Em uma fazenda isolada, no meio de um sertão árido e esquecido, vive Joaquim, um fazendeiro viúvo de 45 anos. Bronco, de poucas palavras, com mãos calejadas pelo trabalho e um temperamento rústico que assusta à primeira vista, Joaquim carrega a dor de ter perdido a esposa há cinco anos em um acidente trágico. Ele é um homem duro, mas de coração bondoso, que cuida sozinho de sua propriedade, de seus poucos empregados e de um rebanho de gado. Apesar de sua aparência intimidadora, ele tem um código moral forte: protege os fracos, honra sua palavra e, secretamente, sente saudades de uma companhia, embora jure que nunca mais abrirá seu coração. Do outro lado, há Mariana, uma jovem de 28 anos, marcada pela vida na cidade grande. Depois de anos lutando para se estabelecer, enfrentando empregos precários, relacionamentos tóxicos e uma sociedade que a julgava, ela viveu seu maior trauma: um aborto forçado, incentivado por seu ex-namorado, um homem manipulador que a abandonou logo depois. O procedimento, feito em condições precárias e sem apoio, deixou cicatrizes físicas e emocionais em Mariana. Cheia de medo, culpa e angústia, ela decide fugir da cidade, sentindo que não há mais nada para ela ali. Em um jornal velho, ela vê um anúncio: "Cozinheira procurada para fazenda isolada. Trabalho honesto, longe da civilização." Sem hesitar, ela aplica para a vaga e, dias depois, embarca em um ônibus que a leva para o "fim do mundo".
Leer másMariana sentiu o coração disparar, o rubor de vergonha se misturando com a raiva enquanto ajeitava a saia às pressas. A mulher à sua frente, parada nas sombras do jardim, era uma visão que cortava o ar — alta, com curvas que pareciam esculpidas, vestida com uma blusa justa de seda vermelha e uma saia que abraçava os quadris, revelando mais do que escondendo. O cabelo castanho caía em ondas soltas, e os olhos verdes brilhavam com um misto de desprezo e diversão. O sorriso frio nos lábios era afiado como uma lâmina.— Clara — rosnou Joaquim, o corpo tenso, os olhos faiscando de raiva. Ele deu um passo à frente, como se quisesse proteger Mariana, mas a frieza em sua postura a fez sentir, mais uma vez, como uma peça descartável.Clara, a cunhada de Joaquim, cruzou os braços, o movimento destacando ainda mais suas formas. — Então é assim que você cuida da fazenda da minha irmã? — repetiu, a voz melíflua, carregada de sarcasmo. — Comendo as empregadas pelos cantos? Que... charmoso.Mariana
O fogo no depósito de feno foi controlado ao amanhecer, mas a fazenda amanheceu marcada — cinzas espalhadas, o cheiro de queimado grudado no ar, e uma tensão que pesava mais que o calor. Mariana sentia o corpo dolorido, não só pelo esforço da noite, mas pelo encontro no celeiro, onde Joaquim a tomara com uma urgência que ainda fazia sua pele arder. A lembrança dos beijos dele, quentes e devoradores, a deixava sem fôlego, mas a frieza com que ele a tratara depois, na frente de todos, cortava como uma faca. Ela se sentia usada, um brinquedo para o desejo dele, e a raiva só crescia, mesmo que seu corpo traidor quisesse mais.Na cozinha, enquanto preparava café forte para os funcionários, Mariana tentava se concentrar. Tereza entrou, os olhos astutos notando o rubor nas bochechas dela, a blusa ainda desalinhada da correria.— Você tá com cara de quem enfrentou mais que fogo ontem — disse Tereza, um tom provocador na voz.Mariana corou, derramando um pouco de café, o coração disparado.— Só
O amanhecer rastejava sobre a fazenda, o céu tingido de laranja e cinza, hesitando em trazer o novo dia. Mariana acordou com o peso do braço de Joaquim ao seu redor, o calor dele um lembrete vívido da noite anterior. O corpo dolorido por todas as posições e contorcionismos que fizeram.Por um instante, ela se deixou ficar ali, sentindo a respiração quente contra sua nuca, o coração dele batendo firme contra suas costas, as mãos dele agarradas a seu seio nu, sentiu seu coração acelerar e seu sexo ficar úmido, o calor lhe percorrendo só em lembrar de como ele a tocou.Mas o som de botas pesadas no corredor a fez abrir os olhos. A realidade — ladrões, a morte do garanhão, a ameaça do Sr. Almeida — voltou como uma onda fria.Ela se desvencilhou com cuidado, vestindo a camisa dele jogada no chão, o cheiro de terra e suor a envolvendo. Joaquim resmungou, meio acordado, os olhos escuros encontrando os dela com uma intensidade que a fez hesitar.— Tá cedo pra fugir — disse ele, a voz rouca, u
O calor envolvendo a fazenda como uma manta pesada, secando a lama e endurecendo a terra onde o verde ainda lutava para se firmar. As flores silvestres de Mariana espalhadas em jarros pela casa, trazendo um toque de cor que arrancava sorrisos tímidos dos funcionários, mesmo com a tensão que pairava. O roubo do cavalo na noite anterior deixara todos nervosos, e o garanhão doente no curral era uma sombra que ninguém queria nomear. Mariana sentia o peso disso tudo, mas também um vazio mais profundo, onde seus fantasmas dançavam – a culpa pelo que perdera no consultório, as palavras do, o medo de que Joaquim a visse como algo para usar e abandonar. A noite com ele – o calor dos corpos, a entrega total – era uma chama que não apagava, mas a fuga dela ao amanhecer, as lágrimas que não explicara, só tornavam tudo mais confuso.Na cozinha, ela se jogava no trabalho, como se pudesse cozinhar a dor que a consumia. Cada prato era uma batalha contra a insegurança, uma tentativa de provar que val
