Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.
— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.
— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.
— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.
— Espero que sim. O que está fazendo aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo na bochecha, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.
— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.
— Pensei que tinha deixado claro que não estava interessado em ir, Harper.
— Sei disso, querido. Mas… — ela abaixa o olhar, esboçando um sorriso sem jeito. — Imagine o que diriam se eu aparecesse num evento desses sem o meu noivo? Além disso, papai fez questão de confirmar nossa presença.
— Harper, não sei se…
— Henry, por favor — minha noiva pede, fazendo um biquinho. — Ultimamente estamos nos vendo tão pouco, e eu sinto falta de você… — ela continua, beijando meu pescoço enquanto sua mão desliza pelo meu peito até chegar à minha calça. — Que tal deixarmos a história de conveniência de lado por alguns minutos? Posso te convencer a ir.
— Me mostre como planeja me convencer a ir a esse coquetel — murmuro, sentindo a tensão dar lugar ao desejo.
Harper se afasta ligeiramente, me dando um olhar cheio de malícia. Ela se levanta lentamente, gira minha cadeira para o lado e desliza as mãos pela minha barriga até alcançar o cinto. Agachando-se à minha frente, por alguns minutos prazerosos, minha noiva me faz esquecer todo o estresse de antes.
— Você realmente sabe como convencer alguém… — murmuro, com a respiração ofegante, enquanto fecho a calça. Harper passa o dedo pelo canto da boca, abrindo um sorriso convencido logo em seguida. — Passo na sua casa às 19 horas.
— Não se preocupe com isso, Henry — ela responde, ajeitando o vestido antes de dar um passo para trás. — Vou com meu pai. Ele quer chegar mais cedo para conversar com alguns investidores.
— Como queira. Então, nos encontramos lá, Harper.
— Combinado. Agora preciso ir ao cabeleireiro me preparar. — Ela se aproxima, dando-me um beijo leve na bochecha. — Vou estar deslumbrante para você.
Ela sorri e sai da sala, deixando o leve aroma de seu perfume enquanto a porta se fecha silenciosamente. Volto ao notebook, tentando me concentrar nos relatórios pendentes. O tempo passa mais rápido do que percebo, e a irritação vai sendo sufocada pelo foco no trabalho.
Algum tempo depois, ao ver as horas, percebo que já está na hora de ir para casa e me arrumar. Fecho o notebook, organizo os documentos espalhados e solto um longo suspiro. Embora eu não tenha a menor vontade de comparecer ao evento, dei minha palavra e não há como voltar atrás.
Saio da sala, ajustando o paletó enquanto pego o celular no bolso. Discar o número é quase automático, e a espera parece mais longa do que deveria.
— Benjamin? — digo assim que ele atende. — Conseguiu encontrar algo?
— Você vai ter que me recompensar muito bem por me colocar para trabalhar até tarde numa sexta-feira, Henry Blackwood — resmunga Benjamin. — Há uma inconsistência nos acessos que me chamou a atenção, mas vou precisar de mais tempo.— Mas que… porra! Está bem, Ben. Me avise assim que encontrar algo verdadeiramente interessante.
— Pode deixar, Henry. Continuarei investigando. Mantenha a cabeça no lugar, OK?
— Isso depende do que você me trouxer — resmungo, encerrando a ligação enquanto entro no elevador.
Esfrego a testa com os dedos ao colocar o celular de volta no bolso. A sensação de que estou sendo encurralado aumenta a cada segundo sem respostas. O som do elevador chegando ao térreo me traz de volta à realidade, e logo estou no carro, indo para casa.
[…]
Ao chegar ao evento, sou imediatamente cercado por sorrisos falsos e apertos de mão interesseiros. Homens em seus melhores ternos e mulheres com vestidos glamorosos fazem o salão parecer uma vitrine de luxo. Ando pelo espaço com uma calma forçada, tentando focar no que realmente importa, mas o ambiente não ajuda.
Percorro o olhar pelo salão à procura de Harper. Quando a encontro, uma cena me faz parar no meio do caminho. Perto de uma das mesas de champanhe, vejo James Evers, pai de Harper, ao lado de sua filha, conversando com ninguém menos que Sebastian Morgan. Me aproximo, tentando manter a calma, mesmo com uma incógnita se formando em minha mente.
— Ah! Oi, meu amor! — Harper me cumprimenta com um beijo na bochecha, sorrindo enquanto segura meu braço.
— Henry, rapaz! — James exclama, apontando para o homem ao seu lado, que abre um sorriso presunçoso. — Já conhece o Sebastian Morgan?
— Sim, nos conhecemos — Sebastian se adianta, estendendo a mão para mim. — O mundo é menor do que parece.
