Megan disparou em direção às escadas, o coração socando o peito. Precisava voltar ao quarto antes que Benjamin a flagrasse, antes que ele percebesse que ela o espionou. A imagem dele, mãos sujas de sangue, camisa manchada, queimava em sua mente. Ele não parecia alguém com humor para brincadeiras; não depois de agir tão estranho com ela e de despedaçar os homens que a atacaram. Aquela violência crua a deixou trêmula, dividida entre medo e uma inquietação que não sabia nomear.Do outro lado, Benjamin lançou um olhar afiado para a porta entreaberta, os olhos estreitados em suspeita. Terminou de dar ordens a Marcos e Caio, a voz cortante, e avançou para dentro da casa. Subiu as escadas com passos firmes, o sangue em suas roupas pesando como uma segunda pele.Não podia aparecer diante dela daquele jeito; imundo, marcado pela brutalidade. Parou diante do próprio quarto, mas seus olhos se fixaram na porta de Megan, um instante de hesitação atravessando-o como uma sombra. Soltou um suspiro pe
Megan percebeu que ainda não tinha visto Benjamim com raiva. Muitas coisas sobre ele ainda eram incertas, e ela não sabia o que esperar. Enquanto pensava sobre isso, voltou ao assunto da mão dele.— Eu não percebi que a mão dele estava machucada, só percebi que ele não me olhava nos olhos.— Ele não queria que você percebesse a raiva transbordando em seus olhos. Benjamim é assim mesmo, tenta evitar ao máximo seu lado mais agressivo e obscuro. Odeia e tem medo de se parecer com nosso pai.— Seu pai é agressivo? — Megan questionou intrigada.— Era, mas isso é uma longa história que te conto em outra hora. Agora você precisa descansar. Amanhã podemos conversar mais sobre esse assunto. — Sophia respondeu, hesitante.Assim como era difícil para Benjamim aquele assunto, também era para ela. Sophia não gostava de se lembrar de como seu pai era com ela e seus irmãos. Depois de se despedir de Megan, saiu do quarto, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Sophia também ficou pensativa, pois aq
Benjamim notou a tensão nos ombros de Megan, talvez até um lampejo de medo em seus olhos, e decidiu continuar, tentando suavizar o tom para mostrar que não estava irritado.— Sei que você viu o que aconteceu mais cedo com aqueles homens na sua casa. Não queria que tivesse presenciado, mas, já que viu, não vou negar. Acho melhor explicar tudo.Megan percebeu que negar seria inútil. Ele sabia de tudo; não era um blefe, como ela inicialmente imaginou. Ainda assim, Benjamim não parecia zangado com o que ela fez, o que a deixou ligeiramente aliviada.— Como eu disse, o homem que te machucou teve o que mereceu. O outro, mandei de volta para o Enzo. Você está sob minha proteção, Megan. Posso lidar com qualquer um que vier atrás de você — declarou com firmeza, na esperança de que ela entendesse quem ele era, ou pelo menos parte disso.Ela absorveu cada palavra, sentindo o coração disparar sob o peso daquele olhar intenso. Incapaz de sustentá-lo, desviou os olhos. Uma mistura confusa de gratid
Megan parou na entrada da cozinha, admirada com o que via. O local estava iluminado por um enorme lustre no teto, e tudo ali era de primeira qualidade; desde os armários planejados até os eletrodomésticos, alguns dos quais ela nem sabia para que serviam. Seus olhos logo encontraram o alvo: a geladeira.Caminhou até ela, abriu a porta e começou a procurar pelo leite. Se abaixou um pouco, vasculhando as prateleiras inferiores, sem perceber que não estava mais sozinha. Alguém havia acabado de entrar na cozinha e, naquele instante, a observava em silêncio.Sua camisola havia subido um pouco mais enquanto ela se inclinava, revelando parte da coxa à luz suave do ambiente.Benjamim se aproximou sem fazer barulho, ainda admirando a cena. Parou bem atrás dela e, com um tom divertido, finalmente quebrou o silêncio:— Lanche noturno?Megan se assustou, levantando-se de uma vez, e com o movimento brusco, bateu a cabeça na parte de cima da geladeira.— Ai! — resmungou, segurando a cabeça com uma e
