Megan mal podia esperar para trocar de roupa e voltar para casa. Seu turno havia terminado, e tudo o que desejava era um banho relaxante. Após se despedir de Linda, dirigiu-se ao vestiário para trocar de roupa. Em seguida, voltou ao escritório para pegar seus pertences antes de sair. Já passava da meia-noite, e ela havia realizado várias cirurgias ao longo do dia. Enquanto caminhava em direção à recepção, algo chamou sua atenção: uma movimentação estranha.
Gritos ecoaram pelo local, e Megan percebeu que homens armados haviam invadido o hospital, trazendo consigo três homens baleados. Um deles apontou uma arma para Linda e exigiu saber onde estava o médico. Megan sentiu o peso da situação: sua tranquila noite havia sido destruída.
— Eu sou médica — declarou, atraindo a atenção dos invasores e afastando-os de sua amiga. Apesar da apreensão, sabia que não podia demonstrar medo.
Linda lançou lhe um olhar preocupado, mas Megan manteve a calma e aproximou-se dos feridos. Os homens armados estavam visivelmente nervosos, e ela sabia que qualquer movimento em falso poderia ser fatal.
Um dos invasores aproximou-se, apontando a arma diretamente para Megan, e ordenou que salvasse a vida do homem à sua frente. Megan respirou fundo, lutando para manter a compostura. O líder do grupo exigiu que outros médicos fossem chamados. Nesse momento, Lucas e sua e sua namorada apareceram na recepção, atraídos pelo barulho, apenas para terem com armas apontadas para suas cabeças.
Megan não queria falar com aqueles dois, mas sabia que não tinha escolha. Respirou fundo antes de tomar a decisão que poderia salvar vidas.
— Cuidem desses dois pacientes, que eu vou atender a este — instruiu, apontando para Lucas e seu namorado. Em seguida, virou-se para o homem armado que estava à sua frente. — Levem os outros dois para onde os médicos indicarem, e você venha comigo.
Sem esperar qualquer protesto, Megan começou a caminhar em direção à sala de emergência, sentindo os passos pesados do homem a seguindo de perto. Cada segundo parecia durar uma eternidade enquanto ela tentava desesperadamente bolar um plano que garantisse a segurança de todos ali. Assim que chegou à sala de emergência, foi direto ao ponto.
— Coloque-o na maca — ordenou, pegando rapidamente um par de luvas e máscara para iniciar o exame do ferido.
Outros dois homens armados estavam posicionados na sala, com os olhos fixos nela. A tensão era palpável, mas Megan manteve a compostura. Ela abriu a camisa do paciente com precisão, expondo um corpo jovem coberto de tatuagens. O homem gemia de dor, claramente consciente e sofrendo.
— A bala não atravessou. Vou precisar removê-la — explicou Megan, com voz firme. — Seria melhor levá-lo para a sala de cirurgia.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, o paciente a encarou de uma maneira peculiar, os olhos se enchendo de algo que Megan não conseguiu decifrar imediatamente. E, de repente, ele respondeu:
— Doutora, não vai me deixar inconsciente. Apenas tire essa droga de bala do meu ombro aqui mesmo. Não é a primeira vez, eu aguento.
Megan ficou surpresa com a determinação do homem. Era difícil acreditar que alguém pudesse ser tão corajoso; ou talvez imprudente, a ponto de enfrentar um procedimento tão doloroso sem anestesia.
— Isso vai doer muito. — Tentou alertá-lo, ainda na esperança de convencê-lo. — Posso dar uma anestesia local.
O homem armado que estava próximo deu um passo à frente, sua presença se tornando ainda mais ameaçadora. Ele se inclinou, falando com firmeza e em tom baixo, quase sussurrando ao ouvido de Megan:
— Não podemos correr o risco de alguém nos procurar e ele estar inconsciente. Você não tem ideia de quem está à sua frente, doutora. Apenas faça o seu trabalho, retire a bala e não se atreva a deixá-lo morrer.
Megan sentiu o peso da ameaça, mas manteve a calma. Ela havia jurado salvar vidas, e isso incluía a de um criminoso. Afinal, ainda era uma vida. Pegou uma toalha e a entregou ao paciente.
— Morda isto quando a dor se tornar intensa — disse, com um tom firme, mas controlado.
Com movimentos rápidos e precisos, Megan reuniu os instrumentos necessários. Cortou a camisa do homem, expondo a ferida, e começou a limpá-la cuidadosamente. A bala estava alojada no ombro direito, mas, felizmente, não havia atingido nenhuma área vital. Ela pegou a pinça e, com toda a concentração, iniciou o delicado processo de remoção do projétil, ciente de que cada segundo era crucial.
— Segure-o para não atrapalhar o procedimento — ordenou Megan ao brutamontes que havia trazido o paciente.
Com mãos firmes e precisas, Megan continuou o procedimento por alguns minutos até finalmente extrair a bala. Ela realizou todos os cuidados necessários, limpando a ferida e explicando como os curativos deveriam ser feitos. O homem na maca, com a ajuda de seu subordinado, sentou-se lentamente, ainda visivelmente abalado pela dor. Ele ergueu uma mão e tocou o rosto de Megan, surpreendendo-a.
