Uma brisa suave soprou pela fazenda naquela manhã, trazendo um cheiro úmido que ninguém esperava. Pela primeira vez em semanas, nuvens esparsas cruzavam o céu, carregadas com a promessa de chuva. Não era ainda a salvação, mas um vislumbre de esperança que levantou os ânimos. Os homens trabalhavam nos campos com menos peso nos ombros, e até os cavalos pareciam menos inquietos, seus relinchos mais calmos no curral. Mariana sentia isso no ar, um alívio tímido que a fazia respirar mais leve enquanto preparava o café da manhã, os movimentos na cozinha agora mais confiantes.O fogão a lenha respondia bem às suas mãos, e ela serviu uma refeição simples, mas reforçada, com ensopado e pão rústico, aproveitando as ervas do jardim. Tereza deu um aceno de aprovação, e os outros funcionários comeram com um entusiasmo que refletia o clima mais leve. Joaquim, como sempre, permaneceu calado, mas Mariana notou que ele terminou o prato, algo que raramente fazia. Era um sinal pequeno, mas suficiente para fazê-la acreditar que estava, aos poucos, conquistando seu espaço.Naquela tarde, inspirada pela mudança no ar, Mariana decidiu tentar algo novo. Dona Lúcia mencionara uma receita de torta salgada semanas antes, e ela resolveu arriscar, moldando a massa com cuidado enquanto o sol filtrava-se pelas janelas recém-limpas da cozinha. Estava tão concentrada que não ouviu os passos pesados até que uma sombra bloqueou a luz. Era Joaquim, parado na porta, os braços cruzados, o rosto menos tenso que o usual, mas ainda marcado por linhas de preocupação.— Isso é necessário? — perguntou ele, a voz rouca, mas sem o veneno de antes. — Torta, agora?Mariana ergueu os olhos, surpresa com o tom quase curioso. Ele estava sujo de terra, a camisa colada ao corpo pelo suor, os músculos definidos sob o tecido fino, uma visão que a fez engolir em seco. A força dele, mesmo naquele momento de relativa calma, era magnética, mas o medo que sempre a acompanhava ainda estava lá, um sussurro que a mantinha alerta.— É pra variar — disse ela, tentando manter a voz firme. — Pensei que... poderia agradar.Ele bufou, mas não saiu imediatamente. Seus olhos percorreram a cozinha – a massa sob as mãos dela, o cheiro fresco que pairava no ar, a curva de seu pescoço exposta enquanto ela trabalhava. O desejo o atingiu com força, uma onda quente que o fez cerrar os punhos, furioso consigo mesmo. Desviou o olhar, fixando-se na parede, mas o cheiro dela – citronela, ervas, e algo doce – era impossível de ignorar. Ele saiu sem dizer mais, mas Mariana sentiu o peso daquele momento, o coração disparado por uma atração que ela não ousava nomear.A torta saiu dourada, um pouco irregular, mas saborosa, e foi bem recebida no almoço. Até Joaquim comeu uma fatia, mastigando em silêncio, os olhos fixos no horizonte onde as nuvens continuavam a se formar. Mariana sentiu uma pequena vitória, mas também uma inquietação – por que ele parecia tão distante, mesmo quando as coisas pareciam melhorar?Naquela noite, após o jantar, o céu estava mais carregado, e trovões distantes ecoavam, prometendo chuva. Mariana foi para seu quarto, exausta, mas com uma leveza que há dias não sentia. Trocou de roupa, escolhendo uma camisola leve que trouxera da cidade – um tecido fino, quase translúcido, que abraçava suas curvas de maneira sutil, mas provocante, com alças delicadas que deixavam os ombros à mostra. Não era sua intenção seduzir; era apenas confortável, algo que a conectava à vida que deixara para trás. Ela não pensava no efeito que poderia causar, mas o tecido, macio contra sua pele, parecia carregar uma promessa não dita.Por volta da meia-noite, um barulho a acordou – um rangido vindo do telhado, seguido por um som de algo caindo. O vento lá fora estava mais forte, e ela temeu que uma telha tivesse se soltado. Vestiu um robe fino por cima da camisola, mas não o fechou completamente, e correu até o quarto de Joaquim, batendo à porta com urgência.