O clima no quarto do Hotel President Wilson, em Genebra, parece tão frio quanto o ar lá fora, apesar de o aquecedor estar no máximo. Sebastian, com o semblante fechado, desfaz a gravata enquanto anda pelo quarto, claramente irritado. Sentada na cama, eu o sigo com o olhar, sabendo que isso resultará em mais uma briga.
— Meu amor, pensei que tivesse deixado claro que eu seria o responsável pela empresa — Sebastian diz, forçando um sorriso que não chega aos olhos.
— Sebastian, você está exagerando! Qual o problema em me deixar ser responsável por algo que me pertence? — retruco, mas ao ver seus olhos verdes escurecendo, sinal claro de que a discussão vai se agravar, me arrependo rapidamente.
— Ah, claro. Agora vai usar isso como argumento? Vai querer me humilhar dizendo que a empresa é sua? — ele explode, e eu me encolho diante do seu tom de voz. Rapidamente, ele limpa a garganta e se aproxima de mim. — Desculpe, querida. Não queria gritar, mas… Evie, sei que você quer provar que é tão boa quanto seu pai, mas essa aquisição é importante demais!
— Você acha que eu não sei, Sebastian? Acha que me preparei todos esses meses em vão? — pergunto, sentindo as lágrimas arderem nos meus olhos.
Vivemos um casamento perfeito por três anos, mas desde que herdei a rede de hotéis da minha família, há alguns meses, as discussões se tornaram frequentes. Nada do que faço parece ser do agrado dele, e por mais que ele negue, sei que também acredita que colocarei tudo a perder apenas por ser nova.
— Evie — meu marido continua, fechando os olhos brevemente, como se tentasse se acalmar —, você é brilhante, mas o mundo dos negócios… é cruel. Só estou tentando proteger você.
— Proteger ou controlar? — sussurro, com a voz trêmula de frustração. — Você sempre faz isso parecer uma competição entre nós, Sebastian.
— Não é uma competição, querida. É a realidade — ele diz em tom calmo, mas o olhar permanece frio. Abaixando-se até ficar à minha altura, continua com uma calma calculada: — Você cresceu sob proteção, cercada de mimos. Só estou tentando prepará-la para a realidade. Não quero que se machuque.
— Então pare de me ver como uma ameaça… — As palavras escapam antes que eu possa detê-las. Imediatamente, Sebastian se levanta, passando a mão pelos cabelos, claramente ofendido.
— Você está sendo injusta, Evie. Só estou tentando ser seu parceiro, como sempre fui — meu marido responde, me olhando como se minhas palavras tivessem sido um tapa. — Talvez você não precise mais de mim para isso. Talvez saiba se virar sozinha, não é?
— Sebastian, não é isso. Só que…
— Tudo bem, Evie. Tudo bem — ele diz, pegando o celular antes de seguir para o banheiro. — Vá jantar sozinha. Perdi o apetite.
— Meu amor… — chamo-o, mas ele me ignora. — Sebastian, vamos…
Antes que eu possa completar a frase, a porta se fecha com força. Respiro fundo e fixo o olhar na pequena mala onde guardei a lingerie que escolhi especialmente para hoje, na esperança de novamente fazer as pazes com ele.
— Que droga, meu amor… — murmuro, levantando-me da cama.
Sigo até a porta do banheiro, levantando a mão para bater e tentar argumentar com Sebastian, mas paro ao ouvi-lo falar em voz baixa, provavelmente ao telefone: “Você sabe como Evie é… Logo mudará de ideia.”
Dou um passo para trás, me recusando a continuar ouvindo a conversa. Ele está certo, no fim, eu sempre mudo de ideia. Mas desta vez as coisas precisam ser diferentes, ou ele nunca me respeitará.
Pego minha bolsa e sigo em direção à saída, precisando de um tempo sozinha. Passo pela porta e caminho pelo corredor até chegar ao elevador, descendo em direção ao bar do hotel.