— Não vou esquecer o que fez hoje, doutora, e não vou esquecer esse rosto bonito.
Apesar do sorriso de canto que o homem esboçou, a dor ainda era evidente em sua expressão. Com a ajuda de seu subordinado, ele se levantou, perguntou onde estavam os outros dois homens baleados e saiu da sala, deixando Megan paralisada.
Por um momento, Megan permaneceu imóvel, tentando processar o que acabara de acontecer. Sentia um misto de alívio por ter salvado uma vida e de medo pelas implicações das palavras que ouviu. “Por favor, esqueça. Não precisa se lembrar do meu rosto”, pensou Megan, enquanto o peso da situação ainda pairava sobre ela.
Megan retirou as luvas e a máscara, tentando controlar os batimentos cardíacos acelerados pela adrenalina. Ela não sabia o que estava acontecendo na outra sala, e a preocupação com os outros ocupantes do hospital a consumia. Embora relutasse em admitir, sua maior ansiedade recaía sobre Lucas.
Decidida, saiu da sala e seguiu na direção das vozes que ecoavam pelo corredor. Assim que chegou, percebeu o tumulto: o homem que antes apontava uma arma para ela agora segurava a namorada de Lucas pelo colarinho, enquanto Lucas tentava intervir. No entanto, um dos outros homens armados o empurrou brutalmente, afastando-o.
Megan observou a cena, seu olhar rapidamente analisando a situação. Respirou fundo e, com um tom controlado, disse:
— Seu amigo perdeu muito sangue. Pelo estado das roupas dele, imagino que não tenha sido apenas uma bala. Se atingiu algum órgão vital, seria difícil salvá-lo.
A frase fez com que o homem armado desviasse sua atenção para Megan. O líder, que havia sido atendido por ela há pouco, virou-se e aproximou-se lentamente, com uma expressão indecifrável.
— Você confia nas habilidades dela, doutora? — perguntou o criminoso, sua voz carregada de desconfiança, enquanto lançava um olhar cortante para a mulher que ainda era segurada com força.
Megan sentiu uma inesperada satisfação ao ver Cibele sendo intimidada. No entanto, ela sabia que não podia deixar a situação escalar para algo ainda mais perigoso. Estava consciente de que aqueles homens não hesitariam em matá-la ali mesmo, e ela não queria ser responsável por uma tragédia. Com um breve olhar para Lucas, que parecia aflito, Megan tomou sua decisão.
— Sim, confio. — Sua voz foi firme, carregada de uma confiança que ela mesma não sabia possuir.
O criminoso à sua frente manteve seu olhar fixo em Megan por um instante que pareceu uma eternidade. Então, um sorriso lento e enigmático surgiu em seus lábios, um gesto que parecia misturar aprovação e ameaça.
Enzo se aproximou um pouco mais de Megan. Passou por trás dela e sussurrou próximo ao seu ouvido, fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo, mas foi o medo que causou aquela reação. — Bom, doutora, se você está dizendo, vou considerar isso uma fatalidade. — Ele se virou para os seus homens e ordenou: — Podem soltá-la. Vamos sair daqui. Megan viu o alívio tomar conta dos rostos de Cibele e Lucas, mas só se sentiria tranquila quando todos aqueles homens tivessem deixado o hospital. Foi então que ela percebeu Enzo se aproximando novamente, ficando de frente para ela. — Já estamos de saída. Sinto muito por estragar seu plantão, mas eu não podia esperar ser atendido em outro lugar. Caso contrário, acabaria como o meu homem, que morreu. Meu nome é Enzo Duncan. Talvez você já tenha ouvido meu sobrenome. E o seu, doutora? Megan engoliu em seco ao ouvir a pergunta. Ela não queria, de forma alguma, que ele soubesse seu nome, mas também não sabia se seria prudente mentir. — Meu nome
Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosa
Megan sentiu o coração acelerar ao vê-lo desmaiado. Com mãos trêmulas, alcançou o aparelho de pressão e verificou seu estado. A pressão de Benjamim havia despencado, e ela precisava agir rápido. Ele não podia morrer ali, não em sua casa. Isso era algo que ela jamais permitiria.— Nem pense em morrer aqui. Você vai sair daqui vivo — murmurou, mesmo sabendo que ele não podia ouvi-la.O suor escorria por seu rosto, misturando-se à tensão que dominava o ambiente. Sem os equipamentos adequados, cada movimento parecia um desafio monumental. Megan limpou a ferida mais uma vez e começou a suturá-la. Em todos os seus anos de medicina, nunca havia sentido tanto medo de perder um paciente. Ele havia sido claro sobre quem era, e o nome que mencionou ecoava em sua mente, inconfundível.Ela não queria se envolver com pessoas perigosas, mas parecia que o destino tinha outros planos. O passado de sua família com mafiosos já havia trazido desgraça suficiente, e agora, ali estava ela, lutando para salv
