— Tudo bem, vou tentar te esperar… — murmuro, com uma ponta de esperança, desejando que ele finalmente durma comigo.
Ao ouvir a porta do quarto se fechar, solto um suspiro pesado. Desde que tudo aconteceu, Sebastian se tornou meu cuidador, meu amigo, meu companheiro, mas parece ter se esquecido do seu papel de marido, pois nunca mais me tocou. Ultimamente, tudo se resume a ele chegar tarde o suficiente para que eu nem perceba quando se deita, e acordar cedo o bastante para que eu desperte sozinha.
Fecho os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos, mas eles insistem. Desde o acidente, minha vida virou de cabeça para baixo, e as coisas entre nós mudaram. Pergunto-me o que aconteceu com o homem que me olhava com tanto desejo. Será que minha cegueira o afastou? Ou será que ele simplesmente… cansou? Enquanto esses pensamentos percorrem minha mente, sinto o peso nos olhos aumentar. O som da sua voz, já distante, vai se esvaindo até que, antes que eu perceba, o sono me vence. Ao acordar, a primeira coisa que faço é estender a mão para o lado da cama, torcendo para encontrar Sebastian ainda dormindo. Meus dedos tateiam os lençóis, mas só encontram o tecido frio e vazio. Um suspiro frustrado escapa dos meus lábios. Mais uma vez, ele saiu antes que eu sequer acordasse. — Que droga! — resmungo, sentando-me. — O que está acontecendo com você, Sebastian? Com os pés tocando o chão, levanto-me com cuidado. Tocar as paredes e me orientar pelo tato tornou-se uma segunda natureza para mim, algo que aprendi a dominar nas últimas semanas. Sebastian costumava me ajudar, mas, aos poucos, quis provar que poderia fazer certas coisas sozinha. Minha higiene pessoal foi a primeira delas. Tateio o caminho até o banheiro, contando os passos mentalmente, e entro no espaço familiar. Movimentos lentos, porém confiantes, guiam-me, seguindo a rotina que memorizei ao longo do tempo. Escovar os dentes, lavar o rosto… essas pequenas rotinas se tornaram um símbolo de que ainda posso ser independente. Após terminar, volto a tatear as paredes e contar passos com a intenção de ir até a cozinha. No entanto, em meio ao silêncio da casa, uma voz feminina invade meus ouvidos, animada e alta, vinda da direção da sala. Paro por um instante, reconhecendo aquela voz de imediato. — O que ela está fazendo aqui? — sussurro, sentindo meu coração acelerar. Minha mente corre, tentando entender por que ela estaria aqui, especialmente a essa hora. — Não acredito que ele fez isso!Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua descu
Já se passaram algumas semanas desde que permiti que Kim ficasse. No começo, sua presença era quase imperceptível. Se não fosse pelas refeições, eu nem notaria que havia alguém além de mim na casa. Ela respeitava meu espaço, nunca forçando sua presença enquanto eu me agarrava à minha necessidade de independência.Com o tempo, no entanto, as coisas começaram a mudar. Kim se aproximou de maneira sutil — um copo de suco aqui, um comentário sobre o clima ali. Ela descrevia o dia lá fora, mesmo sabendo que eu não podia ver. De alguma forma, isso me tocava.Agora, estamos sentadas na varanda. O ar fresco da tarde balança meus cabelos, e Kim, como de costume, descreve o céu, o brilho do sol, as nuvens preguiçosamente se movendo no horizonte. Ela faz isso com tanto cuidado que, por um instante, é como se eu pudesse enxergar novamente.— O céu está tão limpo hoje, Evie — comenta Kim. — Quase não vejo nuvens. É um daqueles dias perfeitos, sabe? Onde um banho de piscina cairia muito bem.Ela cont
Fico em silêncio por um momento, com a boca entreaberta em choque. As palavras de Lily reverberam em minha mente, mas, antes que eu possa responder, balanço a cabeça, tentando entender. Sebastian disse que eu não queria vê-las? Por quê? Balanço a cabeça lentamente, tentando encontrar uma justificativa. Ele sempre quis me proteger, mesmo quando eu não pedia, mas dizer isso a elas não faz sentido.— Lily... — começo hesitante, percebendo que preciso explicar tudo desde o início. — Aconteceu algo que vocês não sabem. Eu... tive um acidente. — O que... Por que ninguém nos contou?— Eu fiquei com vergonha de me verem assim e comentei isso com Sebastian — explico, tentando encontrar uma justificativa para o que Sebastian fez. — Ele pode ter levado isso a sério demais, mas nunca impedi que vocês me procurassem.— Evie, Chloe e eu viemos aqui duas ou três vezes, mas nunca fomos recebidas — ela responde, me guiando para sentarmos. — Na última vez, depois de muito insistir, sua governanta nos
