LaraEu não sabia o que estava acontecendo comigo. A cada segundo, as coisas pareciam mais fora de controle, e eu me sentia como se estivesse sendo arrastada para um lugar do qual não conseguiria sair. Falcão... aquele homem. Agora ele sabia que o filho era dele, e tudo que ele queria era que eu me subjugasse à sua vontade.Quando ele disse que eu teria que morar com ele, uma parte de mim queria gritar, correr e nunca mais olhar pra ele. Mas eu não podia. Eu já estava presa àquilo, àquelas circunstâncias que ele havia criado. Ele me fez sentir como se não tivesse escolha.E o pior, ele tinha razão.Eu olhei para aquele quarto, para aquela cama, e vi o quanto tudo tinha mudado em tão pouco tempo. Como eu passei de uma garota que queria ser livre, independente, a... prisioneira desse maldito jogo de poder. Falcão tinha um jeito de me fazer sentir pequenininha, impotente, como se toda a minha força tivesse sido drenada. E isso me irritava profundamente.A cama estava estranhamente silenc
A noite foi longa. Eu mal preguei os olhos, cada ruído, cada movimento de Falcão ao meu lado me deixava tensa. Ele dormia tranquilo, como se tivesse plena certeza de que tinha tudo sob controle, como se eu já fosse dele.Mas ele não sabia de nada.Levantei devagar, tentando não fazer barulho. O quarto ainda estava escuro, apenas a luz fraca da rua entrando pela janela. Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos. Eu precisava ser esperta, precisava planejar meus próximos passos.Não dava pra negar que estar aqui era mais seguro do que ficar sozinha na casa da minha avó. Se Falcão já estava me obrigando a ficar, o que impediria algum inimigo dele de tentar me atingir também? Mas isso não significava que eu tinha que aceitar essa situação.Caminhei até o banheiro e me encarei no espelho. Meus olhos estavam cansados, minha expressão era de alguém que já tinha perdido várias batalhas antes mesmo da guerra começar. Eu odiava me sentir assim.O barulho do colchão se mexendo me fez pre
Os dias passaram mais devagar do que eu imaginava. Eu me sentia sufocada naquela casa, como se cada parede estivesse me vigiando, me lembrando que eu não tava ali porque queria.Falcão me tratava como se nada tivesse acontecido, como se fosse normal ele me tirar da minha casa e decidir que eu tinha que ficar ali. Ele saía, resolvia as merdas dele e voltava como se fosse dono de tudo—incluindo eu.A única coisa que eu consegui arrancar dele foi a permissão pra continuar trabalhando. Ele não gostou, mas aceitou. Pelo menos isso.Mas o que me incomodava de verdade era a mãe dele.Dona Cecília me olhava torto desde o dia que eu cheguei. No começo, achei que fosse surpresa ou preocupação, mas agora eu sabia que era outra coisa. Ela não gostava de mim ali.E, sinceramente? Eu também não gostava de estar.— Você comeu direito? — Falcão perguntou do nada, se sentando no sofá ao meu lado.Revirei os olhos.— Você acha que eu sou criança agora?Ele suspirou, passando a mão no rosto.— Tô pergun
Passei o resto do dia remoendo a conversa com minha avó. Eu sabia que ela tava certa, que esse mundo não era pra ela, mas eu precisava dela perto. Eu não ia conseguir passar por tudo isso sozinha.Quando Falcão chegou em casa à noite, jogando as chaves na mesa como sempre fazia, criei coragem.— A gente precisa conversar.Ele arqueou a sobrancelha, se jogando no sofá.— Lá vem… fala.Respirei fundo, tentando não perder a paciência antes de começar.— Quero que minha avó venha morar aqui.Ele riu de canto, balançando a cabeça.— Tá ficando doida, né?Trinquei os dentes.— Eu tô falando sério, Falcão.Ele me encarou por um momento, depois se levantou, vindo até mim devagar, como quem já sabe que a conversa não vai dar em nada.— Aqui não é lugar pra velha, Lara. Minha casa não é casa de família, cê sabe disso.— E daí? — Cruzei os braços, não recuando nem um centímetro. — Eu preciso dela aqui. Eu tô grávida, não dá pra ficar sozinha o tempo todo.Ele bufou, esfregando o rosto.— Cê não
