Ao ver Sebastian de pé no meio da sala de jantar, me encarando com um sorriso quase triunfante no rosto, meu coração acelera ainda mais. Ele se vira para a mesa, serve duas taças de vinho e se aproxima de mim. Meu marido me entrega uma das taças, me dando aquele olhar que sempre me desarma.
— Evie, meu amor… — ele sussurra, puxando-me para seus braços enquanto coloca sua taça no aparador ao nosso lado. Acariciando meus cabelos, ele continua: — Tive tanto medo de você decidir não voltar para mim. — Seu aperto se torna mais firme e sua voz embarga. — Me desculpe, meu amor. Me desculpe por agir daquela maneira e ir embora sem pensar. Eu não queria…
— Sebastian, está tudo bem… — interrompo, sentindo um leve beijo em minha cabeça. Ao soltá-lo, dou um longo gole no vinho, sentindo a bebida arder em minha garganta. — Me desculpe por sair e deixá-lo sozinho, mas eu precisava…
— Tudo bem, querida. — ele diz, sorrindo. — Me perdoe por deixar o nervosismo falar por mim. — Ele me solta e me conduz até a mesa. Após nos sentarmos, ele continua: — Quando soube que você se saiu tão bem na reunião, percebi estar exagerando. Você é mais do que capaz, Evie. Sempre soube disso, mas acho que o medo me cegou.
— Obrigada, Sebastian. — respondo com um sorriso sincero. Enquanto ele coloca mais bebida em minha taça, não consigo deixar de notar que ele não está bebendo o mesmo que eu.
— Por que você não está bebendo do mesmo vinho que eu? — pergunto, levantando uma sobrancelha. Ele sorri, servindo-se de um vinho seco, seu preferido.
— Você sabe que sempre preferi o vinho seco, meu amor — ele responde, sorrindo. — Mas se preferir, posso beber o rosé com você. De agora em diante, farei tudo o que você me pedir.
— Não, claro que não. Foi apenas uma curiosidade.
— Agora, me conte, como foi tudo? — ele pergunta, começando a nos servir o jantar. — Como você se sentiu?
Durante o jantar, relato a ele tudo o que aconteceu durante a reunião de propostas para o resort em Capri, omitindo, claro, meu encontro com Henry para não estragar o momento.
Quando terminamos de jantar, metade da garrafa de vinho já se foi. O cansaço e o álcool parecem me deixar lenta, mas tento disfarçar para que Sebastian não perceba.
— Querida, você deveria subir e tomar um banho relaxante — meu marido sugere ao me ver fechar os olhos por um instante. — O dia foi longo, e você merece um momento só para você. Preciso resolver algumas coisas, mas logo me junto a você. — Ele umedece os lábios antes de dizer: — Estou louco para terminar essa noite dentro de você.
— É uma ideia tentadora — concordo, levantando-me. No entanto, assim que fico de pé, uma tontura me atinge, e preciso me segurar na cadeira. Sebastian se levanta rapidamente, me amparando.
— Está tudo bem, meu amor?
— Sim, deve ser apenas o cansaço da viagem — respondo, forçando um sorriso para tranquilizá-lo.
Abraçada a ele, seguimos até a sala de estar. Ao chegarmos às escadas, Sebastian hesita por um momento, segurando-me com um olhar preocupado.
— Tem certeza de que consegue subir sozinha? — ele pergunta quando me solto de seu toque.
— Sim, eu consigo — respondo, começando a subir o primeiro degrau. — Não se preocupe, nos vemos daqui a pouco.
Forçando um sorriso, me viro novamente e subo os degraus lentamente, segurando o corrimão para me equilibrar. Ao chegar ao topo, ouço Sebastian me chamar do andar de baixo. Ainda tonta, me viro para olhá-lo.
— Evie, me desculpe novamente — ele diz, com um sorriso.
Retribuo o sorriso e me viro para subir o último degrau. No entanto, a sensação de tontura é intensa demais. Tento agarrar o corrimão para me apoiar, mas a lerdeza e a fraqueza me impedem. Minhas pernas falham, e, em um instante, começo a rolar escada abaixo.
Quando finalmente paro, o impacto da minha cabeça contra o chão frio é a última coisa que sinto antes da escuridão tomar conta. A voz de Sebastian se torna cada vez mais distante, enquanto a dor aguda atinge minha consciência, e tudo ao meu redor desaparece.
