CAPÍTULO 3

Emilly

Gosto dessa camiseta de algodão; seu tamanho extra gigante me deixa confortável e é o que uso quando trabalho em casa. Despojada, me sento na ampla sala iluminada pela claridade alaranjada do fim de tarde que invade através das enormes janelas de vidro. Apoio os cotovelos sobre a mesa de madeira, olhando para a taça de vinho da qual bebi apenas a metade durante a hora e meia em que estou aqui.

A porta se abre e abro um sorriso ao ver Evans entrar. Assim que me vê, do outro lado da sala faz uma careta revirando os olhos e caminha até o sofá onde deixa a pasta de trabalho.

— Meu Deus, bebendo a essa hora?! Você se olhou no espelho? Que cabelo é esse?! Parece que foi vomitada pelo vaso sanitário.

Realmente posso imaginar a tragédia que estou e ajeito o coque desarrumado que prendi com um hashi que achei na gaveta de talheres. Eu exagero no look para sair de casa, mas adoro um desleixo quando posso. Hoje estou um pouco mais largada do que o habitual, deve ser essa ansiedade que me tira totalmente o foco. Não abro mão da camisa, nem do vinho, isso é relaxante. 

Ignoro o assombro dele com meu estado deplorável e parto logo para o que me interessa.

— E aí, descobriu alguma coisa? — Saio da cadeira e me jogo no pufe marrom e extremamente confortável que fica em frente ao sofá. 

Evans, é meu melhor amigo há muitos anos; moramos juntos. Ele é policial civil e trabalha na administração. Convenientemente tem como levantar a ficha completa do Investigador que recuperou minha bolsa e, claro, pedi que o fizesse pra mim, uma vez que a curiosidade a respeito daquele homem me corrói desde que o vi correr atrás do ladrão de bolsas. Evans se deixa cair ao lado da pasta que deixou no sofá, parece exausto. Solta um longo suspiro e começa a desfazer o nó da gravata ao mesmo tempo em que tira os óculos, deixando-os sobre o largo apoio de braço à sua direita e me dirige um olhar estreito. Observo cada gesto cheia de expectativa, e conhecendo Evans, sei que vai tentar me dissuadir de me aprofundar a respeito daquele sujeito.

— Aquela delegacia está um furdunço por causa de um assassinato que estão investigando. Viu algo na televisão? 

— Nem vejo televisão, Evans. Que assassinato? Turista ou alguém que conhecemos? — Furdunço agora está meu peito, e ele aponta o dedo diante do meu nariz.

— Garota, não espalha isso por aí, hein. — Suspira. — Encontraram um corpo todo carbonizado na mata.

Minha pele inteira se arrepia, lembro de minha amiga Margot. Tive um encontro estranho com ela e acredito que há algo errado acontecendo. Aperto seu joelho e me ajeito sobre o pufe.

— Homem ou mulher? 

— Ainda não sei, parece que estão esperando a análise do legista. Estão abafando o caso com medo de espantar os turistas. — Evans me dá um breve resumo do que sabe sobre o caso e acrescenta. — Parece que a guarda florestal é que encontrou e reportou o caso. Não estão nem perto de descobrir quem é a vítima, ou quem cometeu o assassinato. 

— Meu Deus!

— A coisa está feia. 

Meu coração dispara, espero que a Margot esteja bem. E após alguns segundos de silêncio em que me distraio com esses pensamentos, Evans chama minha atenção.

— Quanto ao tal Cristiano... — começa sério, mas sua fisionomia se transforma em um riso cheio de malícia ao completar. — Meu Deus! Que homem é aquele?! — Arregala os olhos e eu solto uma risada nervosa, tampo a boca e jogo a cabeça para trás.

— Fala, o que descobriu sobre ele?

— Eu não tinha reparado o boy até você falar sobre ele, mas tem um tempo que trabalha aqui. Não posso ficar falando sobre isso, Emilly, são dados confidenciais, você ferra com a minha vida quando me pede essas coisas.  

Passo as mãos em suas pernas implorando e rindo.

— Por favor, Evanzinhoo.

Ele lamenta dramaticamente sobre o quanto eu o estou desviando de sua ética profissional. 

— Você é terrível. Qualquer dia serei preso por isso. — E, como sempre, exagera. 

— Não estou pedindo nada demais, só um pouquinho de informação sobre o homem.

