O amanhecer rastejava sobre a fazenda, o céu tingido de laranja e cinza, hesitando em trazer o novo dia. Mariana acordou com o peso do braço de Joaquim ao seu redor, o calor dele um lembrete vívido da noite anterior. O corpo dolorido por todas as posições e contorcionismos que fizeram.Por um instante, ela se deixou ficar ali, sentindo a respiração quente contra sua nuca, o coração dele batendo firme contra suas costas, as mãos dele agarradas a seu seio nu, sentiu seu coração acelerar e seu sexo ficar úmido, o calor lhe percorrendo só em lembrar de como ele a tocou.Mas o som de botas pesadas no corredor a fez abrir os olhos. A realidade — ladrões, a morte do garanhão, a ameaça do Sr. Almeida — voltou como uma onda fria.Ela se desvencilhou com cuidado, vestindo a camisa dele jogada no chão, o cheiro de terra e suor a envolvendo. Joaquim resmungou, meio acordado, os olhos escuros encontrando os dela com uma intensidade que a fez hesitar.— Tá cedo pra fugir — disse ele, a voz rouca, u
O fogo no depósito de feno foi controlado ao amanhecer, mas a fazenda amanheceu marcada — cinzas espalhadas, o cheiro de queimado grudado no ar, e uma tensão que pesava mais que o calor. Mariana sentia o corpo dolorido, não só pelo esforço da noite, mas pelo encontro no celeiro, onde Joaquim a tomara com uma urgência que ainda fazia sua pele arder. A lembrança dos beijos dele, quentes e devoradores, a deixava sem fôlego, mas a frieza com que ele a tratara depois, na frente de todos, cortava como uma faca. Ela se sentia usada, um brinquedo para o desejo dele, e a raiva só crescia, mesmo que seu corpo traidor quisesse mais.Na cozinha, enquanto preparava café forte para os funcionários, Mariana tentava se concentrar. Tereza entrou, os olhos astutos notando o rubor nas bochechas dela, a blusa ainda desalinhada da correria.— Você tá com cara de quem enfrentou mais que fogo ontem — disse Tereza, um tom provocador na voz.Mariana corou, derramando um pouco de café, o coração disparado.— Só
Mariana sentiu o coração disparar, o rubor de vergonha se misturando com a raiva enquanto ajeitava a saia às pressas. A mulher à sua frente, parada nas sombras do jardim, era uma visão que cortava o ar — alta, com curvas que pareciam esculpidas, vestida com uma blusa justa de seda vermelha e uma saia que abraçava os quadris, revelando mais do que escondendo. O cabelo castanho caía em ondas soltas, e os olhos verdes brilhavam com um misto de desprezo e diversão. O sorriso frio nos lábios era afiado como uma lâmina.— Clara — rosnou Joaquim, o corpo tenso, os olhos faiscando de raiva. Ele deu um passo à frente, como se quisesse proteger Mariana, mas a frieza em sua postura a fez sentir, mais uma vez, como uma peça descartável.Clara, a cunhada de Joaquim, cruzou os braços, o movimento destacando ainda mais suas formas. — Então é assim que você cuida da fazenda da minha irmã? — repetiu, a voz melíflua, carregada de sarcasmo. — Comendo as empregadas pelos cantos? Que... charmoso.Mariana
O ônibus parou com um gemido metálico no meio do nada, o som estridente cortando o silêncio opressivo do sertão. A poeira subia em redemoinhos ao redor das rodas gastas, dançando no ar quente como fantasmas invisíveis, enquanto o motor cuspiu uma última baforada de fumaça negra antes de calar, deixando apenas o zumbido distante dos insetos. Mariana agarrou sua mala surrada, os dedos suados deslizando no cabo gasto de couro rachado, e desceu os degraus com o coração na garganta, cada passo ecoando como um tambor de guerra em sua mente. O sol do meio-dia era um peso cruel, um martelo de fogo que queimava sua pele exposta, forçando-a a semicerrar os olhos contra o brilho implacável. O horizonte se estendia em uma linha infinita de terra seca, rachada pelo tempo, e céu azul tão vasto que parecia engoli-la, sem nenhuma promessa de refúgio ou redenção. Não havia nada além do vento, um sussurro baixo e ameaçador que parecia carregado de segredos, como se o próprio deserto soubesse mais do
