No movimentado hospital particular no centro de Seattle, Megan Davis acabara de terminar mais uma cirurgia e voltava para seu escritório. O desânimo e o cansaço eram evidentes em sua expressão, mas, acima de tudo, o que mais pesava era ter que trabalhar com seu ex-namorado e a atual namorada dele.
Assim como Megan, Lucas era médico e trabalhava no mesmo hospital e, naquele dia, estavam no mesmo plantão. Ter que ver Lucas quase todos os dias e, em alguns momentos, acompanhado de sua nova namorada era, no mínimo, torturante. Ela parou seus passos quando o viu passar sorrindo, enquanto conversava com a namorada.
— Quando vai superar? Até parece que gosta de sofrer — falou Melinda, chamando a atenção de Megan.
— Acha mesmo que não quero superá-lo e seguir em frente, Linda? Isso é tudo o que eu mais quero, mas você sabe como esse término me deixou insegura. Você, melhor do que ninguém, sabe das palavras que ele usou quando terminou comigo — murmurou Megan, enquanto voltavam a caminhar.
— Palavras de um narcisista idiota — respondeu irritada, pois aquele assunto a tirava do sério. — Quem te conhece de verdade, sabe que você não é nada do que ele disse. Vamos falar sério, amiga. Você tem espelho em casa, então olhe-se nele mais vezes. Uma mulher linda, independente e que já superou inúmeras dificuldades nesta vida, vai se deixar abater por um idiota como o Lucas?
— Melinda, sabe que a insegurança faz parte da minha vida. O Lucas não foi o primeiro que me traiu, e você sabe disso. Isso me faz questionar se realmente tem algo de errado comigo.
— Você nem pense em continuar falando assim. Me escuta, Megan. Acho que você tem um dedo podre para homem, apenas isso, mas o problema não está com você. Se eles achavam que algo estava faltando, bastava somente terem conversado. Nada justifica a traição deles. Entenda que traição é uma escolha.
Megan sorriu para a amiga e a abraçou. Linda, como ela gostava de chamá-la, era sua amiga há muitos anos e sua confidente. Ela agradecia, por ainda ter uma amiga como ela, já que não tinha mais ninguém em sua vida.
— Obrigada, minha amiga. O que eu faria sem você do meu lado?
— Você estaria perdida — respondeu, arrancando um sorriso de Megan. — Quer saber? Hoje você não vai direto para casa como sempre faz, ficando sozinha pensando bobagens. Hoje é aniversário do meu namorado e quero que venha comigo. Quem sabe você não encontra um homem gostoso e com um… você sabe, bem grande, que faça você esquecer de vez aquele idiota.
— Você é impossível, Linda. Só você para me arrancar um sorriso. Eu não sei se devo ir. Não estou no clima. Posso acabar estragando a sua comemoração.
Megan tentou convencer Melinda que era melhor ir para casa, mas sua amiga não estava disposta a deixá-la continuar afundada em um poço de tristeza e desânimo. Já fazia três meses que Lucas havia terminado com ela, após Megan descobrir que ele estava traindo-a com outra médica do mesmo hospital, que agora era sua atual namorada. Megan, por inúmeras vezes, pensou em pedir transferência para outro hospital, mas, por insistência de Linda, ela acabou ficando.
No hospital, todos a conheciam e gostavam dela. Em outro lugar, isso poderia não ser igual. Megan sabia que o melhor era superar Lucas, e talvez sua amiga tivesse razão: ela precisava encontrar outra pessoa o mais rápido possível. O que ela mais queria era encontrar alguém que gostasse dela como ela era, e não alguém que tentasse mudar sua essência, como Lucas tentou fazer.
— Muito bem, eu vou com você, mas não garanto que vou ficar por muito tempo.
Melinda ficou feliz com a resposta da amiga, e combinaram de se encontrar na entrada do hospital, já que iriam no carro de Megan. Assim que se trocaram, as duas seguiram para a festa, e era visível o quanto Melinda estava animada. Megan olhava algumas vezes para a amiga e suspirava.
Megan não gostava do namorado de Linda e, por várias vezes, tentou alertar a amiga de que ele era violento, mas Melinda arrumava inúmeras justificativas para defender o que ele fazia. Ela era boa em dar conselhos, mas muitas vezes não os seguia.
A festa seria na casa do namorado de Melinda e, quando elas chegaram, a coisa já estava bem animada. As garotas pulavam de biquíni na piscina, a música tocava e todos pareciam se divertir.