— Não acha melhor convidá-lo para um café? Ou um happy hour? Conversar e conhecer o bofe antes de papá-lo? Coisas que qualquer mulher normal faria?

Eu ainda estou rindo, balançando a cabeça para os lados.

— Deixa de ser chato? Eu não quero sair com ele, só... fiquei curiosa a respeito do homem que salvou minha bolsa. E depois que o conheci, o vi pela rua diversas vezes esses dias, passando de carro ou a pé... hoje me deparei com ele aqui em frente de casa. 

— Jura?! Fazendo o quê?

— Estava esperando a parceira que estava na padaria.

Evans se ajeita no sofá dobrando uma perna e se senta sobre ela.

— Tá, ok. — Se ajeitou esfregando as mãos e sorrindo daquele jeito sapeca de quem vai contar algum babado. — Ele é formado em direito, se formou pela USP. É nascido e criado na Capital, onde morava antes de ser transferido para cá. Estava estudando para se tornar perito criminal, mas foi transferido há oito meses para Serra dos Anjos, ainda registrado como investigador, se isso vai mudar? Não sei. — Silencia-se olhando para minha cara e bato na coxa dele.

— É casado?

— Ué. Pensei que não estivesse interessada em sair com ele e fosse só curiosa a respeito do homem que salvou sua bolsa.

Estreito os olhos em sua direção e comprimo os lábios, ele me conhece melhor do que ninguém para saber que aquele é meu tipo, ainda que eu tente disfarçar, e Evans ri. 

— Solteiro, querida. — Revira os olhos. — Só não consegui descobrir ainda qual o tipo de relacionamento dele com a parceira, a Vanessa. 

— Mas... como assim? Tipo de relacionamento? Não são apenas parceiros de trabalho?

— Não sei, ninguém sabe, se sabe não quer contar. Rola um papo no departamento de que andam se pegando. São muito íntimos para serem só parceiros. Os dois parecem se comunicar pelo olhar. — Há um tom especulativo em sua voz, mas não prossegue e se levanta. — Preciso de um banho. 

— O que mais? — Imploro me agarrando em sua coxa, fazendo-o rir ao tentar se livrar dos meus braços.

— Nada mais. — Ele se desvencilha e segue para o corredor. 

Fico sentada com um beiço emburrado olhando-o sumir; e não restando alternativa, volto para o vinho. Pego a taça e me aproximo da janela olhando a calçada. Não seria ruim se ele voltasse para comprar algo na padaria. 

Meu celular vibra sobre a mesa e dou um gole no vinho antes de atender dona Mirian. 

— Boa tarde, dona Mirian, tudo bem com a senhora?

— Boa tarde, querida, estou bem sim. Na verdade, mais ou menos. É que, com a chuvinha da madrugada, desceu mais terra e a frente de casa está puro barro. Não consegue que enviem uma máquina para limpar a rua? Acho que vai precisar de um trator.

Torço os lábios, a rua onde essa senhora mora é sem saída, termina em uma linda praça onde fica o portal de entrada do Parque florestal. É por onde temos acesso à trilha, que um dia foi segura para que turistas se aventurassem pela mata. Tem sido destruída há alguns meses devido à fortes tempestades que enfrentamos. Acabou, porém permanece interditada com riscos de mais deslizamentos.

— Eu verei o que consigo. Prometo que farei o que estiver ao meu alcance. 

— Tudo bem, querida, obrigada.

Das outras vezes em que isso aconteceu, consegui que a defesa civil colocasse a limpeza de sua rua como prioridade. Entretanto, o crescimento da cidade, que tem sido visitada por milhões de turistas nos últimos anos, trouxe um número exacerbado de construtoras, atraídas como abelhas para o mel, aumentando a demanda de atendimentos prioritários. 

Eu administro a enorme empresa de construção que minha mãe me deixou como herança. É mais voltada para a locação de máquinas e equipamentos, muitas construções na cidade foram feitas por ela. E como a locadora 3S´s prestou serviços para o município por muitos anos, as pessoas que me conhecem desde crianças, sempre tiveram meu contato direto para pedir favores ou solicitar socorro. Graças à ambição do atual prefeito, um ser mesquinho que pensa apenas no próprio umbigo, perdi o contrato com a prefeitura e, consequentemente, sofro uma queda significativa no orçamento. O pior de tudo, é dizer para pessoas como a dona Mirian, que não posso mais ajudar como sempre fiz.