Chegamos no posto e eu já tava com a cabeça a mil. A última coisa que eu queria era ter que lidar com Falcão o dia todo. O cara parecia ter um poder de ser insuportável, mas, quando ele decidiu que ia me acompanhar, não tinha jeito. O cara foi junto até o posto, e me olhava como se estivesse supervisionando até o ar que eu respirava.A médica nos chamou, e eu suspirei fundo, tentando me preparar pro que fosse vir.— Lara? — A doutora gritou lá de dentro, e eu passei por Falcão sem nem olhar pra ele. Ele que se virasse.Entrei na sala, e, claro, lá estava Falcão, tentando entrar junto, todo metido. Dei uma olhada nele e falei, sem paciência nenhuma:— Cê tá de sacanagem, né? Vai ficar aí fora.Mas, claro, Falcão não ia ficar de fora. Ele me olhou com aquele olhar de quem tava prestes a começar uma briga e disse:— Eu vou entrar, sim, Lara.Ah, meu Deus… Eu já sabia que não ia ter como vencer essa batalha. Revirei os olhos e dei de ombros. Se ele queria ser o rei do pedaço, que fosse. S
Falcão Beleza, lá vou eu, pensando na merda da situação e querendo, sei lá, fazer as paradas direito. Não queria que a Lara fizesse peso por causa da gravidez, tava começando a me preocupar com ela e com o bebê, então resolvi descer lá pra casa da avó dela e ajudar. Eu sabia que ela não tinha pegado nada quando fui lá levar ela pra casa, e como não queria que ela ficasse fazendo esforço, decidi dar esse rolê por ela. Vai saber o que pode acontecer, né? Antes de descer, parei na boca, entrei na sala e fui direto na gaveta da mesa, onde eu sabia que tinha um bolo de dinheiro. Peguei o dinheiro, contei rapidinho, e a grana parecia ser o suficiente pra ela fazer o que tivesse que fazer. Pra organizar as paradas do bebê, o chá revelação e essas merdas todas que ela queria. Era muito dinheiro, mas quem sou eu pra dizer não? Ela precisava de uma força, então lá fui eu, sem pensar duas vezes. Fechei a gaveta e botei a grana no bolso. Peguei o carro, dei aquela olhada pra ver se tava tudo
Falcão Saí do quarto puto. Minha mãe tinha que aprender a fechar a porra da boca antes de falar merda. Desci as escadas ainda fervendo de raiva e fui direto pra cozinha pegar um copo d’água, tentando esfriar a cabeça.Sombra tava na sala, largado no sofá, com um baseado na mão. Ele me olhou e soltou um riso debochado.— Qual foi, patrão? Tá com a cara de quem quer matar um.Joguei o copo na pia e me encostei na parede, cruzando os braços.— Minha mãe enchendo o saco. Meteu o louco pra cima da Lara, falou que ela quer dar golpe da barriga.Sombra riu de canto.— Ué, e tu já não falou essa merda também?Revirei os olhos.— Já, mas uma coisa é eu falar. Outra é os outros.Ele gargalhou.— Ah, agora entendi. Tu pode chamar de vagabunda, mas se alguém falar, o bagulho fica doido?Peguei o beck da mão dele e dei um trago, sentindo a fumaça acalmar meu peito.— A mina tá carregando meu filho, porra. E eu falei merda no calor do momento. Agora já era, é minha responsa.Sombra balançou a cabe
A casa tava estranhamente quieta. Depois da treta com a mãe do Falcão, eu achei que ia rolar guerra todo dia, mas ela sumiu pro quarto e nem olhou mais na minha cara. Melhor assim.Eu desci pra cozinha pra beber água, ainda com a cabeça a mil. Minha vó tava dormindo no quarto que o Falcão tinha improvisado pra ela, e ele? Sei lá. Provavelmente na sala, largado no sofá ou fumando um.Encostei no balcão, passando a mão pela barriga. Já tava começando a sentir uns incômodos, umas dores leves. A médica disse que era normal, mas toda vez que doía, eu ficava com aquele medo idiota de acontecer alguma coisa.Minha vida tinha virado de cabeça pra baixo tão rápido que às vezes eu me perguntava como eu ainda tava de pé. Perdi meus pais, mudei de cidade, fui morar no morro, engravidei de um cara que eu mal conhecia… e agora tava aqui, tentando construir alguma coisa no meio desse caos.Ouvi passos pesados vindo da sala e logo o Falcão apareceu na porta da cozinha, sem camisa, com o cabelo todo b