“Henry Blackwood”
Desde as últimas notícias e, principalmente, a ligação anunciando que a disputa pelo resort em Capri seria entre a All Seasons e a Majestic, a imagem de Evie Ashford insiste em permanecer na minha mente. Com seus cabelos loiros, olhos esverdeados, corpo escultural e um atrevimento que parece grande demais para alguém tão baixinha, ela se tornou uma lembrança constante de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.
Passei os últimos dias em um misto de ansiedade e irritação, tentando manter a cabeça fria. Torcia para que as propostas surpreendentemente parecidas fossem apenas uma coincidência infeliz, mas a verdade é que a incerteza não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando, no entanto, desde aquela apresentação, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.
Ao entrar na minha sala, solto um suspiro pesado e me jogo na cadeira. Ligo o computador, sentindo a familiar tensão no estômago. Em poucos segundos, a página carregada diante de mim tira meu fôlego: a proposta da Majestic Ashford venceu a disputa.
O que me deixa irado não é apenas o fato de terem vencido, mas a maneira como fizeram isso.
— Porra! — vocifero, batendo a mão na mesa para evitar jogar o notebook na parede. O som ecoa pela sala, misturando-se à raiva que sinto.
Nesse momento, a porta se abre e Benjamin entra com uma expressão preocupada.
— Henry, parece que algo está pegando fogo por aqui — diz ele, tentando aliviar a atmosfera tensa enquanto se aproxima. — Estou ouvindo seus gritos lá do corredor. O que aconteceu?
— Olhe para isso! — exclamo, apontando para o notebook. — Veja isso e me diga que não há nada muito, muito errado aqui.
Benjamin para ao meu lado, analisando a proposta vencedora exibida na tela. Ele franze a testa, ajustando os óculos com um gesto automático.
— Bem, a proposta da Majestic Ashford é impressionante, sem dúvida. Mas… — ele diz, levantando uma sobrancelha em minha direção. — O que exatamente está te deixando tão frustrado?
— Me recuso a acreditar que você esteja realmente fazendo essa pergunta, Benjamin — respondo, esfregando o rosto antes de encará-lo. — Talvez você precise trocar seus óculos. Leia a parte das cláusulas contratuais, aquela que você me irritou até ficar do seu agrado.
Revirando os olhos, ele se aproxima mais da tela para examinar os detalhes. Passa a mão pelos cabelos, visivelmente preocupado.
— Agora que você mencionou… há semelhanças, sim. — Ele suspira, retirando os óculos e esfregando os olhos. — Mas, sem provas concretas de roubo de informações, isso pode passar como mera coincidência. Empresas costumam ter estratégias parecidas em alguns aspectos.
— Coincidência? — repito, incrédulo, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim. — Coincidência é o caralho! Cada maldito ponto é uma versão aprimorada do que a All Seasons propôs. Eu deveria imaginar que não era simples acaso, alguém está jogando sujo!
— Então, você acha que vazaram sua proposta? — Ele se senta na cadeira à minha frente, pensativo. — Isso explicaria muita coisa, mas… quem teria acesso? Nossa equipe era extremamente restrita. Alguém próximo, alguém em quem você confiava?
— Isso é o que preciso descobrir — murmuro, passando a mão pelos cabelos. — Se eu tiver que cavar até o inferno para achar quem fez isso, eu vou. E quando encontrar, Benjamin, quem facilitou esse roubo pagará.
— Vou começar a investigar isso discretamente, Henry.
— Até que enfim o advogado que existe aí dentro começou a pensar! — resmungo, vendo-o revirar os olhos enquanto ajeita os óculos.
— Vou relevar isso porque sei o quanto você está puto, mas não pense que esquecerei, Sr. Blackwood. — Ele provoca, e dessa vez sou eu quem revira os olhos.
— Contanto que me traga algo satisfatório, não me importo se vai me cobrar depois, Benjamin. Sugiro que comece quanto antes.
— Vou começar agora mesmo, mas preciso de tempo. Não adianta agir com pressa e deixar rastros. — Ele faz uma pausa, levantando-se. — Apenas mantenha a calma, OK? Isso precisa ser tratado com inteligência, não com impulsos.
— Sei muito bem disso, acredite — respondo, fechando o notebook bruscamente. — Ou eu não estaria aqui falando com você. Enfim, espero que me traga boas notícias.
— Vou fazer o possível, Henry. Mas lembre-se, paciência. Vamos resolver isso — ele diz, com uma calma que parece quase fora de lugar diante da minha raiva. — Até logo.