Penso nas ligações que preciso fazer, quando vejo um Jetta preto passar pela esquina ao lado do prédio, sentido à saída da cidade. Um friozinho na barriga me incomoda ao imaginar que pode ser aquele investigador, mas o que realmente me preocupa é a razão pela qual me sinto tão estranha perto dele.

É só o que me faltava: Não poder ver um Jetta preto sem pensar no investigador.

Começou quando o vi pela primeira vez. Tinha acabado de pegar o pen drive misterioso que Margot empurrou para mim sem me dar pista alguma sobre o que continha nele, contudo, pelo comportamento estranho da minha amiga, imaginei que seu conteúdo era de suma importância. Apreensiva, pensei em escondê-lo junto com o estepe, embaixo do carpete no porta-malas do carro. Estava tensa, minhas mãos suavam, tinha medo de que alguém estivesse nos observando e não notei a moto. Não, até que faltou pouco para encostar a roda em minha perna e gritei. Foi quando me deparei com aquele par de olhos, a viseira do capacete levantada me permitia vê-los com perfeição e focar neles. Eram tão profundos, que penetravam a alma, fiquei sem ação, como uma estátua fixada no lugar.

Essa lembrança me faz pensar em tudo o que aconteceu desde então. Divago por tantos minutos, que nem me dou conta do tempo que passou. A voz de Evans, que vem pelo corredor batendo palmas, me traz de volta dos pensamentos que repassei diversas vezes em minha mente.

— O que vamos jantar? Vamos pedir comida chinesa outra vez? Eu já enjoei, acredita? Estava me olhando no espelho, acho que meus olhos estão até mais puxadinhos depois de tanta comida oriental. — Gargalha de sua própria piada e passa pela sala, dando a volta pelas banquetas, até a entrada da cozinha conjugada. Do outro lado do balcão, pega um copo e se vira para a geladeira, contando. — O Isaac chega sexta-feira e vai dar uma festa no sítio dele esse final de semana, então, não ouse marcar compromisso, hein.

— Tenho compromisso no sábado. Vou fazer como das outras vezes, domingo eu pinto por lá meio-dia. — Deixo a taça sobre o balcão e ele a pega, colocando dentro da pia. 

— Tudo bem. — Dá de ombros e me abre um largo sorriso. — E o que me diz, vamos jantar fora hoje? 

Estico os braços sobre o balcão e inclino a cabeça sobre eles, pensativa. Estou extremamente cansada e preciso terminar uns trabalhos da empresa, além de tentar resolver o problema da dona Mirian, mas ao erguer os olhos, o sorriso de Evans, somado à fome que sinto, vencem minha preguiça. 

— Vou tomar banho.

Um dos lugares prediletos, onde Evans, Isaac e eu frequentamos há três anos, é o Tróia. Um restaurante temático com a decoração perfeita e atendimento excelente. O dono, Virgílio Albuquerque, visitou Serra dos Anjos há algum tempo, como tantos outros, gostou muito da cidade, e decidiu se estabelecer. Trocamos alguns beijos e até chegamos a ficar por várias vezes, mas não rola química, falta algo. Eu não sentia sua falta, nem curtia tanto nossos momentos, e acho que foi recíproco, pois acabou se tornando amizade de forma natural, sem que qualquer um se sentisse chateado com algo que não deu certo. Pelo menos eu me sinto assim. Tem semanas que não ficamos e não me incomodo nem um pouco.

Entro com o braço enlaçado ao de Evans e ele aponta o canto que batizou como seu. Qualquer um que nos procure no Tróia, nos encontra naquele canto. Larga meu braço e me empurra na frente, comentando.

— Ainda bem que ninguém se atreveu a sentar na nossa mesa. 

Olhando em volta, respondo com deboche.

— Estou pensando em fazer uma plaquinha com nosso nome e pendurar na parede. O que acha?

— Pois faça, demorou, eu vou amar — diz se enfiando entre o banco almofadado marrom e a mesa, e antes de se sentar, pega o menu. — Isaac vai me xingar horrores quando souber que vim aqui sem ele.

— Então, a julgar pela festinha do final de semana e esse comentário, quer dizer que vocês dois se entenderam? — Estou mesmo curiosa a respeito, e, me sentando diante dele, deixo a bolsa na cadeira ao lado.

