“Evie Ashford”Uma semana se passou desde que Lily apareceu e logo começou a preparar tudo para a viagem. As malas já estão prontas, e hoje finalmente vamos para os Alpes Franceses. O que antes parecia um sonho esquecido agora é uma realidade. Sinto uma mistura de ansiedade e esperança. Adrian poderá me dizer se ainda há alguma chance para mim.— As malas estão prontas, Evie — ouço a voz suave de Lily, me tirando dos meus pensamentos.Agradeço com um aceno de cabeça e respiro fundo. A sensação de que algo grande está prestes a acontecer não me deixa. Talvez seja o começo de algo novo… ou o fim de todas as esperanças.— Estou pronta — digo em voz baixa, mais para mim mesma do que para Lily.Minha amiga coloca minha mão em seu ombro e saímos do quarto. Respiro fundo, sentindo meu coração apertar, mesmo com a expectativa tomando conta de mim. Sebastian não quis estar aqui quando eu saísse. A distância que já havia entre nós parece ter triplicado ao longo da última semana, e eu não consigo
Minha respiração fica suspensa por um momento, e sinto minha garganta apertar. Percebo Lily se mexer ao meu lado, e o toque de sua mão no meu braço me tranquiliza por um instante, mas a ansiedade já começa a tomar conta de mim.— Como assim, algo não faz sentido? — pergunto, sentindo minha voz sair trêmula.— Bem, pelos exames que você me trouxe, Evie, há algo aqui que não condiz com o diagnóstico que você recebeu — Adrian responde com cuidado, ainda folheando os papéis. — A medicação que você está tomando, por exemplo, não deveria ser recomendada para alguém com o seu tipo de lesão. Na verdade, ela poderia ter causado mais danos à sua visão, se é que já não está prejudicando.— Então… o que você quer dizer? — pergunto, quase num sussurro, sentindo meu coração disparar. Adrian solta um suspiro e fecha a pasta.— Quero dizer que precisamos realizar mais testes. Não vou me precipitar, mas há uma chance de que a medicação que lhe foi prescrita tenha sido inadequada. Talvez até desnecessár
“Algumas semanas depois…”Alguns dias após minha chegada aos Alpes, tudo começou a ficar claro. Não era só minha visão que estava em ruínas, meu casamento também. No início, a ideia de voltar a enxergar e surpreender Sebastian com minha recuperação era o que me impulsionava. Eu quase podia visualizar o choque em seu rosto. Acreditei que isso nos reaproximaria.Mas, conforme os dias passavam, as mensagens de Sebastian se tornavam cada vez mais raras. Eram curtas, distantes, desinteressadas. Ele não perguntava como eu estava, nem demonstrava preocupação com minha ausência. A indiferença dele me atingiu em cheio. A distância, que eu achava temporária, agora parecia irreversível. Foi então que entendi: ele não se importava mais comigo. E eu precisava fazer isso por mim, não por ele.Então vieram os exames. Adrian confirmou o que, no fundo, eu já suspeitava. O tratamento estava errado e havia piorado minha condição. Os remédios, a confiança cega no médico de Sebastian… tudo foi um erro. E e
Uma semana se passou desde que minha vida voltou a ter cor, e, a cada dia, minha visão parece ganhar mais clareza, mesmo que lentamente. O processo de adaptação tem sido gradual, mas a realidade é que estou vendo o mundo novamente. Claro, minha visão ainda não está perfeita — as imagens à distância continuam desfocadas, mas de perto, posso ver. E isso já é mais do que eu poderia ter sonhado.Mesmo com uma cicatriz desastrosa no rosto, não canso de olhar meu reflexo no espelho. Algo tão simples, algo que tantas vezes ignorei, mas que agora carrega um significado completamente diferente. Para muitos, seria apenas mais uma manhã diante do espelho. Para mim, é uma vitória.— Evie, por acaso você vai a um casamento? — Chloe pergunta, batendo à porta. — Meu Deus, que demora! Estou com fome!Solto uma risada suave, balançando a cabeça diante do comentário exagerado dela. Ajeito o casaco e dou uma última olhada no espelho, abrindo um sorriso bobo.— Já estou indo! — respondo, abrindo a porta d
