Quando Megan se aproximou da cozinha, ouviu vozes alteradas. Uma delas era inconfundivelmente de Melinda. Reconhecendo a voz da amiga, Megan apressou-se na direção de onde parecia estar acontecendo uma discussão. Ao entrar na cozinha, deparou-se com Ivan e Melinda discutindo acaloradamente. Embora não prestasse atenção a todos os detalhes da conversa, ficou claro para ela que o motivo era ciúmes.
De repente, Ivan empurrou Melinda, que bateu contra o balcão. Ao ver sua amiga ser agredida, Megan sentiu uma onda de coragem surgir de um lugar que nem sabia existir. Sem hesitar, ela interveio. Empurrou Ivan e ergueu a voz:
— Que merda você pensa que está fazendo? Você não tem o direito de encostar nela! Você não é pai dela, Ivan, é só o maldito namorado!
Megan não era do tipo que confrontava as pessoas, especialmente quando se tratava de si mesma. Mas, quando o assunto envolvia aqueles que amava, tudo mudava num piscar de olhos. Ela também não costumava xingar, mas naquele momento, aproveitou para liberar todo o estresse acumulado.
— Não se mete, Megan. Isso é entre mim e a Melinda — retrucou Ivan, sério, encarando-a após o empurrão que levou.
— Não me meter? Você acha mesmo que vou ficar parada vendo você agredir e maltratar ela?
Ivan deu um passo em direção a Megan, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, Lucas entrou na cozinha. Ele se colocou entre os dois, protegendo Megan.
— Qual é, cara? Se acalma! Vai enfrentar mulher agora? — Lucas o desafiou, enquanto Megan arqueava a sobrancelha, observando a cena.
Primeiro, ela não fazia ideia do que ele estava fazendo ali. Segundo, nunca ele a havia defendido daquela forma. Megan se virou para Melinda, que parecia paralisada, em choque com toda a situação. Com um olhar sério, ela falou diretamente para a amiga:
— Você não precisa passar por isso, sabe disso. Melinda, isso não é amor. Não esqueça disso.
Ela lançou um último olhar de reprovação para Ivan, que ainda a encarava com raiva, antes de continuar:
— Vem comigo. Te deixo em casa ou, se preferir, você pode ir para a minha.
— Pode ir, amiga. Eu vou ficar. Preciso resolver isso de uma vez por todas — respondeu Melinda, forçando um sorriso enquanto uma lágrima solitária escorria por seu rosto.
— Tem certeza? — Megan insistiu, lançando mais um olhar desconfiado para Ivan. Ela precisava se certificar de que a amiga ficaria bem.
— Tenho, sim. Não se preocupe. Amanhã falo com você — disse Melinda, beijando o rosto de Megan antes de se afastar.
Relutante, Megan se virou e deixou a cozinha, mas a preocupação com a amiga pesava em seu peito. Ela sabia como era aquela relação e isso a deixava inquieta. Enquanto caminhava em direção à sala para sair dali, Lucas a seguiu e segurou seu braço, forçando-a a parar e encará-lo. Megan, ainda tomada pela irritação, não escondeu sua indignação.
— O que você quer, Lucas? — perguntou, puxando o braço com força.
A paciência de Megan já havia se esgotado. Depois do que presenciou na cozinha, ela não queria, nem tinha disposição, para conversar com ele, especialmente naquele estado de espírito.
— Nós não nos falamos mais. Só queria saber se você está bem. Você está linda e me impressionou como agiu lá dentro. Era essa a Megan que eu sempre quis ver.
Megan separou os lábios, levantando as sobrancelhas, incrédula. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Era dessa forma que ele a queria? Como uma condição para ficarem juntos? Essa pergunta ecoou em sua mente. Megan ainda estava processando tudo o que havia acontecido momentos atrás. Ela poderia ter se machucado, mas, em vez de alertá-la ou demonstrar preocupação, ele parecia incentivar sua atitude impulsiva.
Ela abriu a boca para dar uma resposta à altura, mas foi interrompida por uma voz feminina que ecoou do outro lado do corredor:
— Algum problema por aqui? — perguntou a mulher, parada com os braços cruzados.
— Nenhum. Eu já estava de saída. Boa noite para vocês dois — respondeu Megan, passando pela mulher sem sequer olhar direito em sua direção.
Assim que Megan saiu, a namorada de Lucas, Cibele, permaneceu no corredor, claramente desconfiada. Ela continuou com os braços cruzados e encarou Lucas, exigindo respostas:
— Agora vai me dizer o que vocês estavam fazendo aqui, juntos?
— Não exagera, Cibele. A forma como você está falando faz parecer que estávamos fazendo algo errado.
— E não estavam? Ela é sua ex, Lucas. Você some do meu lado e te encontro aqui com ela! O que você quer que eu pense? — questionou Cibele, com a voz carregada de ciúmes.
— Exatamente, ela é minha ex. Você é minha namorada agora. A Melinda e o Ivan estavam enfrentando problemas, só isso. Somos todos amigos, estávamos apenas tentando ajudar, nada mais — respondeu Lucas, tentando se justificar com calma. Ele se aproximou dela e, suavemente, a beijou antes de continuar: — Não precisa disso, eu gosto de você e de mais ninguém.
