Nos dias seguintes, eu fiquei inquieta. O ódio de Falcão ainda queimava dentro de mim, mas eu também sentia um cansaço absurdo, como se toda aquela situação estivesse drenando minhas forças. Minha vó tentava me acalmar, mas eu sabia que ela estava preocupada.Eu queria resolver aquilo de uma vez. Fazer o teste de paternidade e esfregar na cara de Falcão que ele era o pai do meu filho. Mas, mais do que isso, eu queria seguir minha vida sem que ele tivesse qualquer influência nela.Na tarde seguinte, fui encontrar Ju, Lívia e Fê. Precisava desabafar. Elas me esperavam na praça, sentadas em um banco de concreto debaixo de uma árvore. Assim que me viram, Lívia foi a primeira a falar:— E aí? Como foi com a sua avó?Sentei ao lado dela, soltando um suspiro pesado.— Ela ficou assustada quando soube que era o Falcão. Disse que ele é perigoso e que eu não devia me envolver com ele de jeito nenhum.Lívia revirou os olhos.— Até sua avó sabe que esse cara não vale nada.— Mas pelo menos ela me
Os dias seguintes foram de pura ansiedade. Eu tentava me distrair, mas a verdade era que minha cabeça girava em torno do teste de paternidade e do que aconteceria depois.Minha avó percebeu o quanto eu estava inquieta.— Para de andar de um lado pro outro, menina — ela disse, enquanto sentava na poltrona da sala com uma xícara de chá nas mãos.— Não consigo, vó. Tô agoniada.Ela suspirou e bateu no sofá ao lado dela.— Senta aqui.Obedeci. Ela pegou minha mão e apertou de leve.— Eu sei que você tá preocupada. Mas independente do que aquele homem disser, você tem a mim e suas amigas. Esse bebê vai ser amado, com ou sem ele.Meus olhos se encheram de lágrimas.— Eu sei, vó… Mas eu quero esfregar isso na cara dele. Ele me tratou como se eu fosse qualquer uma. Como se eu tivesse mentindo pra cima dele.— Homens como ele são assim — ela resmungou. — Acham que podem pisar nos outros sem consequência.Fiquei em silêncio, encarando o chão.— Mas eu quero que você se prepare — minha avó conti
O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, tomei café com minha avó e fui trabalhar. Agora que Ju tinha conseguido um emprego na loja comigo, as coisas estavam mais leves. Ela era minha melhor amiga e, com ela por perto, o trabalho ficava menos cansativo.— Tá pronta pra encarar mais um dia de clientes folgados? — Ju brincou assim que chegamos.— Como se eu tivesse escolha — revirei os olhos.A manhã passou sem grandes problemas. Atendi alguns clientes, arrumei as prateleiras e ajudei Ju a organizar o estoque. Mas, depois do almoço, um enjoo forte me atingiu de repente.O cheiro de perfume na loja ficou insuportável. Meu estômago revirou, e antes que eu pudesse correr pro banheiro, senti a tontura tomar conta.— Lara! — Ju me segurou quando minhas pernas falharam.Fechei os olhos, tentando respirar fundo.— Tô bem — menti, engolindo em seco.— Bem uma ova! Você tá pálida! — Ju insistiu.Minha chefe, Dona Rita, se aproximou com uma expressão preocupada.— Lara, quer ir pra casa?
