Entre o dever e o coração
Entre o dever e o coração
Por: Priscila Castelano
Prólogo e Capítulo 1

Emilly

Meu maior problema é essa mania de assistir a filmes com finais felizes e imaginar que na vida real possa ter finais assim também. Sentada sozinha no sofá da sala, devorando uma barra imensa de chocolate, há uma hora tento parar de chorar depois de desligar a televisão. Nunca mais vou assistir a filmes de romance. Sempre me fazem lembrar dele e imaginar como seria se estivesse aqui. O que estaríamos fazendo ou onde estaríamos fazendo... ao mesmo tempo que é bom lembrar, não é nada legal. 

Dói demais.

Seis meses depois que ele se foi, era pra eu estar bem. Não era? Deveria estar feliz e tocando minha vida, contudo, a realidade é essa, qualquer gatilho me leva ao fundo do poço, jogada no sofá ou no pufe, devorando uma enorme barra de chocolate meio amargo.

Ninguém pode me condenar por ter me apegado tanto, nunca fui de me jogar de cabeça em um relacionamento. Acontece que aquele homem me deixou sem defesa em um curto prazo de tempo, sugou minha alma e absorveu todo meu autocontrole. Não me sinto adulta, nem me reconheço. Não pode ser normal uma mulher de vinte e oito anos sofrer assim por um macho. Por que ele tinha que ser tão gentil, carinhoso, gostoso... Mesmo antes de partir, se tornou meu mundo, tudo o que eu pensava, queria ou respirava, era ele.

Talvez por isso o universo o tenha tirado de mim, para eu voltar para a linha, recobrar o bom senso. Sei lá. Amadurecer.

Mas também não sou a única a sofrer depois de perder o homem que ama, não sou a primeira, nem serei a última pessoa a se sentir assim, sem chão, eu sei que isso vai passar e vou sobreviver. 

Um dia de cada vez.

CAPÍTULO 1

Cristiano 

Meses antes...

Estou enrolado nesse trânsito turístico infernal, para sacar dinheiro na porra do caixa eletrônico que fica na entrada do supermercado da rua Artaxerxes, em pleno sábado em que deveria estar aproveitando minha folga, por culpa do neandertal do dono do prédio em que moro, que não recebe pix como pagamento de aluguel. O cretino deve guardar dinheiro embaixo do colchão, essa é a única explicação plausível que encontro para alguém, nos dias de hoje, fazer tanta questão de pegar dinheiro em mãos. 

Finalmente encontro uma vaga. Paro a moto com a seta acionada ao lado do automóvel estacionado em frente ao supermercado, a intenção é colocá-la atravessada na traseira do veículo, e a manobro, empurrando para trás com os pés, olhando para os lados ao entrar na vaga. Rodei longos minutos procurando um lugar para parar, pois essa área é muito movimentada. Esse espacinho vale ouro! Ao me virar para encostar a roda traseira ao meio fio, me deparo com uma mulher que parece ter se materializado por magia no lugar onde eu quero encostar a moto. Não vejo seu rosto direito, porém, ela me nota.

— Ei, cuidado! — ainda grita comigo como se eu não a tivesse visto.

Buscando o resquício de paciência que me resta, e aproveitando que meu sorriso irônico - de quem quer matar alguém - está escondido dentro do capacete, questiono no tom mais sarcástico possível.

— A senhora pretende ficar estacionada aí? Se for, eu procuro outra vaga pra minha moto. — Na posição em que estou, vejo um corpo cheio de curvas que atrai minha atenção e aguça a curiosidade. Ergo o queixo e consigo ver seu rosto direito. 

Caramba! É a mulher mais linda que já vi! Estranhamente sinto um revirar gostoso na barriga. 

Há algo estranho em seu olhar. Parece medo. Não é de mim, pois nem fui tão rude.

Ela olha em volta, meio perdida, entende a situação e, um tanto sem graça, sobe na calçada cedendo o espaço para eu terminar de estacionar a moto. Não pede desculpas por ter gritado comigo, apenas continua olhando de um lado para outro, segurando sua bolsa agarrada ao corpo, como se esperasse por alguém.

