“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”
O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.
Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.
Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.
— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.
“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”
É inevitável não soltar uma risada ao ler a última frase. Saudades… chega a ser irônico, considerando o nosso relacionamento. Harper Evers é exatamente o que preciso: linda, elegante, sabe se portar em eventos. Mas, apesar da maneira desastrosa como nosso relacionamento começou, nunca prometi amor a ela.
Com o tempo, ela pareceu finalmente compreender o tipo de acordo que teríamos: para ela, status. Para mim, a estabilidade que os investidores adoram. Ninguém sai perdendo.
Antes que eu possa responder à mensagem, a voz da minha secretária soa através do interfone.
— Sr. Blackwood, linha três. Sobre a proposta do resort em Capri.
— Passe a ligação, Srta. Turner — respondo, e não demora para o telefone tocar.
A conversa é breve e objetiva, como sempre prefiro que sejam. Mesmo com a decisão definitiva prevista para as próximas semanas, estou confiante de que, em breve, o resort em Capri ostentará a marca All Seasons em sua fachada. Quando desligo, esboço um sorriso de satisfação.
— Olha só, ele está sorrindo — Benjamin invade minha sala sem bater, como sempre faz desde nossos tempos de Oxford. Com um sorriso debochado, se j**a na cadeira à minha frente. — Até que você fica bonito sorrindo, viu.
— Vá se…
— Olha a boca! — ele me corta, rindo. Benjamin Carver pode ser um advogado brilhante, mas acima de tudo, é o único que ainda me trata como o mesmo Henry de sete anos atrás. — Acho que a última vez que te vi sorrindo foi há algumas semanas, quando você estava provocando a CEO da Majestic naquele evento de premiação.
— All Seasons e Majestic apresentaram as melhores propostas para Capri — respondo, cortando suas piadas.
— Ah, então teremos diversão. — Ben sorri, conhecendo bem minha obsessão por excelência. — Já posso imaginar seu sorriso satisfeito quando a All Seasons vencer a Majestic.
— De fato. Estou louco para colocar a atrevida da Evie Ashford em seu devido lugar. — Observo Ben ajustar os óculos, e há algo em seus olhos que me faz franzir o cenho. — Algo errado?
— Se você se preocupasse menos com suas reuniões intermináveis e mais com o que acontece nos círculos sociais de Londres, saberia dos rumores que estão circulando desde o evento de premiação.
— Se eu desse ouvidos a rumores, a All Seasons não seria o que é hoje — respondo, revirando os olhos. — Mas já que começou, termine.
— Dizem que Evie Ashford não aguentou a pressão e decidiu tirar uns dias de descanso em algum lugar do mundo.
— Descansando em menos de um ano à frente da Majestic? — Apoio o queixo sobre a mão, sentindo uma inquietação inexplicável. — Conhecendo Sebastian como conheço, é provável que ele tenha cansado de esperar que ela entregasse tudo de bom grado e a trancado em alguma jaula para assumir o controle de vez.
— E se for? — Ben dá de ombros, esticando as pernas. — Com Sebastian à frente da Majestic, as coisas só tendem a melhorar para nós.
— Realmente. Se Sebastian assumir, é questão de tempo até a All Seasons dominar o mercado. Sabemos que ele pode ser bom com as palavras, mas é péssimo como administrador — respondo, tamborilando os dedos sobre a mesa.
— Por que você parece tão incomodado com a ausência dela? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha. — Aliás, desde quando Evie Ashford deixou de ser apenas um assunto profissional? Estamos falando de uma mulher casada, Henry.
— Não quero levá-la para a cama, Ben. Na verdade, nunca pensaria nela além do profissional. Mas não posso negar que ela é... interessante — murmuro a última frase mais para mim do que para ele. — É raro encontrar alguém com coragem suficiente para me enfrentar de igual para igual, e ela fez isso na licitação de Capri. Evie Ashford sabe jogar, e eu respeito isso.
Benjamin solta uma risada e se inclina para frente, pronto para responder, mas é interrompido pela voz da minha secretária ecoando através do interfone.
— A reunião com o conselho começa em cinco minutos, Sr. Blackwood — ela avisa, fazendo Benjamin soltar um suspiro teatral.
— O dever chama nos piores momentos — ele comenta, levantando-se.
— Sempre — respondo, ajustando a gravata por hábito. Pego meu tablet e me levanto, mas algo ainda me incomoda. — Sr. Carver?
— O que preciso fazer, Sr. Blackwood? — ele pergunta, já ciente de que o que pedirei é sério.
— Mantenha os ouvidos atentos sobre a Majestic. Algo não me parece certo, e não quero ser surpreendido, especialmente com Sebastian envolvido.
— Considere feito, chefe — Benjamin responde prontamente, sem deixar de lado o tom debochado de sempre.
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas
“Evie Ashford”O som familiar dos passos de Sebastian no corredor me faz sorrir antes mesmo de ele entrar. Como todas as manhãs deste último mês, ele chega ao quarto trazendo meu café da manhã, mas desta vez, sua energia é contagiante: abre as cortinas, cantarola… Desde o acidente, Sebastian tem sido meu porto seguro, o único que permaneceu. Seguindo seu conselho, tenho evitado contato direto com as pessoas. A ideia de sentir a pena nos olhares alheios, mesmo sem poder vê-los, me sufoca.Mas, às vezes, no silêncio da casa, sinto falta das minhas amigas. Das risadas, das conversas, da cumplicidade. Sebastian diz que elas me mandam mensagens, sempre com desculpas elaboradas sobre compromissos inadiáveis. É mais fácil assim, suponho. Mais fácil para elas lidarem com minha ausência do que com minha nova realidade.Ao menos tenho Sebastian. Seu otimismo teimoso, sua presença constante. E, por enquanto, isso precisa ser suficiente.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave.
“Henry Blackwood”Desde as últimas notícias e, principalmente, a ligação anunciando que a disputa pelo resort em Capri seria entre a All Seasons e a Majestic, a imagem de Evie Ashford insiste em permanecer na minha mente. Com seus cabelos loiros, olhos esverdeados, corpo escultural e um atrevimento que parece grande demais para alguém tão baixinha, ela se tornou uma lembrança constante de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Passei os últimos dias em um misto de ansiedade e irritação, tentando manter a cabeça fria. Torcia para que as propostas surpreendentemente parecidas fossem apenas uma coincidência infeliz, mas a verdade é que a incerteza não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando, no entanto, desde aquela apresentação, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.Ao entrar na minha sala, solto um suspiro pesado e me jogo na cadeira. Ligo o computador, sentindo a familiar tensão no estômago. Em poucos
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que está fazendo aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo na bochecha, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava i
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar alguma
“Sebastian Morgan” Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. Ou talvez Henry sempre soubesse como manipular as coisas a seu favor. Desde que os problemas na minha empresa começaram, ele parecia saber exatamente onde atacar. Quando tudo finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la. Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim. Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante. — Com licença, senhores. — digo, ol
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto s
Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua descu