EmillyFiz tantas coisas hoje, falei com clientes, providenciei uma manutenção de máquina, reunião com os funcionários e uma faxina nas gavetas da minha mesa, que, diga-se de passagem, estava passando da hora. Enxoto um pensamento sobre Cristiano para debaixo do tapete imaginário e me irrito com isso.Meu estômago ronrona como de um gato, sinto fome e tenho certeza de que é ansiedade por diversas razões. Na cozinha encontro uma das garotas que trabalham no financeiro. Ela termina de beber o restante do suco que há em seu copo, e sorri ao me ver.— Oi, Emy — cumprimenta, lavando o copo.— Tudo bem, Wellen? — Abro o armário em busca de biscoitos.— Mais ou menos. O sistema está travado, não consigo abrir o cadastro dos clientes e quando tento lançar o código das máquinas, também trava e só destrava quando reinicio o computador.— Chamou o Clóvis?— Estou tentando ligar pra ele há dias, não recebe as mensagens no Whatsapp e o celular cai direto na caixa postal. Sabe se tem algum outro nú
CristianoAfonso me resume o que houve com Emilly e pede que eu tente descobrir quem a está seguindo. Por um segundo, penso em contar que teve algo entre nós, é o certo a fazer, mas... não consigo. Sei que ele vai me afastar do caso, e não é o que quero por várias razões. Não confio em mais ninguém além de mim mesmo. Por isso prefiro omitir esse fato.Seguimos em silêncio até o estacionamento e ela se volta para mim.— Vamos no seu carro ou no meu?— No meu, se não se importar.— Tudo bem. — Dá de ombro e espera que eu destrave o veículo. Depois que abro a porta, ela passa por mim exalando um delicioso perfume floral, a cada movimento de seus cabelos, o aroma me golpeia com força. Sei que posso ter sido mais um com quem ela transou e sou adulto para entender isso, mas, dessa vez, só dessa vez, eu me pergunto como seria ter algo mais com ela do que só uma noite de prazer. Depois que se acomoda, fecho a porta.A cabeça trabalha buscando qual a ligação dela com o caso que investigo, torç
EmillyEmbora eu esteja atordoada e morrendo de medo, a presença de Cristiano é exatamente o que eu preciso em um momento como esse. Transmite segurança e me acalma. Quando sai de perto, como quando desceu para a padaria, é como se me soltassem de um avião sem paraquedas. Essa é a sensação que eu tenho. Acho que não sou tão forte como pensei.Fico atenta às imagens, mas qualquer barulho me deixa nervosa. Como a porta, que é aberta abruptamente, batendo contra a parede e me assusta. Para meu alívio, é Evans entrando, desesperado.— O que aconteceu? Como assim o apartamento foi invadido? — Se aproxima com os braços estendidos e me levanto, abraçando-o apertado. Mandei uma mensagem quando voltamos da padaria, contando o que houve. Volto a me sentar:— Chegamos aqui, o banheiro tinha sido revirado, mas é... como se a pessoa soubesse onde o pen drive estava.E ele puxa uma cadeira para o meu lado.— Você disse para alguém onde o havia colocado?— Não cheguei a falar nem para o Afonso. Não
CristianoO mundo acabando ao meu redor e eu só consigo pensar em resolver tudo isso logo, solucionar o caso e acabar com essa investigação para poder me enterrar em Emilly. Está difícil raciocinar e sei que preciso me afastar do caso, mas não tenho forças para isso, nem coragem. Não consigo confiar que outra pessoa cuidará dela.Assim que Evans atende, pergunto incisivo.— Contou a alguém sobre o pen drive?— Não — responde imediatamente.— Nem ao prefeito?A pausa responde muita coisa, ele claramente hesita, por fim, responde pausadamente.— Bem... ele... é o pai dela e...— Não comente com mais ninguém, Evans, entendeu?— Tudo bem. Foi mal.Quando me viro, Emilly me olha e finalizo a conversa.— Me liga se souber de algo, ela vai viajar comigo, então não estará em casa.— Viajar pra onde?— Ainda não sei. Mas como não sabemos o que está acontecendo, te aconselho a ficar fora do apartamento por uns dias. — Não quero que ele saiba que suspeito dele.— Tudo bem, vou ficar no sítio com
