Respiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.
— Estou pronta, meu am…
— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.
— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?
— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.
— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…
— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquele projeto sustentável que desenvolvi para o Majestic Dubai, o prêmio já é nosso.
— Que eu desenvolvi — murmuro para mim mesma, desistindo de tentar convencê-lo de que fui eu quem passou meses planejando e implementando cada detalhe.
Entro no carro, encontrando-o ainda com o mesmo sorriso convencido no rosto. O caminho até o Hotel President Wilson passa mais rápido do que eu gostaria, e, antes que perceba, estamos parados em frente à entrada. Assim que saio do carro, observo a movimentação ao nosso redor e sorrio.
Sebastian entrou na minha vida em um evento como este, há quase quatro anos. Naquela noite, eu era apenas uma jovem perdida, acompanhando meu pai a mais um evento beneficente no meio hoteleiro. Então, Sebastian se aproximou, me fez sentir como se eu fosse única, sem nem saber meu sobrenome.
Com suas palavras doces e sorrisos sinceros, antes que percebesse, eu já estava completamente rendida. Tem sido assim desde então. Três anos de casamento perfeito. Ele é o marido ideal: carismático, ambicioso e, acima de tudo, devotado a mim.
E mesmo que, às vezes, seu comportamento me confunda, sei que tudo o que ele faz é para me proteger. “Evie, você é brilhante,” Sebastian sempre diz. “Mas o mundo dos negócios… é cruel. Só quero que todos saibam que você não está sozinha, que estou ao seu lado para te proteger.”
— Vamos cumprimentar o diretor do conselho, querida — Sebastian diz, trazendo-me de volta à realidade ao segurar minha cintura, em um gesto familiarmente possessivo.
Coloco meu melhor sorriso no rosto — uma expressão forçada, mas necessária — e deixo que ele me guie até o grupo de homens que conversam entre si. Após alguns cumprimentos, Sebastian rapidamente conduz a conversa para onde quer: o projeto que está concorrendo a um dos prêmios desta noite.
Por alguns minutos, observo meu marido falar com a confiança de quem viveu cada detalhe durante meses de planejamento. Meses que eu passei debruçada sobre plantas e relatórios, noites que eu fiquei sem dormir para garantir que cada aspecto estivesse perfeito. No fim, ele apenas assinou seu nome acima do meu.
— O diferencial foi ir além do óbvio — Sebastian gesticula, empolgado. — Então criamos um ecossistema completo.
— Na verdade, o eco…
Tento explicar melhor, mas um sutil aperto na minha cintura me faz calar. Entendo o recado. Ele quer que eu aja como aqueles pinguins do filme Madagascar: “apenas sorria e acene, querida.” Forço outro sorriso e concordo com a cabeça enquanto ele continua a falar. É mais fácil assim.
Meu olhar percorre o salão enquanto a conversa prossegue. Sorrisos vazios, cumprimentos falsos, carência disfarçada de cordialidade… típico desses eventos. E é aí que o vejo.
Henry Blackwood, CEO da All Seasons, está do outro lado do salão, conversando com dois homens. Com seus cabelos escuros impecavelmente arrumados e vestindo um terno feito sob medida, sua postura irritantemente confiante o torna ainda mais imponente.
Henry é exatamente o tipo de homem que meu pai sempre me aconselhou a evitar: charmoso demais para ser confiável, poderoso demais para ser ignorado. O império hoteleiro que ele construiu do zero faz da All Seasons nossa maior concorrente, e Henry parece transformar cada encontro em uma provocação calculada.
Seus olhos acinzentados encontram os meus através do salão, e, por um momento irritantemente longo, sinto como se ele estivesse tentando me decifrar, como se eu fosse um enigma interessante. Um sorriso presunçoso surge lentamente em seus lábios, e isso é o suficiente para que eu revire os olhos. “Rivalidade irritante,” penso.
— … não é mesmo, querida?
A voz de Sebastian me traz de volta, e percebo que perdi tempo demais observando alguém que não merece minha atenção.
[…]
A noite se arrasta por mais algumas horas, até que Sebastian finalmente sugere irmos embora. Sinto-me exausta; sorrir e acenar por tanto tempo consome mais energia do que deveria. Logo estamos de volta ao carro, a caminho de casa.
Pouco depois, ele abre a porta para mim, me conduzindo até a sala de estar. Após me colocar sentada no sofá, segue até a adega.
— Que tal uma bebida para terminar a noite? — ele sugere, voltando com duas taças de vinho em mãos.