Minha mente trabalha rápido, e a empolgação pela chance de voltar a enxergar me enche de coragem. Ainda assim, opto por não contar a Sebastian. Se não der certo, ele ficaria decepcionado, e eu não quero que ele veja meu fracasso. Mas, se der certo… eu teria a oportunidade de surpreendê-lo quando voltasse a Londres enxergando.— Estávamos falando sobre o aniversário de Chloe — começo, tentando soar convincente. — Como sempre viajamos para comemorar nossos aniversários, Lily sugeriu que fôssemos para os Alpes Franceses este ano.— Ah, querida. Você realmente acha que isso seria uma boa ideia? — ele pergunta, aproximando-se. Sinto o toque suave dos lábios de Sebastian em minha testa, e um sorriso surge em meu rosto. Abro a boca para responder, mas antes que consiga, Lily fala primeiro.— Por que não seria, Sebastian? — ela dispara, sem me dar a chance de falar.A tensão no ar é palpável, e posso imaginar a expressão de surpresa no rosto de Sebastian. Ele se senta no braço do sofá, ao meu
“Sebastian Morgan” Observo com um sorriso enquanto Evie termina de assinar os documentos. Cada assinatura é um passo mais próximo de me livrar desse fardo de uma vez por todas. Quando ela coloca a caneta de lado, uma onda de satisfação me invade. — Pronto, meu amor — ela murmura, fazendo a cena patética de olhar ao redor procurando por mim, como se conseguisse enxergar algo. — Sebastian, você está aqui? — Sim, querida — respondo, aproximando-me. Evie se levanta ao sentir meu toque em seu ombro e envolve os braços em minha cintura. A maneira como se entrega ao meu abraço me faz sorrir ainda mais. Não por afeto, mas por satisfação. Finalmente, meus planos estão progredindo como deveriam. Sinto suas mãos deslizarem pelo meu corpo, e seus lábios encontram os meus, evidenciando suas intenções. Carente, como sempre foi. Retribuo o beijo, mantendo o disfarce de marido perfeito e afetuoso, mas por dentro, uma parte de mim se afasta. Desde que Evie caiu da escada e ficou cega, o que antes
Ao ver seu sorriso, uma onda de irritação me atinge, mas decido ignorá-la, pelo menos por um momento. Ela sempre soube mais do que devia, e suas provocações se tornaram cada vez mais frequentes.— Já vi que o chefinho não dormirá em casa — provoca, deixando a revista de lado, com um tom de desafio claro na voz.Sem responder, me aproximo rapidamente e, sem aviso, seguro seu pescoço, pressionando-a contra o encosto do sofá. Seus olhos se arregalam, mas ela não se afasta, nem tenta reagir. Apenas me encara, com aquele sorriso irritante ainda nos lábios.— Eu te contratei para administrar a medicação da Evie, para garantir que nada dê errado e que ela continue cega — murmuro entre dentes, apertando seu pescoço um pouco mais. — Não para deixar que ela ligue para quem quiser. Isso poderia ter colocado tudo a perder.— Proibir ligações não estava no combinado, Sebastian — responde, com um tom carregado de sarcasmo. — E se isso for parte do acordo agora, acho que meu salário deveria aumentar,
“Evie Ashford”Uma semana se passou desde que Lily apareceu e logo começou a preparar tudo para a viagem. As malas já estão prontas, e hoje finalmente vamos para os Alpes Franceses. O que antes parecia um sonho esquecido agora é uma realidade. Sinto uma mistura de ansiedade e esperança. Adrian poderá me dizer se ainda há alguma chance para mim.— As malas estão prontas, Evie — ouço a voz suave de Lily, me tirando dos meus pensamentos.Agradeço com um aceno de cabeça e respiro fundo. A sensação de que algo grande está prestes a acontecer não me deixa. Talvez seja o começo de algo novo… ou o fim de todas as esperanças.— Estou pronta — digo em voz baixa, mais para mim mesma do que para Lily.Minha amiga coloca minha mão em seu ombro e saímos do quarto. Respiro fundo, sentindo meu coração apertar, mesmo com a expectativa tomando conta de mim. Sebastian não quis estar aqui quando eu saísse. A distância que já havia entre nós parece ter triplicado ao longo da última semana, e eu não consigo
Minha respiração fica suspensa por um momento, e sinto minha garganta apertar. Percebo Lily se mexer ao meu lado, e o toque de sua mão no meu braço me tranquiliza por um instante, mas a ansiedade já começa a tomar conta de mim.— Como assim, algo não faz sentido? — pergunto, sentindo minha voz sair trêmula.— Bem, pelos exames que você me trouxe, Evie, há algo aqui que não condiz com o diagnóstico que você recebeu — Adrian responde com cuidado, ainda folheando os papéis. — A medicação que você está tomando, por exemplo, não deveria ser recomendada para alguém com o seu tipo de lesão. Na verdade, ela poderia ter causado mais danos à sua visão, se é que já não está prejudicando.— Então… o que você quer dizer? — pergunto, quase num sussurro, sentindo meu coração disparar. Adrian solta um suspiro e fecha a pasta.— Quero dizer que precisamos realizar mais testes. Não vou me precipitar, mas há uma chance de que a medicação que lhe foi prescrita tenha sido inadequada. Talvez até desnecessár