Falando de forma carinhosa, Lucas conseguiu acalmar a tempestade momentânea de Cibele. Ele a envolveu em um abraço e os dois seguiram juntos em direção ao jardim, onde a festa continuava. Porém, Lucas sabia que, mesmo parecendo mais tranquila, ela não deixaria essa história ser esquecida tão facilmente. Ele teria que se comportar durante o resto da noite.
Enquanto isso, na cozinha, Melinda e Ivan ficaram sozinhos, e a discussão entre eles não demorou a recomeçar.
— Viu a cena ridícula que você fez na frente dos nossos amigos? — acusou Ivan, com frieza.
— Cena ridícula? Eu te vi quase beijando outra pessoa aqui na cozinha, e você ainda chama isso de cena? — respondeu Melinda, a voz embargada e os olhos marejados.
— Você está exagerando! Eu não estava quase beijando ninguém. Além disso, eu já te avisei como eu sou, Melinda. Você me aceitou assim, então agora não vem reclamar — justificou Ivan, irritado, enquanto se virava para pegar o bolo.
— Vamos cantar logo esse parabéns. Para mim, essa festa já deu. Você, como sempre, conseguiu estragar tudo — completou Ivan, colocando a culpa em Melinda mais uma vez.
Ivan saiu da cozinha carregando o bolo, enquanto Melinda respirava fundo, tentando se recompor. Poucos segundos depois, ela o seguiu. Esbanjou o mesmo sorriso de sempre, aquele sorriso de fachada que escondia o que realmente sentia. Era o que Melinda fazia de melhor: fingir que estava tudo bem, mesmo quando estava longe disso.
Já Megan, ao sair da casa, foi direto para o carro. A raiva fervilhava em suas veias, e, assim que entrou, descarregou sua frustração batendo algumas vezes no volante. Queria aliviar a indignação e a vontade de socar Lucas e Ivan, dois idiotas que, não por coincidência, eram tão próximos.
Enquanto dirigia, sua mente fervilhava com perguntas sem respostas. O que, afinal, passava pela cabeça de Lucas para agir daquela forma? Ele a tinha traído com Cibele, justificando que ela era o tipo de mulher que precisava ao lado dele. Então, por que agora estava tentando se reaproximar?
Essas questões continuavam a martelar em sua cabeça, mas ela sabia que não encontraria respostas naquele momento. Era melhor focar no trânsito, antes que sua mente distraída acabasse provocando um acidente, ou, pior, atropelando alguém.
Megan chegou em casa, mas não conseguia tirar Melinda da cabeça. A preocupação com a amiga naquela festa, principalmente com o que Ivan pudesse fazer, a consumia. Assim que guardou as chaves, mandou uma mensagem para Melinda e decidiu que só ficaria tranquila quando obtivesse uma resposta.Enquanto esperava, sentiu o corpo tenso. Seus olhos vagaram até o pequeno bar da sala, e ela resolveu beber algo. Sentia que merecia; e precisava, daquilo. Escolheu um vinho, serviu-se e voltou ao sofá. Com o celular nas mãos, Megan olhava ao redor e, pela primeira vez em muito tempo, reconheceu sua solidão. Essa era sua rotina ultimamente: sair do hospital e voltar para casa. Sua vida parecia completamente desprovida de emoção; algo que Lucas fez questão de jogar em sua cara no término.Inquieta, levantou-se e se aproximou do espelho no aparador. Estudou seu reflexo. Era uma mulher morena, alta, com um e setenta, cabelos lisos e olhos castanhos. Sim, podia se considerar bonita, mas sabia que certos
Caio o tirou de seus pensamentos ao avisar que haviam chegado. Benjamin conferiu sua arma e a munição antes de descer do carro. Ele nunca saía desarmado, nem mesmo quando ia para a casa dela. Subiu os degraus e tocou a campainha. Tinha a chave do apartamento, mas, naquele momento, não estava com ela. Logo, a porta se abriu, revelando Harper, que o recebeu com um sorriso radiante.— Entre, eu estava te esperando — disse ela, dando espaço para que ele passasse.Harper era uma mulher loira, de um metro e sessenta, dona de olhos verdes que pareciam hipnotizar. Aos olhos de todos, era linda e irresistível, capaz de atrair olhares por onde passava. Benjamin deslizou a mão para sua cintura, puxando-a para mais perto, e murmurou com um sorriso provocativo:— Achei que fosse me esperar vestida com aquela lingerie da foto que me mandou.Ela arqueou uma sobrancelha, os lábios curvando-se em um sorriso malicioso.— Pensei que fosse melhor esperar você sem ela.O tom sensual de sua voz fez o corpo