EmillyÉ aterrador o desejo que sinto, tanto que sufoca outras emoções. Chego a cogitar que, inconscientemente, eu me concentro em Cris para não pensar no resto. Não quero pensar em Margot, muito menos imaginar o que terá acontecido com ela e com Clóvis. Nem com o que teria acontecido se eu estivesse no apartamento quando foi invadido ou nos homens que vem me seguindo. Tudo isso é demais para mim.Cris disfarça seus olhares para o celular que está preso no suporte do painel, mas percebo que não para de trabalhar nem por um segundo. Deixa de me beijar para verificar uma mensagem e não esconde ser de Afonso, Vanessa ou outro colega do departamento.— Alguma notícia? — pergunto e ele assente.— Sim, sua amiga transferiu dez mil reais pra mãe, via pix, mil reais por dia.— O quê?!— Será o dinheiro das férias dela? — pergunta irônico e volta a ler a mensagem.Não faço ideia do que Margot está aprontando, e sem o pen drive, parece que estamos ainda mais longe de descobrir.Finalmente o trâ
CristianoEmilly se tranca no banheiro, e aproveito para trabalhar um pouco, pego o notebook e o abro sobre a cama para analisar os e-mails que enviaram, fotos, relatórios e mensagens diversas. Mas quando a porta se abre, o note parece grande demais para essa cama e o fecho arqueando a sobrancelha diante de uma visão extraordinária. Engulo o volume grande de saliva que se acumula em minha boca e sinto meu membro pulsar dentro da cueca. Ela está linda em uma camisola curta de seda prata. Um bordado faz a curva dos seios e uma das alças finas está caída no braço.Não existe problema no mundo capaz de me desviar a atenção do que vejo, muito menos que me broche diante desse corpo e sorriso arrebatadores.— Opa. — Deixo o notebook sobre a mesa de cabeceira e me levanto pronto para abraçá-la.Depois de se encaixar em meus braços e me dar um beijo úmido e quente, que dura vários minutos, Emilly confessa baixinho em meu ouvido, causando arrepios deliciosos.— Eu não sei o que vai acontecer am
EmillyEstou nauseada.Ao mesmo tempo em que me pergunto: Como alguém é capaz de fazer algo desse tipo? Admirada sobre como alguém pode jogar qualquer produto acelerante para queimar uma pessoa! Planejar uma desova e continuar vivendo depois de tudo! Algo aponta para mim mesma e lembro do passado angustiante com que venho lutando para esquecer por todos esses anos. Tento me convencer, mais uma vez, que a culpa não foi minha, como meu pai repetiu por tanto tempo.De qualquer forma, aquilo que vi lá dentro é diferente do que me aconteceu. É monstruoso! Coisas assim se repetem o tempo todo, estou tão alheia a isso, que entrar em um lugar como este me faz temer o mundo em que vivo. E, enquanto espero em um corredor gelado, cheirando a água sanitária, tremendo enquanto ando de um lado para o outro, tento espantar a imagem horrível de um cadáver todo queimado, imaginando como aquela pessoa sofreu até vir a óbito.O celular toca em minha mão e atendo a ligação do meu pai por reflexo.— Alô.
CristianoDa mesma forma que encontramos Margot facilmente, outras pessoas podem fazê-lo. Desconfio que a garota está chantageando alguém e por isso fugiu. Aquele dinheiro que transferiu para a mãe, parece pagamento recebido de extorsão.No corredor há quatro portas de madeira com a tinta azul descascada. A informação que tenho é de que Margot está hospedada no penúltimo quarto do corredor, número 40. Caminho lentamente até a porta cujo número quatro pende presa em um prego e só há uma marca que indica a antiga existência de um zero. Fico atento em volta, analisando possíveis entradas além do portão por onde passei. O muro ao meu lado direito não é tão alto, o corredor não é coberto, mas o acesso até ele é difícil, pois fica ao lado de um prédio bem fechado.Bato na porta e ouço um barulho, em seguida um silêncio absoluto.— Margot?— Não — responde alto e trinco os dentes.— Mandaram flores.— Quem?— Desculpa, moça. Sou só o entregador, e preciso que assine aqui.Ela silencia novame