O silêncio no carro era pesado enquanto voltávamos para casa. Eu não conseguia parar de pensar no teste. Estava grávida. A palavra soava como um eco na minha cabeça, sem fazer muito sentido, mas ao mesmo tempo, parecia tão real quanto a sensação de dor que estava se instalando no meu peito. As meninas tentavam me animar, mas eu sabia que nada mudaria a verdade que eu acabara de descobrir.
Fê foi a primeira a quebrar o silêncio, tentando me puxar para a realidade. — Lara, você precisa pensar em tudo, calma. Não adianta ficar pirando, agora a gente tem que ver o que fazer. O que você quer, no fundo? Você tem um futuro pela frente, tem que se decidir. Eu estava tão confusa que nem sabia o que responder. Como decidir alguma coisa com uma bomba dessas caindo sobre a minha vida? Eu só queria que o mundo parasse de girar por um momento, para eu conseguir respirar. — Eu não sei… Eu realmente não sei o que fazer. Não me vejo cuidando de uma criança sozinha, mas também não sei se consigo tirar isso… – minha voz saiu trêmula, e as palavras ficaram presas na garganta. Lívia, que sempre parecia mais calma, olhou para mim com uma expressão preocupada, mas também séria. — A gente vai te ajudar, Lara. Não se preocupa com isso. A decisão é sua, mas não quer dizer que você precisa fazer tudo sozinha. Lembra disso. Eu a olhei, grata pelas palavras, mas ainda com um peso enorme nos ombros. Eu sabia que não tinha certeza do que fazer, mas não queria que minhas amigas tivessem que carregar a responsabilidade por mim. Eu era a única que poderia decidir o que fazer. O carro parou em frente à minha casa, e eu saí devagar, as pernas ainda trêmulas. O peso da novidade era como uma âncora em meu peito. A casa parecia mais silenciosa do que nunca. Eu me senti sozinha, mesmo com todas as pessoas ao meu redor. Quando entrei, minha avó me olhou, mas não disse nada. Ela sempre soube que algo estava diferente, mas nunca teve coragem de perguntar diretamente. Eu, por outro lado, não tinha coragem de contar a ela o que havia acontecido. — Lara, você está bem? – perguntou minha avó com uma expressão preocupada. Ela me observava com um olhar que parecia ler minhas emoções, como se ela soubesse de algo, mas não sabia o que exatamente. Eu forcei um sorriso e tentei esconder o que estava sentindo, mas a minha voz não saiu tão convincente quanto eu gostaria. — Só estou um pouco cansada, vovó. Não se preocupa. Minha avó me olhou desconfiada, mas não insistiu. Ela sabia que eu estava passando por algo, mas parecia entender que era melhor não perguntar mais naquele momento. A noite caiu, e a pressão sobre mim só aumentava. Eu não conseguia dormir, os pensamentos invadindo minha mente a todo momento. O que fazer com a gravidez? Como Falcão reagiria se soubesse? Ele, o homem que eu mal conhecia, o homem que me envolveu em tudo isso… Como eu ia enfrentar ele e tudo o que ele representava? No dia seguinte, as meninas estavam decididas a me ajudar a tomar uma atitude. Fê me ligou logo cedo. — Vamos dar um jeito nesse cara, Lara. Não é hora de pensar em ser a "boa moça" aqui. A gente tem que ser firme. E, claro, você tem que fazer a sua escolha em relação à gravidez, mas primeiro a gente resolve a parte do Falcão. Eu não sabia o que esperar de Falcão, e, honestamente, estava com medo. Mas ao mesmo tempo, o medo de ser forçada a fazer algo que não queria era maior. Eu não queria que ele tivesse controle sobre a minha vida, mas eu sabia que seria difícil fugir dele, considerando quem ele era. A voz de Ju, que estava sempre pronta para dar uma opinião, ecoou no meu ouvido: — Lara, não deixa esse homem te intimidar. Mesmo que ele seja o dono do morro, como a Lívia disse, é ainda mais motivo para você não se deixar levar por ele. Você tem que ser mais esperta do que ele, tem que fazer com que ele entenda que não vai controlar a sua vida. Eu sabia que ela tinha razão, mas algo dentro de mim ainda estava em dúvida. E se eu tomasse a decisão errada? E se Falcão não fosse alguém que aceitasse ser "desafrontado"? As meninas, vendo que eu estava ainda dividida, me convenceram a ir até o morro. Não para enfrentar Falcão, mas para entender o que ele significava. O que ele representava