EmillyAcordo com uma sensação maravilhosa, feliz como não me sentia há muito tempo! Aspiro o perfume marcante e refrescante de Cristiano, impregnado no quarto, que é a prova de que, dessa vez não foi um sonho. Mas ao me virar, descubro que o outro lado da cama está vazio.— Cris — chamo e me sento, olho sobre a poltrona onde deixamos suas roupas na noite anterior, está vazia.Como ele não responde, imagino que foi embora. Não acredito! Experimento uma terrível decepção se espalhar em meu peito, mas não quero acreditar que saiu sem deixar nem ao menos um recado. Não pelo sexo delicioso, mas, pelo menos, pela conversa que fluiu entre nós. Ando pela casa enrolada no lençol em busca de algum bilhete, porém, não há nem sinal dele, nem nada.Engulo essa sensação ruim e infantil de abandono, me recusando a admitir o quanto estou aborrecida. Volto para o quarto, abro o armário em busca de roupas e decido tomar banho para ir ao sítio de Isaac. Combinei com Evans, talvez seja melhor assim.— I
CristianoNa primeira visita à rampa, descubro coisas extremamente significativas para endossar minha teoria. Segundas-feiras o lugar não funciona, a lanchonete e a loja ficam fechadas. O fato de que a investigação leva a crer que o homicídio aconteceu no começo da semana, torna possível que a desova tenha ocorrido na segunda-feira.Tinha dúvidas se alguém poderia lançar um corpo humano ao voar de parapente, sem que sofresse nenhum dano no voo devido à perda de peso, mas Michelle garantiu que essa é uma prática comum.— Às vezes um dos tripulantes do parapente salta com um paraquedas — conta.Logo, minha dúvida foi sanada; é, sim, possível que alguém tenha soltado um cadáver enquanto sobrevoava com um parapente.Ainda há uma questão interessante. Na decolagem, com o peso de duas pessoas, é necessário que ambas corram para ganhar velocidade. Com um cadáver embrulhado no plástico, essa pessoa precisaria de ajuda para decolar. Então, se estou certo, quem voou com aquele corpo carbonizado
EmillyDepois de perguntar pela décima vez se estou bem para dirigir, Evans insiste que eu prove não estar embriagada andando em linha reta. Dobrando uma perna sobre a outra, eu formo o quatro, me equilibrando numa perna só e, por fim, vira uma brincadeira em que gastamos alguns minutos rindo. Gláucia, uma das meninas que veio para o sítio e vai pegar carona comigo para voltar à cidade, aperta minha cintura dos dois lados, me empurrando para o carro.— Então, vamos, estou doida pra chegar em casa.Evans agarra minha mão e faz com que eu volte para o seu lado.— Espera aí sua louca — abre meu olho com o dedo, como se tivesse capacidade de examinar minha sobriedade depois dos drinks que ele mesmo ingeriu. Rindo, me afasto retirando sua mão.— Estou bem, já falei, que coisa. Estou bebendo água há três horas. — Abraço e beijo Evans e Isaac, antes de correr atrás de minha colega.— Não bebeu água! — Evans implica, mas sabe que só experimentei uma dose de vinho há mais de seis horas. Estou
CristianoNa noite passada, quando vi Emilly atravessando a rua, fui inundado por um mar de sensações. Primeiro fiquei surpreso, depois feliz, mas a felicidade foi esmagada na mesma proporção e tamanho quando passou por mim altiva e indiferente. Ela me cumprimentou como se fossemos meros conhecidos. Cheguei a pensar que estava chateada por eu ter saído sem deixar recado e até lhe daria razão se fosse este o caso. Mas enquanto ponderava se deveria me aproximar, outro cara se sentou com ela, então me dei conta de que precisava voltar para meu lugar.Foi apenas sexo, imbecil — repeti para mim mesmo.Ela não estava chateada, apenas virou a página como fez com o tal Virgílio, e eu sou adulto, preciso entender.Talvez eu mereça, geralmente sou eu quem age assim com as garotas com quem durmo. E estar aborrecido com a atitude dela é o que mais me incomoda. Como sempre fiz para fugir do que me chateia, foco no trabalho, e meu trabalho naquela noite era Michelle.A garota me deu muitas informaç