[…]
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me questiono se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.
Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Lentamente, percebo que estou em um hospital.
Com dificuldade, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que continua escuro se estou acordada. Quando meus dedos encontram os curativos ao redor dos meus olhos, o pânico me atinge, frio e alucinante.
Esforço-me para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até encontrarem o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por qualquer ajuda que esclareça o que aconteceu comigo.
Depois de um tempo que parece interminável, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre, e sinto alguém se aproximar da minha cama.
— Sra. Ashford? — Uma voz masculina quebra o silêncio. — Como está se sentindo?
— O que… o que aconteceu comigo… com meus olhos? — pergunto, sentindo minha voz falhar pelo medo crescente. — Quem é você?
— Sra. Ashford, sou o Dr. Freeman. A senhora sofreu um acidente, caiu da escada — ele explica, fazendo uma pausa antes de continuar. — Houve lesões significativas em seu rosto e, devido ao trauma em sua cabeça, sua visão foi a parte mais afetada.
— Isso significa que eu… estou cega, doutor? — pergunto, com a voz embargada, enquanto o pânico toma conta de mim.
O silêncio após minha pergunta paira pesado no quarto, interrompido apenas pelo som constante “bip” ao meu redor. Sinto um frio percorrer minha espinha. A incerteza sobre minha visão é tão dolorosa quanto as contusões físicas. Minhas mãos, ainda trêmulas, se apertam com força no lençol.— Não podemos confirmar o estado definitivo da sua visão neste momento — o Dr. Freeman responde, sua voz tranquila contrastando com o tom grave que não alivia a tensão. — A senhora sofreu um trauma considerável, e a extensão dos danos ainda precisa ser avaliada com mais detalhes. — Quando… poderei retirar os curativos? Preciso ver como estou, onde estou… — Minha voz é apenas um sussurro desesperado.— Entendo sua preocupação — ele responde, mexendo em algo ao meu lado. — No momento, os curativos são essenciais para proteger suas feridas e permitir que o processo de cicatrização ocorra sem complicações. Administrei um analgésico, isso deve ajudá-la a se sentir um pouco melhor.— Preciso falar com meu m
Desde que tudo aconteceu, há um mês, algumas pessoas fazem questão de perguntar como estou, mas a ausência das minhas amigas é dolorosa. Dizem ser nas dificuldades que descobrimos quem realmente se importa, mas jamais pensei que minhas próprias confidentes me abandonariam. O único que realmente tem se preocupado é Sebastian.Hoje, como tem sido em todos esses dias, meu marido entra no quarto com uma energia que parece tentar iluminar a escuridão que me envolve. Ele abre as cortinas, cantarolando, e logo ouço seus passos se aproximando da cama. Quando escuto o som familiar da bandeja sendo colocada ao meu lado, um sorriso involuntário se forma em meus lábios.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave. — Dormiu bem?— Bom dia, meu amor. Sim, mas senti falta de você. Não percebi quando chegou ontem. Por que se levantou tão cedo?— Fiquei até tarde resolvendo algumas coisas da empresa e, quando vim para o quarto, te vi dormindo tão serenamente que preferi dormir no quarto
“Henry Blackwood”As cinco semanas desde meu retorno de Genebra passaram rapidamente, mas a irritação que sinto desde a apresentação da proposta da Majestic não diminuiu nem um pouco. A imagem de Evie Ashford, com seus cabelos loiros, olhos esverdeados e corpo escultural, permanece gravada em minha mente, uma lembrança de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Desde então, venho me esforçando para manter a cabeça fria, torcendo para que aquela proposta tenha sido apenas uma coincidência infeliz. Mas a verdade é que a situação não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando. Agora, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.O dia se arrasta interminavelmente, e o peso das notícias que recebo torna a rotina mais um castigo do que um dia produtivo. A página do computador aberta diante de mim tira meu fôlego. A proposta da Majestic Ashford venceu a disputa. O que me deixa irado não é apenas o fato de terem vencido
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza-claro abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que te traz aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava interessado
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar algum
“Sebastian Morgan”Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. E, claro, quando minha empresa finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la.Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim.Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante.— Com licença, senhores. — digo, olhando para James antes de lançar um olhar aos outros homens que nos cercam. Tentando parecer convincente, aponto para o meu copo vazio. — Vou pegar out
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto sua mão
Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua desc