vem, agora vou ajudá-la a trocar essa roupa. Não quero que outro homem veja o corpo que é só meu.

Sorrio diante do comentário e me levanto, aceitando sua ajuda. Após Sebastian escolher uma roupa que cubra boa parte do meu corpo, estou pronta em poucos minutos. No mesmo instante, a governanta chama, avisando sobre a chegada do Sr. Thompson, o antigo advogado do meu pai.

Com a ajuda de Sebastian, um lembrete constante das minhas novas limitações, caminho lentamente até o escritório.

— Evie, que bom vê-la novamente — a voz cansada e firme do Sr. Thompson soa assim que entramos no escritório. Sinto sua mão nas minhas costas enquanto me sento. — Fiquei preocupado com sua ausência. Por que decidiu…

— Sr. Thompson — Sebastian o interrompe rapidamente, parando ao meu lado — é um prazer vê-lo aqui. Mas não acho que devemos prolongar isso. Evie precisa descansar, não é, querida?

— Sim… minha cabeça está estourando.

— Compreendo. Trouxe os documentos necessários para que você, Sebastian, assuma a Majestic enquanto a Evie está ausente por… motivos pessoais — o velho senhor diz, hesitante. Ouço o barulho dos papéis sendo colocados à minha frente. Após alguns minutos, ele acrescenta: — Droga, esqueci minha caneta. Sebastian, você teria uma?

— Claro, deixe-me procurar — Sebastian responde, com um leve tom de frustração. Ouço o som das gavetas sendo abertas enquanto ele procura. Após alguns instantes, sua voz se torna mais impaciente. — Não estou encontrando nenhuma por aqui. Vou procurar lá fora — conclui, claramente irritado. — Não se preocupem, volto já.

— Não é irônico não haver uma única caneta aqui? — comento, fingindo olhar ao redor. O Sr. Thompson solta um suspiro profundo.

— Na verdade, eu… — Ele hesita antes de continuar. — Eu as escondi. Precisava falar com você a sós, Evie. Embora esteja aqui cumprindo seu desejo de redigir a procuração para que Sebastian assuma a Majestic, tomei algumas precauções. Aliás, por que você quer isso?

— Sr. Thompson, não seja como meu pai, por favor. Sebastian nunca faria nada errado — respondo, passando a mão no braço, impaciente. — Ele é meu marido, estava administrando a Majestic comigo. Me afastei porque preciso… descansar e… tirar esse tempo para mim — concluo, tentando soar convincente.

— Você realmente confia nele, Evie?

— Sim — respondo, convicta. — Confio em Sebastian e, sinceramente, sua desconfiança é um exagero!

— Então farei sua vontade, minha filha — ele diz, aproximando-se de mim. Acariciando meu ombro com gentileza, continua: — Mas, além de saber que seu pai iria se opor a isso, simplesmente não confio em Sebastian da mesma maneira que você.

Antes que eu possa retrucar, a porta do escritório se abre e Sebastian retorna. Ouço seus passos firmes antes de ele parar ao meu lado.

— Encontrei uma, querida — ele diz, colocando a caneta em minha mão. — Está tudo bem por aqui?

— Sim, tudo está bem — Sr. Thompson responde, com um tom formal e cauteloso. — Estava apenas explicando algumas formalidades a Evie.

— Certo. Bem, vamos, querida. Vou te ajudar a assinar — Sebastian diz, guiando minha mão até os papéis.

Sinto a caneta em minha mão e um novo nó se forma em minha garganta. A preocupação do velho senhor me faz hesitar por um momento, e minhas mãos começam a tremer. Sei que essa assinatura pode mudar muita coisa.

— Há algo errado, querida? — Sebastian pergunta, com um tom preocupado.

— Evie, se achar que precisa de mais tempo para pensar sobre isso, não há problema — o Sr. Thompson intervém, sua voz carregada de preocupação. — O conselho esperará, e posso voltar outro dia, se desejar.

— Não, não quero prolongar mais isso — respondo, imaginando o olhar de reprovação do advogado. — É necessário que isso seja feito, e eu confio em você, Sebastian.

Coloco minha mão sobre a mesa novamente e, com a ajuda de Sebastian, assino os documentos com uma caneta que parece pesar mais do que nunca.

— Pronto — digo, tentando afastar as palavras do Sr. Thompson da minha mente. — Está feito.

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