Enquanto Megan e Benjamim saboreavam o lanche noturno, em outro lugar, as coisas estavam longe de serem tão agradáveis. Enzo estava furioso. Os dois homens que havia enviado para capturar Megan tinham retornado; e um deles estava morto e o outro gravemente ferido. Mas, pelo menos, o recado de Benjamim havia sido entregue.— Desgraçado insolente... Se acha que isso vai ficar assim, está muito enganado. Vou tirar essa garota de você, Benjamim, assim como tirei a Harper. E será bem debaixo do seu nariz. Vou destruir tudo o que é seu, até não sobrar mais nada. Garanto que, no fim, vai implorar para que eu te mate — rosnou, tomado pela fúria.Sem hesitar, sacou a arma e atirou na cabeça do homem à sua frente. Eles trabalhavam para sua família há anos, mas isso não o impediu de tirar sua vida.— Vigiem a casa do Adam. Assim que ela sair de lá, quero ser informado imediatamente. Vamos ver até quando ele consegue mantê-la presa naquela casa.++++++Na cozinha de Benjamim, os dois seguiam come
No movimentado hospital particular no centro de Seattle, Megan Davis acabara de terminar mais uma cirurgia e voltava para seu escritório. O desânimo e o cansaço eram evidentes em sua expressão, mas, acima de tudo, o que mais pesava era ter que trabalhar com seu ex-namorado e a atual namorada dele. Assim como Megan, Lucas era médico e trabalhava no mesmo hospital e, naquele dia, estavam no mesmo plantão. Ter que ver Lucas quase todos os dias e, em alguns momentos, acompanhado de sua nova namorada era, no mínimo, torturante. Ela parou seus passos quando o viu passar sorrindo, enquanto conversava com a namorada.— Quando vai superar? Até parece que gosta de sofrer — falou Melinda, chamando a atenção de Megan.— Acha mesmo que não quero superá-lo e seguir em frente, Linda? Isso é tudo o que eu mais quero, mas você sabe como esse término me deixou insegura. Você, melhor do que ninguém, sabe das palavras que ele usou quando terminou comigo — murmurou Megan, enquanto voltavam a caminhar.—
Quando Megan se aproximou da cozinha, ouviu vozes alteradas. Uma delas era inconfundivelmente de Melinda. Reconhecendo a voz da amiga, Megan apressou-se na direção de onde parecia estar acontecendo uma discussão. Ao entrar na cozinha, deparou-se com Ivan e Melinda discutindo acaloradamente. Embora não prestasse atenção a todos os detalhes da conversa, ficou claro para ela que o motivo era ciúmes.De repente, Ivan empurrou Melinda, que bateu contra o balcão. Ao ver sua amiga ser agredida, Megan sentiu uma onda de coragem surgir de um lugar que nem sabia existir. Sem hesitar, ela interveio. Empurrou Ivan e ergueu a voz:— Que merda você pensa que está fazendo? Você não tem o direito de encostar nela! Você não é pai dela, Ivan, é só o maldito namorado!Megan não era do tipo que confrontava as pessoas, especialmente quando se tratava de si mesma. Mas, quando o assunto envolvia aqueles que amava, tudo mudava num piscar de olhos. Ela também não costumava xingar, mas naquele momento, aprovei
Megan chegou em casa, mas não conseguia tirar Melinda da cabeça. A preocupação com a amiga naquela festa, principalmente com o que Ivan pudesse fazer, a consumia. Assim que guardou as chaves, mandou uma mensagem para Melinda e decidiu que só ficaria tranquila quando obtivesse uma resposta.Enquanto esperava, sentiu o corpo tenso. Seus olhos vagaram até o pequeno bar da sala, e ela resolveu beber algo. Sentia que merecia; e precisava, daquilo. Escolheu um vinho, serviu-se e voltou ao sofá. Com o celular nas mãos, Megan olhava ao redor e, pela primeira vez em muito tempo, reconheceu sua solidão. Essa era sua rotina ultimamente: sair do hospital e voltar para casa. Sua vida parecia completamente desprovida de emoção; algo que Lucas fez questão de jogar em sua cara no término.Inquieta, levantou-se e se aproximou do espelho no aparador. Estudou seu reflexo. Era uma mulher morena, alta, com um e setenta, cabelos lisos e olhos castanhos. Sim, podia se considerar bonita, mas sabia que certos