— Exatamente — respondo, num tom irônico, apertando sua mão. — Tão pequeno que nossos caminhos insistem em se cruzar.
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar alguma
“Sebastian Morgan” Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. Ou talvez Henry sempre soubesse como manipular as coisas a seu favor. Desde que os problemas na minha empresa começaram, ele parecia saber exatamente onde atacar. Quando tudo finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la. Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim. Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante. — Com licença, senhores. — digo, ol
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto s
Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua descu
Já se passaram algumas semanas desde que permiti que Kim ficasse. No começo, sua presença era quase imperceptível. Se não fosse pelas refeições, eu nem notaria que havia alguém além de mim na casa. Ela respeitava meu espaço, nunca forçando sua presença enquanto eu me agarrava à minha necessidade de independência.Com o tempo, no entanto, as coisas começaram a mudar. Kim se aproximou de maneira sutil — um copo de suco aqui, um comentário sobre o clima ali. Ela descrevia o dia lá fora, mesmo sabendo que eu não podia ver. De alguma forma, isso me tocava.Agora, estamos sentadas na varanda. O ar fresco da tarde balança meus cabelos, e Kim, como de costume, descreve o céu, o brilho do sol, as nuvens preguiçosamente se movendo no horizonte. Ela faz isso com tanto cuidado que, por um instante, é como se eu pudesse enxergar novamente.— O céu está tão limpo hoje, Evie — comenta Kim. — Quase não vejo nuvens. É um daqueles dias perfeitos, sabe? Onde um banho de piscina cairia muito bem.Ela cont
Fico em silêncio por um momento, com a boca entreaberta em choque. As palavras de Lily reverberam em minha mente, mas, antes que eu possa responder, balanço a cabeça, tentando entender. Sebastian disse que eu não queria vê-las? Por quê? Balanço a cabeça lentamente, tentando encontrar uma justificativa. Ele sempre quis me proteger, mesmo quando eu não pedia, mas dizer isso a elas não faz sentido.— Lily... — começo hesitante, percebendo que preciso explicar tudo desde o início. — Aconteceu algo que vocês não sabem. Eu... tive um acidente. — O que... Por que ninguém nos contou?— Eu fiquei com vergonha de me verem assim e comentei isso com Sebastian — explico, tentando encontrar uma justificativa para o que Sebastian fez. — Ele pode ter levado isso a sério demais, mas nunca impedi que vocês me procurassem.— Evie, Chloe e eu viemos aqui duas ou três vezes, mas nunca fomos recebidas — ela responde, me guiando para sentarmos. — Na última vez, depois de muito insistir, sua governanta nos
Minha mente trabalha rápido, e a empolgação pela chance de voltar a enxergar me enche de coragem. Ainda assim, opto por não contar a Sebastian. Se não der certo, ele ficaria decepcionado, e eu não quero que ele veja meu fracasso. Mas, se der certo… eu teria a oportunidade de surpreendê-lo quando voltasse a Londres enxergando.— Estávamos falando sobre o aniversário de Chloe — começo, tentando soar convincente. — Como sempre viajamos para comemorar nossos aniversários, Lily sugeriu que fôssemos para os Alpes Franceses este ano.— Ah, querida. Você realmente acha que isso seria uma boa ideia? — ele pergunta, aproximando-se. Sinto o toque suave dos lábios de Sebastian em minha testa, e um sorriso surge em meu rosto. Abro a boca para responder, mas antes que consiga, Lily fala primeiro.— Por que não seria, Sebastian? — ela dispara, sem me dar a chance de falar.A tensão no ar é palpável, e posso imaginar a expressão de surpresa no rosto de Sebastian. Ele se senta no braço do sofá, ao meu
“Sebastian Morgan” Observo com um sorriso enquanto Evie termina de assinar os documentos. Cada assinatura é um passo mais próximo de me livrar desse fardo de uma vez por todas. Quando ela coloca a caneta de lado, uma onda de satisfação me invade. — Pronto, meu amor — ela murmura, fazendo a cena patética de olhar ao redor procurando por mim, como se conseguisse enxergar algo. — Sebastian, você está aqui? — Sim, querida — respondo, aproximando-me. Evie se levanta ao sentir meu toque em seu ombro e envolve os braços em minha cintura. A maneira como se entrega ao meu abraço me faz sorrir ainda mais. Não por afeto, mas por satisfação. Finalmente, meus planos estão progredindo como deveriam. Sinto suas mãos deslizarem pelo meu corpo, e seus lábios encontram os meus, evidenciando suas intenções. Carente, como sempre foi. Retribuo o beijo, mantendo o disfarce de marido perfeito e afetuoso, mas por dentro, uma parte de mim se afasta. Desde que Evie caiu da escada e ficou cega, o que antes