“Algumas semanas depois…”Alguns dias após minha chegada aos Alpes, tudo começou a ficar claro. Não era só minha visão que estava em ruínas, meu casamento também. No início, a ideia de voltar a enxergar e surpreender Sebastian com minha recuperação era o que me impulsionava. Eu quase podia visualizar o choque em seu rosto. Acreditei que isso nos reaproximaria.Mas, conforme os dias passavam, as mensagens de Sebastian se tornavam cada vez mais raras. Eram curtas, distantes, desinteressadas. Ele não perguntava como eu estava, nem demonstrava preocupação com minha ausência. A indiferença dele me atingiu em cheio. A distância, que eu achava temporária, agora parecia irreversível. Foi então que entendi: ele não se importava mais comigo. E eu precisava fazer isso por mim, não por ele.Então vieram os exames. Adrian confirmou o que, no fundo, eu já suspeitava. O tratamento estava errado e havia piorado minha condição. Os remédios, a confiança cega no médico de Sebastian… tudo foi um erro. E e
Uma semana se passou desde que minha vida voltou a ter cor, e, a cada dia, minha visão parece ganhar mais clareza, mesmo que lentamente. O processo de adaptação tem sido gradual, mas a realidade é que estou vendo o mundo novamente. Claro, minha visão ainda não está perfeita — as imagens à distância continuam desfocadas, mas de perto, posso ver. E isso já é mais do que eu poderia ter sonhado.Mesmo com uma cicatriz desastrosa no rosto, não canso de olhar meu reflexo no espelho. Algo tão simples, algo que tantas vezes ignorei, mas que agora carrega um significado completamente diferente. Para muitos, seria apenas mais uma manhã diante do espelho. Para mim, é uma vitória.— Evie, por acaso você vai a um casamento? — Chloe pergunta, batendo à porta. — Meu Deus, que demora! Estou com fome!Solto uma risada suave, balançando a cabeça diante do comentário exagerado dela. Ajeito o casaco e dou uma última olhada no espelho, abrindo um sorriso bobo.— Já estou indo! — respondo, abrindo a porta d
O ar parece sumir dos meus pulmões enquanto minha mente tenta processar a cena. Ao lado de Sebastian, uma mulher morena, elegantemente vestida, cruza as pernas com um sorriso satisfeito no rosto. A dor no meu peito se intensifica, misturando-se à raiva que começa a ferver em mim.— O que foi? — Sebastian pergunta, levantando-se da poltrona. — Além de cega, também ficou muda?Meu coração b**e forte e a adrenalina corre pelo meu corpo, mas, em vez de explodir, mantenho o controle, deixando que ele acredite estar no comando da situação. Com um movimento suave, seguro a mão de Chloe.— Me leva até ele, por favor — murmuro, fingindo uma tranquilidade que não existe em mim.Ela me olha, confusa, mas faz o que peço, guiando-me até onde Sebastian está. Sinto o peso do olhar dele me avaliando, desdenhoso, e me aproximo lentamente, fingindo ainda estar cega. Quando paro em frente a ele, mantenho meu rosto inexpressivo e meu olhar vago.— Sabe, agora que não preciso mais fingir, confesso que te v
Sinto o choque me atingir, fazendo meu coração bater com tanta força que o sangue pulsa nos meus ouvidos. Imediatamente, nego com a cabeça, recusando-me a acreditar no que ele está dizendo. Não posso acreditar.— Pare com essa brincadeira ridícula e saia da minha casa, Sebastian! — exclamo, tentando em vão manter a voz firme. — Esta casa é minha. Afinal, você não tem nada. Conseguiu perder tudo o que tinha, porque tudo o que você toca apodrece, seca, como se estivesse amaldiçoado. Pegue a sua amante e saia agora!— Ah, Evie… — Ele balança a cabeça, como se estivesse diante de uma criança que não entende as regras do jogo. — Você recupera a visão e perde o cérebro?— Como você ousa falar com… — Chloe tenta intervir, mas Sebastian a interrompe.— Quietinha… Isso é assunto entre marido e mulher. — Ele diz, com um aceno de mão, dispensando Chloe como se ela não passasse de um cão. — Onde estávamos? Ah, sim, sobre a sua ingenuidade… Veja bem, querida. Lembra-se daqueles documentos que você
