Ao ver seu sorriso, uma onda de irritação me atinge, mas decido ignorá-la, pelo menos por um momento. Ela sempre soube mais do que devia, e suas provocações se tornaram cada vez mais frequentes.— Já vi que o chefinho não dormirá em casa — provoca, deixando a revista de lado, com um tom de desafio claro na voz.Sem responder, me aproximo rapidamente e, sem aviso, seguro seu pescoço, pressionando-a contra o encosto do sofá. Seus olhos se arregalam, mas ela não se afasta, nem tenta reagir. Apenas me encara, com aquele sorriso irritante ainda nos lábios.— Eu te contratei para administrar a medicação da Evie, para garantir que nada dê errado e que ela continue cega — murmuro entre dentes, apertando seu pescoço um pouco mais. — Não para deixar que ela ligue para quem quiser. Isso poderia ter colocado tudo a perder.— Proibir ligações não estava no combinado, Sebastian — responde, com um tom carregado de sarcasmo. — E se isso for parte do acordo agora, acho que meu salário deveria aumentar,
“Evie Ashford”Uma semana se passou desde que Lily apareceu e logo começou a preparar tudo para a viagem. As malas já estão prontas, e hoje finalmente vamos para os Alpes Franceses. O que antes parecia um sonho esquecido agora é uma realidade. Sinto uma mistura de ansiedade e esperança. Adrian poderá me dizer se ainda há alguma chance para mim.— As malas estão prontas, Evie — ouço a voz suave de Lily, me tirando dos meus pensamentos.Agradeço com um aceno de cabeça e respiro fundo. A sensação de que algo grande está prestes a acontecer não me deixa. Talvez seja o começo de algo novo… ou o fim de todas as esperanças.— Estou pronta — digo em voz baixa, mais para mim mesma do que para Lily.Minha amiga coloca minha mão em seu ombro e saímos do quarto. Respiro fundo, sentindo meu coração apertar, mesmo com a expectativa tomando conta de mim. Sebastian não quis estar aqui quando eu saísse. A distância que já havia entre nós parece ter triplicado ao longo da última semana, e eu não consigo
Minha respiração fica suspensa por um momento, e sinto minha garganta apertar. Percebo Lily se mexer ao meu lado, e o toque de sua mão no meu braço me tranquiliza por um instante, mas a ansiedade já começa a tomar conta de mim.— Como assim, algo não faz sentido? — pergunto, sentindo minha voz sair trêmula.— Bem, pelos exames que você me trouxe, Evie, há algo aqui que não condiz com o diagnóstico que você recebeu — Adrian responde com cuidado, ainda folheando os papéis. — A medicação que você está tomando, por exemplo, não deveria ser recomendada para alguém com o seu tipo de lesão. Na verdade, ela poderia ter causado mais danos à sua visão, se é que já não está prejudicando.— Então… o que você quer dizer? — pergunto, quase num sussurro, sentindo meu coração disparar. Adrian solta um suspiro e fecha a pasta.— Quero dizer que precisamos realizar mais testes. Não vou me precipitar, mas há uma chance de que a medicação que lhe foi prescrita tenha sido inadequada. Talvez até desnecessár
“Algumas semanas depois…”Alguns dias após minha chegada aos Alpes, tudo começou a ficar claro. Não era só minha visão que estava em ruínas, meu casamento também. No início, a ideia de voltar a enxergar e surpreender Sebastian com minha recuperação era o que me impulsionava. Eu quase podia visualizar o choque em seu rosto. Acreditei que isso nos reaproximaria.Mas, conforme os dias passavam, as mensagens de Sebastian se tornavam cada vez mais raras. Eram curtas, distantes, desinteressadas. Ele não perguntava como eu estava, nem demonstrava preocupação com minha ausência. A indiferença dele me atingiu em cheio. A distância, que eu achava temporária, agora parecia irreversível. Foi então que entendi: ele não se importava mais comigo. E eu precisava fazer isso por mim, não por ele.Então vieram os exames. Adrian confirmou o que, no fundo, eu já suspeitava. O tratamento estava errado e havia piorado minha condição. Os remédios, a confiança cega no médico de Sebastian… tudo foi um erro. E e