Mal desço o descanso da moto, ouço seu grito desesperado. Vejo um homem correr pela calçada, se desviando das pessoas, derrubando uma senhora que cruza seu caminho, e não é preciso mais nada para entender que o filho da puta furtou algo dessa mulher bem-vestida ao meu lado.

— Ele roubou minha bolsa, alguém pega ele. — Quando ela grita eu já estou correndo atrás do infeliz. 

Preciso me desviar dos transeuntes e todos pelo caminho me parecem tapados e sem noção. Tudo bem, que a culpa é da minha total falta de paciência, cidade turística tem muito disso, pessoas à toa olhando ao redor de forma abobalhada. Arranco o capacete para ter mais agilidade e o deixo cair pelo chão, acelerando a corrida. O filho da puta diminuiu a velocidade pensando não estar sendo seguido, e estou quase o alcançando. Ele olha para trás e arregala os olhos ao me ver, se desespera e tenta retomar a distância, mas é tarde, eu salto sobre ele e nos levo a rolar pelo chão áspero da calçada, até caírmos do meio fio na rua. Meu ódio por ele aumenta ao pensar, por um breve segundo, no estrago que essa queda fará na minha jaqueta nova.

— Perdeu, otário. Melhor não me dar trabalho ou vai ser pior pra você — aviso, ofegante, sofrendo um pouco para o imobilizar; e afundo a cabeça dele contra o asfalto. A vontade é de sentar um soco bem dado nessa cara de bolacha Trakinas.

A bolsa rolou pelo chão, e de relance vejo que, entre os conteúdos espalhados, há um batom prateado, celular e vários panfletos. 

— Me solta, mané, me larga, vai se meter com a tua vida, babaca. — O patife em quem estou montado, tenta me ofender com diversas imprecações. Estou acostumado com isso e ocupado demais tentando pegar o celular no bolso. 

— Cala a boca, fica quietinho aí na sua. — Digito o número do batalhão da polícia militar. Enquanto aguardo que, ao menos o telefone toque, o engraçadinho se debate ainda mais embaixo de mim, então prendo o celular entre a orelha e o ombro, tiro a Taurus do coldre e encosto em sua bochecha oleosa de suor, ignorando os murmúrios dos curiosos em volta, algumas pessoas correm assustadas. — Não estou querendo gastar munição contigo, mas eu costumo fazer o que não quero quando estou nervoso, saca? 

— Ow, ow, ow, para ae, pera ae, que isso irmão? Tira isso daí, vira isso pra lá.

Eu devo contar que está travada? — penso rindo do modo como o valente passa a falar fino.

Uma voz surge do outro lado da ligação e informo. 

— Aqui é o investigador Nunes da Civil, tem um 155 aqui na rua Artaxerxes com a Alfenas. — O odor desagradável dele me embrulha o estômago. Nada com o que eu não esteja acostumado, e começo a me levantar, puxando o cretino para que se levante também. 

— É necessário isso? — alguém diz atrás de nós.

Procuro a dona da voz, distinguindo-a em meio a tantos curiosos que nos rodeiam, me surpreendendo ao ver que é ela, a desorientada que estava plantada na vaga em que eu queria parar, a mesma sem noção que gritou comigo e, consequentemente, a dona da bolsa. Ouço a atendente da PM pelo celular e ergo o ombro livre tentando avisar para a madame parada na calçada, que eu estou um pouquinho ocupado para dar atenção a ela. Bufo dando um arranco no ladrão de bolsa, que mais parece ladrão de galinhas, quando tenta se soltar, respondendo para a policial que pede um endereço.

— Manda alguém logo, estamos na rua, na esquina da Artaxerxes com a Alfenas. — Cacete! Penso ao repetir o lugar onde estamos. Eu me meto em cada uma! Era para ter sacado o dinheiro e à essa hora estaria chegando em casa para curtir minha folga.

Puxo o catingudo, que embora use roupas de marca, fede a bueiro e, como suspeito ao empurrá-lo contra a parede, está todo mijado.

Ai meu Deus! Eu mereço!

— Cara, você mijou na calça?! Fala sério! 