dentro desse jogo que eu nem ao menos sabia como jogar. — Vai ser importante você saber com quem está lidando – disse Lívia, como quem sabe as consequências de cada passo que eu daria. – E, além disso, você vai ver que, com a gente, tudo vai ficar mais claro. Eu não sabia o que esperar de Falcão ou de tudo isso. Mas, por alguma razão, eu confiava nelas. E se alguma coisa fosse mudar, começaria por ali, naquele momento.As meninas estavam decididas. Se eu tinha que enfrentar Falcão, elas estariam comigo, não importa o que acontecesse. Elas sabiam muito mais sobre ele do que eu, e esse era o ponto que me fazia sentir que, talvez, eu ainda tivesse alguma chance de controlar a situação.Fê parecia a mais otimista.— Vai dar tudo certo, Lara. A gente tem que estar na frente dele, sem mostrar medo. Você vai ver, ele vai entender que você não é qualquer uma, que você não vai ser controlada por ele, não importa quem ele seja.Ju, por outro lado, era mais cautelosa. Ela já havia tido algumas experiências com caras problemáticos no passado, e seu instinto de proteção estava à flor da pele.— Só não vá achando que ele vai te dar mole, hein? Falcão é perigoso, a gente sabe disso. Não dá para ser mole com ele. Ele não vai te dar a mínima se você se mostrar fraca.Eu sabia o que Ju estava tentando dizer. Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia perdida. Eu mal sabia o que fazer da minha vida depois do acidente, e agora,
FalcãoAs mulheres, essas, sempre cheias de truque. Chegaram no morro, e eu nem dei muita atenção no começo. Mas quando vi ela, Lara, o papo mudou. Garota diferente, pensava que ia causar algum impacto, que ia chegar e todo mundo ia se curvar pra ela. No fundo, até admito, ela tem uma coragem. Mas coragem aqui não vale de nada quando a gente vive de respeito e medo, e não de promessas vazias.Eu tava ali, no meu canto, falando com os meus homens. Nada demais. Nada que me tirasse o foco. Até que ela, com aquele jeito inocente, pediu pra conversar comigo. Achou que eu ia dar bola pra essa história, né? Pensa que sou qualquer idiota.— Falcão, podemos conversar a sós? — A voz dela tava tremendo um pouco, mas não sei se era de nervoso ou se tava tentando ser convencente. Toda mulher acha que vai me pegar com essas frescuras.Levantei uma sobrancelha, olhei pros caras em volta e dei a permissão com um gesto seco. Ninguém ia mexer com a conversa dela e eu. Era o meu momento.Ela veio mais p
FalcãoAquela garota não sabia com quem estava lidando. Pensou que ia me enganar com essa história de gravidez? Me poupe. Eu não sou qualquer otário que cai em golpe de barriga. Ela queria me fazer de palhaço, mas não ia rolar. Eu não ia assumir essa criança, não importa o que ela dissesse. Ela que se virasse.Ela ficou ali, parada, esperando uma reação minha. Eu a encarei com desdém, sem dar a mínima para o que ela estava tentando me convencer. Não ia cair nessa. Eu já vi esse filme antes, e o final sempre é o mesmo: a mulher tentando me manipular, achando que pode me controlar. Mas comigo não tem essa. Eu sou o Falcão, o dono do morro, e ninguém me engana. Ela tentou falar, mas eu a interrompi com um gesto brusco. — Não adianta, garota. Eu não vou cair nessa. Vai procurar outro otário para enganar. Eu não sou seu babaca. Ela tentou argumentar, mas eu não estava disposto a ouvir. Já estava cansado dessas tentativas de manipulação. Eu sabia o que ela queria, e não ia dar a ela o
Falcão Eu não acredito nisso. Como é que aquela vagabunda vem me dizendo que está grávida? Não tem a mínima condição de ser meu filho. Eu não sou um desses idiotas que se deixa manipular por mulher. Já conheço o jogo delas. E ela estava tentando, de todas as formas, fazer eu cair nesse papo de "grávida do Falcão" só pra virar fiel. Eu sabia muito bem o que ela queria, mas não seria eu quem cairia nessa.Aquela mina parecia tão confiante com o papo de gravidez, mas eu não ia cair. Fui direto ao ponto. Se esse filho for meu, ela vai morar comigo, nem que seja à força. E se não for? Eu ia deixar ela na rua, simples assim. Não tenho paciência pra esse tipo de mulher, que tenta jogar o golpe da barriga achando que vai me prender. Se não for meu, a história termina ali, e ela vai aprender a não mexer com Falcão.Eu fico observando a situação, esperando a reação dela, e a única coisa que passa pela minha cabeça é: se esse filho for meu, ela vai ter que se submeter às minhas regras. Não vai