— Joaquim! — chamou, a voz tremendo. — Acho que o telhado tá com problema.Ele abriu a porta, o rosto marcado pelo sono interrompido, mas alerta. Estava apenas com uma calça rústica, o peito nu brilhando à luz fraca do corredor. Seus olhos se arregalaram ao vê-la – a camisola fina, o robe aberto revelando a curva de seus quadris, o cabelo solto caindo sobre os ombros. O cheiro dela, intensificado pela noite quente, o atingiu como um soco, e ele sentiu o desejo queimar, uma ereção que o fez dar um passo atrás, tentando se controlar.— O que aconteceu? — perguntou, a voz rouca, quase um rosnado.— Um barulho no telhado — disse ela, apontando para o alto. — Acho que caiu alguma coisa.Ele assentiu, pegando uma lanterna e seguindo-a até o quarto dela. O espaço parecia menor com ele ali, sua presença dominando tudo. O vento entrava pela janela, levantando o robe de Mariana, e ela cruzou os braços, subitamente consciente de sua roupa. Joaquim subiu em uma cadeira para verificar o teto, mas escorregou ao tentar alcançar uma viga. Mariana correu para ajudá-lo, e suas mãos se encontraram no braço dele, firmes, tentando equilibrá-lo. Ele caiu lentamente, apoiando-se nela, e por um momento seus corpos se pressionaram – o peito dele contra o dela, o calor de sua pele através do tecido fino da camisola, as coxas roçando enquanto ele tentava se estabilizar.Mariana sentiu o coração disparar, o ar preso nos pulmões. O corpo dele era duro, quente, uma força viva que a envolvia, e ela não conseguia desviar os olhos dos dele, escuros, intensos, cheios de algo que a assustava e atraía. Joaquim, por sua vez, sentia cada curva dela contra si, o tecido leve quase inexistente, o cheiro dela invadindo seus sentidos. O desejo o consumia, mas a raiva veio em seguida – raiva dela por ser tão tentadora, raiva de si mesmo por não conseguir ignorá-la. Suas mãos, ainda segurando os braços dela, apertaram levemente, e por um instante ela pensou que ele poderia puxá-la para si, mas ele se afastou, respirando pesado, como se tivesse corrido uma maratona.— Tá tudo bem — disse ele, a voz rouca, quase quebrada. — Só o vento. Vou consertar amanhã.Ele saiu do quarto sem olhar para trás, deixando Mariana tremendo, o corpo ainda quente onde ele a tocara. Ela fechou o robe, sentindo o rosto queimar, e tentou entender o que acabara de acontecer. A força dele, tão palpável naquele momento, a fascinava, mas o medo do que ele poderia fazer – ou sentir – a mantinha alerta.Na manhã seguinte, a chuva chegou, fina, mas constante, molhando os campos e trazendo um alívio tímido. Mariana voltou à cozinha, preparando uma sopa reforçada enquanto os homens comemoravam a água. Joaquim, porém, parecia mais distante que nunca, evitando-a completamente. Ela o viu no curral, lidando com os cavalos, a força de seus movimentos tão intensa quanto na noite anterior, e sentiu o mesmo misto de admiração e pavor.Tereza, entrando na cozinha para pegar um pano, notou o olhar dela pela janela. — Ele tá lutando, menina — disse, a voz baixa. — Não só com a fazenda, mas com ele mesmo. Tenha cuidado.Mariana assentiu, mas as palavras só aumentaram sua confusão. Ela continuou seu trabalho, colhendo ervas, limpando a casa, cozinhando com um cuidado que era tanto amor quanto desespero. Mas a memória do toque de Joaquim, da proximidade de seus corpos, permanecia, como uma brasa que se recusava a apagar.