Ele choraminga:

— Oh, irmão, pega leve aí, mano. — E consegue ficar ainda mais feio fazendo careta.

— Eu perguntei se é necessário isso? — Demoro um pouco para entender que a dona da bolsa que eu tinha acabado de recuperar, está questionando sobre a arma que eu aponto para o ladrão. Quando ela indica a Taurus com o queixo, solto um riso irônico.

— Quer dar um beijinho nele? — pergunto irritado e ela estreita os olhos como quem quer me fulminar. 

Se eu não estivesse morrendo de calor dentro dessa jaqueta e com o mau humor do cão, daria ênfase no quanto ela fica linda me olhando desse jeito. Solto uma arfada e viro o rosto na direção de onde penso que vem a viatura. Os curiosos começam a dispersar sem que eu precise dizer nada, basta um olhar. Quando me volto, a madame está abaixada recolhendo seus pertences e, sem querer, sem querer mesmo, a analiso. A blusa branca combina com o sapato de bico e salto fino, a saia atrapalha um pouco seus movimentos, mas eu não posso abaixar para ajudá-la, e nem aparece um curioso daqueles para se dignar a abaixar. Então, ficamos nós dois, o ladrãozinho safado e eu, admirando aquela bela e redonda poupança empinada em nossa direção. Que lua cheia!

Ao encarar o fedido, ele torce os lábios e se justifica ao notar que eu o flagrei olhando a bunda da moça.

— Qualquer um olharia, tu também olhou. — Faz um bico ao falar e eu até daria risada se as circunstâncias fossem outras, agora, porém, a vontade de esfregar a cara dele na parede por ter me feito correr debaixo daquele sol, não me permite esboçar nenhuma reação bem-humorada.

A moça se levanta ajeitando a roupa ao mesmo tempo em que verifica a bolsa. Ela para na nossa frente e me encara.

— Obrigada. 

Arqueio uma sobrancelha, louco para tecer um comentário sobre sua falta de educação e modos anteriores, da maneira mais irônica possível, mas como ela está sendo educada, me calo. Pensei que não agradeceria e agradeceu, me dou por satisfeito. Ouço um só apito da sirene da viatura e olhamos todos para o meu lado direito. Lá vem ela, na velocidade de uma lesma, dois policiais militares em um dos carros mais fodidos do batalhão de Serra dos Anjos. Ainda bem que se trata de um “inocente” furtador de bolsas, porque se fosse um cara perigoso, eu preferiria levá-lo a pé, a colocá-lo naquele carro destruído.

Serra dos Anjos fica há umas quatro horas da capital, os moradores reclamam que foi esquecida por muitos anos. Isso mudou, aos poucos se tornou uma cidade turística e investimentos de empresários a tem colocado no topo do interesse do gabinete do governador do estado. Está em desenvolvimento, mas, pelo visto, a polícia militar não desenvolveu muito.

— Até que enfim — resmungo, olhando a viatura estacionar, e a moça estica a mão na minha direção.

— Prazer, sou Emilly. 

Ela é mesmo sem noção. Olho dos dedos finos para seu rosto, e com o queixo, indico minhas mãos ocupadas; uma segura a arma e a outra prende os pulsos do palhaço que furtou a bolsa dela.

— Prazer, sou Cristiano. 

Emilly cruza os braços diante do peito e, ao virar para olhar a viatura que estaciona, j**a para trás o cabelo ondulado e castanho em um tom marrom perfeito e brilhoso, chega a refletir a luz do sol. O perfume b**e em cheio na minha narina, e é um alívio, pois sufoca um pouco a catinga desse homem.

— E aí, Nunes, o que tá arrumando? — O motorista, Sanches, de vez em quando se junta a mim e a meus amigos no D´angelos grill para um happy hour, por isso nos conhecemos. Com a coragem de uma lesma, desce do veículo na mesma velocidade com que se aproximaram de carro: Lentamente, quase parando. 

— Pega isso aqui, que é seu. — Brinco, me referindo ao mijão que seguro, e ele gargalha olhando para o seu parceiro, a quem eu ainda não tive o prazer de conhecer.

— Não quero isso não — responde caminhando em nossa direção, tirando as algemas do suporte. — O que aconteceu?

