EmillyMeu maior problema é essa mania de assistir a filmes com finais felizes e imaginar que na vida real possa ter finais assim também. Sentada sozinha no sofá da sala, devorando uma barra imensa de chocolate, há uma hora tento parar de chorar depois de desligar a televisão. Nunca mais vou assistir a filmes de romance. Sempre me fazem lembrar dele e imaginar como seria se estivesse aqui. O que estaríamos fazendo ou onde estaríamos fazendo... ao mesmo tempo que é bom lembrar, não é nada legal. Dói demais.Seis meses depois que ele se foi, era pra eu estar bem. Não era? Deveria estar feliz e tocando minha vida, contudo, a realidade é essa, qualquer gatilho me leva ao fundo do poço, jogada no sofá ou no pufe, devorando uma enorme barra de chocolate meio amargo.Ninguém pode me condenar por ter me apegado tanto, nunca fui de me jogar de cabeça em um relacionamento. Acontece que aquele homem me deixou sem defesa em um curto prazo de tempo, sugou minha alma e absorveu todo meu autocontro
Cristiano Quando decidi entrar para a polícia, ainda estudava direito, pesquisei sobre o trabalho, funções e salário. Isso me encheu os olhos, me deixou deslumbrado. Então me matei de estudar, passei no concurso e em todos os testes físicos e psicológicos sem qualquer auxílio do meu pai e suas influências. Aí, na prática, descobri que não é nada como imaginei. E não estou reclamando por estar encostado no carro, em frente à padaria Pão Nosso De Cada Dia, uma das melhores de Serra dos Anjos, esperando a Vanessa comprar o lanche para todo o departamento. Imagina, isso não é nada perto das tardes em que o chefe me coloca para atender telefone como se eu fosse recepcionista. Nada contra essa função, acontece que eu não sou recepcionista, porra. Nem presto serviço de delivery, como estou fazendo nesse momento. Com os braços cruzados, olho o relógio no pulso só para implicar com a Vanessa quando ela voltar. Entrou há vinte minutos com a lista de brioches, croissants e coxinhas que fizeram
EmillyGosto dessa camiseta de algodão; seu tamanho extra gigante me deixa confortável e é o que uso quando trabalho em casa. Despojada, me sento na ampla sala iluminada pela claridade alaranjada do fim de tarde que invade através das enormes janelas de vidro. Apoio os cotovelos sobre a mesa de madeira, olhando para a taça de vinho da qual bebi apenas a metade durante a hora e meia em que estou aqui.A porta se abre e abro um sorriso ao ver Evans entrar. Assim que me vê, do outro lado da sala faz uma careta revirando os olhos e caminha até o sofá onde deixa a pasta de trabalho.— Meu Deus, bebendo a essa hora?! Você se olhou no espelho? Que cabelo é esse?! Parece que foi vomitada pelo vaso sanitário.Realmente posso imaginar a tragédia que estou e ajeito o coque desarrumado que prendi com um hashi que achei na gaveta de talheres. Eu exagero no look para sair de casa, mas adoro um desleixo quando posso. Hoje estou um pouco mais largada do que o habitual, deve ser essa ansiedade que me t
Cristiano Em frente ao D´angelo, o bar que frequento com os caras que moram no mesmo prédio que eu, conversamos descontraídos e Alexandre nos conta sobre os desastrados paramédicos que revezam plantão com ele e seu parceiro Dilton na ambulância do SAMU de Serra dos Anjos. Pelo que ouvi, nenhum treinamento no mundo, tornaria os caras do outro plantão, competentes como o Alex. O cuidado e presteza que meu amigo tem com seus socorridos é algo surreal, tão admirável, que tem sido notícia no jornal local e alguns blogueiros falaram a respeito. Eu mesmo o testemunhei em ação algumas vezes e fiquei admirado. Comecei esse assunto porque vi os outros caras em ação também, e estou apavorado.— Só pra vocês entenderem — Alex junta as mãos diante da testa —, não puseram o colar cervical na vítima. — Faz uma pausa nos olhando perplexo. Ele não é de falar de seus colegas, é um homem muito sério e introvertido, mas a situação é tão caótica, que o aborreceu de verdade. Além disso, fico feliz que est