O céu clareou pela primeira vez em dias, o sol rompendo as nuvens com um calor que parecia decidido a recuperar o tempo perdido. A fazenda, ainda úmida da chuva, pulsava com vida – os campos verdes se firmavam, as flores silvestres de Mariana brilhavam em jarros espalhados pela casa, e os funcionários trabalhavam com uma energia que misturava alívio e cautela. Mas a leveza dos sorrisos escondia rachaduras novas, tensões que cresciam como ervas daninhas sob a terra. Mariana sentia isso em cada respiração, um peso que não vinha só do calor, mas da noite que mudara tudo – os braços de Joaquim, o calor dos corpos, as lágrimas que a fizeram fugir ao amanhecer.Na cozinha, ela se jogava no trabalho, como se pudesse cozinhar a culpa que a consumia. Preparava um ensopado reforçado, com ervas do jardim, o aroma enchendo a casa e trazendo sorrisos tímidos dos funcionários. Mas, por dentro, ela lutava contra os fantasmas que nunca a deixavam – as palavras do ex, “Você não serve pra nada”, a culp
A chuva caía leve, um sussurro que envolvia a fazenda em uma calma enganosa, enquanto Mariana permanecia no jardim, o coração disparado, lágrimas misturando-se às gotas em seu rosto. O toque de Joaquim ainda queimava em seu braço, a voz dele – “Você não é nada” – ecoando com uma sinceridade que a abalara. Ela desejava-o com uma intensidade que a assustava, mas o medo a segurava – medo de ser usada, de ser abandonada, de não ser suficiente. As palavras do ex, “Você não vale nada”, misturavam-se à culpa que carregava pelo que perdera no consultório escuro, e a cena que vira no riacho, Tereza e Mateus entregues à paixão, só intensificava o conflito dentro dela. Tremendo, ela enxugou o rosto e voltou para a casa, o vestido molhado colando na pele, cada passo carregado de incerteza.Ao entrar, a luz fraca da sala a envolveu, mas o que a fez parar foi ele – Joaquim, encostado na parede, os braços cruzados, o corpo ainda molhado pela chuva. A camisa colada destacava cada músculo, a barba por
A chuva caía em um ritmo hipnótico, ora forte, ora suave, como se a fazenda estivesse aprendendo a se curar com a água. Os campos de milho e sorgo ganhavam vida, o verde brilhando contra a lama, e os cavalos troteavam no curral com uma energia que contagiava os funcionários. Sorrisos pontuavam as conversas, e as flores silvestres que Mariana espalhava – jarros na sala, na cozinha, na varanda – eram como pequenas promessas de dias melhores. Elas traziam cor à casa, suavizando o peso da madeira rústica, e cada pétala parecia carregar um pedaço da alma dela, transformando o lugar em um lar que até Tereza, com seu jeito duro, parecia apreciar. Mas, para Mariana, aquela leveza era uma máscara fina sobre um vazio que crescia, alimentado por fantasmas que ela não conseguia afastar.Na cozinha, ela trabalhava com uma dedicação quase desesperada, como se cada prato pudesse silenciar as vozes em sua cabeça. Preparava uma sopa cremosa, com um toque de ervas, inspirada em uma conversa com Dona L
A chuva continuou por dias, um murmúrio constante que molhava os campos e dava vida à fazenda, como se a terra, tão castigada, finalmente pudesse respirar. Os funcionários sorriam mais, suas vozes ecoando com um otimismo tímido enquanto consertavam cercas e cuidavam dos cavalos. Até Tereza parecia mais leve, contando histórias antigas enquanto trabalhava, arrancando risadas dos homens. Mariana absorvia tudo isso, sentindo uma esperança que não ousava nomear, mas que a fazia trabalhar com ainda mais dedicação, transformando a casa em algo vivo, acolhedor.Na cozinha, ela movia-se com uma confiança que vinha da prática e das lições de Dona Lúcia. Preparava refeições reforçadas – ensopados, pão rústico, tortas salgadas –, usando os recursos do jardim com uma habilidade que surpreendia até ela mesma. Mas não era só a comida que mudava a fazenda. Inspirada pelo frescor da chuva, Mariana começou a colher flores silvestres que cresciam nos arredores, pequenos pontos de cor que resistiam à se
A chuva caiu por toda a manhã, um véu fino que molhava a terra seca e trazia um alívio tão esperado que parecia quase um milagre. Os campos de milho e sorgo erguiam-se ligeiramente, as folhas menos murchas, e os cavalos no curral troteavam com uma energia renovada. Os funcionários trabalhavam com um ânimo que Mariana não via há semanas, e até Tereza parecia menos tensa, assobiando enquanto reforçava as cercas. Mas, apesar da leveza no ar, Mariana sentia uma inquietação que não explicava – a memória da noite anterior, o toque de Joaquim, o calor de seus corpos tão próximos, ainda queimava em sua pele.Na cozinha, ela se jogou no trabalho, tentando afastar os pensamentos. Preparou um café da manhã reforçado – ovos, pão rústico e uma sopa leve que aproveitava os recursos do jardim –, movendo-se com uma precisão que vinha de semanas de prática. O fogão a lenha, agora um velho amigo, obedecia às suas mãos, e o cheiro das ervas frescas enchia o ar, misturando-se ao perfume sutil que ainda