FalcãoFiquei encarando o papel jogado na mesa, sentindo um gosto amargo na boca.A porra do exame confirmava o que eu já desconfiava, mas que preferia negar. Aquela criança era minha.Passei a língua nos dentes, irritado.A vadia entrou aqui achando que ia ditar regra? Que ia me dizer que eu não teria nada a ver com meu próprio filho?Soltei uma risada seca.— Essa daí tem coragem, hein — comentou L7, largado no sofá, tragando um cigarro.Sombra riu de canto.— E tem mais: ela entrou aqui como se fosse dona do lugar. Nem hesitou.Me encostei na cadeira, respirando fundo pra não deixar a raiva me dominar.— Cês tão achando bonito, é?L7 deu de ombros.— Não é isso. Mas cê viu, né? Ela não abaixou a cabeça pra você. Diferente das outras.Fechei a cara.— E que porra isso muda?Ninguém respondeu. Ficaram só se olhando, como se soubessem de algo que eu não queria admitir.Levantei de supetão e empurrei a cadeira pra trás.— Essa mina tá achando que pode escolher como as coisas vão ser. T
Falcão Eu não estava brincando. Lara podia tentar o que fosse, mas não ia escapar de mim. O filho era meu, e isso mudava tudo. Ela podia tentar se esconder ou se convencer de que podia viver a vida dela do jeito que quisesse, mas eu sabia melhor. Essa criança, mesmo antes de nascer, já tinha me dado o direito de tomar controle da situação.Eu a vi resistir, eu vi o fogo nos olhos dela, mas não me importei. Se tivesse que forçar, eu faria. Eu não ia ser mais um desses pais ausentes, que só aparecem quando querem. Eu ia ser o pai dela, ia estar lá. Não ia deixar ela criar essa criança sozinha, e muito menos deixá-la decidir por si mesma.Quando a levei até o carro, ela não falou nada. Ficou calada, os dentes cerrados, provavelmente pensando que poderia me desafiar de novo, mas isso era besteira. Não ia ter outra opção. Ela sabia disso. Não ia conseguir ficar sozinha. Não ia ficar longe de mim.Ajeitei o retrovisor do carro e pisei no acelerador, sentindo o peso da situação. A casa dela
LaraEu não sabia o que estava acontecendo comigo. A cada segundo, as coisas pareciam mais fora de controle, e eu me sentia como se estivesse sendo arrastada para um lugar do qual não conseguiria sair. Falcão... aquele homem. Agora ele sabia que o filho era dele, e tudo que ele queria era que eu me subjugasse à sua vontade.Quando ele disse que eu teria que morar com ele, uma parte de mim queria gritar, correr e nunca mais olhar pra ele. Mas eu não podia. Eu já estava presa àquilo, àquelas circunstâncias que ele havia criado. Ele me fez sentir como se não tivesse escolha.E o pior, ele tinha razão.Eu olhei para aquele quarto, para aquela cama, e vi o quanto tudo tinha mudado em tão pouco tempo. Como eu passei de uma garota que queria ser livre, independente, a... prisioneira desse maldito jogo de poder. Falcão tinha um jeito de me fazer sentir pequenininha, impotente, como se toda a minha força tivesse sido drenada. E isso me irritava profundamente.A cama estava estranhamente silenc
A noite foi longa. Eu mal preguei os olhos, cada ruído, cada movimento de Falcão ao meu lado me deixava tensa. Ele dormia tranquilo, como se tivesse plena certeza de que tinha tudo sob controle, como se eu já fosse dele.Mas ele não sabia de nada.Levantei devagar, tentando não fazer barulho. O quarto ainda estava escuro, apenas a luz fraca da rua entrando pela janela. Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos. Eu precisava ser esperta, precisava planejar meus próximos passos.Não dava pra negar que estar aqui era mais seguro do que ficar sozinha na casa da minha avó. Se Falcão já estava me obrigando a ficar, o que impediria algum inimigo dele de tentar me atingir também? Mas isso não significava que eu tinha que aceitar essa situação.Caminhei até o banheiro e me encarei no espelho. Meus olhos estavam cansados, minha expressão era de alguém que já tinha perdido várias batalhas antes mesmo da guerra começar. Eu odiava me sentir assim.O barulho do colchão se mexendo me fez pre
Os dias passaram mais devagar do que eu imaginava. Eu me sentia sufocada naquela casa, como se cada parede estivesse me vigiando, me lembrando que eu não tava ali porque queria.Falcão me tratava como se nada tivesse acontecido, como se fosse normal ele me tirar da minha casa e decidir que eu tinha que ficar ali. Ele saía, resolvia as merdas dele e voltava como se fosse dono de tudo—incluindo eu.A única coisa que eu consegui arrancar dele foi a permissão pra continuar trabalhando. Ele não gostou, mas aceitou. Pelo menos isso.Mas o que me incomodava de verdade era a mãe dele.Dona Cecília me olhava torto desde o dia que eu cheguei. No começo, achei que fosse surpresa ou preocupação, mas agora eu sabia que era outra coisa. Ela não gostava de mim ali.E, sinceramente? Eu também não gostava de estar.— Você comeu direito? — Falcão perguntou do nada, se sentando no sofá ao meu lado.Revirei os olhos.— Você acha que eu sou criança agora?Ele suspirou, passando a mão no rosto.— Tô pergun