Quase uma hora se passou desde que minha bolsa estourou. Por recomendação da médica, viemos diretamente ao hospital antes que as contrações começassem de verdade.A correria quando perceberam a situação foi surreal, com Chloe e Lily claramente emocionadas. Chloe, em particular, quis abandonar o próprio casamento para nos acompanhar, mas acabou sendo convencida por todos a ficar. Lily também se prontificou a vir comigo, mas consegui convencê-la a permanecer com nossa amiga dramática. Afinal, se a noiva ficasse sozinha, seria capaz de inventar uma desculpa para aparecer aqui.Entro no hospital caminhando na velocidade que essa barriga pesada me permite. Henry permanece ao meu lado com os dedos entrelaçados aos meus, me dando sorrisos surpreendentemente calmos. Mas sei que isso não passa de fachada.— Srta. Ashford? — Uma enfermeira se aproxima com uma cadeira de rodas. — Vamos levá-la para a sala de avaliação.— Vou acompanhá-los — Henry diz, num tom firme, embora eu perceba um leve tre
“Henry Blackwood”São quatro da manhã e estou ninando nosso pequeno Theo pela terceira vez esta noite. É a nossa segunda noite desde que Daphne e Theo chegaram ao mundo, e tudo ainda parece tão surreal quanto emocionante. Evie finalmente conseguiu dormir após outra mamada particularmente difícil.Observo nosso filho, tão pequeno em meus braços, e então olho para Daphne, que dorme tranquilamente no pequeno berço ao lado da mãe. Me pergunto como vivi tanto tempo achando que sucesso se media em números em uma conta bancária.Theo se mexe, ameaçando chorar novamente, e começo a cantarolar baixinho aquela mesma música que minha mãe cantava para Olivia. É engraçado como certas memórias voltam quando menos esperamos. Jamais imaginei que me lembraria dessa canção, muito menos que a usaria para acalmar meu próprio filho.Caminho até a janela do quarto, observando a cidade ainda adormecida. O céu começa a clarear timidamente, anunciando que logo o dia começará. Penso em todas as reuniões que te
“Evie Ashford”O tempo é engraçado. Parece que foi ontem que Daphne deu seus primeiros passos, enquanto Theo, admirando a nova habilidade da irmã, decidiu que não queria ficar para trás e repetiu o ato na mesma semana. Agora, aqui estamos nós, três anos depois, e aqueles pequenos que mal cabiam nos meus braços estão correndo pela casa com uma energia inesgotável.Daphne e Theo completaram três anos na semana passada. A festa foi um caos delicioso, cheia de risadas, balões e, claro, doces suficientes para deixar todas as crianças em estado de pura euforia. Theo, como sempre, roubou a cena com sua dança desajeitada, enquanto Daphne comandava as brincadeiras com a autoridade de uma pequena rainha.E Henry? Ele continua sendo o mesmo homem que me faz perder o fôlego, mas agora também é um pai dedicado, paciente (ou pelo menos tenta ser) e completamente apaixonado pelos nossos pequenos.Observá-lo com Daphne e Theo sempre me faz lembrar do quanto minha vida mudou desde que o conheci. De um
“Henry Blackwood”Ajusto a gravata pela décima vez nos últimos cinco minutos, observando o jardim se encher lentamente. Ao meu lado, Benjamin revira os olhos, claramente se divertindo com meu nervosismo.— Se continuar assim, vai acabar arrancando essa gravata antes mesmo dela chegar — ele comenta, com um sorriso irônico.— Não consigo evitar — respondo, passando a mão pelos cabelos pela milésima vez. — Por que estou tão nervoso? Já vivemos juntos há anos, administramos um império juntos, temos dois filhos…— Porque é a Evie — ele diz, dando de ombros, como se isso fosse a explicação mais óbvia do mundo. E, de certa forma, é.Theo corre em nossa direção, sua gravata borboleta já torta, e se joga nos meus braços. Mesmo após três anos, ainda me surpreendo com a força desse amor. — Papai, a mamãe está linda! — ele exclama, empolgado. — Igual uma princesa!— Mas é surpresa, bobinho! — Daphne complementa, chegando logo atrás do irmão. Ela está linda em seu vestido rosa, uma miniatura de
Respiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.— Estou pronta, meu am…— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquel
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se ap
“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”É inevitável não soltar uma risada ao ler a última
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas