Megan chegou em casa, mas não conseguia tirar Melinda da cabeça. A preocupação com a amiga naquela festa, principalmente com o que Ivan pudesse fazer, a consumia. Assim que guardou as chaves, mandou uma mensagem para Melinda e decidiu que só ficaria tranquila quando obtivesse uma resposta.
Enquanto esperava, sentiu o corpo tenso. Seus olhos vagaram até o pequeno bar da sala, e ela resolveu beber algo. Sentia que merecia; e precisava, daquilo. Escolheu um vinho, serviu-se e voltou ao sofá. Com o celular nas mãos, Megan olhava ao redor e, pela primeira vez em muito tempo, reconheceu sua solidão. Essa era sua rotina ultimamente: sair do hospital e voltar para casa. Sua vida parecia completamente desprovida de emoção; algo que Lucas fez questão de jogar em sua cara no término.
Inquieta, levantou-se e se aproximou do espelho no aparador. Estudou seu reflexo. Era uma mulher morena, alta, com um e setenta, cabelos lisos e olhos castanhos. Sim, podia se considerar bonita, mas sabia que certos aspectos de sua personalidade pareciam conspirar contra ela.
Por mais que Melinda dissesse que ela não deveria se culpar, sua insegurança falava mais alto. Megan apreciava a calmaria de sua vida organizada e sob controle, mas o desgaste de sua rotina corrida e a falta de tempo foram fatores que contribuíram para o fim de seus relacionamentos.
Deu mais um gole no vinho e pegou um porta-retrato com a foto dos pais. Perder os dois de forma tão violenta deixou marcas profundas, e a ausência deles, especialmente em momentos difíceis como esse, era ainda mais dolorosa. Megan foi arrancada de seus pensamentos quando o celular vibrou. Apressou-se para conferir a notificação: era Melinda.
Para seu alívio, a amiga respondeu que estava bem. Megan garantiu que estaria disponível caso precisasse ligar, mas combinou que conversariam no hospital. Com o coração mais tranquilo, ela terminou o vinho, tomou um banho relaxante e foi dormir. Seu plantão no hospital seria à tarde, o que lhe permitia descansar um pouco mais na manhã seguinte.
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A noite já havia chegado, e o som dos socos ecoava pelo galpão abandonado. Aquele lugar era o pesadelo de qualquer um que cruzasse o caminho de Benjamim Brown; um homem temido por muitos, conhecido por sua impiedade com aqueles que ousassem interferir em seus negócios ou, pior ainda, traí-lo.
Ele era uma figura imponente: cerca de um metro e oitenta de altura, olhos castanho-claros, cabelos negros bem cortados e um porte atlético que não passava despercebido. Naquele momento, estava "acertando as contas" com um subordinado que teve a audácia de tentar enganá-lo. Algo difícil de se imaginar, já que Benjamim era um homem naturalmente desconfiado, cuja confiança era restrita a um seleto grupo; seus dois irmãos e dois de seus homens de confiança.
Benjamim cresceu sob o jugo de um pai extremamente rígido, moldado pelo mundo da máfia em que viviam. Era um ambiente implacável, e o jovem Benjamim precisou se adaptar às regras impostas pela organização. Contrapondo-se ao pai, sua mãe era uma figura amorosa, que insistia em ensinar valores que muitos mafiosos consideravam irrelevantes; como nunca levantar a mão contra uma mulher ou forçá-la a fazer algo contra sua vontade. Esses ensinamentos marcariam Benjamim de forma única, mesmo no seio de uma vida cercada por violência e crime.
Aos vinte e oito anos, Benjamim assumiu o controle de uma das máfias mais temidas dos Estados Unidos, após a trágica morte de seus pais em um acidente de carro. Embora nunca houvesse provas concretas, Benjamim culpava a família Duncan; uma das maiores rivais de sua organização, pelo incidente, alimentando uma sede de vingança que apenas reforçava sua reputação temível.
Benjamim terminou de socar e torturar o homem, deixando o desfecho para Caio. Assim que Benjamim se virou para sair do galpão, Caio atirou, encerrando a vida do subordinado já debilitado. Do lado de fora, Benjamim caminhou até seu carro. Precisava trocar de roupa; sua camisa estava manchada de sangue. Ele sempre mantinha uma muda de roupa reserva no veículo, preparado para situações como aquela, já que nunca sabia quando precisaria.
Caio se aproximou e perguntou sobre os planos para o restante da noite, considerando a hora avançada.
— Pode tirar o resto da noite de folga, Caio. A Harper me mandou uma mensagem. Ela está me esperando no apartamento que dei a ela. Como hoje é nosso aniversário, disse que tem uma surpresa para mim.
— Tudo bem. Vou voltar para sua casa. Não tenho nenhum compromisso. Se precisar de algo, é só avisar.
— Não tem nenhum rabo de saia para visitar? — perguntou Benjamim, com um sorriso.
— Não tenho. Você sabe que minha vida é dedicada à organização, Benjamim. Jurei lealdade à sua família e a você. Prometi que minha vida seria para proteger vocês. Não tenho tempo para romance, sem contar que, na nossa vida, isso é complicado.
Benjamim sabia que Caio estava certo. Harper era sua namorada, mas ele não tinha intenção de se casar com ela. Não apenas porque o conselho era contra; embora a opinião deles pouco importasse para ele, mas porque já havia percebido que Harper não era exatamente quem aparentava ser.