A chuva caiu por toda a manhã, um véu fino que molhava a terra seca e trazia um alívio tão esperado que parecia quase um milagre. Os campos de milho e sorgo erguiam-se ligeiramente, as folhas menos murchas, e os cavalos no curral troteavam com uma energia renovada. Os funcionários trabalhavam com um ânimo que Mariana não via há semanas, e até Tereza parecia menos tensa, assobiando enquanto reforçava as cercas. Mas, apesar da leveza no ar, Mariana sentia uma inquietação que não explicava – a memória da noite anterior, o toque de Joaquim, o calor de seus corpos tão próximos, ainda queimava em sua pele.Na cozinha, ela se jogou no trabalho, tentando afastar os pensamentos. Preparou um café da manhã reforçado – ovos, pão rústico e uma sopa leve que aproveitava os recursos do jardim –, movendo-se com uma precisão que vinha de semanas de prática. O fogão a lenha, agora um velho amigo, obedecia às suas mãos, e o cheiro das ervas frescas enchia o ar, misturando-se ao perfume sutil que ainda
A chuva continuou por dias, um murmúrio constante que molhava os campos e dava vida à fazenda, como se a terra, tão castigada, finalmente pudesse respirar. Os funcionários sorriam mais, suas vozes ecoando com um otimismo tímido enquanto consertavam cercas e cuidavam dos cavalos. Até Tereza parecia mais leve, contando histórias antigas enquanto trabalhava, arrancando risadas dos homens. Mariana absorvia tudo isso, sentindo uma esperança que não ousava nomear, mas que a fazia trabalhar com ainda mais dedicação, transformando a casa em algo vivo, acolhedor.Na cozinha, ela movia-se com uma confiança que vinha da prática e das lições de Dona Lúcia. Preparava refeições reforçadas – ensopados, pão rústico, tortas salgadas –, usando os recursos do jardim com uma habilidade que surpreendia até ela mesma. Mas não era só a comida que mudava a fazenda. Inspirada pelo frescor da chuva, Mariana começou a colher flores silvestres que cresciam nos arredores, pequenos pontos de cor que resistiam à se
A chuva caía em um ritmo hipnótico, ora forte, ora suave, como se a fazenda estivesse aprendendo a se curar com a água. Os campos de milho e sorgo ganhavam vida, o verde brilhando contra a lama, e os cavalos troteavam no curral com uma energia que contagiava os funcionários. Sorrisos pontuavam as conversas, e as flores silvestres que Mariana espalhava – jarros na sala, na cozinha, na varanda – eram como pequenas promessas de dias melhores. Elas traziam cor à casa, suavizando o peso da madeira rústica, e cada pétala parecia carregar um pedaço da alma dela, transformando o lugar em um lar que até Tereza, com seu jeito duro, parecia apreciar. Mas, para Mariana, aquela leveza era uma máscara fina sobre um vazio que crescia, alimentado por fantasmas que ela não conseguia afastar.Na cozinha, ela trabalhava com uma dedicação quase desesperada, como se cada prato pudesse silenciar as vozes em sua cabeça. Preparava uma sopa cremosa, com um toque de ervas, inspirada em uma conversa com Dona L
A chuva caía leve, um sussurro que envolvia a fazenda em uma calma enganosa, enquanto Mariana permanecia no jardim, o coração disparado, lágrimas misturando-se às gotas em seu rosto. O toque de Joaquim ainda queimava em seu braço, a voz dele – “Você não é nada” – ecoando com uma sinceridade que a abalara. Ela desejava-o com uma intensidade que a assustava, mas o medo a segurava – medo de ser usada, de ser abandonada, de não ser suficiente. As palavras do ex, “Você não vale nada”, misturavam-se à culpa que carregava pelo que perdera no consultório escuro, e a cena que vira no riacho, Tereza e Mateus entregues à paixão, só intensificava o conflito dentro dela. Tremendo, ela enxugou o rosto e voltou para a casa, o vestido molhado colando na pele, cada passo carregado de incerteza.Ao entrar, a luz fraca da sala a envolveu, mas o que a fez parar foi ele – Joaquim, encostado na parede, os braços cruzados, o corpo ainda molhado pela chuva. A camisa colada destacava cada músculo, a barba por