Uma semana se passou desde que minha vida voltou a ter cor, e, a cada dia, minha visão parece ganhar mais clareza, mesmo que lentamente. O processo de adaptação tem sido gradual, mas a realidade é que estou vendo o mundo novamente. Claro, minha visão ainda não está perfeita — as imagens à distância continuam desfocadas, mas de perto, posso ver. E isso já é mais do que eu poderia ter sonhado.Mesmo com uma cicatriz desastrosa no rosto, não canso de olhar meu reflexo no espelho. Algo tão simples, algo que tantas vezes ignorei, mas que agora carrega um significado completamente diferente. Para muitos, seria apenas mais uma manhã diante do espelho. Para mim, é uma vitória.— Evie, por acaso você vai a um casamento? — Chloe pergunta, batendo à porta. — Meu Deus, que demora! Estou com fome!Solto uma risada suave, balançando a cabeça diante do comentário exagerado dela. Ajeito o casaco e dou uma última olhada no espelho, abrindo um sorriso bobo.— Já estou indo! — respondo, abrindo a porta d
O ar parece sumir dos meus pulmões enquanto minha mente tenta processar a cena. Ao lado de Sebastian, uma mulher morena, elegantemente vestida, cruza as pernas com um sorriso satisfeito no rosto. A dor no meu peito se intensifica, misturando-se à raiva que começa a ferver em mim.— O que foi? — Sebastian pergunta, levantando-se da poltrona. — Além de cega, também ficou muda?Meu coração b**e forte e a adrenalina corre pelo meu corpo, mas, em vez de explodir, mantenho o controle, deixando que ele acredite estar no comando da situação. Com um movimento suave, seguro a mão de Chloe.— Me leva até ele, por favor — murmuro, fingindo uma tranquilidade que não existe em mim.Ela me olha, confusa, mas faz o que peço, guiando-me até onde Sebastian está. Sinto o peso do olhar dele me avaliando, desdenhoso, e me aproximo lentamente, fingindo ainda estar cega. Quando paro em frente a ele, mantenho meu rosto inexpressivo e meu olhar vago.— Sabe, agora que não preciso mais fingir, confesso que te v
Sinto o choque me atingir, fazendo meu coração bater com tanta força que o sangue pulsa nos meus ouvidos. Imediatamente, nego com a cabeça, recusando-me a acreditar no que ele está dizendo. Não posso acreditar.— Pare com essa brincadeira ridícula e saia da minha casa, Sebastian! — exclamo, tentando em vão manter a voz firme. — Esta casa é minha. Afinal, você não tem nada. Conseguiu perder tudo o que tinha, porque tudo o que você toca apodrece, seca, como se estivesse amaldiçoado. Pegue a sua amante e saia agora!— Ah, Evie… — Ele balança a cabeça, como se estivesse diante de uma criança que não entende as regras do jogo. — Você recupera a visão e perde o cérebro?— Como você ousa falar com… — Chloe tenta intervir, mas Sebastian a interrompe.— Quietinha… Isso é assunto entre marido e mulher. — Ele diz, com um aceno de mão, dispensando Chloe como se ela não passasse de um cão. — Onde estávamos? Ah, sim, sobre a sua ingenuidade… Veja bem, querida. Lembra-se daqueles documentos que você
A noite já caiu, e a chuva b**e contra a janela, acompanhando o silêncio pesado que preenche a sala. Faz algumas horas desde que tudo desmoronou. Sentada no sofá do meu antigo apartamento, percorro o olhar pelo lugar. Os poucos móveis que restam são as únicas lembranças do que fui. O resto? Tudo pertence a Sebastian agora. Com os dedos trêmulos, afasto os cabelos do rosto molhado de lágrimas. Chloe e Lily, que veio assim que soube do que aconteceu, estão ao meu lado em silêncio, com os rostos carregados de preocupação. A presença delas deveria ser um consolo, mas nada parece amenizar a dor que sinto. — Como fui tão burra? — sussurro, externando meus pensamentos conflitantes. — Como pude confiar nele a ponto de perder tudo o que minha família construiu? — Evie… — Chloe começa, trocando olhares com Lily antes de continuar. — Me desculpe pela franqueza, mas os sinais estavam lá o tempo todo. Só que… — Ela faz uma pausa, procurando as palavras certas. — Mulheres apaixonadas podem ficar