— Sente-se ali que vou lá dentro buscar alguma coisa para você beber e não se preocupe, não vou trazer nada com álcool, eu sei que vai dirigir — avisou Melinda e foi em direção à casa, deixando Megan no jardim.
Megan olhou em volta e se sentiu completamente deslocada. O barulho e todas aquelas pessoas esbarrando nela não a deixavam à vontade ali. Ela conseguiu ficar em um canto menos movimentado e, enquanto esperava por sua amiga, viu algo que tirou um pouco do ânimo que Melinda conseguiu devolver a ela.
Lucas e sua namorada acabavam de chegar, e Megan suspirou frustrada. Não bastava que eles exibissem seu relacionamento na frente dela no hospital, mas agora teria que ver aquela cena fora dele também. Ela observou os dois e, às vezes, achava que era mesmo masoquista, pois, mesmo sabendo que aquilo iria machucá-la, ainda assim não desviava o olhar.
O momento em que Lucas segurou a cintura da médica e a beijou com uma paixão que parecia nunca ter existido quando estava com ela, foi o limite para que Megan decidisse que não ficaria naquele lugar. Ela saiu em direção à casa, decidida a se despedir de Linda e ir embora.
Ela não olhou mais na direção de Lucas e não viu que ele percebeu sua presença e a seguiu com os olhos, disfarçando para não ser pego por sua namorada. Ele disse que iria buscar algo para beberem e pediu que ela ficasse no jardim com os amigos, mas sua intenção era ir atrás de Megan. No hospital, ela conseguia escapar dele, mas naquela festa seria a oportunidade que ele tinha para falar com ela e ter certeza de que Megan não o havia esquecido.
Quando Megan se aproximou da cozinha, ouviu vozes alteradas. Uma delas era inconfundivelmente de Melinda. Reconhecendo a voz da amiga, Megan apressou-se na direção de onde parecia estar acontecendo uma discussão. Ao entrar na cozinha, deparou-se com Ivan e Melinda discutindo acaloradamente. Embora não prestasse atenção a todos os detalhes da conversa, ficou claro para ela que o motivo era ciúmes.De repente, Ivan empurrou Melinda, que bateu contra o balcão. Ao ver sua amiga ser agredida, Megan sentiu uma onda de coragem surgir de um lugar que nem sabia existir. Sem hesitar, ela interveio. Empurrou Ivan e ergueu a voz:— Que merda você pensa que está fazendo? Você não tem o direito de encostar nela! Você não é pai dela, Ivan, é só o maldito namorado!Megan não era do tipo que confrontava as pessoas, especialmente quando se tratava de si mesma. Mas, quando o assunto envolvia aqueles que amava, tudo mudava num piscar de olhos. Ela também não costumava xingar, mas naquele momento, aprovei
Megan chegou em casa, mas não conseguia tirar Melinda da cabeça. A preocupação com a amiga naquela festa, principalmente com o que Ivan pudesse fazer, a consumia. Assim que guardou as chaves, mandou uma mensagem para Melinda e decidiu que só ficaria tranquila quando obtivesse uma resposta.Enquanto esperava, sentiu o corpo tenso. Seus olhos vagaram até o pequeno bar da sala, e ela resolveu beber algo. Sentia que merecia; e precisava, daquilo. Escolheu um vinho, serviu-se e voltou ao sofá. Com o celular nas mãos, Megan olhava ao redor e, pela primeira vez em muito tempo, reconheceu sua solidão. Essa era sua rotina ultimamente: sair do hospital e voltar para casa. Sua vida parecia completamente desprovida de emoção; algo que Lucas fez questão de jogar em sua cara no término.Inquieta, levantou-se e se aproximou do espelho no aparador. Estudou seu reflexo. Era uma mulher morena, alta, com um e setenta, cabelos lisos e olhos castanhos. Sim, podia se considerar bonita, mas sabia que certos
Caio o tirou de seus pensamentos ao avisar que haviam chegado. Benjamin conferiu sua arma e a munição antes de descer do carro. Ele nunca saía desarmado, nem mesmo quando ia para a casa dela. Subiu os degraus e tocou a campainha. Tinha a chave do apartamento, mas, naquele momento, não estava com ela. Logo, a porta se abriu, revelando Harper, que o recebeu com um sorriso radiante.— Entre, eu estava te esperando — disse ela, dando espaço para que ele passasse.Harper era uma mulher loira, de um metro e sessenta, dona de olhos verdes que pareciam hipnotizar. Aos olhos de todos, era linda e irresistível, capaz de atrair olhares por onde passava. Benjamin deslizou a mão para sua cintura, puxando-a para mais perto, e murmurou com um sorriso provocativo:— Achei que fosse me esperar vestida com aquela lingerie da foto que me mandou.Ela arqueou uma sobrancelha, os lábios curvando-se em um sorriso malicioso.— Pensei que fosse melhor esperar você sem ela.O tom sensual de sua voz fez o corpo