O céu clareou pela primeira vez em dias, o sol rompendo as nuvens com um calor que parecia decidido a recuperar o tempo perdido. A fazenda, ainda úmida da chuva, pulsava com vida – os campos verdes se firmavam, as flores silvestres de Mariana brilhavam em jarros espalhados pela casa, e os funcionários trabalhavam com uma energia que misturava alívio e cautela. Mas a leveza dos sorrisos escondia rachaduras novas, tensões que cresciam como ervas daninhas sob a terra. Mariana sentia isso em cada respiração, um peso que não vinha só do calor, mas da noite que mudara tudo – os braços de Joaquim, o calor dos corpos, as lágrimas que a fizeram fugir ao amanhecer.Na cozinha, ela se jogava no trabalho, como se pudesse cozinhar a culpa que a consumia. Preparava um ensopado reforçado, com ervas do jardim, o aroma enchendo a casa e trazendo sorrisos tímidos dos funcionários. Mas, por dentro, ela lutava contra os fantasmas que nunca a deixavam – as palavras do ex, “Você não serve pra nada”, a culp
O calor envolvendo a fazenda como uma manta pesada, secando a lama e endurecendo a terra onde o verde ainda lutava para se firmar. As flores silvestres de Mariana espalhadas em jarros pela casa, trazendo um toque de cor que arrancava sorrisos tímidos dos funcionários, mesmo com a tensão que pairava. O roubo do cavalo na noite anterior deixara todos nervosos, e o garanhão doente no curral era uma sombra que ninguém queria nomear. Mariana sentia o peso disso tudo, mas também um vazio mais profundo, onde seus fantasmas dançavam – a culpa pelo que perdera no consultório, as palavras do, o medo de que Joaquim a visse como algo para usar e abandonar. A noite com ele – o calor dos corpos, a entrega total – era uma chama que não apagava, mas a fuga dela ao amanhecer, as lágrimas que não explicara, só tornavam tudo mais confuso.Na cozinha, ela se jogava no trabalho, como se pudesse cozinhar a dor que a consumia. Cada prato era uma batalha contra a insegurança, uma tentativa de provar que val
O amanhecer rastejava sobre a fazenda, o céu tingido de laranja e cinza, hesitando em trazer o novo dia. Mariana acordou com o peso do braço de Joaquim ao seu redor, o calor dele um lembrete vívido da noite anterior. O corpo dolorido por todas as posições e contorcionismos que fizeram.Por um instante, ela se deixou ficar ali, sentindo a respiração quente contra sua nuca, o coração dele batendo firme contra suas costas, as mãos dele agarradas a seu seio nu, sentiu seu coração acelerar e seu sexo ficar úmido, o calor lhe percorrendo só em lembrar de como ele a tocou.Mas o som de botas pesadas no corredor a fez abrir os olhos. A realidade — ladrões, a morte do garanhão, a ameaça do Sr. Almeida — voltou como uma onda fria.Ela se desvencilhou com cuidado, vestindo a camisa dele jogada no chão, o cheiro de terra e suor a envolvendo. Joaquim resmungou, meio acordado, os olhos escuros encontrando os dela com uma intensidade que a fez hesitar.— Tá cedo pra fugir — disse ele, a voz rouca, u
O fogo no depósito de feno foi controlado ao amanhecer, mas a fazenda amanheceu marcada — cinzas espalhadas, o cheiro de queimado grudado no ar, e uma tensão que pesava mais que o calor. Mariana sentia o corpo dolorido, não só pelo esforço da noite, mas pelo encontro no celeiro, onde Joaquim a tomara com uma urgência que ainda fazia sua pele arder. A lembrança dos beijos dele, quentes e devoradores, a deixava sem fôlego, mas a frieza com que ele a tratara depois, na frente de todos, cortava como uma faca. Ela se sentia usada, um brinquedo para o desejo dele, e a raiva só crescia, mesmo que seu corpo traidor quisesse mais.Na cozinha, enquanto preparava café forte para os funcionários, Mariana tentava se concentrar. Tereza entrou, os olhos astutos notando o rubor nas bochechas dela, a blusa ainda desalinhada da correria.— Você tá com cara de quem enfrentou mais que fogo ontem — disse Tereza, um tom provocador na voz.Mariana corou, derramando um pouco de café, o coração disparado.— Só