A porta se fecha, e o silêncio toma conta da sala. Solto um longo suspiro, tentando me concentrar no trabalho à minha frente, mas é como tentar apagar um incêndio com uma taça d'água. A irritação me consome, queimando minha capacidade de focar em qualquer coisa que não seja a traição.
Abro o notebook novamente, passando os olhos pelos relatórios financeiros. As palavras parecem embaçadas, como se minha mente se recusasse a colaborar. Fecho os olhos por um momento, tentando forçar um pouco de lógica em meio ao caos que sinto. Mas tudo o que surge é a mesma pergunta: quem?
— Seja lá quem estiver por trás disso, vou ter o imenso prazer de destruir essa pessoa — resmungo, sentindo o ódio crescer dentro de mim.
Meus pensamentos são interrompidos pelo som suave da porta se abrindo novamente. Endireito-me na cadeira, esperando que seja Benjamin de volta, mas a voz que ecoa pela sala é outra.
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que está fazendo aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo na bochecha, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava i
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar alguma
“Sebastian Morgan” Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. Ou talvez Henry sempre soubesse como manipular as coisas a seu favor. Desde que os problemas na minha empresa começaram, ele parecia saber exatamente onde atacar. Quando tudo finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la. Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim. Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante. — Com licença, senhores. — digo, ol
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto s
Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua descu
Já se passaram algumas semanas desde que permiti que Kim ficasse. No começo, sua presença era quase imperceptível. Se não fosse pelas refeições, eu nem notaria que havia alguém além de mim na casa. Ela respeitava meu espaço, nunca forçando sua presença enquanto eu me agarrava à minha necessidade de independência.Com o tempo, no entanto, as coisas começaram a mudar. Kim se aproximou de maneira sutil — um copo de suco aqui, um comentário sobre o clima ali. Ela descrevia o dia lá fora, mesmo sabendo que eu não podia ver. De alguma forma, isso me tocava.Agora, estamos sentadas na varanda. O ar fresco da tarde balança meus cabelos, e Kim, como de costume, descreve o céu, o brilho do sol, as nuvens preguiçosamente se movendo no horizonte. Ela faz isso com tanto cuidado que, por um instante, é como se eu pudesse enxergar novamente.— O céu está tão limpo hoje, Evie — comenta Kim. — Quase não vejo nuvens. É um daqueles dias perfeitos, sabe? Onde um banho de piscina cairia muito bem.Ela cont
Fico em silêncio por um momento, com a boca entreaberta em choque. As palavras de Lily reverberam em minha mente, mas, antes que eu possa responder, balanço a cabeça, tentando entender. Sebastian disse que eu não queria vê-las? Por quê? Balanço a cabeça lentamente, tentando encontrar uma justificativa. Ele sempre quis me proteger, mesmo quando eu não pedia, mas dizer isso a elas não faz sentido.— Lily... — começo hesitante, percebendo que preciso explicar tudo desde o início. — Aconteceu algo que vocês não sabem. Eu... tive um acidente. — O que... Por que ninguém nos contou?— Eu fiquei com vergonha de me verem assim e comentei isso com Sebastian — explico, tentando encontrar uma justificativa para o que Sebastian fez. — Ele pode ter levado isso a sério demais, mas nunca impedi que vocês me procurassem.— Evie, Chloe e eu viemos aqui duas ou três vezes, mas nunca fomos recebidas — ela responde, me guiando para sentarmos. — Na última vez, depois de muito insistir, sua governanta nos
Minha mente trabalha rápido, e a empolgação pela chance de voltar a enxergar me enche de coragem. Ainda assim, opto por não contar a Sebastian. Se não der certo, ele ficaria decepcionado, e eu não quero que ele veja meu fracasso. Mas, se der certo… eu teria a oportunidade de surpreendê-lo quando voltasse a Londres enxergando.— Estávamos falando sobre o aniversário de Chloe — começo, tentando soar convincente. — Como sempre viajamos para comemorar nossos aniversários, Lily sugeriu que fôssemos para os Alpes Franceses este ano.— Ah, querida. Você realmente acha que isso seria uma boa ideia? — ele pergunta, aproximando-se. Sinto o toque suave dos lábios de Sebastian em minha testa, e um sorriso surge em meu rosto. Abro a boca para responder, mas antes que consiga, Lily fala primeiro.— Por que não seria, Sebastian? — ela dispara, sem me dar a chance de falar.A tensão no ar é palpável, e posso imaginar a expressão de surpresa no rosto de Sebastian. Ele se senta no braço do sofá, ao meu