A noite já caiu, e a chuva b**e contra a janela, acompanhando o silêncio pesado que preenche a sala. Faz algumas horas desde que tudo desmoronou. Sentada no sofá do meu antigo apartamento, percorro o olhar pelo lugar. Os poucos móveis que restam são as únicas lembranças do que fui. O resto? Tudo pertence a Sebastian agora. Com os dedos trêmulos, afasto os cabelos do rosto molhado de lágrimas. Chloe e Lily, que veio assim que soube do que aconteceu, estão ao meu lado em silêncio, com os rostos carregados de preocupação. A presença delas deveria ser um consolo, mas nada parece amenizar a dor que sinto. — Como fui tão burra? — sussurro, externando meus pensamentos conflitantes. — Como pude confiar nele a ponto de perder tudo o que minha família construiu? — Evie… — Chloe começa, trocando olhares com Lily antes de continuar. — Me desculpe pela franqueza, mas os sinais estavam lá o tempo todo. Só que… — Ela faz uma pausa, procurando as palavras certas. — Mulheres apaixonadas podem ficar
Os últimos cinco dias se arrastam, um após o outro, como se o tempo me puxasse para um vazio esmagador. Desde aquela noite em que tudo desabou, parece que eu não vivo mais; apenas existo.Lily e Chloe fazem o possível para me animar, mas em meio aos compromissos delas, há momentos inevitáveis em que fico sozinha. E é nesses momentos que a realidade me atinge com força brutal, arrancando soluços e lágrimas que parecem intermináveis.Como se tudo não fosse o bastante, todas as minhas tentativas de entrar em contato com o Sr. Thompson foram inúteis. Nenhuma notícia, nenhum sinal dele. É como se ele tivesse desaparecido, e, sem ele, estou ainda mais perdida sobre o que fazer com… tudo.E então, o sábado chegou. Lily está de plantão no hospital, mas Chloe insistiu em não me deixar sozinha. Uma reunião informal, ela disse, para eu não me preocupar. Mas enquanto me olho no espelho, tentando reunir forças para me arrumar, sinto um nó se formar no estômago.— Sei que você não está animada — Chl
O comentário dele me pega de surpresa por um segundo, trazendo de volta a lembrança do nosso último encontro. A mesma arrogância, a mesma confiança excessiva. Tento manter minha expressão neutra, mas sinto meu corpo tensionar com a provocação. — Henry Blackwood… — resmungo, controlando a vontade de revirar os olhos. — Sempre tão simpático, não é? — Simpático o suficiente para esquecer o pequeno incidente em Genebra e me sentar à mesa com você. — Ele dá um olhar significativo para a minha taça enquanto se senta. — Só espero que você tenha aprendido a controlar melhor suas bebidas. — Ok, alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui? — Chloe pergunta, confusa, franzindo a testa. — Porque claramente estou perdendo alguma coisa. — Bem… — Benjamin começa, trocando olhares com Henry antes de encará-la novamente. — Digamos que o último encontro deles foi meio molhado. — Molhado? — ela repete, inclinando-se um pouco para frente enquanto arregala os olhos exageradamente. — Isso e
“Henry Blackwood”Observo enquanto Evie levanta a cabeça, claramente tentando manter a compostura. Por um momento, espero uma resposta à altura, algo cortante que ela costumava ter na ponta da língua. Mas tudo o que vejo é o brilho da raiva em seus olhos.— Quer saber, Henry? — Evie responde, me encarando como se quisesse me enforcar, e isso me provoca um sorriso. — Desde que te vi chegar, sabia que estar aqui seria um erro.Finalmente, ela reagiu! Esse olhar triste e derrotado que ela vinha carregando estava começando a me entediar. Dou um gole no meu uísque, ansioso pelas próximas palavras afiadas que ela deve ter preparado.Mas, surpreendentemente, ela se cala. Vejo sua mandíbula se contrair enquanto tenta se controlar, como se estivesse travando uma batalha interna. A Evie que conheci em Genebra nunca hesitaria em me atacar de volta, em continuar se impondo, mas agora ela parece hesitante, até mesmo vulnerável.Quase sinto uma pontada de desapontamento. Onde está a mulher que nunca