— Boa noite! O que vai querer? — pergunta o barman quando me sento.
— Boa noite! — respondo, forçando um sorriso. — Um Martini, por favor.
Ele acena com a cabeça e prepara minha bebida rapidamente. Algum tempo depois, me entrega o drink. Dou um gole enquanto meu olhar vagueia pelo bar, mas minha mente está presa nos pensamentos sobre a discussão com Sebastian.
— Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, não é mesmo? — murmuro com uma pitada de ironia. — E, aparentemente, também brigas no casamento.
De repente, o som de uma cadeira sendo arrastada ao meu lado interrompe meus pensamentos. Olho para o lado e vejo um homem vestido casualmente, com cabelos escuros desgrenhados e uma barba bem aparada que contorna seu maxilar definido. Seus olhos acinzentados me encaram intensamente, e por um instante, parece que o mundo ao redor dele diminui.
O homem murmura um “boa noite” ao se sentar ao meu lado, mantendo uma distância respeitosa enquanto pede um whisky. No mesmo momento, sinto meu celular vibrar no balcão e, num movimento brusco para pegá-lo, acabo esbarrando na taça, fazendo com que meu Martini voe diretamente para a calça do homem.
— Oh, Deus! Sinto muito! — exclamo, colocando as mãos na boca enquanto o vejo levantar abruptamente. Ele olha para baixo e depois me encara com um olhar insatisfeito.
— Perfeito! Justo o que eu precisava para completar a noite! — vocifera, olhando novamente para a mancha em sua calça. Em seguida, ergue os olhos para mim, arqueando as sobrancelhas e abrindo um sorriso irônico. — Que ótima maneira de se apresentar, não acha?
Ignorando o olhar gélido dele, me levanto rapidamente e pego alguns guardanapos. Em um acesso de desespero, começo a esfregá-los na calça do homem, focando especificamente na virilha, sem pensar nas consequências. Imediatamente, ele recua, balançando a cabeça com um olhar surpreso.— Pare com isso! — ele exclama, segurando meu pulso com firmeza. — A menos que sua intenção seja me arrastar para um quarto e terminar o serviço, mantenha suas mãos longe do meu… apenas pare!— Sinto muito, eu só estava tentando ajudar! — exclamo, puxando meu pulso de sua mão. Quando ele finalmente me solta, acrescento: — Não foi minha intenção. Foi um acidente. Não precisa ser grosseiro ou insinuar algo tão baixo.— Um acidente? — ele sorri cinicamente, tomando um gole de whisky sem desviar o olhar de mim. — Seja mais cuidadosa da próxima vez. Ou melhor, mantenha distância das pessoas quando estiver armada com uma bebida. — Ele revira os olhos ao voltar a se sentar. — Deus… Algumas pessoas realmente têm so
Quando ele se senta diretamente à minha frente, seu olhar me desafia a reconhecê-lo. A surpresa deve estar estampada no meu rosto, porque um sorriso arrogante começa a se formar lentamente em seus lábios, como se estivesse se deliciando com minha descoberta.— Tudo bem, Sra. Ashford? — ele pergunta, entrelaçando os dedos sobre a mesa enquanto me encara, ainda com aquele sorriso. — Parece que você está começando a me reconhecer, mas não custa perguntar: devo me apresentar formalmente?— Henry Blackwood, tão óbvio… Não, não precisamos de formalidades, aparentemente — respondo, tentando manter a calma que não sinto. — Nosso encontro ontem à noite foi mais do que suficiente para me apresentar a você.— Que bom saber que sua memória é tão boa. — Ele se recosta na cadeira, o olhar carregado de desdém. — No entanto, devo dizer que sua primeira impressão não foi das mais elegantes. Mas, claro, entendo que bebidas podem transformar comportamentos.— Se está tentando provocar alguma reação, des
