Não era possível decifrar o que se passava na mente de Benjamim naquele momento. Quando ela abriu a boca para dizer algo, foi surpreendida por um abraço repentino. Os três que assistiam àquela cena ficaram meio atônitos com o que viam e se entreolharam, talvez compartilhando o mesmo pensamento.Benjamim a soltou do abraço, mas evitou encará-la nos olhos. Virou-se para a irmã e disse: — Leve a Megan para o quarto que mandei preparar. Empreste o que ela precisar até amanhã.Em seguida, voltou-se novamente para Megan, falando com ela, mas ainda sem a fitar diretamente: — Por favor, suba com minha irmã. Pedi que preparassem um quarto para você. Tome um banho; o médico logo estará aqui para examiná-la. A Sophia vai te emprestar o que for necessário. Se precisar de mais alguma coisa, pode falar com ela ou com qualquer funcionário desta casa. Tudo o que pedir será providenciado. Preciso resolver um assunto agora, mas logo estarei de volta e subirei para te ver.Megan achou o comportamento
Megan deixou suas coisas espalhadas sobre a cama, deslizando a mão lentamente pela colcha, sentindo a textura macia como um sussurro contra sua pele. A cama, imponente e confortável, parecia prometer um descanso que ela mal podia imaginar. Caminhou até o banheiro, os olhos vagando por cada detalhe; a elegância gritava em cada canto, com uma banheira colossal que dominava o espaço e um box separado, equipado com uma ducha tão ampla que parecia desafiar o próprio conceito de banho. Aquele banheiro, sem dúvida, engolia dois ou três do seu próprio em tamanho e luxo.De volta ao quarto, ela pegou as roupas que Sophia havia emprestado e seguiu para o banho. Tinham avisado que o médico chegaria em breve, e ela precisava estar pronta, limpa, como se a água pudesse lavar mais do que apenas a sujeira do corpo.Enquanto se entregava ao calor da ducha, deixando a água escorrer como uma carícia, um som abafado cortou o ar em algum canto oculto daquela casa; um gemido rouco, carregado de agonia, es
Megan disparou em direção às escadas, o coração socando o peito. Precisava voltar ao quarto antes que Benjamin a flagrasse, antes que ele percebesse que ela o espionou. A imagem dele, mãos sujas de sangue, camisa manchada, queimava em sua mente. Ele não parecia alguém com humor para brincadeiras; não depois de agir tão estranho com ela e de despedaçar os homens que a atacaram. Aquela violência crua a deixou trêmula, dividida entre medo e uma inquietação que não sabia nomear.Do outro lado, Benjamin lançou um olhar afiado para a porta entreaberta, os olhos estreitados em suspeita. Terminou de dar ordens a Marcos e Caio, a voz cortante, e avançou para dentro da casa. Subiu as escadas com passos firmes, o sangue em suas roupas pesando como uma segunda pele.Não podia aparecer diante dela daquele jeito; imundo, marcado pela brutalidade. Parou diante do próprio quarto, mas seus olhos se fixaram na porta de Megan, um instante de hesitação atravessando-o como uma sombra. Soltou um suspiro pe
Megan percebeu que ainda não tinha visto Benjamim com raiva. Muitas coisas sobre ele ainda eram incertas, e ela não sabia o que esperar. Enquanto pensava sobre isso, voltou ao assunto da mão dele.— Eu não percebi que a mão dele estava machucada, só percebi que ele não me olhava nos olhos.— Ele não queria que você percebesse a raiva transbordando em seus olhos. Benjamim é assim mesmo, tenta evitar ao máximo seu lado mais agressivo e obscuro. Odeia e tem medo de se parecer com nosso pai.— Seu pai é agressivo? — Megan questionou intrigada.— Era, mas isso é uma longa história que te conto em outra hora. Agora você precisa descansar. Amanhã podemos conversar mais sobre esse assunto. — Sophia respondeu, hesitante.Assim como era difícil para Benjamim aquele assunto, também era para ela. Sophia não gostava de se lembrar de como seu pai era com ela e seus irmãos. Depois de se despedir de Megan, saiu do quarto, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Sophia também ficou pensativa, pois aq