LaraAssim que atravessei a porta de casa, senti o peso de tudo desabar sobre mim. Minhas pernas estavam bambas, a cabeça rodava, e a raiva misturada com mágoa ainda queimava no meu peito. Eu não conseguia acreditar na forma como Falcão me tratou. Frio, cruel e arrogante, como se eu fosse apenas mais uma qualquer tentando tirar proveito dele.Minha avó estava sentada no sofá, assistindo televisão, mas assim que me viu entrar daquele jeito, franziu a testa e abaixou o volume.- O que aconteceu, menina? - O tom dela era preocupado.Minha garganta secou. Eu precisava contar. Ela merecia saber a verdade. Respirei fundo e sentei ao lado dela.- Vó... eu preciso te contar uma coisa.Ela me olhou de cima a baixo, percebendo minha hesitação.- Fala logo, Lara. O que foi?Fechei os olhos por um segundo, tentando reunir forças.- Eu tô grávida.O silêncio na sala foi ensurdecedor. Minha avó me encarou, e, por um momento, achei que ela não tinha entendido. Mas então, ela suspirou fundo e passou
Nos dias seguintes, eu fiquei inquieta. O ódio de Falcão ainda queimava dentro de mim, mas eu também sentia um cansaço absurdo, como se toda aquela situação estivesse drenando minhas forças. Minha vó tentava me acalmar, mas eu sabia que ela estava preocupada.Eu queria resolver aquilo de uma vez. Fazer o teste de paternidade e esfregar na cara de Falcão que ele era o pai do meu filho. Mas, mais do que isso, eu queria seguir minha vida sem que ele tivesse qualquer influência nela.Na tarde seguinte, fui encontrar Ju, Lívia e Fê. Precisava desabafar. Elas me esperavam na praça, sentadas em um banco de concreto debaixo de uma árvore. Assim que me viram, Lívia foi a primeira a falar:— E aí? Como foi com a sua avó?Sentei ao lado dela, soltando um suspiro pesado.— Ela ficou assustada quando soube que era o Falcão. Disse que ele é perigoso e que eu não devia me envolver com ele de jeito nenhum.Lívia revirou os olhos.— Até sua avó sabe que esse cara não vale nada.— Mas pelo menos ela me
Os dias seguintes foram de pura ansiedade. Eu tentava me distrair, mas a verdade era que minha cabeça girava em torno do teste de paternidade e do que aconteceria depois.Minha avó percebeu o quanto eu estava inquieta.— Para de andar de um lado pro outro, menina — ela disse, enquanto sentava na poltrona da sala com uma xícara de chá nas mãos.— Não consigo, vó. Tô agoniada.Ela suspirou e bateu no sofá ao lado dela.— Senta aqui.Obedeci. Ela pegou minha mão e apertou de leve.— Eu sei que você tá preocupada. Mas independente do que aquele homem disser, você tem a mim e suas amigas. Esse bebê vai ser amado, com ou sem ele.Meus olhos se encheram de lágrimas.— Eu sei, vó… Mas eu quero esfregar isso na cara dele. Ele me tratou como se eu fosse qualquer uma. Como se eu tivesse mentindo pra cima dele.— Homens como ele são assim — ela resmungou. — Acham que podem pisar nos outros sem consequência.Fiquei em silêncio, encarando o chão.— Mas eu quero que você se prepare — minha avó conti
O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, tomei café com minha avó e fui trabalhar. Agora que Ju tinha conseguido um emprego na loja comigo, as coisas estavam mais leves. Ela era minha melhor amiga e, com ela por perto, o trabalho ficava menos cansativo.— Tá pronta pra encarar mais um dia de clientes folgados? — Ju brincou assim que chegamos.— Como se eu tivesse escolha — revirei os olhos.A manhã passou sem grandes problemas. Atendi alguns clientes, arrumei as prateleiras e ajudei Ju a organizar o estoque. Mas, depois do almoço, um enjoo forte me atingiu de repente.O cheiro de perfume na loja ficou insuportável. Meu estômago revirou, e antes que eu pudesse correr pro banheiro, senti a tontura tomar conta.— Lara! — Ju me segurou quando minhas pernas falharam.Fechei os olhos, tentando respirar fundo.— Tô bem — menti, engolindo em seco.— Bem uma ova! Você tá pálida! — Ju insistiu.Minha chefe, Dona Rita, se aproximou com uma expressão preocupada.— Lara, quer ir pra casa?