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10. Não Acredito Que Ele Fez Isso!

“Evie Ashford”

Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente.

Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles.

Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente.

— Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala.

— Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui?

— Está tudo bem?

— Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto sua mão segurar meu braço, e o simples gesto parece me acalmar. — Só estava me livrando da gravata, foi um dia difícil. O que está fazendo aqui? Você deveria estar dormindo, querida.

— Eu sei, mas… os calmantes parecem não fazer mais efeito, e eu estava entediada no quarto.

— Entendo, querida. Vamos voltar para o quarto. Vou te ajudar a relaxar — conclui, segurando minha cintura.

Sebastian me conduz de volta ao quarto e, por um breve momento, sinto-me segura. Assim que chegamos, ele me guia até a cama e me ajuda a deitar.

— Vou buscar um copo de leite para você, que tal? — pergunta, ajeitando o travesseiro sob minha cabeça. — Tenho certeza de que isso vai ajudar mais do que os remédios naturais que você toma.

— Obrigada, meu amor — respondo com um sorriso, mesmo sabendo que ele não reflete o que estou sentindo por dentro. O cansaço emocional, a distância entre nós… Mas aceito o gesto com gratidão.

Ele se afasta, e o silêncio domina o quarto por alguns minutos. Quando ele retorna, o cheiro do leite quente preenche o ar. Sebastian me entrega o copo, e eu bebo devagar, conforme sua recomendação. Assim que termino, ele deposita um beijo suave na minha testa.

— Vou comer algo antes de deitar com você — avisa, já se afastando.

— Tudo bem, vou tentar te esperar… — murmuro, com uma ponta de esperança, desejando que ele finalmente durma comigo.

Ao ouvir a porta do quarto se fechar, solto um suspiro pesado. Desde que tudo aconteceu, Sebastian se tornou meu cuidador, meu amigo, meu companheiro, mas parece ter se esquecido do seu papel de marido, pois nunca mais me tocou. Ultimamente, tudo se resume a ele chegar tarde o suficiente para que eu nem perceba quando se deita, e acordar cedo o bastante para que eu desperte sozinha.

Fecho os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos, mas eles insistem. Desde o acidente, minha vida virou de cabeça para baixo, e as coisas entre nós mudaram. Pergunto-me o que aconteceu com o homem que me olhava com tanto desejo. Será que minha cegueira o afastou? Ou será que ele simplesmente… cansou?

Enquanto esses pensamentos percorrem minha mente, sinto o peso nos olhos aumentar. O som da sua voz, já distante, vai se esvaindo até que, antes que eu perceba, o sono me vence.

Ao acordar, a primeira coisa que faço é estender a mão para o lado da cama, torcendo para encontrar Sebastian ainda dormindo. Meus dedos tateiam os lençóis, mas só encontram o tecido frio e vazio. Um suspiro frustrado escapa dos meus lábios. Mais uma vez, ele saiu antes que eu sequer acordasse.

— Que droga! — resmungo, sentando-me. — O que está acontecendo com você, Sebastian?

Com os pés tocando o chão, levanto-me com cuidado. Tocar as paredes e me orientar pelo tato tornou-se uma segunda natureza para mim, algo que aprendi a dominar nas últimas semanas. Sebastian costumava me ajudar, mas, aos poucos, quis provar que poderia fazer certas coisas sozinha. Minha higiene pessoal foi a primeira delas.

Tateio o caminho até o banheiro, contando os passos mentalmente, e entro no espaço familiar. Movimentos lentos, porém confiantes, guiam-me, seguindo a rotina que memorizei ao longo do tempo. Escovar os dentes, lavar o rosto… essas pequenas rotinas se tornaram um símbolo de que ainda posso ser independente.

Após terminar, volto a tatear as paredes e contar passos com a intenção de ir até a cozinha. No entanto, em meio ao silêncio da casa, uma voz feminina invade meus ouvidos, animada e alta, vinda da direção da sala. Paro por um instante, reconhecendo aquela voz de imediato.

— O que ela está fazendo aqui? — sussurro, sentindo meu coração acelerar. Minha mente corre, tentando entender por que ela estaria aqui, especialmente a essa hora. — Não acredito que ele fez isso!

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