Ao ver Sebastian de pé no meio da sala de jantar, me encarando com um sorriso quase triunfante no rosto, meu coração acelera ainda mais. Ele se vira para a mesa, serve duas taças de vinho e se aproxima de mim. Meu marido me entrega uma das taças, me dando aquele olhar que sempre me desarma.— Evie, meu amor… — ele sussurra, puxando-me para seus braços enquanto coloca sua taça no aparador ao nosso lado. Acariciando meus cabelos, ele continua: — Tive tanto medo de você decidir não voltar para mim. — Seu aperto se torna mais firme e sua voz embarga. — Me desculpe, meu amor. Me desculpe por agir daquela maneira e ir embora sem pensar. Eu não queria…— Sebastian, está tudo bem… — interrompo, sentindo um leve beijo em minha cabeça. Ao soltá-lo, dou um longo gole no vinho, sentindo a bebida arder em minha garganta. — Me desculpe por sair e deixá-lo sozinho, mas eu precisava…— Tudo bem, querida. — ele diz, sorrindo. — Me perdoe por deixar o nervosismo falar por mim. — Ele me solta e me condu
O silêncio após minha pergunta paira pesado no quarto, interrompido apenas pelo som constante “bip” ao meu redor. Sinto um frio percorrer minha espinha. A incerteza sobre minha visão é tão dolorosa quanto as contusões físicas. Minhas mãos, ainda trêmulas, se apertam com força no lençol.— Não podemos confirmar o estado definitivo da sua visão neste momento — o Dr. Freeman responde, sua voz tranquila contrastando com o tom grave que não alivia a tensão. — A senhora sofreu um trauma considerável, e a extensão dos danos ainda precisa ser avaliada com mais detalhes. — Quando… poderei retirar os curativos? Preciso ver como estou, onde estou… — Minha voz é apenas um sussurro desesperado.— Entendo sua preocupação — ele responde, mexendo em algo ao meu lado. — No momento, os curativos são essenciais para proteger suas feridas e permitir que o processo de cicatrização ocorra sem complicações. Administrei um analgésico, isso deve ajudá-la a se sentir um pouco melhor.— Preciso falar com meu m
Desde que tudo aconteceu, há um mês, algumas pessoas fazem questão de perguntar como estou, mas a ausência das minhas amigas é dolorosa. Dizem ser nas dificuldades que descobrimos quem realmente se importa, mas jamais pensei que minhas próprias confidentes me abandonariam. O único que realmente tem se preocupado é Sebastian.Hoje, como tem sido em todos esses dias, meu marido entra no quarto com uma energia que parece tentar iluminar a escuridão que me envolve. Ele abre as cortinas, cantarolando, e logo ouço seus passos se aproximando da cama. Quando escuto o som familiar da bandeja sendo colocada ao meu lado, um sorriso involuntário se forma em meus lábios.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave. — Dormiu bem?— Bom dia, meu amor. Sim, mas senti falta de você. Não percebi quando chegou ontem. Por que se levantou tão cedo?— Fiquei até tarde resolvendo algumas coisas da empresa e, quando vim para o quarto, te vi dormindo tão serenamente que preferi dormir no quarto
“Henry Blackwood”As cinco semanas desde meu retorno de Genebra passaram rapidamente, mas a irritação que sinto desde a apresentação da proposta da Majestic não diminuiu nem um pouco. A imagem de Evie Ashford, com seus cabelos loiros, olhos esverdeados e corpo escultural, permanece gravada em minha mente, uma lembrança de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Desde então, venho me esforçando para manter a cabeça fria, torcendo para que aquela proposta tenha sido apenas uma coincidência infeliz. Mas a verdade é que a situação não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando. Agora, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.O dia se arrasta interminavelmente, e o peso das notícias que recebo torna a rotina mais um castigo do que um dia produtivo. A página do computador aberta diante de mim tira meu fôlego. A proposta da Majestic Ashford venceu a disputa. O que me deixa irado não é apenas o fato de terem vencido
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza-claro abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que te traz aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava interessado
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar algum