Marina sempre viveu com o peso das responsabilidades, as pressões constantes e o desgaste de uma vida que parecia não ter fim. Exausta, ignorada e subestimada, ela acaba se perdendo em um mundo onde as expectativas dos outros a sufocam, até o momento em que uma crise física a leva a uma transição inesperada. Quando seu corpo cede ao limite, ela se vê em um lugar completamente diferente: uma paisagem serena e deslumbrante, onde encontra figuras misteriosas que, com paciência e acolhimento, a ajudam a compreender que sua jornada não terminou. Com o nascimento de Kaelara, uma nova vida repleta de promessas de liberdade, a pequena é envolta por seres alados e um destino incerto, mas cheio de possibilidades. Em um vilarejo suspenso entre penhascos, Kaelara aprende que seu renascimento não é apenas físico, mas uma chance de se libertar das amarras de um mundo que a consumia. Agora, ela deve escolher entre seguir seu próprio caminho ou recomeçar tudo de novo, com uma nova alma e um novo nome: Kaelara, a que renasce do silêncio.
Leer másMelaria, a joia élfica do continente, não era apenas uma cidade — era um organismo vivo que pulsava em sincronia com a própria essência da floresta de Lóthien. Oculta sob as copas entrelaçadas de árvores milenares e guardada por uma névoa encantada que apenas os de coração puro conseguiam atravessar, Melaria florescia em uma simbiose perfeita entre natureza e magia. Seus caminhos serpenteavam entre raízes espiraladas e flores luminescentes, e as moradas élficas, construídas nas próprias árvores vivas, pareciam crescer junto com o povo que as habitava. As pontes suspensas, feitas de galhos flexíveis e enfeitiçados, conectavam os espaços da cidade com leveza e graciosidade, como se a própria floresta as houvesse moldado com intenção. Era uma cidade silenciosa, mas não vazia — o tipo de silêncio preenchido por música sutil do vento entre as folhas, pelo farfalhar das asas de fadas e pelos cantos dos druidas em harmonia com a terra. Os elfos de Melaria eram guardiões do equilíbrio natura
Drantis, a lendária cidade dos draconatos, ergue-se orgulhosa nas profundezas das Montanhas de Fulgor, um dos locais mais imponentes e misteriosos do continente. Durante séculos, essa cidade subterrânea foi um bastião de força, sabedoria e tradição. Com suas enormes paredes esculpidas diretamente nas rochas vulcânicas e suas estruturas grandiosas adornadas com metais raros e pedras preciosas, Drantis refletia a magnificência e o orgulho de seu povo, os draconatos. Suas escamas, de uma variedade de cores que iam do verde profundo ao dourado cintilante, faziam com que os próprios pilares e telhados da cidade parecessem vivos, vibrando com energia e força. Drantis, imersa nas profundezas da terra, nunca se preocupou com o mundo exterior. Sua sociedade, que sempre fora resiliente e forte, prosperava com a certeza de que seu domínio sobre as cavernas e montanhas era inabalável. O governante de Drantis, Fergus Melius Drentis, era um draconato respeitado não apenas por sua força física, mas
Heits, capital do poderoso reino de mesmo nome, erguia-se com imponência sobre sete colinas de pedra branca, como se os deuses a tivessem moldado com as próprias mãos. A cidade era um monumento à ordem, à tradição e à autoridade. Suas torres estreitas e altas rasgavam o céu como lanças de mármore, refletindo o brilho do sol nascente. As ruas, pavimentadas com paralelepípedos limpos e bem alinhados, conduziam a praças repletas de estátuas de antigos reis e heróis. Jardins suspensos adornavam os edifícios de pedra, criando um contraste harmonioso entre o vigor arquitetônico e a delicadeza das flores. No alto da colina central, como uma coroa, repousava o palácio real: um colosso de colunas brancas, cúpulas douradas e varandas abertas ao vento. Era ali que reinava Lucius Castas de Heits II — um homem de presença imponente, cabelos escuros levemente grisalhos nas têmporas, olhos como aço temperado e uma voz que comandava tanto respeito quanto temor. Conhecido por sua firmeza, lucidez e h
Assim que Selyra desapareceu, tudo ao seu redor se desfez como névoa ao vento. O obelisco, as luzes, os vestígios de sua presença — tudo sumiu, como se jamais tivesse existido. Por um breve instante, pensei que pudesse ter sido apenas uma miragem. Mas o colar frio em minha mão dizia o contrário. — Esdras! — bradou Altair com urgência, já assumindo o comando da situação — Sim, senhor! — respondeu ele, de prontidão. — Você e Uric ficarão de guarda aqui. O restante do esquadrão, espalhem-se pela floresta. Fiquem atentos a qualquer sinal anômalo. Não é o nosso ambiente natural, então redobrem o cuidado — disse ele, a voz firme como aço. —Kaelara, você vem comigo. — Sim, senhor… — respondi, mesmo desejando permanecer. Algo dentro de mim queria continuar ali, tentar entender o que havia presenciado. Mas desobedecer meu pai não era uma opção. Erguemo-nos aos céus, cortando o vento com rapidez em direção à cidade. A Torre dos Magos logo surgiu no horizonte, imponente e antiga, com s