Alguns quilômetros de onde Megan enfrentava seu dilema, Enzo foi levado para uma clínica de confiança, a mesma onde Harper havia sido atendida. Enquanto aguardava notícias sobre a garota, ele dava novas ordens aos seus homens.— Encontrem aquele bastardo. Descubram em qual hospital ele está ou em qual viela ele morreu. Só o encontrem, droga! Se ele estiver vivo, deve estar fraco, perdeu muito sangue. Será mais fácil terminar o serviço.As ordens de Enzo eram claras e diretas. Ele estava determinado a descobrir o que havia acontecido depois que Benjamim saiu do apartamento. Aquela pergunta ecoaria em sua mente até que ele obtivesse uma resposta.Enzo queria, a todo custo, provar ao pai que era capaz de cuidar dos negócios. Essa tarefa precisava ser concluída rapidamente e com sucesso. Ele tocou o ombro ferido pela bala, sentindo a dor misturada ao ódio que nutria por Benjamim. No entanto, enquanto fazia o tratamento, a lembrança de Megan invadiu seus pensamentos. Um sorriso de canto su
Megan ainda parecia desacreditada com tudo que estava acontecendo e com o problema no qual havia se metido. Era pedir demais continuar vivendo sua vida pacata? — Preciso levá-lo agora. Quanto mais eu demorar para buscar tratamento, maior será o risco. Posso pedir que mais dois homens que estão lá fora entrem? — ele pediu, respeitoso, já que a casa era dela. Incapaz de responder com palavras, Megan apenas fez um leve gesto com a cabeça, concedendo sua permissão. Caio dirigiu-se à porta e sinalizou para que dois homens entrassem. Assim que chegaram, ele foi direto: — Benjamim está no sofá e está ferido. Peguem-no com cuidado e levem para o carro. Eu vou em seguida. Os dois homens obedeceram sem hesitação e carregaram Benjamim cuidadosamente para fora. Assim que eles saíram, Megan pareceu recobrar a lucidez e se aproximou de Caio.— Aqui está o celular dele. Caio pegou o aparelho, lançou um olhar para Megan, que ainda parecia assustada, agradeceu e reforçou o pedido: — Obrigado por
Andrew se aproximou de Caio, cruzando os braços enquanto fazia a pergunta que ele já esperava. — Já vimos que meu irmão está bem. Agora, explique como isso aconteceu. Caio respirou fundo, o incômodo evidente em sua voz enquanto tentava se justificar: — Eu não estava com ele no momento. Deixei-o no apartamento da Harper. Ele disse que teriam um encontro para comemorar o aniversário deles. — A culpa parecia pesar em cada palavra. Andrew estreitou o olhar, a irritação transparecendo: — Ele sabe que tem inimigos e insiste em sair sozinho. — Seu irmão é bom com armas e com os punhos, você sabe disso. — Caio manteve a firmeza enquanto levantava suas suspeitas. — Mas acredito que ele caiu em uma armadilha. Para capturá-lo dessa forma, só se ele estivesse com a guarda baixa. E, se estava com Harper, como já aconteceu antes, é compreensível que baixasse a guarda. Caio não confiava em Harper. Ele nunca gostou dela. Já a flagrara sendo rude com os funcionários, embora mudasse completament
Megan acordou bem depois do meio-dia, ainda sentindo o peso do cansaço. Talvez todas as mudanças recentes em sua rotina tivessem drenado suas energias. Depois de um banho, decidiu comer fora. Precisava respirar um pouco de ar fresco e se afastar de tudo. Sempre que passava pela sala, a imagem de Benjamim deitado no sofá a assombrava. Megan queria apagar de sua memória a experiência no hospital, assim como aquele cenário familiar que agora parecia estranho.Enquanto se organizava para sair, ela não fazia ideia de que os dois lados da confusão em que se envolvera estavam focados no mesmo objetivo: descobrir sua verdadeira identidade. Se ao menos suspeitasse disso, estaria em pânico naquele momento.Antes de sair, Megan inspecionou cuidadosamente o visor do interfone e as câmeras externas para se certificar de que não havia ninguém à espreita. Com o coração ainda acelerado, trancou as portas, entrou no carro e abriu o portão. Partiu rumo à avenida, sem notar a moto estacionada próximo à
Benjamim despertou lentamente, piscando para ajustar a visão enquanto analisava o ambiente ao seu redor. Ele se lembrava de estar na casa da mulher que o ajudou, mas percebeu que já não estava mais lá. Agora estava em outro lugar. Seus olhos recaíram sobre o braço, onde viu o cateter conectado a um soro. Foi nesse momento que percebeu estar em uma clínica ou hospital. Levantando o olhar, avistou Caio sentado em uma cadeira próxima, os olhos fixos em algo no iPad. Ele parecia tão concentrado que nem notou que Benjamim havia acordado. — Muito trabalho ou está vendo pornografia? — provocou Benjamim, arrancando Caio de sua concentração. Caio ergueu os olhos do iPad, surpreso, e se aproximou da cama. — Como você está se sentindo? — perguntou, com um tom genuinamente preocupado. — Como alguém que levou um tiro — respondeu Benjamim, esboçando um meio sorriso. — Pelo visto, está bem. Já está até fazendo piadas. Mas, falando sério, está mesmo se sentindo bem? — insistiu Caio, com o