EmillyA semana passou voando e a segunda-feira começa agitada com a organização de um evento beneficente ao qual estou engajada. Preciso de café logo cedo, e como o da padaria que fica embaixo do apartamento onde moramos é divino, e o dono, tio de Evans, nos dá excelentes descontos, é para lá que descemos todas as manhãs para o desjejum. Sentados à mesa perto da parede de vidro onde sempre ficamos, minha cabeça dá uma viajada enquanto ouço Evans falar sobre seu namoro, olho o movimento de pessoas e automóveis que passam pela avenida, pensando naquele maldito pen-drive. Será que é seguro ficar com aquilo? E se Margot falar com mais alguém a respeito e disser que o entregou a mim? Eu não faço ideia do que tem nele, não tentei abri-lo, nem perdi meu tempo, ela avisou que está criptografado e eu não faço ideia de qual é a senha. Além do mais, Margot pediu que o guardasse enquanto estivesse ausente em uma viagem, e me fez garantir que eu o manteria seguro.“Ninguém pode saber desse pen dr
Cristiano Os dias estão se arrastando, certamente é por conta da hóspede, que não tenho para onde mandar.Houve momentos em que consegui disfarçar bem o quanto a situação com Júlia havia me abalado. Para alguns, essa questão poderia apresentar soluções simples, bastava mandá-la embora e ignorar sua existência. Acontece que, por muitos anos, nosso relacionamento foi intenso.Pensava nisso, sentado em minha mesa na DP, esperando pacientemente o Ítalo separar a minha correspondência. Com o queixo apoiado na mão e o cotovelo sobre a mesa, acompanho só com os olhos os movimentos lentos do bicho preguiça. Hoje ele até que está ligeiro. Depois de colocar os envelopes sobre o suporte de documentos, o rapaz franzido de cabelo encaracolado e ruivo, ergue o dedo polegar.— Certinho?— Sim. — Ainda não verifiquei, mas quero que se afaste logo para eu voltar a pensar e tentar organizar os pensamentos emaranhados em minha cabeça. E ele sai com um sorriso satisfeito de quem se sente orgulhoso de si
Emilly Foi o melhor beijo em vinte e sete anos. Por toda a minha vida nunca me senti daquela forma, completamente envolvida, arrebatada e excitada. Eu não sei explicar o motivo, muito menos como isso pode ocorrer, mas estou rendida por aquele homem. Seu cheiro, suas mãos por minha pele, sua língua em minha boca e aquele gosto maravilhoso, eram totalmente inebriantes. E eu poderia ter feito amor nessa esquina, se ele não tivesse demonstrado tanto juízo ao se afastar. Mas fico totalmente emudecida diante da cena que Virgílio faz, olhando estarrecida Cristiano se afastar, extremamente revoltado. Foram só uns beijos?! Ai meu Deus! Eu praticamente me ofereci para ir ao seu apartamento, enquanto, para ele, se trata de apenas uma pegação? Desejo muito que tenha dito aquilo motivado pela raiva que sentiu ao acreditar que Virgílio e eu temos alguma coisa, mas se fosse o caso, ao menos me perguntaria. Não? — Está maluco? — Bato no braço do lunático em minha frente, mas meu desejo é estap
CristianoMinutos antes...Um banho de água fria era o que eu precisava para voltar à razão, e foi o que recebi ao descobrir que Emilly era comprometida. Ainda assim, na noite passada cheguei em casa muito puto, sentindo os nervos se repuxarem e o corpo ferver. Desejei aquela mulher de uma forma avassaladora, como nunca cheguei a desejar ninguém, nem mesmo Júlia. Descobri duas coisas naquela situação constrangedora. A primeira, foi que nunca cheguei a sentir nem um terço daquele tesão, por minha ex-namorada. A segunda, foi que eu tinha razão sobre não confiar em mulher nenhuma.Ao entrar em casa, minha fúria devia ser tão aparente, que Júlia não insistiu para conversarmos. Se recolheu logo que saí do banho e peguei roupa de cama para me ajeitar no sofá da sala.Hoje de manhã acordo mais cedo do que de costume, passo o café e Júlia entra na cozinha hesitante quando experimento o primeiro gole, olhando-a por cima da caneca.— Bom dia — cumprimenta.— Bom dia. — Minha resposta é ríspida,