Megan mal podia esperar para trocar de roupa e voltar para casa. Seu turno havia terminado, e tudo o que desejava era um banho relaxante. Após se despedir de Linda, dirigiu-se ao vestiário para trocar de roupa. Em seguida, voltou ao escritório para pegar seus pertences antes de sair. Já passava da meia-noite, e ela havia realizado várias cirurgias ao longo do dia. Enquanto caminhava em direção à recepção, algo chamou sua atenção: uma movimentação estranha.Gritos ecoaram pelo local, e Megan percebeu que homens armados haviam invadido o hospital, trazendo consigo três homens baleados. Um deles apontou uma arma para Linda e exigiu saber onde estava o médico. Megan sentiu o peso da situação: sua tranquila noite havia sido destruída.— Eu sou médica — declarou, atraindo a atenção dos invasores e afastando-os de sua amiga. Apesar da apreensão, sabia que não podia demonstrar medo.Linda lançou lhe um olhar preocupado, mas Megan manteve a calma e aproximou-se dos feridos. Os homens armados e
Enzo se aproximou um pouco mais de Megan. Passou por trás dela e sussurrou próximo ao seu ouvido, fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo, mas foi o medo que causou aquela reação. — Bom, doutora, se você está dizendo, vou considerar isso uma fatalidade. — Ele se virou para os seus homens e ordenou: — Podem soltá-la. Vamos sair daqui. Megan viu o alívio tomar conta dos rostos de Cibele e Lucas, mas só se sentiria tranquila quando todos aqueles homens tivessem deixado o hospital. Foi então que ela percebeu Enzo se aproximando novamente, ficando de frente para ela. — Já estamos de saída. Sinto muito por estragar seu plantão, mas eu não podia esperar ser atendido em outro lugar. Caso contrário, acabaria como o meu homem, que morreu. Meu nome é Enzo Duncan. Talvez você já tenha ouvido meu sobrenome. E o seu, doutora? Megan engoliu em seco ao ouvir a pergunta. Ela não queria, de forma alguma, que ele soubesse seu nome, mas também não sabia se seria prudente mentir. — Meu nome
Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosa
Megan sentiu o coração acelerar ao vê-lo desmaiado. Com mãos trêmulas, alcançou o aparelho de pressão e verificou seu estado. A pressão de Benjamim havia despencado, e ela precisava agir rápido. Ele não podia morrer ali, não em sua casa. Isso era algo que ela jamais permitiria.— Nem pense em morrer aqui. Você vai sair daqui vivo — murmurou, mesmo sabendo que ele não podia ouvi-la.O suor escorria por seu rosto, misturando-se à tensão que dominava o ambiente. Sem os equipamentos adequados, cada movimento parecia um desafio monumental. Megan limpou a ferida mais uma vez e começou a suturá-la. Em todos os seus anos de medicina, nunca havia sentido tanto medo de perder um paciente. Ele havia sido claro sobre quem era, e o nome que mencionou ecoava em sua mente, inconfundível.Ela não queria se envolver com pessoas perigosas, mas parecia que o destino tinha outros planos. O passado de sua família com mafiosos já havia trazido desgraça suficiente, e agora, ali estava ela, lutando para salv
Alguns quilômetros de onde Megan enfrentava seu dilema, Enzo foi levado para uma clínica de confiança, a mesma onde Harper havia sido atendida. Enquanto aguardava notícias sobre a garota, ele dava novas ordens aos seus homens.— Encontrem aquele bastardo. Descubram em qual hospital ele está ou em qual viela ele morreu. Só o encontrem, droga! Se ele estiver vivo, deve estar fraco, perdeu muito sangue. Será mais fácil terminar o serviço.As ordens de Enzo eram claras e diretas. Ele estava determinado a descobrir o que havia acontecido depois que Benjamim saiu do apartamento. Aquela pergunta ecoaria em sua mente até que ele obtivesse uma resposta.Enzo queria, a todo custo, provar ao pai que era capaz de cuidar dos negócios. Essa tarefa precisava ser concluída rapidamente e com sucesso. Ele tocou o ombro ferido pela bala, sentindo a dor misturada ao ódio que nutria por Benjamim. No entanto, enquanto fazia o tratamento, a lembrança de Megan invadiu seus pensamentos. Um sorriso de canto su