Benjamim notou a tensão nos ombros de Megan, talvez até um lampejo de medo em seus olhos, e decidiu continuar, tentando suavizar o tom para mostrar que não estava irritado.— Sei que você viu o que aconteceu mais cedo com aqueles homens na sua casa. Não queria que tivesse presenciado, mas, já que viu, não vou negar. Acho melhor explicar tudo.Megan percebeu que negar seria inútil. Ele sabia de tudo; não era um blefe, como ela inicialmente imaginou. Ainda assim, Benjamim não parecia zangado com o que ela fez, o que a deixou ligeiramente aliviada.— Como eu disse, o homem que te machucou teve o que mereceu. O outro, mandei de volta para o Enzo. Você está sob minha proteção, Megan. Posso lidar com qualquer um que vier atrás de você — declarou com firmeza, na esperança de que ela entendesse quem ele era, ou pelo menos parte disso.Ela absorveu cada palavra, sentindo o coração disparar sob o peso daquele olhar intenso. Incapaz de sustentá-lo, desviou os olhos. Uma mistura confusa de gratid
Megan parou na entrada da cozinha, admirada com o que via. O local estava iluminado por um enorme lustre no teto, e tudo ali era de primeira qualidade; desde os armários planejados até os eletrodomésticos, alguns dos quais ela nem sabia para que serviam. Seus olhos logo encontraram o alvo: a geladeira.Caminhou até ela, abriu a porta e começou a procurar pelo leite. Se abaixou um pouco, vasculhando as prateleiras inferiores, sem perceber que não estava mais sozinha. Alguém havia acabado de entrar na cozinha e, naquele instante, a observava em silêncio.Sua camisola havia subido um pouco mais enquanto ela se inclinava, revelando parte da coxa à luz suave do ambiente.Benjamim se aproximou sem fazer barulho, ainda admirando a cena. Parou bem atrás dela e, com um tom divertido, finalmente quebrou o silêncio:— Lanche noturno?Megan se assustou, levantando-se de uma vez, e com o movimento brusco, bateu a cabeça na parte de cima da geladeira.— Ai! — resmungou, segurando a cabeça com uma e
Enquanto Megan e Benjamim saboreavam o lanche noturno, em outro lugar, as coisas estavam longe de serem tão agradáveis. Enzo estava furioso. Os dois homens que havia enviado para capturar Megan tinham retornado; e um deles estava morto e o outro gravemente ferido. Mas, pelo menos, o recado de Benjamim havia sido entregue.— Desgraçado insolente... Se acha que isso vai ficar assim, está muito enganado. Vou tirar essa garota de você, Benjamim, assim como tirei a Harper. E será bem debaixo do seu nariz. Vou destruir tudo o que é seu, até não sobrar mais nada. Garanto que, no fim, vai implorar para que eu te mate — rosnou, tomado pela fúria.Sem hesitar, sacou a arma e atirou na cabeça do homem à sua frente. Eles trabalhavam para sua família há anos, mas isso não o impediu de tirar sua vida.— Vigiem a casa do Adam. Assim que ela sair de lá, quero ser informado imediatamente. Vamos ver até quando ele consegue mantê-la presa naquela casa.++++++Na cozinha de Benjamim, os dois seguiam come
No movimentado hospital particular no centro de Seattle, Megan Davis acabara de terminar mais uma cirurgia e voltava para seu escritório. O desânimo e o cansaço eram evidentes em sua expressão, mas, acima de tudo, o que mais pesava era ter que trabalhar com seu ex-namorado e a atual namorada dele. Assim como Megan, Lucas era médico e trabalhava no mesmo hospital e, naquele dia, estavam no mesmo plantão. Ter que ver Lucas quase todos os dias e, em alguns momentos, acompanhado de sua nova namorada era, no mínimo, torturante. Ela parou seus passos quando o viu passar sorrindo, enquanto conversava com a namorada.— Quando vai superar? Até parece que gosta de sofrer — falou Melinda, chamando a atenção de Megan.— Acha mesmo que não quero superá-lo e seguir em frente, Linda? Isso é tudo o que eu mais quero, mas você sabe como esse término me deixou insegura. Você, melhor do que ninguém, sabe das palavras que ele usou quando terminou comigo — murmurou Megan, enquanto voltavam a caminhar.—