A manhã seguinte amanheceu com um céu cinzento, pesado, como se o próprio ar carregasse a ameaça de uma tempestade que nunca chegava. Mariana acordou com os músculos doloridos da cama dura, o som distante dos cavalos relinchando no curral misturando-se ao barulho dos homens trabalhando nos campos. Seu primeiro pensamento foi o mesmo de sempre: o que ela estava fazendo ali? Mas, desta vez, veio acompanhado de uma determinação feroz. Se não podia se destacar na cozinha, pelo menos faria algo para provar seu valor. Aquela fazenda, tão fria e desolada, era sua última esperança, e ela não podia falhar.Ela se arrastou até a pia, lavando o rosto com água fria que vinha de um cano rústico. Seus dedos ainda doíam do corte superficial do dia anterior, mas o desconforto era secundário diante do que precisava fazer. Na cidade, sabia fazer o básico na cozinha – um ovo frito, um macarrão simples, um café da manhã rápido –, mas ali, com o fogão a lenha imprevisível e os ingredientes rústicos, mesm
O sol estava alto quando Mariana chegou à casa de Dona Lúcia, o calor batendo forte na trilha poeirenta que serpenteava entre os campos secos. A cesta vazia balançava em sua mão, um gesto simbólico de cortesia que ela esperava ser suficiente para ganhar a confiança da vizinha. Quando bateu à porta da construção modesta, cercada por um pequeno pomar de árvores retorcidas, foi recebida pelo mesmo sorriso caloroso de antes. Dona Lúcia, com seu avental gasto e mãos calejadas, parecia uma figura de outro tempo, mas havia uma sabedoria em seus olhos que tranquilizava Mariana, mesmo que o nervosismo ainda a consumisse.— Entre, menina — disse Dona Lúcia, gesticulando para que ela se sentasse à mesa de madeira rústica. — Trouxe fome ou curiosidade?— Curiosidade — admitiu Mariana, sentando-se com as mãos entrelaçadas no colo. — Não sei lidar com o fogo do fogão a lenha. E... quero aprender mais.Dona Lúcia assentiu, como se já esperasse aquilo. Passou a manhã ensinando Mariana a controlar as cha
Os dias seguintes passaram em um ritmo pesado, como se o tempo se arrastasse sob o peso do sol implacável e do silêncio opressivo da fazenda. Mariana acordava antes do amanhecer, os músculos já acostumados à cama dura, mas o coração ainda carregado de uma mistura de determinação e medo. As lições de Dona Lúcia estavam começando a surtir efeito. Ela agora conseguia controlar melhor o fogo do fogão a lenha, mantendo as chamas constantes para fritar ovos sem queimá-los nas bordas ou cozinhar o feijão até que ficasse macio, não grudento. Usava os recursos do jardim para complementar as refeições, adicionando um toque de cor e sabor que os funcionários notavam com olhares aprovadores, embora raramente dissessem algo.As ervas que plantara ao lado da cozinha, manjericão e alecrim, começavam a brotar, e seu cheiro fresco misturava-se ao perfume floral que ainda emanava de suas roupas e pele, um contraste que continuava a chamar atenção. Os homens – João, Pedro, Lucas e Mateus – trocavam comen
A seca apertava como uma corda ao redor do pescoço da fazenda, cada dia mais cruel que o anterior. O céu, antes apenas cinzento, agora era um vazio azul ardente, sem uma nuvem para prometer alívio. Os campos de milho e sorgo murchavam, as folhas curvando-se em desespero, e os cavalos no curral batiam os cascos com uma inquietação que parecia ecoar o humor de todos. Mariana sentia o peso daquele silêncio opressivo, mas também uma determinação que crescia dentro dela, como as ervas teimosas que insistiam em brotar ao lado da cozinha.Ela acordava cedo, antes mesmo de Tereza ou dos outros funcionários, para preparar o café da manhã. O fogão a lenha, agora um aliado relutante, obedecia melhor às suas mãos, que aprenderam a ajustar as chamas com cuidado. Usava os recursos do jardim para enriquecer as refeições – um ensopado mais encorpado, pão rústico com um toque de manjericão, até uma salada simples que trazia um frescor inesperado à mesa. Os funcionários comiam com gosto, e Tereza, com s