EmillyFiz tantas coisas hoje, falei com clientes, providenciei uma manutenção de máquina, reunião com os funcionários e uma faxina nas gavetas da minha mesa, que, diga-se de passagem, estava passando da hora. Enxoto um pensamento sobre Cristiano para debaixo do tapete imaginário e me irrito com isso.Meu estômago ronrona como de um gato, sinto fome e tenho certeza de que é ansiedade por diversas razões. Na cozinha encontro uma das garotas que trabalham no financeiro. Ela termina de beber o restante do suco que há em seu copo, e sorri ao me ver.— Oi, Emy — cumprimenta, lavando o copo.— Tudo bem, Wellen? — Abro o armário em busca de biscoitos.— Mais ou menos. O sistema está travado, não consigo abrir o cadastro dos clientes e quando tento lançar o código das máquinas, também trava e só destrava quando reinicio o computador.— Chamou o Clóvis?— Estou tentando ligar pra ele há dias, não recebe as mensagens no Whatsapp e o celular cai direto na caixa postal. Sabe se tem algum outro nú
CristianoAfonso me resume o que houve com Emilly e pede que eu tente descobrir quem a está seguindo. Por um segundo, penso em contar que teve algo entre nós, é o certo a fazer, mas... não consigo. Sei que ele vai me afastar do caso, e não é o que quero por várias razões. Não confio em mais ninguém além de mim mesmo. Por isso prefiro omitir esse fato.Seguimos em silêncio até o estacionamento e ela se volta para mim.— Vamos no seu carro ou no meu?— No meu, se não se importar.— Tudo bem. — Dá de ombro e espera que eu destrave o veículo. Depois que abro a porta, ela passa por mim exalando um delicioso perfume floral, a cada movimento de seus cabelos, o aroma me golpeia com força. Sei que posso ter sido mais um com quem ela transou e sou adulto para entender isso, mas, dessa vez, só dessa vez, eu me pergunto como seria ter algo mais com ela do que só uma noite de prazer. Depois que se acomoda, fecho a porta.A cabeça trabalha buscando qual a ligação dela com o caso que investigo, torç
EmillyEmbora eu esteja atordoada e morrendo de medo, a presença de Cristiano é exatamente o que eu preciso em um momento como esse. Transmite segurança e me acalma. Quando sai de perto, como quando desceu para a padaria, é como se me soltassem de um avião sem paraquedas. Essa é a sensação que eu tenho. Acho que não sou tão forte como pensei.Fico atenta às imagens, mas qualquer barulho me deixa nervosa. Como a porta, que é aberta abruptamente, batendo contra a parede e me assusta. Para meu alívio, é Evans entrando, desesperado.— O que aconteceu? Como assim o apartamento foi invadido? — Se aproxima com os braços estendidos e me levanto, abraçando-o apertado. Mandei uma mensagem quando voltamos da padaria, contando o que houve. Volto a me sentar:— Chegamos aqui, o banheiro tinha sido revirado, mas é... como se a pessoa soubesse onde o pen drive estava.E ele puxa uma cadeira para o meu lado.— Você disse para alguém onde o havia colocado?— Não cheguei a falar nem para o Afonso. Não
CristianoO mundo acabando ao meu redor e eu só consigo pensar em resolver tudo isso logo, solucionar o caso e acabar com essa investigação para poder me enterrar em Emilly. Está difícil raciocinar e sei que preciso me afastar do caso, mas não tenho forças para isso, nem coragem. Não consigo confiar que outra pessoa cuidará dela.Assim que Evans atende, pergunto incisivo.— Contou a alguém sobre o pen drive?— Não — responde imediatamente.— Nem ao prefeito?A pausa responde muita coisa, ele claramente hesita, por fim, responde pausadamente.— Bem... ele... é o pai dela e...— Não comente com mais ninguém, Evans, entendeu?— Tudo bem. Foi mal.Quando me viro, Emilly me olha e finalizo a conversa.— Me liga se souber de algo, ela vai viajar comigo, então não estará em casa.— Viajar pra onde?— Ainda não sei. Mas como não sabemos o que está acontecendo, te aconselho a ficar fora do apartamento por uns dias. — Não quero que ele saiba que suspeito dele.— Tudo bem, vou ficar no sítio com