— Mais ou menos, como é que se entende com o namorado há cinco mil quilômetros de distância? Não dá, né meu amor? Mas conversamos e ele me chamou para ir ao sítio, então... — o sorrisão arreganhado de um canto a outro, que ele esconde atrás do cardápio, dispensa explicações.

Eu amo o Evans como se fosse meu irmão. Aliás, com meus irmãos biológicos, não há metade da afinidade que meu amigo e eu estreitamos. Decidimos morar juntos logo que fiz dezoito anos e a situação com meu pai se tornou insuportável. 

Morar com ele deu muito certo. Cada um respeita o espaço do outro e concordamos com a maioria das decisões sobre nosso apartamento, como, por exemplo, nada de levar peguetes para transar em casa. Nem mesmo Isaac frequenta o apartamento quando não se trata de uma festinha. Raramente brigamos. Seria muito bom conhecer alguém como ele, mas que gostasse de mulher e se apaixonasse por mim. Acho que por conviver com uma pessoa extraordinária como Evans, meu padrão para escolher homens se tornou elevado demais, e por isso ainda estou solteira. 

Uma voz suave e aveludada chama nossa atenção.

— Carina avisou que estavam aqui. — Assim como Evans, me viro para a direção de Virgílio ainda com um sorriso nos lábios. 

— Oiii. — Afasto a cadeira e me levanto para cumprimentá-lo, preciso ficar nas pontas dos pés, pois ele é alto, e nos abraçamos. 

— Estou feliz que tenham vindo hoje, andaram sumidos. — Exibe um sorriso muito aberto e olha de mim para Evans como se fôssemos famosos visitando seu estabelecimento. Gosto disso em Virgílio, faz com que seus clientes se sintam celebridades.

— Muito trabalho. — Evans comenta e b**e no banco estofado ao seu lado. — Senta aqui, Virgílio, conta pra gente qual o prato especial você inventou hoje.

Nos sentamos ao mesmo tempo, e troco um olhar ligeiro com Evans, no qual ele questiona: sua idiota, por que deixou esse gato escapar?

Seguro o riso e fixo o olhar em Virgílio, que fala sobre a culinária da noite com seus toques secretos. Ao terminar, me encara com um sorriso amável.

— Vou pedir que sirvam vocês. O que desejam beber?

— Vinho. — Evans responde e concordo com a cabeça. 

— Obrigada. — Nós dois ficamos observando-o se afastar.

Virgílio é atraente, sua franja cai nos olhos quando não está usando o blanche, e isso lhe confere um charme e tanto. Muito bonito, educado e dono de uma bunda deliciosa. Além disso, sua altura o torna ainda mais atraente e conquistador; e se não bastasse isso, é um chef de talento incontestável. Várias mulheres da cidade matariam para tê-lo em suas camas, então, qual é o meu problema? 

Não sinto nada por ele. Absolutamente nada. Para piorar minhas preocupações, após experimentar seu talento com a língua na cama, comecei a pensar que sou portadora de graves problemas. Como eu posso não me apaixonar por alguém como Virgílio, um Chef cheio de qualidades e habilidades?

Talvez essas preocupações fossem o que me fizeram pensar tanto em Cristiano. Elas desapareceram completamente ao encarar um certo homem desconhecido na rua, que me fez molhar a calcinha só pelo timbre da voz. 

Suspiro ao pensar nisso, e, tentando me focar em outra coisa, pego o celular na bolsa para verificar as notificações e me alegro ao ver a mensagem de que o atendimento à dona Miriam está sendo providenciado. Antes de sair de casa fiz algumas ligações, e nessas horas me sinto muito feliz por ter amigos influentes.

Evans e eu jantamos um delicioso risoto a - la Virgílio -, papeando sobre o projeto no qual trabalhamos como voluntários. Ele cuida da parte administrativa e eu da publicidade. A ideia não foi nossa, mas de Neves, um colega em comum, que é policial militar. E tem funcionado muito bem. É admirável a animação dos policiais em participarem. Queremos mostrar para as crianças a importância dos agentes da lei e a seriedade com que devem encarar a profissão, caso um dia venham a ser policiais. Além disso, ensinamos outras coisas importantes para o dia a dia. Mas tenho outras intenções com esse projeto, que é tentar conscientizar marmanjos policiais que possam estar envolvidos em corrupção. Talvez o projeto seja uma espada de dois gumes. Espero que seja ingênua demais.

