Quando ele se senta diretamente à minha frente, seu olhar me desafia a reconhecê-lo. A surpresa deve estar estampada no meu rosto, porque um sorriso arrogante começa a se formar lentamente em seus lábios, como se estivesse se deliciando com minha descoberta.
— Tudo bem, Sra. Ashford? — ele pergunta, entrelaçando os dedos sobre a mesa enquanto me encara, ainda com aquele sorriso. — Parece que você está começando a me reconhecer, mas não custa perguntar: devo me apresentar formalmente?
— Henry Blackwood, tão óbvio… Não, não precisamos de formalidades, aparentemente — respondo, tentando manter a calma que não sinto. — Nosso encontro ontem à noite foi mais do que suficiente para me apresentar a você.
— Que bom saber que sua memória é tão boa. — Ele se recosta na cadeira, o olhar carregado de desdém. — No entanto, devo dizer que sua primeira impressão não foi das mais elegantes. Mas, claro, entendo que bebidas podem transformar comportamentos.
— Se está tentando provocar alguma reação, desista, Sr. Blackwood.
— Não estou tentando provocar. — Ele diz com um tom levemente sarcástico. — Apenas me surpreende que alguém tão… jovem e desastrada quanto você tenha a confiança de enfrentar um mercado tão implacável.
— Ah, me desculpe por não me encaixar no padrão perfeito do CEO da All Seasons — retruco, com igual ironia. — Mas garanto que, se minha idade interferisse em algo, eu não estaria aqui.
— Isso é bom de ouvir. — Ele se inclina para trás, analisando-me com a sobrancelha erguida. — Estava preocupado de que sua aparente falta de experiência interferisse em sua… capacidade. Bem, que comecem os jogos, Sra. Ashford.
— E que vençam os melhores, Sr. Blackwood — concluo, confiante, enquanto folheio o dossiê preparado por Sebastian.
Tento me concentrar nos documentos à minha frente, mas o olhar fixo de Henry em mim durante boa parte do tempo torna isso impossível. Para meu alívio, o responsável pelos proprietários do resort em disputa começa a falar, desviando, finalmente, o foco do Sr. Arrogância.
Algumas horas depois, após diversas apresentações e um vai e vem de propostas, chega a minha vez. Após concluir minha apresentação sob o olhar surpreso de Henry, sinto uma satisfação crescer. Ele se inclina para a frente com um sorriso irônico nos lábios. Seu olhar, embora tentasse disfarçar descontentamento, não consegue esconder a provocação que está prestes a vir.
— Foi uma ótima apresentação, Sra. Ashford — diz, com um sorriso forçado. — Mas me pergunto, foi mesmo a jovem desastrada que fez todo o trabalho sujo ou alguém ajudou?
— Provoque o quanto quiser, mas admita que a apresentação da Majestic foi uma das melhores — respondo, confiante ao ver sua reação. — Se houver alguma dúvida, estarei à disposição para esclarecê-las.
— Tenho muitas perguntas, mas prefiro fazê-las quando tiver certeza de algumas coisas. Mas fique tranquila, depois do que vi e ouvi aqui hoje, sei que nos encontraremos muitas vezes.
— Estarei preparada para todas elas, Sr. Blackwood — respondo, sem desviar o olhar.
O representante dos proprietários anuncia o fim das apresentações. Com a promessa de uma resposta nas próximas semanas, finalmente sinto alívio por poder voltar a Londres e resolver minha situação com Sebastian. O amo demais para deixar as coisas como estão.
Enquanto todos começam a se levantar, vejo Henry Blackwood fazendo o mesmo. Aproveito a oportunidade para me levantar e estender a mão para ele.
— Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Blackwood — digo, com um sorriso irônico nos lábios, enquanto ele retribui o aperto de mão. — E já que mencionou que nos encontraremos muitas vezes, espero que da próxima vez a conversa seja um pouco mais amigável.
— Isso vai depender de algumas coisas, Sra. Ashford — ele responde, com os olhos acinzentados fixos nos meus. — Até a próxima partida.
Com um leve aceno de cabeça, Henry solta minha mão e segue para a saída, enquanto eu solto a respiração presa em minha garganta. Seu comportamento após a minha apresentação tanto me convence quanto me deixa apreensiva. É como se houvesse uma ameaça velada por trás de suas palavras.
Com o coração retomando suas batidas habituais, sigo para a saída e me encontro com Clara e o restante da equipe. Juntos, vamos para o hangar, onde o jato da Majestic nos aguarda para o retorno a Londres.
Ao subir a bordo do jatinho, o cansaço começa a pesar. Clara, percebendo meu silêncio, tenta aliviar a tensão.
— A apresentação foi incrível, Sra. Ashford — ela diz, com um sorriso simpático. — O Sr. Blackwood ficou de queixo caído.
— Obrigada, Clara — respondo, forçando um sorriso para esconder a tristeza que me invade. Deixo as últimas palavras escaparem: — Só queria que o Sebastian estivesse lá para ver.
— Tenho certeza de que o Sr. Morgan ficará impressionado quando a senhora voltar — ela diz, tentando me animar. Agradeço, mas logo volto aos meus pensamentos.