— Ele roubou minha bolsa. 

— Furtou a bolsa dela — respondemos juntos e Emilly se volta para mim. Não sei o que acontece, mas quando nosso olhar se encontra, a impressão que tenho é de que todo o resto ao nosso redor paralisa por uma fração de segundos. Ficamos estáticos nos encarando e sinto uma enorme dificuldade para desviar minha atenção. Ela pisca várias vezes, e percebo que ruboriza, parece constrangida. Ao invés de continuar relatando a ocorrência, insiste no assunto anterior, sobre a arma. — Você tem porte de arma?

Quem responde é o meliante.

— Ele é Investigador Civil, dona.

Reviro os olhos e desvio dele para o rosto bem maquiado, ornado com os lábios mais carnudos que já vi na vida.

Emilly também olha dele para mim, surpresa. Não parece acreditar muito que sou policial. Quanto a mim, estou ansioso para me livrar desse encosto. Viro os pulsos dele para o Sanches algemar e conto.

— Eu estava em frente ao supermercado estacionando a moto quando ele pegou a bolsa e corri atrás. 

— Valeu, herói. — Sanches provoca com um sorrisão. O parceiro dele está ocupado digitando algo no celular e não ouvi sua voz nem uma vez até agora.

Depois de Sanches colocar o rapaz na viatura, passa a fazer perguntas sobre os dados pessoais de Emilly e anotar em sua caderneta. Ele mora em uma cidadezinha próxima daqui, vem só a trabalho ou fica até mais tarde do pub com a gente. E, pelo que noto, só se conhecem de vista. 

Então eu me despeço.

— Valeu, tudo certo, vou indo nessa, foi bom te ver. — Bato no ombro dele e me afasto.

Mas antes de dar o segundo passo para longe daquela confusão, Emilly pergunta:

— Vai precisar do seu capacete, não vai?

Paro no lugar e giro o corpo me voltando para ela.

— Com certeza. E onde ele está?

— Eu vi que jogou no chão e peguei. Guardei no meu carro. 

Novamente arqueio a sobrancelha. Quanta gentileza! Estou admirado. Mais do que apenas admirado, estranhamente feliz por ganhar mais alguns minutos perto dela. Não que eu pense em me aproximar mais do que isso, mas gosto do que vejo e do perfume que exala. Que mal tem ficar um pouco mais?

Depois que Sanches a libera, caminhando ao meu lado pela calçada de volta para onde está minha moto, Emilly se divide entre cumprimentar os conhecidos que passam por nós, e esticar um panfleto para mim. 

— Então, você é investigador?

— É, na teoria, sim. — Pego o panfleto curioso, nele vejo algumas crianças, dizeres que talvez eu leia depois (não, eu não vou ler), o título diz PPMSA (Projeto Polícia Mirim de Serra dos Anjos). Que nome horrível!

— Como assim, na teoria? 

— É que na prática somos de tudo um pouco. — Ergo o panfleto — O que é isso?

— É um projeto no qual estou trabalhando. Alguns policiais se voluntariaram e visitam as escolas mostrando vídeos e contando sobre como é o trabalho da polícia, e tem outros que dão aulas de defesa pessoal, primeiros socorros no ginásio municipal, e várias coisas do tipo.

— Isso é legal.

— Obrigada — diz orgulhosa. 

Ela tem um belo sorriso, e covas profundas que surgem nas bochechas, causando algumas reações estranhas até mesmo para um homem como eu. Quase me sinto um adolescente virgem. Eu, hein! Preciso sair de perto dela, mas para não parecer totalmente desinteressado em algo que parece ser importante para ela, pergunto:

— Você fez alguma aula? 

Ou talvez eu apenas quisesse saber se ela sabe se defender, caso precise.

— Já fiz várias.

Intrigado com a insistência dela sobre eu portar arma, a ponto de abordar o assunto em um momento um tanto crítico, paro e pergunto, me voltando de frente.

— Você perguntou se havia necessidade da arma... por quê? — Foi um erro ficar de frente para ela desse jeito, Emilly passa os dedos pelo cabelo e o j**a para trás, meus olhos vão direto aos lábios úmidos e levemente rosados, desenhados como se tivessem sido projetados para provocar esse desejo de beijá-la que experimento. Devo estar ficando maluco.

— A resposta é óbvia — diz indicando a Taurus, o volume sob minha camisa —, armas são perigosas, se você não fosse um policial, seria imprudente estar com uma pelas ruas.

— Hum. 

Demoro um tempo com a boca aberta olhando-a, esperando que exponha um argumento melhor, mas se cala e eu tento engolir minha própria opinião, mordo o lábio inferior olhando para os lados, respirando fundo e me desviando do foco, que, até então, era sua boca. Assinto decidido a deixar o assunto de lado e volto a caminhar.

— Acredito que você deve concordar comigo — me segue insistindo. — Tenho certeza de que você teria menos trabalho se as pessoas não estivessem portando armas de fogo por aí.

Não consigo segurar e solto. 

— Desculpa, mas eu discordo. 

— O quê?! — Estanca no lugar e sua voz sai dois tons acima, como se eu tivesse dito que sou um unicórnio disfarçado.

Também paro e me viro. 

— Não vou começar uma discussão sobre leis armamentistas agora. Só acho mais seguro para a senhorita, se os bandidos não tiverem certeza de que você está indefesa em casa. Você não precisa ter uma arma, só que eles não precisam saber. — Pisco um olho. — Onde está seu carro?

Aquele arzinho arrogante que vislumbrei minutos atrás, volta em seu olhar, sobre um queixo erguido, combinado a um nariz empinado. 

— Está ali. — Aponta o veículo em frente à minha moto. Meneio com a cabeça e sigo naquela direção, me desviando das pessoas e ouvindo o salto dela bater no chão atrás de mim. Acho que a irritei. Ela deve ser do tipo que pensa que qualquer um que não concorda com a opinião dela é um inimigo. E me pego dividido entre o desejo de agradá-la e a necessidade urgente de me afastar e me proteger do que quer que seja isso que sinto agora.

Enquanto abre o carro, Emilly parece me odiar, mas eu não sei se é por ter discordado dela, ou por ser a favor da posse e porte de armas legais. 

— Só para que fique claro, sou a favor da posse de armas somente para o cidadão de bem que passou por todo o procedimento legal e psicotécnico para ter a licença. Bandido não precisa de aprovação de lei alguma pra portar uma arma, pois não respeitam nada e nem ninguém, e estarão armados com ou sem lei. 

Ela ignora totalmente o que digo, empina aquela lua cheia em minha direção para pegar o capacete no banco do passageiro e desvio o olhar tentando ser respeitoso, ainda que minha mente tenha imaginado várias cenas. 

— Obrigada por sua ajuda — diz, entregando o capacete para mim.

— Não foi nada, faz parte — respondo, erguendo a mão em um aceno e me afasto na direção do supermercado.

Preciso admitir várias coisas. A primeira delas é que essa mulher é muito linda, a segunda é que usa um perfume maravilhoso. A terceira é que seu projeto com as crianças me deixou muito admirado. Eu até pensei em decorar o número de celular quando informou ao Sanches, mas, sinceramente? Estou correndo de encrenca. E quando digo encrenca, me refiro a mulheres que me geram interesse, principalmente as que não precisam se esforçar muito para mexer com meu amigo lá embaixo. 

Eu só tenho ficado com aquelas que me atraem fisicamente, alguém para me aliviar a tensão ou necessidade, chamem como quiserem. De preferência as turistas, alguém que vá embora e não haja como repetir a dose. No caso da Emilly, eu sei que é extremamente importante manter distância. O olhar penetrante, a linguagem com que respondeu Sanches e a sofisticação me aguçaram a curiosidade, eu me peguei interessado em saber mais, e saber mais leva a outras coisas bem mais profundas do que uma boa noite de sexo seguidos de um, “até nunca mais”. 

Ao passar pelo latão de lixo, jogo o panfleto, não é que esteja desinteressado no projeto, muito pelo contrário, só temo encontrar nele um contato que me leve até ela, e preciso ficar bem longe. Melhor prevenir do que remediar. 

Não me julgue se não sabe o que passei.

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