— Acredita que aquele Investigador jogou o panfleto que dei a ele fora? — me lembro disso do nada, ainda buscando entender a razão que o levou a aceitar o panfleto para descartá-lo no lixo. Essa foi uma atitude infeliz que o fez parecer um idiota para mim. Gostoso, porém idiota.

— Você falou isso ontem. — Comprime os lábios assentindo e acrescenta. — Umas cinco vezes. — Revira os olhos entediado. — E, sinceramente, lindinha? Não sei por que você tem esse dedinho podre. Um gostosão como o Virgílio dando sopa... — Ri do duplo sentido e continua. — E você soltando suspiros por um cara que nem conhece. A qualquer momento ele pode voltar para a capital, sabia?

Irritada e desejando evitar admitir o quanto fiquei mexida, abro as mãos com as palmas para cima, cochichando para que as pessoas nas mesas vizinhas não me escutem.

— Eu só achei o cara bonitão... só isso. Mas sim, é um cretino. — Ao pronunciar a última palavra, não há nenhuma convicção, e acho que é por isso que Evans ri. 

A maioria dos clientes a nossa volta são turistas, não vemos muitos conhecidos, apenas o dono e seus funcionários. Depois de nos despedirmos deles e pagarmos a conta, saímos do restaurante para voltarmos ao apartamento. 

— Que Isaac não me ouça, mas se eu estivesse solteiro, já que você não quer, eu investiria no Virgílio. — Rimos juntos, e eu não duvido disso, tampouco me importo.

— Você é um tarado, Evans, não tem jeito. — Ainda estou rindo quando esbarro em alguém e viro para me desculpar. — Me perdoa.

A mãe do adolescente em que esbarrei, sorri e balança a cabeça para os lados.

— Não foi nada, imagina. 

— Desculpa. — O menino pede.

Sorrio de volta, mas, por cima de seu ombro, eu vejo alguém que faz meu coração palpitar. Sinto todo o meu corpo esquentar e formigar. A mulher e o filho seguem pela calçada, mas fico paralisada sem conseguir reagir. Cristiano está do outro lado da rua e gargalha com outros dois rapazes, em frente ao D´ângelo Grill, um point bacana e bar muito frequentado por servidores públicos e turistas. 

E ele está lindo!

Usa calça jeans clara, uma jaqueta de couro marrom sobre uma camisa branca. O cabelo bagunçado propositadamente o deixa bem diferente de como estava quando o conheci. Não sei o motivo, mas vê-lo gargalhar aumenta um pouco o frio na barriga. Eu nunca o tinha visto antes daquele homem levar minha bolsa, e acho uma tremenda coincidência esse encontro aleatório depois de o conhecer.

Agarro o braço de Evans, esse nervosismo não é normal. E quando meu amigo me encara interrogativo, murmuro entredentes.

— Do outro lado da rua. 

Olha por cima da minha cabeça e ri.

— Eita, Cristiano, o paramédico e o bombeiro, tudo junto? Assim não aguento.

— Vamos lá? — Escapa do meu lado adolescente, perdido em algum canto obscuro do meu inconsciente.

Evans arqueia as sobrancelhas e arregala os olhos indignado, me olha como se estivesse nascendo um chifre na minha testa.

— Jura? Uma marmanja de vinte e oito anos vai mudar o roteiro e entrar no bar o qual não frequenta, só para fazer o quê? Dançar rumba e ver se o boy te nota? 

— Rumba? De onde você tirou isso? — pergunto franzindo o cenho e gargalho, não sei se de vergonha de mim mesma, ou por realmente achar engraçado o jeito como falou.

— Olha lá. — Indica com o queixo e me viro, Vanessa e Jussara, uma moça que eu só conheço de vista, estão rebolando ao lado deles e parecem dançar algum som latino. — Não falei que aquela parceira dele parece ser algo mais? 

Tampo a boca e balanço a cabeça puxando-o para casa.

— Vamos embora. — Depois de alguns passos, comento mais para mim mesma, do que para Evans ouvir. — Nunca tinha visto esse cara, e agora... dou de cara com ele em toda parte.

— Talvez nunca o tivesse notado, mas reparou no monumento depois do homem correr o quarteirão todo atrás da sua Louis Vuitton.

É... talvez.

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