— Não sei se é uma boa ideia, Sebastian. Estou exausta e...
— É o nosso ritual, querida — ele me interrompe, com aquele tom que não aceita negativas, e me entrega uma das taças. — Apenas uma.
Suspiro, sabendo que não há escapatória, e aceito a taça. Sebastian se senta ao meu lado, tocando sua taça contra a minha com um sorriso satisfeito.
— Ao futuro, querida — ele diz, erguendo sua taça.
— Ao nosso futuro, meu amor — respondo, forçando um sorriso.
Dou um gole mais longo do que o necessário, determinada a esvaziar a taça e encerrar a noite. Tudo o que quero é subir e me livrar dessa sandália apertada. Sebastian acaricia meus cabelos, dando pequenos goles enquanto me observa atentamente. Após alguns minutos, meu cansaço se torna evidente até mesmo para ele.
— Vamos, querida — ele diz, levantando-se. — Você precisa descansar.
Com um sorriso, aceito a mão que ele me oferece, mas, ao ficar de pé, o ambiente gira mais rápido do que o normal. Sebastian me ampara assim que percebe minha tontura.
— Tudo bem? — pergunta, num tom preocupado. Assinto levemente, mesmo que sinta o contrário.
Seguimos para a escada, mas minhas pernas estão moles como gelatina, dificultando cada passo. A mão de Sebastian permanece firme em minha cintura, me amparando o suficiente para evitar que eu desabe. No entanto, ao chegar ao último degrau, sua mão vacila, e meu desequilíbrio se torna evidente. Meu corpo pende para trás.
Tento agarrar o corrimão, mas meus reflexos estão lentos demais. Minhas pernas cedem, e, em um instante, começo a rolar escada abaixo.
Meu corpo despenca com força, cada degrau machucando meus ombros, minhas costas, meu pescoço. A dor é excruciante. Tento me proteger, mas a velocidade e a violência da queda tornam isso impossível.
Finalmente, paro com o impacto da minha cabeça contra o chão frio. A voz de Sebastian soa distante, ecoando como se viesse de outro mundo. A dor aguda consome minha consciência, e então, tudo desaparece.
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se ap
“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”É inevitável não soltar uma risada ao ler a última
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas
“Evie Ashford”O som familiar dos passos de Sebastian no corredor me faz sorrir antes mesmo de ele entrar. Como todas as manhãs deste último mês, ele chega ao quarto trazendo meu café da manhã, mas desta vez, sua energia é contagiante: abre as cortinas, cantarola… Desde o acidente, Sebastian tem sido meu porto seguro, o único que permaneceu. Seguindo seu conselho, tenho evitado contato direto com as pessoas. A ideia de sentir a pena nos olhares alheios, mesmo sem poder vê-los, me sufoca.Mas, às vezes, no silêncio da casa, sinto falta das minhas amigas. Das risadas, das conversas, da cumplicidade. Sebastian diz que elas me mandam mensagens, sempre com desculpas elaboradas sobre compromissos inadiáveis. É mais fácil assim, suponho. Mais fácil para elas lidarem com minha ausência do que com minha nova realidade.Ao menos tenho Sebastian. Seu otimismo teimoso, sua presença constante. E, por enquanto, isso precisa ser suficiente.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave.
“Henry Blackwood”Desde as últimas notícias e, principalmente, a ligação anunciando que a disputa pelo resort em Capri seria entre a All Seasons e a Majestic, a imagem de Evie Ashford insiste em permanecer na minha mente. Com seus cabelos loiros, olhos esverdeados, corpo escultural e um atrevimento que parece grande demais para alguém tão baixinha, ela se tornou uma lembrança constante de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Passei os últimos dias em um misto de ansiedade e irritação, tentando manter a cabeça fria. Torcia para que as propostas surpreendentemente parecidas fossem apenas uma coincidência infeliz, mas a verdade é que a incerteza não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando, no entanto, desde aquela apresentação, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.Ao entrar na minha sala, solto um suspiro pesado e me jogo na cadeira. Ligo o computador, sentindo a familiar tensão no estômago. Em poucos
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que está fazendo aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo na bochecha, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava i
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar alguma
“Sebastian Morgan” Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. Ou talvez Henry sempre soubesse como manipular as coisas a seu favor. Desde que os problemas na minha empresa começaram, ele parecia saber exatamente onde atacar. Quando tudo finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la. Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim. Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante. — Com licença, senhores. — digo, ol