“Henry Blackwood”Ajusto a gravata pela décima vez nos últimos cinco minutos, observando o jardim se encher lentamente. Ao meu lado, Benjamin revira os olhos, claramente se divertindo com meu nervosismo.— Se continuar assim, vai acabar arrancando essa gravata antes mesmo dela chegar — ele comenta, com um sorriso irônico.— Não consigo evitar — respondo, passando a mão pelos cabelos pela milésima vez. — Por que estou tão nervoso? Já vivemos juntos há anos, administramos um império juntos, temos dois filhos…— Porque é a Evie — ele diz, dando de ombros, como se isso fosse a explicação mais óbvia do mundo. E, de certa forma, é.Theo corre em nossa direção, sua gravata borboleta já torta, e se joga nos meus braços. Mesmo após três anos, ainda me surpreendo com a força desse amor. — Papai, a mamãe está linda! — ele exclama, empolgado. — Igual uma princesa!— Mas é surpresa, bobinho! — Daphne complementa, chegando logo atrás do irmão. Ela está linda em seu vestido rosa, uma miniatura de
“Evie Ashford”O murmúrio emocionado dos convidados ainda ecoa ao meu redor quando Henry limpa a garganta e volta a segurar minhas mãos. Seus olhos brilham de um jeito que me faz sentir que sou o único mundo que ele enxerga. Ele respira fundo, e posso ver a emoção alcançá-lo antes que ele fale.— Evie — começa, num tom embargado que faz meu coração acelerar ainda mais —, antes de você, eu vivia em preto e branco. Números, metas, resultados… achava que isso era tudo que importava. Então você apareceu, me mostrando que há coisas mais importantes do que poder ou sucesso. Me mostrou o verdadeiro significado de força, resiliência e amor.Seus polegares roçam minhas mãos, e as lágrimas em seus olhos se intensificam.— Você me ensinou que o prazer também pode ser encontrado em sorrisos no café da manhã, em batalhas para fazer dois pequenos seres dormirem, em pequenas vitórias diárias… Você e nossos filhos são as melhores partes dos meus dias, mesmo quando Theo decide redecorar meu escritório
“Três anos depois… Por Evie Ashford”O relógio marca o início da noite quando termino de revisar o último documento no escritório da nossa casa. Desde que fizemos a fusão da Majestic e da All Seasons, pouco antes do nascimento dos gêmeos, prometemos que às sextas-feiras nossos compromissos seriam resolvidos em casa para termos mais tempo em família.Um sorriso surge nos meus lábios ao ouvir os passos inconfundíveis de Henry se aproximando. Desde que nos casamos, criamos mais um ritual juntos. Logo, ele aparece na porta com duas taças de vinho nas mãos, nosso brinde semanal para celebrar o fim da semana e, mais importante, a vida que construímos juntos.— Ainda trabalhando, Sra. Blackwood? — ele pergunta, colocando uma taça na minha frente e se inclinando para me beijar.— Só revisando o contrato do novo hotel — respondo, empurrando os papéis para o lado e pegando a taça. — Mas acho que posso terminar por aqui.— Pode e deve — ele murmura, quando me levanto e me aproximo, erguendo sua
Respiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.— Estou pronta, meu am…— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquel
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se ap
“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”É inevitável não soltar uma risada ao ler a última
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas
“Evie Ashford”O som familiar dos passos de Sebastian no corredor me faz sorrir antes mesmo de ele entrar. Como todas as manhãs deste último mês, ele chega ao quarto trazendo meu café da manhã, mas desta vez, sua energia é contagiante: abre as cortinas, cantarola… Desde o acidente, Sebastian tem sido meu porto seguro, o único que permaneceu. Seguindo seu conselho, tenho evitado contato direto com as pessoas. A ideia de sentir a pena nos olhares alheios, mesmo sem poder vê-los, me sufoca.Mas, às vezes, no silêncio da casa, sinto falta das minhas amigas. Das risadas, das conversas, da cumplicidade. Sebastian diz que elas me mandam mensagens, sempre com desculpas elaboradas sobre compromissos inadiáveis. É mais fácil assim, suponho. Mais fácil para elas lidarem com minha ausência do que com minha nova realidade.Ao menos tenho Sebastian. Seu otimismo teimoso, sua presença constante. E, por enquanto, isso precisa ser suficiente.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave.