Emilly— Obrigada, Neiva. — Pelo espelho, sorrio para minha cabelereira, que, além do cabelo, fez uma maquiagem maravilhosa.— Trouxe o vestido para se trocar?— Não, vou passar em casa ainda. — Afasto a cadeira sem muito ânimo, me sinto pesada, angustiada. Sei o que me espera nessa festa e é desgastante. Odeio os confrontos inevitáveis com minha madrasta.Neiva fechou o salão para me atender e passou longas quatro horas fazendo minhas unhas, cabelo e maquiagem. Por isso me forço a esboçar o melhor sorriso e fazê-la sentir-se com a missão cumprida. Pego a bolsa e tiro o convite do bolsinho, estendendo em sua direção.— Você vai, né?Diante do convite dourado com letras bordadas, sorri, encabulada.— Imagina, nem tenho roupa pra esse evento.— Ah, não exagera, Neiva.— Eu agradeço o convite, Emy, mas tenho que ficar com meus filhos.— Eu entendo, mas gostaria muito que fosse. — Torço a boca. Imaginei que ela não fosse aceitar, mas precisava fazer o convite. Neiva tem salão em Serra dos
CristianoVanessa e eu discutimos por quase uma hora na cozinha.Depois de me cortar as unhas, passar base, aparar o cabelo, lambrecá-lo de gel, me convencer a tirar toda a barba e me enfiar em um terno, sugeriu que eu levasse a Júlia em seu lugar.— Sinceramente, eu não tô acreditando que você pense ser boa ideia eu levar a Júlia.— Ninguém aqui na cidade sabe o que ela fez.— E nem quero que saibam. Não é legal que te olhem como o corno da vez, sabia? Mas essa não é a questão, o problema é ela pensar que está tudo bem entre nós dois, porque não está.Finalmente, após perceber o quanto estou relutante, coloca uma mão no meu ombro e aperta, dizendo:— Tá, eu vou falar. Sabe o que é... — Puxa outra cadeira e se senta ao meu lado.. — Estou gostando muito do Marquinhos, mas tem uma galera zoando ele, dizendo que tem algo entre nós dois... — decide ser honesta comigo.Nem precisa terminar, eu entendo. Faz um tempo que ignoro, mas sei que comentam sobre nós termos um caso, o que nunca foi
EmillyLogo ao entrar no salão, me deparo com a Clarisse, esposa do meu pai. É uma mulher arrogante, cujos defeitos escondem qualquer qualidade que possa ter. O fato de sermos obrigadas a lidar uma com a outra por tantos anos, não mudou os sentimentos repulsivos que nutro a seu respeito. E não é coisa de filha ciumenta, é um pouco mais sério do que isso.— Tente não arrumar confusão nessa festa. — Virgílio cochicha entredentes no meu ouvido, forçando um sorriso para Clarisse, que caminha graciosamente ao nosso encontro, e por “graciosamente”, quero dizer: De seu jeito desengonçado de quem jamais vai ser elegante sobre um salto.Eu entendo a preocupação dele. Virgílio testemunhou o jantar catastrófico em que joguei uma lagosta inteira sobre minha madrasta.— Não esquenta, é só Clarisse se manter afastada. — Cantarolo de volta, olhando ao redor e acenando para alguns conhecidos que trabalham nos últimos retoques da decoração. Avisto Iran, dono do buffet contratado, e abro um largo e exa
CristianoA primeira pessoa em que meus olhos caem assim que entro no salão repleto de magnatas bem arrumados em suas roupas de gala, é Emilly. E como eu deveria ter previsto, está acompanhada pelo homem que alegou ser seu namorado. Eu não deveria me surpreender com o fato de uma mulher mentir para mim, mas um riso escapa, acho que de nervoso.Beijei muitas mulheres desde que descobri a traição de Júlia, mas nenhuma povoou tanto minha mente como esta ordinária que desfila em um vestido projetado como um imã para atrair as atenções. Dizer que está linda não faz jus, Emilly está extraordinária, e eu preciso me esforçar muito para desviar os olhos das fendas de seu vestido.Após cumprimentar algumas pessoas, encontro meu chefe acompanhado por algumas autoridades e a esposa em uma animada roda de conversa. Assim que me vê, abre um largo sorriso e estica a mão, tocando minhas costas.— Até que enfim você chegou, pensei que não viria.— Eu não perderia comida e bebida de graça por nada. — C
EmillyEstou morrendo de vergonha por ter sugerido que fossemos ao meu apartamento, mas saiu sem que eu pudesse evitar. Quero tanto, que não consegui me conter.Ainda sorrio como uma colegial, observando Cristiano transitar pelo salão, me sentindo uma completa devassa por estar tão excitada só de olhar para esse homem. Sim, tenho medo do que ele possa pensar a meu respeito, mas acontece que, se é bonito durante um dia de trabalho comum, arrumado dessa forma, parece um deus grego. Irresistível. A temperatura ambiente está perfeita, mas sinto um calor terrível percorrer todo meu corpo. Consequentemente, não tenho paciência com os comentários de Virgílio, muito menos com sua mania de passar a mão em mim todas as vezes em que se aproxima para falar algo ao pé do meu ouvido. Em determinado momento, toco seu tórax afastando-o e sugiro.— Você deveria socializar e convidar essas pessoas para conhecerem seu restaurante. — Pisco um olho estalando a língua. — Aproveita.Ele abre um largo sorris
CristianoMinha esperança era de que essa angústia e desejo passasse após o orgasmo. Que a sensação maluca de ser atraído para Emilly, fosse apenas tesão em sua forma mais densa. Mas depois de gozar eu quero mais. E quero mais do que apenas gozar, quero beijá-la, confortá-la, saber mais a seu respeito, cuidar de Emilly, e tenho a sensação de que o peito está apertando por ter de me levantar, vestir e ir embora.Isso me faz sentir como um menino idiota na puberdade, descuidadamente apaixonado e fodido.Minha cabeça está bagunçada e olho o teto preocupado. Mas noto que ela me observa e viro o rosto em sua direção. Tem um olhar preocupado, ruguinhas entre as sobrancelhas, ainda assim é linda. É fácil sorrir diante de seus olhos grandes, que me analisam, e pergunto, passando os dedos por sua testa.— O que foi?— Quanto quer por seus pensamentos? — curiosa!Rindo, engulo em seco, pesarosamente me afasto, tirando o braço de sob sua cabeça.— Preciso ir embora. — Não quero ser outro Virgíli
EmillyAcordo com uma sensação maravilhosa, feliz como não me sentia há muito tempo! Aspiro o perfume marcante e refrescante de Cristiano, impregnado no quarto, que é a prova de que, dessa vez não foi um sonho. Mas ao me virar, descubro que o outro lado da cama está vazio.— Cris — chamo e me sento, olho sobre a poltrona onde deixamos suas roupas na noite anterior, está vazia.Como ele não responde, imagino que foi embora. Não acredito! Experimento uma terrível decepção se espalhar em meu peito, mas não quero acreditar que saiu sem deixar nem ao menos um recado. Não pelo sexo delicioso, mas, pelo menos, pela conversa que fluiu entre nós. Ando pela casa enrolada no lençol em busca de algum bilhete, porém, não há nem sinal dele, nem nada.Engulo essa sensação ruim e infantil de abandono, me recusando a admitir o quanto estou aborrecida. Volto para o quarto, abro o armário em busca de roupas e decido tomar banho para ir ao sítio de Isaac. Combinei com Evans, talvez seja melhor assim.— I
CristianoNa primeira visita à rampa, descubro coisas extremamente significativas para endossar minha teoria. Segundas-feiras o lugar não funciona, a lanchonete e a loja ficam fechadas. O fato de que a investigação leva a crer que o homicídio aconteceu no começo da semana, torna possível que a desova tenha ocorrido na segunda-feira.Tinha dúvidas se alguém poderia lançar um corpo humano ao voar de parapente, sem que sofresse nenhum dano no voo devido à perda de peso, mas Michelle garantiu que essa é uma prática comum.— Às vezes um dos tripulantes do parapente salta com um paraquedas — conta.Logo, minha dúvida foi sanada; é, sim, possível que alguém tenha soltado um cadáver enquanto sobrevoava com um parapente.Ainda há uma questão interessante. Na decolagem, com o peso de duas pessoas, é necessário que ambas corram para ganhar velocidade. Com um cadáver embrulhado no plástico, essa pessoa precisaria de ajuda para decolar. Então, se estou certo, quem voou com aquele corpo carbonizado