O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.
— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:
— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.
— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.
— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar algumas vezes no passado — digo, com um toque de sarcasmo. — Não é verdade, Sebastian?
Sebastian dá de ombros novamente, como se minha provocação não tivesse o menor efeito sobre ele. Harper, agora visivelmente desconfortável, evita meu olhar, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. James abre a boca, provavelmente com a intenção de acalmar os ânimos, mas Sebastian se adianta:
— Desprazer é uma palavra forte, Henry. Eu diria que foram apenas… circunstâncias infelizes. — Ele continua. — Mas vamos deixar o passado onde ele está e focar no presente. Afinal, agora que estou à frente da Majestic, voltaremos a nos encontrar.
— Ah, então você finalmente conseguiu assumir a Majestic? Engraçado, sua esposa estava tão empolgada na apresentação há algumas semanas. O que aconteceu? — pergunto, realmente surpreso com a notícia.
— Sim, Evie estava bem empolgada, mas não conseguiu aguentar o estresse. Ela precisou se afastar para descansar.
— Descansar, é? — continuo, saboreando a oportunidade de desestabilizá-lo ainda mais. — Bom, espero que você possa lidar com algo tão grandioso quanto a Majestic Ashford. Afinal, não estamos falando daquela pequena empresa que você quase levou à falência no passado.
— Ora, ora, rapazes! — James intervém, tentando aliviar a tensão. — Não precisamos transformar uma noite agradável em um debate sobre negócios antigos. Estamos todos aqui para aproveitar o evento, certo?
— James, você sabe como é... Isso acontece quando velhos conhecidos se encontram. Não é nada pessoal, apenas… inevitável não comentar. — respondo, sentindo o aperto desconfortável de Harper em meu braço.
— Ah, Henry… Muitas coisas mudaram desde então — Sebastian retruca, com um tom carregado de ironia. — Os anos passam, a maturidade e a capacidade evoluem. Não sou mais o mesmo de cinco anos atrás, e te garanto que, à frente da Majestic, vou te dar muito trabalho.
— Estarei ansioso por isso, Sebastian. Mas, se falir mais uma vez, pode me procurar — digo com um sorriso sarcástico. — Adoro comprar empresas à beira do colapso. É quase um hobby.
— Veremos como as coisas se desenrolam, Henry. Quem sabe, no futuro, seja você quem esteja mais interessado em me procurar. — Ele responde, tentando encerrar por cima. Mas, claro, eu não resisto a uma última provocação:
— Ah, Sebastian, quase me esqueci… — continuo, irônico. — Quando conheci sua esposa em Genebra, algo me intrigou. Evie Ashford… Interessante ela ter mantido o sobrenome de solteira, não?
O sorriso de Sebastian finalmente desaparece. Ele aperta o maxilar, claramente tentando manter a compostura, mas o golpe atingiu seu ponto fraco.
— Questões familiares, sabe como é. — Ele responde, dando de ombros, mas permanece sério.
— Claro, claro… só estava curioso. Afinal, é algo incomum, especialmente para um homem com a sua… confiança. — Concluo, no mesmo momento em que James limpa a garganta, tentando intervir novamente. Mas a conversa, assim como a noite, já terminou para mim. — Bem, agora, se me derem licença, preciso pegar uma bebida.
Sem esperar por respostas, me afasto com um sorriso vitorioso, sentindo o olhar pesado de Sebastian em minhas costas. O clima tenso da conversa ainda paira sobre mim, mas uma bebida deve aliviar a tensão.
No bar, peço um whisky, ignorando o burburinho ao meu redor enquanto tomo um gole. Algumas pessoas se aproximam para me cumprimentar. Retribuo com sorrisos forçados e acenos curtos, mas não estou no clima para socializar. O ambiente se tornou insuportável, e como sempre, cada rosto parece uma máscara falsa, cheia de sorrisos vazios.
Quando finalmente termino minha bebida e decido ir embora, Harper se lembra da minha presença e se aproxima.
— Finalmente te encontrei. — comenta, com um sorriso. — Por que me deixou lá?
— Avisei que viria para cá, você que preferiu continuar. — Respondo, levantando-me antes que ela diga algo. — Estou indo embora, quer ir para o meu apartamento?
— Eu… não posso ir com você, amor. — Ela comenta, acariciando meu ombro. Abaixando o tom, continua: — Queria muito, mas não posso.
— É mesmo? Pensei que quisesse deixar a conveniência de lado esta noite — respondo, desinteressado, mas curioso. Harper morde o lábio, desviando o olhar.
— A minha… menstruação desceu… um pouco antes de eu vir para o evento. Sinto muito, meu amor.
— Tudo bem. Aproveite a festa, então. — digo, dando-lhe um beijo rápido na bochecha. Ela sorri e ameaça se afastar, mas eu a seguro, sussurrando em seu ouvido: — Se comporte, é o meu nome que está em jogo entre nós. Não queremos que algo afete os negócios do seu pai… caso eu descubra que você fez algo que não deveria.
— Não, claro que não, meu amor.
— Foi o que pensei. — respondo, soltando-a e dando um sorriso frio. — Nos vemos depois, Harper.
