03

Quatro meses se passaram desde aquele acidente, e desde a noite com Falcão. Minha vida parecia estar, de certa forma, se ajeitando, mesmo que o vazio que a perda dos meus pais tivesse deixado nunca fosse completamente preenchido. O tempo ajudava a acalmar, mas a dor ainda estava ali, pulsando em algum lugar dentro de mim, como uma cicatriz invisível.

Mas a rotina tinha um novo ritmo agora. A loja, as risadas com as meninas e o calor da favela de Rosinha se tornaram minha realidade. Mas havia algo estranho acontecendo comigo. Nos últimos dias, comecei a sentir uns enjôos. Não era nada demais, mas o fato de sentir tontura a cada movimento me incomodava. A barriga estava meio enjoada, e eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Até que, ao conferir a menstruação, percebi que estava atrasada. Meu coração acelerou, e a primeira coisa que me veio à cabeça foi o momento com Falcão.

Eu sabia que ele não era qualquer um, mas não imaginava que eu fosse acabar nessa situação. Eu não tinha certeza de nada, mas precisava conversar. E, por sorte, tinha as minhas amigas. Aquelas três me conheciam melhor que ninguém. Ju, Lívia e Fê eram meu apoio, minha base.

No fim do expediente, nos encontramos na praça, como sempre. O sol estava se pondo, e o calor da cidade parecia ter diminuído um pouco. Sentei no banco, olhando para elas, e respirei fundo antes de abrir a boca.

— Gente... eu não sei o que fazer, eu tô com medo — comecei a dizer, sentindo o peso das palavras.

Ju, que sempre foi mais direta, levantou a sobrancelha, dando aquele olhar de quem sabia que eu ia contar alguma coisa pesada.

— O que aconteceu, Lara? Fala logo, tá me deixando ansiosa.

Eu olhei para o chão, tentando reunir coragem.

— Eu preciso contar uma coisa. Eu... eu me envolvi com um homem. Ele se chama Falcão. Quando cheguei aqui, tava meio desorientada por conta da morte dos meus pais, acabei indo no baile e me envolvi com ele — falei, de uma vez. As palavras saíram meio baixas, mas pesadas o suficiente para me fazer tremer.

As meninas ficaram em silêncio por um momento. Fê, a mais tranquila, foi a primeira a falar, mas não foi por muito tempo.

— Como assim, envolveu com o Falcão? — Fê perguntou, com uma expressão confusa, ainda tentando entender. Eu não sabia como explicar direito, então continuei.

— Eu... sei que ele não é qualquer pessoa. Não sou boba. Mas, naquela noite, não pensei direito. Ele... ele me fez sentir uma coisa que eu nunca imaginei que sentiria. E, depois de tudo, a gente acabou transando — disse, com a voz mais baixa. Senti o peso daquilo, como se estivesse contando algo que não podia ser falado em voz alta.

Lívia arregalou os olhos, como se tivesse acabado de ouvir a maior bomba da vida dela. Ela não esperava isso.

— Mas você não sabe com quem estava se metendo, Lara! — Lívia exclamou, ainda sem acreditar no que eu estava dizendo.

Eu a olhei, confusa.

— Do que você está falando, Lívia?

Ela me olhou com seriedade, como se estivesse tentando juntar todas as peças.

— O Falcão, Lara... ele é o dono do morro! Você não sabia disso?

Meu estômago virou. Falcão... o homem com quem eu tinha me entregado sem saber quem ele realmente era. Aquelas palavras ficaram ecoando na minha cabeça. "Dono do morro". Isso explicava muita coisa. A maneira como ele me olhava, o jeito que ele parecia controlar tudo ao redor dele, a intensidade daquela noite... eu estava em choque.

— Como você não sabia disso, Lara? — Ju perguntou, agora preocupada. — O Falcão é perigoso, ele tem uma vida cheia de coisas que você nem imagina.

Eu senti meu coração disparar. Aquele homem, aquele que parecia ser tão intenso e único, era exatamente aquilo que eu temia. O que eu tinha feito? Como eu não vi?

Aquela conversa, que deveria ser sobre algo simples, agora me deixou com um turbilhão de emoções. Eu não sabia o que fazer, nem o que pensar. Tudo estava fora do meu controle. Eu olhei para minhas amigas, pedindo ajuda com os olhos.

— O que eu faço agora? — perguntei, desesperada.

Fê, que sempre foi a mais calma, me deu um sorriso fraco e colocou a mão no meu ombro.

— Calma, Lara. A gente vai te ajudar. Não se preocupa, a gente vai achar uma solução para isso.

Mas, na verdade, eu sabia que nada seria fácil. Eu estava metida em algo muito maior do que imaginava, e agora precisava decidir qual caminho seguir. E, mais importante ainda, como enfrentaria Falcão.

Eu respirei fundo e falei, com a voz trêmula.

— E tem mais... eu acho que... eu tô grávida. Eu senti os sintomas. Enjôos, tontura, e a menstruação... tá atrasada.

As meninas ficaram em silêncio, agora digerindo tudo o que eu tinha contado. O peso da minha revelação estava no ar, e eu só esperava que elas soubessem o que fazer. Porque eu, sinceramente, não sabia nem por onde começar.

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