Ele era negro como a noite, com linhas prateadas esculpidas em sua superfície, formando runas que pareciam dançar suavemente, pulsando com a mesma energia do feixe. Tinha pelo menos vinte metros de altura, cravado no chão como uma lança divina. – Parece a Bifrost… – murmurei, mais para mim mesma do que para os outros. Mas era diferente. A Bifrost era a ponte das divindades, um elo entre mundos. Aquilo parecia uma chave. Uma fenda. Um aviso Minha primeira reação foi me aproximar, quase em transe. Mas a mão de meu pai me deteve no ombro. – Espere – disse ele, com a voz baixa, mas firme. Ele desceu lentamente até o chão, os pés tocando a grama queimada ao redor do obelisco. Uma fumaça branca e tênue ainda se erguia das bordas da cratera onde a estrutura se fixara. As runas prateadas piscaram uma última vez… e se apagaram. Então algo aconteceu. Uma figura surgiu de dentro da névoa, emergindo do lado oposto do obelisco. Era uma mulher. Ou, ao menos, parecia ser. Seus ca
A manhã se anunciava tranquila, com o cheiro da terra molhada ainda suspenso no ar após a fina garoa da madrugada. Depois de concluir as tarefas com os ajudantes da casa e verificar as anotações de nossos estudos mágicos, decidi aproveitar o sol que surgia entre as nuvens para ir ao jardim com Annya. Ela sempre preferia as primeiras horas do dia para cuidar das plantas. Dizia que era quando elas estavam mais receptivas à magia e às palavras. Caminhávamos entre os canteiros floridos, os pés tocando a relva macia enquanto o vento gentil balançava os galhos das amoreiras. – Esta flor amarela aqui… – disse ela, com aquele brilho nos olhos que surgia sempre que falava de ervas medicinais. – Chama-se Sulyia. Cresce apenas nas encostas voltadas para o norte e só floresce sob a luz da lua cheia. É ótima para tratar febres, e quando combinada com folha de Tenebril, pode até desacelerar venenos… Ela foi interrompida subitamente por um som. Não, não apenas um som — um grito agudo, metálico
A chegada da carta foi como um sussurro de destino, um fio invisível puxando-nos em direção ao desconhecido. Era uma manhã comum, o sol ainda lutava para se erguer por entre as nuvens pesadas do início da primavera. Mas a normalidade foi quebrada pelo bater de asas suaves — um som quase mágico, que fez com que todos ao redor levantassem os olhos em uníssono. O pássaro, de penas azuis iridescentes e olhos de um dourado vívido, pousou com uma graça quase ensaiada diante de meu pai, no parapeito da varanda. Carregava presa às patas uma carta selada com cera vermelha, marcada com o brasão real de Heits: um falcão envolto por espadas cruzadas e uma estrela prateada. O silêncio reinou enquanto meu pai cuidadosamente removia o lacre. Eu sentia meu coração acelerar, um misto de expectativa e reverência percorrendo meu corpo. O cheiro do papel envelhecido misturado ao perfume das penas do pássaro criava uma aura misteriosa ao redor daquele momento. Mesmo antes de ler, sabíamos: aquilo não er
Após quatro anos de árdua dedicação, suor e persistência, me tornei uma jovem harpia não apenas sábia, mas também habilidosa nas artes mágicas e na guerra. Quando olho para trás, vejo o quanto mudei — não apenas nas técnicas que dominei ou nos feitiços que hoje moldo com facilidade, mas na forma como enxergo a mim mesma e ao mundo ao meu redor. A magia do vento, que um dia me parecia indomável e imprevisível, tornou-se uma extensão natural do meu ser. Era como se as correntes de ar respondessem aos meus pensamentos antes mesmo de eu conjurar uma palavra. Essa sincronia impressionava meus professores, deixava meus colegas boquiabertos e, acima de tudo, fazia meu pai, um líder respeitado e treinado na arte da guerra, erguer os olhos com orgulho. Com o tempo, minha habilidade de manipular o vento deixou de ser apenas uma ferramenta. Ela se tornou minha linguagem, minha dança, meu vínculo com a natureza viva. Com um gesto, podia dobrar a direção de uma rajada. Com uma palavra, domava te
Treze anos se passaram desde que minhas asas cortaram o céu pela primeira vez, desde que o mundo mágico das harpias se tornou meu lar. Hoje, aos dezesseis, atingi um marco que não é apenas simbólico — é visceral. O baile de debutante não celebra apenas a juventude, mas o despertar da identidade, da coragem e do futuro. E pela primeira vez, senti que deixava de ser a menina que sonhava com um passado esquecido, para me tornar uma jovem harpia com sede de tudo o que está por vir. A noite caiu serena sobre a montanha ancestral. As estrelas refletiam-se nas rochas polidas como espelhos celestiais, e lanternas flutuantes enchiam o céu com um brilho cálido, como se os próprios ancestrais estivessem nos observando, silenciosos e orgulhosos. O perfume de flores raras se misturava ao som de risos, música e asas que cortavam o ar suavemente. Era como se a cidade cantasse em uníssono, uma sinfonia de tradição e promessa. Estávamos todas adornadas em trajes sagrados, cada detalhe refletindo nos