“Sebastian Morgan” Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. Ou talvez Henry sempre soubesse como manipular as coisas a seu favor. Desde que os problemas na minha empresa começaram, ele parecia saber exatamente onde atacar. Quando tudo finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la. Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim. Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante. — Com licença, senhores. — digo, ol
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto s
Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua descu
Já se passaram algumas semanas desde que permiti que Kim ficasse. No começo, sua presença era quase imperceptível. Se não fosse pelas refeições, eu nem notaria que havia alguém além de mim na casa. Ela respeitava meu espaço, nunca forçando sua presença enquanto eu me agarrava à minha necessidade de independência.Com o tempo, no entanto, as coisas começaram a mudar. Kim se aproximou de maneira sutil — um copo de suco aqui, um comentário sobre o clima ali. Ela descrevia o dia lá fora, mesmo sabendo que eu não podia ver. De alguma forma, isso me tocava.Agora, estamos sentadas na varanda. O ar fresco da tarde balança meus cabelos, e Kim, como de costume, descreve o céu, o brilho do sol, as nuvens preguiçosamente se movendo no horizonte. Ela faz isso com tanto cuidado que, por um instante, é como se eu pudesse enxergar novamente.— O céu está tão limpo hoje, Evie — comenta Kim. — Quase não vejo nuvens. É um daqueles dias perfeitos, sabe? Onde um banho de piscina cairia muito bem.Ela cont
Fico em silêncio por um momento, com a boca entreaberta em choque. As palavras de Lily reverberam em minha mente, mas, antes que eu possa responder, balanço a cabeça, tentando entender. Sebastian disse que eu não queria vê-las? Por quê? Balanço a cabeça lentamente, tentando encontrar uma justificativa. Ele sempre quis me proteger, mesmo quando eu não pedia, mas dizer isso a elas não faz sentido.— Lily... — começo hesitante, percebendo que preciso explicar tudo desde o início. — Aconteceu algo que vocês não sabem. Eu... tive um acidente. — O que... Por que ninguém nos contou?— Eu fiquei com vergonha de me verem assim e comentei isso com Sebastian — explico, tentando encontrar uma justificativa para o que Sebastian fez. — Ele pode ter levado isso a sério demais, mas nunca impedi que vocês me procurassem.— Evie, Chloe e eu viemos aqui duas ou três vezes, mas nunca fomos recebidas — ela responde, me guiando para sentarmos. — Na última vez, depois de muito insistir, sua governanta nos
Minha mente trabalha rápido, e a empolgação pela chance de voltar a enxergar me enche de coragem. Ainda assim, opto por não contar a Sebastian. Se não der certo, ele ficaria decepcionado, e eu não quero que ele veja meu fracasso. Mas, se der certo… eu teria a oportunidade de surpreendê-lo quando voltasse a Londres enxergando.— Estávamos falando sobre o aniversário de Chloe — começo, tentando soar convincente. — Como sempre viajamos para comemorar nossos aniversários, Lily sugeriu que fôssemos para os Alpes Franceses este ano.— Ah, querida. Você realmente acha que isso seria uma boa ideia? — ele pergunta, aproximando-se. Sinto o toque suave dos lábios de Sebastian em minha testa, e um sorriso surge em meu rosto. Abro a boca para responder, mas antes que consiga, Lily fala primeiro.— Por que não seria, Sebastian? — ela dispara, sem me dar a chance de falar.A tensão no ar é palpável, e posso imaginar a expressão de surpresa no rosto de Sebastian. Ele se senta no braço do sofá, ao meu
“Sebastian Morgan” Observo com um sorriso enquanto Evie termina de assinar os documentos. Cada assinatura é um passo mais próximo de me livrar desse fardo de uma vez por todas. Quando ela coloca a caneta de lado, uma onda de satisfação me invade. — Pronto, meu amor — ela murmura, fazendo a cena patética de olhar ao redor procurando por mim, como se conseguisse enxergar algo. — Sebastian, você está aqui? — Sim, querida — respondo, aproximando-me. Evie se levanta ao sentir meu toque em seu ombro e envolve os braços em minha cintura. A maneira como se entrega ao meu abraço me faz sorrir ainda mais. Não por afeto, mas por satisfação. Finalmente, meus planos estão progredindo como deveriam. Sinto suas mãos deslizarem pelo meu corpo, e seus lábios encontram os meus, evidenciando suas intenções. Carente, como sempre foi. Retribuo o beijo, mantendo o disfarce de marido perfeito e afetuoso, mas por dentro, uma parte de mim se afasta. Desde que Evie caiu da escada e ficou cega, o que antes
Ao ver seu sorriso, uma onda de irritação me atinge, mas decido ignorá-la, pelo menos por um momento. Ela sempre soube mais do que devia, e suas provocações se tornaram cada vez mais frequentes.— Já vi que o chefinho não dormirá em casa — provoca, deixando a revista de lado, com um tom de desafio claro na voz.Sem responder, me aproximo rapidamente e, sem aviso, seguro seu pescoço, pressionando-a contra o encosto do sofá. Seus olhos se arregalam, mas ela não se afasta, nem tenta reagir. Apenas me encara, com aquele sorriso irritante ainda nos lábios.— Eu te contratei para administrar a medicação da Evie, para garantir que nada dê errado e que ela continue cega — murmuro entre dentes, apertando seu pescoço um pouco mais. — Não para deixar que ela ligue para quem quiser. Isso poderia ter colocado tudo a perder.— Proibir ligações não estava no combinado, Sebastian — responde, com um tom carregado de sarcasmo. — E se isso for parte do acordo agora, acho que meu salário deveria aumentar,