Algum tempo depois, finalmente chegamos a Londres. Enquanto o motorista me leva para casa, a satisfação pela apresentação começa a dar lugar a uma ansiedade crescente sobre o que me espera. Afinal, Sebastian e eu não conversamos desde que ele deixou aquele bilhete e voltou para Londres.
Quando finalmente chego à casa onde vivemos há três anos, sinto minhas mãos suarem de nervosismo. Ao abrir a porta, o silêncio no interior me envolve, aumentando minha apreensão. Por alguns minutos, procuro por Sebastian, e, quando abro a porta da sala de jantar, a cena diante de mim faz meu coração acelerar e meus lábios se abrirem involuntariamente.
— O... o que significa isso? — pergunto, atraindo o olhar surpreso de Sebastian.
Ao ver Sebastian de pé no meio da sala de jantar, me encarando com um sorriso quase triunfante no rosto, meu coração acelera ainda mais. Ele se vira para a mesa, serve duas taças de vinho e se aproxima de mim. Meu marido me entrega uma das taças, me dando aquele olhar que sempre me desarma.— Evie, meu amor… — ele sussurra, puxando-me para seus braços enquanto coloca sua taça no aparador ao nosso lado. Acariciando meus cabelos, ele continua: — Tive tanto medo de você decidir não voltar para mim. — Seu aperto se torna mais firme e sua voz embarga. — Me desculpe, meu amor. Me desculpe por agir daquela maneira e ir embora sem pensar. Eu não queria…— Sebastian, está tudo bem… — interrompo, sentindo um leve beijo em minha cabeça. Ao soltá-lo, dou um longo gole no vinho, sentindo a bebida arder em minha garganta. — Me desculpe por sair e deixá-lo sozinho, mas eu precisava…— Tudo bem, querida. — ele diz, sorrindo. — Me perdoe por deixar o nervosismo falar por mim. — Ele me solta e me condu
O silêncio após minha pergunta paira pesado no quarto, interrompido apenas pelo som constante “bip” ao meu redor. Sinto um frio percorrer minha espinha. A incerteza sobre minha visão é tão dolorosa quanto as contusões físicas. Minhas mãos, ainda trêmulas, se apertam com força no lençol.— Não podemos confirmar o estado definitivo da sua visão neste momento — o Dr. Freeman responde, sua voz tranquila contrastando com o tom grave que não alivia a tensão. — A senhora sofreu um trauma considerável, e a extensão dos danos ainda precisa ser avaliada com mais detalhes. — Quando… poderei retirar os curativos? Preciso ver como estou, onde estou… — Minha voz é apenas um sussurro desesperado.— Entendo sua preocupação — ele responde, mexendo em algo ao meu lado. — No momento, os curativos são essenciais para proteger suas feridas e permitir que o processo de cicatrização ocorra sem complicações. Administrei um analgésico, isso deve ajudá-la a se sentir um pouco melhor.— Preciso falar com meu m
Desde que tudo aconteceu, há um mês, algumas pessoas fazem questão de perguntar como estou, mas a ausência das minhas amigas é dolorosa. Dizem ser nas dificuldades que descobrimos quem realmente se importa, mas jamais pensei que minhas próprias confidentes me abandonariam. O único que realmente tem se preocupado é Sebastian.Hoje, como tem sido em todos esses dias, meu marido entra no quarto com uma energia que parece tentar iluminar a escuridão que me envolve. Ele abre as cortinas, cantarolando, e logo ouço seus passos se aproximando da cama. Quando escuto o som familiar da bandeja sendo colocada ao meu lado, um sorriso involuntário se forma em meus lábios.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave. — Dormiu bem?— Bom dia, meu amor. Sim, mas senti falta de você. Não percebi quando chegou ontem. Por que se levantou tão cedo?— Fiquei até tarde resolvendo algumas coisas da empresa e, quando vim para o quarto, te vi dormindo tão serenamente que preferi dormir no quarto
“Henry Blackwood”As cinco semanas desde meu retorno de Genebra passaram rapidamente, mas a irritação que sinto desde a apresentação da proposta da Majestic não diminuiu nem um pouco. A imagem de Evie Ashford, com seus cabelos loiros, olhos esverdeados e corpo escultural, permanece gravada em minha mente, uma lembrança de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Desde então, venho me esforçando para manter a cabeça fria, torcendo para que aquela proposta tenha sido apenas uma coincidência infeliz. Mas a verdade é que a situação não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando. Agora, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.O dia se arrasta interminavelmente, e o peso das notícias que recebo torna a rotina mais um castigo do que um dia produtivo. A página do computador aberta diante de mim tira meu fôlego. A proposta da Majestic Ashford venceu a disputa. O que me deixa irado não é apenas o fato de terem vencido
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza-claro abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que te traz aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava interessado
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar algum
“Sebastian Morgan”Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. E, claro, quando minha empresa finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la.Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim.Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante.— Com licença, senhores. — digo, olhando para James antes de lançar um olhar aos outros homens que nos cercam. Tentando parecer convincente, aponto para o meu copo vazio. — Vou pegar out
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto sua mão