O ar parece sumir dos meus pulmões enquanto minha mente tenta processar a cena. Ao lado de Sebastian, uma mulher morena, elegantemente vestida, cruza as pernas com um sorriso satisfeito no rosto. A dor no meu peito se intensifica, misturando-se à raiva que começa a ferver em mim.— O que foi? — Sebastian pergunta, levantando-se da poltrona. — Além de cega, também ficou muda?Meu coração b**e forte e a adrenalina corre pelo meu corpo, mas, em vez de explodir, mantenho o controle, deixando que ele acredite estar no comando da situação. Com um movimento suave, seguro a mão de Chloe.— Me leva até ele, por favor — murmuro, fingindo uma tranquilidade que não existe em mim.Ela me olha, confusa, mas faz o que peço, guiando-me até onde Sebastian está. Sinto o peso do olhar dele me avaliando, desdenhoso, e me aproximo lentamente, fingindo ainda estar cega. Quando paro em frente a ele, mantenho meu rosto inexpressivo e meu olhar vago.— Sabe, agora que não preciso mais fingir, confesso que te v
Sinto o choque me atingir, fazendo meu coração bater com tanta força que o sangue pulsa nos meus ouvidos. Imediatamente, nego com a cabeça, recusando-me a acreditar no que ele está dizendo. Não posso acreditar.— Pare com essa brincadeira ridícula e saia da minha casa, Sebastian! — exclamo, tentando em vão manter a voz firme. — Esta casa é minha. Afinal, você não tem nada. Conseguiu perder tudo o que tinha, porque tudo o que você toca apodrece, seca, como se estivesse amaldiçoado. Pegue a sua amante e saia agora!— Ah, Evie… — Ele balança a cabeça, como se estivesse diante de uma criança que não entende as regras do jogo. — Você recupera a visão e perde o cérebro?— Como você ousa falar com… — Chloe tenta intervir, mas Sebastian a interrompe.— Quietinha… Isso é assunto entre marido e mulher. — Ele diz, com um aceno de mão, dispensando Chloe como se ela não passasse de um cão. — Onde estávamos? Ah, sim, sobre a sua ingenuidade… Veja bem, querida. Lembra-se daqueles documentos que você
A noite já caiu, e a chuva b**e contra a janela, acompanhando o silêncio pesado que preenche a sala. Faz algumas horas desde que tudo desmoronou. Sentada no sofá do meu antigo apartamento, percorro o olhar pelo lugar. Os poucos móveis que restam são as únicas lembranças do que fui. O resto? Tudo pertence a Sebastian agora. Com os dedos trêmulos, afasto os cabelos do rosto molhado de lágrimas. Chloe e Lily, que veio assim que soube do que aconteceu, estão ao meu lado em silêncio, com os rostos carregados de preocupação. A presença delas deveria ser um consolo, mas nada parece amenizar a dor que sinto. — Como fui tão burra? — sussurro, externando meus pensamentos conflitantes. — Como pude confiar nele a ponto de perder tudo o que minha família construiu? — Evie… — Chloe começa, trocando olhares com Lily antes de continuar. — Me desculpe pela franqueza, mas os sinais estavam lá o tempo todo. Só que… — Ela faz uma pausa, procurando as palavras certas. — Mulheres apaixonadas podem ficar
Os últimos cinco dias se arrastam, um após o outro, como se o tempo me puxasse para um vazio esmagador. Desde aquela noite em que tudo desabou, parece que eu não vivo mais; apenas existo.Lily e Chloe fazem o possível para me animar, mas em meio aos compromissos delas, há momentos inevitáveis em que fico sozinha. E é nesses momentos que a realidade me atinge com força brutal, arrancando soluços e lágrimas que parecem intermináveis.Como se tudo não fosse o bastante, todas as minhas tentativas de entrar em contato com o Sr. Thompson foram inúteis. Nenhuma notícia, nenhum sinal dele. É como se ele tivesse desaparecido, e, sem ele, estou ainda mais perdida sobre o que fazer com… tudo.E então, o sábado chegou. Lily está de plantão no hospital, mas Chloe insistiu em não me deixar sozinha. Uma reunião informal, ela disse, para eu não me preocupar. Mas enquanto me olho no espelho, tentando reunir forças para me arrumar, sinto um nó se formar no estômago.— Sei que você não está animada — Chl