Megan mal podia esperar para trocar de roupa e voltar para casa. Seu turno havia terminado, e tudo o que desejava era um banho relaxante. Após se despedir de Linda, dirigiu-se ao vestiário para trocar de roupa. Em seguida, voltou ao escritório para pegar seus pertences antes de sair. Já passava da meia-noite, e ela havia realizado várias cirurgias ao longo do dia. Enquanto caminhava em direção à recepção, algo chamou sua atenção: uma movimentação estranha.Gritos ecoaram pelo local, e Megan percebeu que homens armados haviam invadido o hospital, trazendo consigo três homens baleados. Um deles apontou uma arma para Linda e exigiu saber onde estava o médico. Megan sentiu o peso da situação: sua tranquila noite havia sido destruída.— Eu sou médica — declarou, atraindo a atenção dos invasores e afastando-os de sua amiga. Apesar da apreensão, sabia que não podia demonstrar medo.Linda lançou lhe um olhar preocupado, mas Megan manteve a calma e aproximou-se dos feridos. Os homens armados e
Enzo se aproximou um pouco mais de Megan. Passou por trás dela e sussurrou próximo ao seu ouvido, fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo, mas foi o medo que causou aquela reação. — Bom, doutora, se você está dizendo, vou considerar isso uma fatalidade. — Ele se virou para os seus homens e ordenou: — Podem soltá-la. Vamos sair daqui. Megan viu o alívio tomar conta dos rostos de Cibele e Lucas, mas só se sentiria tranquila quando todos aqueles homens tivessem deixado o hospital. Foi então que ela percebeu Enzo se aproximando novamente, ficando de frente para ela. — Já estamos de saída. Sinto muito por estragar seu plantão, mas eu não podia esperar ser atendido em outro lugar. Caso contrário, acabaria como o meu homem, que morreu. Meu nome é Enzo Duncan. Talvez você já tenha ouvido meu sobrenome. E o seu, doutora? Megan engoliu em seco ao ouvir a pergunta. Ela não queria, de forma alguma, que ele soubesse seu nome, mas também não sabia se seria prudente mentir. — Meu nome
Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosa
Megan sentiu o coração acelerar ao vê-lo desmaiado. Com mãos trêmulas, alcançou o aparelho de pressão e verificou seu estado. A pressão de Benjamim havia despencado, e ela precisava agir rápido. Ele não podia morrer ali, não em sua casa. Isso era algo que ela jamais permitiria.— Nem pense em morrer aqui. Você vai sair daqui vivo — murmurou, mesmo sabendo que ele não podia ouvi-la.O suor escorria por seu rosto, misturando-se à tensão que dominava o ambiente. Sem os equipamentos adequados, cada movimento parecia um desafio monumental. Megan limpou a ferida mais uma vez e começou a suturá-la. Em todos os seus anos de medicina, nunca havia sentido tanto medo de perder um paciente. Ele havia sido claro sobre quem era, e o nome que mencionou ecoava em sua mente, inconfundível.Ela não queria se envolver com pessoas perigosas, mas parecia que o destino tinha outros planos. O passado de sua família com mafiosos já havia trazido desgraça suficiente, e agora, ali estava ela, lutando para salv
Alguns quilômetros de onde Megan enfrentava seu dilema, Enzo foi levado para uma clínica de confiança, a mesma onde Harper havia sido atendida. Enquanto aguardava notícias sobre a garota, ele dava novas ordens aos seus homens.— Encontrem aquele bastardo. Descubram em qual hospital ele está ou em qual viela ele morreu. Só o encontrem, droga! Se ele estiver vivo, deve estar fraco, perdeu muito sangue. Será mais fácil terminar o serviço.As ordens de Enzo eram claras e diretas. Ele estava determinado a descobrir o que havia acontecido depois que Benjamim saiu do apartamento. Aquela pergunta ecoaria em sua mente até que ele obtivesse uma resposta.Enzo queria, a todo custo, provar ao pai que era capaz de cuidar dos negócios. Essa tarefa precisava ser concluída rapidamente e com sucesso. Ele tocou o ombro ferido pela bala, sentindo a dor misturada ao ódio que nutria por Benjamim. No entanto, enquanto fazia o tratamento, a lembrança de Megan invadiu seus pensamentos. Um sorriso de canto su
Megan ainda parecia desacreditada com tudo que estava acontecendo e com o problema no qual havia se metido. Era pedir demais continuar vivendo sua vida pacata? — Preciso levá-lo agora. Quanto mais eu demorar para buscar tratamento, maior será o risco. Posso pedir que mais dois homens que estão lá fora entrem? — ele pediu, respeitoso, já que a casa era dela. Incapaz de responder com palavras, Megan apenas fez um leve gesto com a cabeça, concedendo sua permissão. Caio dirigiu-se à porta e sinalizou para que dois homens entrassem. Assim que chegaram, ele foi direto: — Benjamim está no sofá e está ferido. Peguem-no com cuidado e levem para o carro. Eu vou em seguida. Os dois homens obedeceram sem hesitação e carregaram Benjamim cuidadosamente para fora. Assim que eles saíram, Megan pareceu recobrar a lucidez e se aproximou de Caio.— Aqui está o celular dele. Caio pegou o aparelho, lançou um olhar para Megan, que ainda parecia assustada, agradeceu e reforçou o pedido: — Obrigado por