— Está bem. Meu celular está quase descarregando. Quando eu chegar lá, vou pedir um carregador emprestado para Harper.
Benjamim terminou de se trocar e entrou no carro. Caio se ofereceu para deixá-lo no apartamento de sua namorada antes de seguir para a mansão, e ele concordou. A bagunça no galpão seria resolvida por outros homens; isso já não era sua preocupação no momento.
Enquanto o carro seguia pelas ruas escuras em direção ao apartamento, Benjamim se perdeu em pensamentos sobre Harper e o relacionamento deles. Ele a conheceu em uma de suas boates. A forma como ela se comportava; com uma aparente ingenuidade e doçura, destacava-se em meio ao caos e à crueldade do mundo em que ele vivia. Isso a tornava fascinante aos olhos de Benjamim, um contraste quase irresistível.
Além das boates, Benjamim era dono de hotéis e restaurantes, negócios que, em sua maioria, serviam de fachada para suas operações ilícitas. A necessidade de lavar dinheiro tornava essas atividades um aspecto essencial de seu império.
Enquanto refletia sobre os altos e baixos daquela relação, sua mente começou a vagar para a surpresa que Harper mencionou. Qual poderia ser o presente? Ele tentou imaginar as possibilidades, mas ele nem imagina que aquela surpresa traria mais problemas do que alegrias.
Caio o tirou de seus pensamentos ao avisar que haviam chegado. Benjamin conferiu sua arma e a munição antes de descer do carro. Ele nunca saía desarmado, nem mesmo quando ia para a casa dela. Subiu os degraus e tocou a campainha. Tinha a chave do apartamento, mas, naquele momento, não estava com ela. Logo, a porta se abriu, revelando Harper, que o recebeu com um sorriso radiante.— Entre, eu estava te esperando — disse ela, dando espaço para que ele passasse.Harper era uma mulher loira, de um metro e sessenta, dona de olhos verdes que pareciam hipnotizar. Aos olhos de todos, era linda e irresistível, capaz de atrair olhares por onde passava. Benjamin deslizou a mão para sua cintura, puxando-a para mais perto, e murmurou com um sorriso provocativo:— Achei que fosse me esperar vestida com aquela lingerie da foto que me mandou.Ela arqueou uma sobrancelha, os lábios curvando-se em um sorriso malicioso.— Pensei que fosse melhor esperar você sem ela.O tom sensual de sua voz fez o corpo
Megan mal podia esperar para trocar de roupa e voltar para casa. Seu turno havia terminado, e tudo o que desejava era um banho relaxante. Após se despedir de Linda, dirigiu-se ao vestiário para trocar de roupa. Em seguida, voltou ao escritório para pegar seus pertences antes de sair. Já passava da meia-noite, e ela havia realizado várias cirurgias ao longo do dia. Enquanto caminhava em direção à recepção, algo chamou sua atenção: uma movimentação estranha.Gritos ecoaram pelo local, e Megan percebeu que homens armados haviam invadido o hospital, trazendo consigo três homens baleados. Um deles apontou uma arma para Linda e exigiu saber onde estava o médico. Megan sentiu o peso da situação: sua tranquila noite havia sido destruída.— Eu sou médica — declarou, atraindo a atenção dos invasores e afastando-os de sua amiga. Apesar da apreensão, sabia que não podia demonstrar medo.Linda lançou lhe um olhar preocupado, mas Megan manteve a calma e aproximou-se dos feridos. Os homens armados e
Enzo se aproximou um pouco mais de Megan. Passou por trás dela e sussurrou próximo ao seu ouvido, fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo, mas foi o medo que causou aquela reação. — Bom, doutora, se você está dizendo, vou considerar isso uma fatalidade. — Ele se virou para os seus homens e ordenou: — Podem soltá-la. Vamos sair daqui. Megan viu o alívio tomar conta dos rostos de Cibele e Lucas, mas só se sentiria tranquila quando todos aqueles homens tivessem deixado o hospital. Foi então que ela percebeu Enzo se aproximando novamente, ficando de frente para ela. — Já estamos de saída. Sinto muito por estragar seu plantão, mas eu não podia esperar ser atendido em outro lugar. Caso contrário, acabaria como o meu homem, que morreu. Meu nome é Enzo Duncan. Talvez você já tenha ouvido meu sobrenome. E o seu, doutora? Megan engoliu em seco ao ouvir a pergunta. Ela não queria, de forma alguma, que ele soubesse seu nome, mas também não sabia se seria prudente mentir. — Meu nome
Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosa
Megan sentiu o coração acelerar ao vê-lo desmaiado. Com mãos trêmulas, alcançou o aparelho de pressão e verificou seu estado. A pressão de Benjamim havia despencado, e ela precisava agir rápido. Ele não podia morrer ali, não em sua casa. Isso era algo que ela jamais permitiria.— Nem pense em morrer aqui. Você vai sair daqui vivo — murmurou, mesmo sabendo que ele não podia ouvi-la.O suor escorria por seu rosto, misturando-se à tensão que dominava o ambiente. Sem os equipamentos adequados, cada movimento parecia um desafio monumental. Megan limpou a ferida mais uma vez e começou a suturá-la. Em todos os seus anos de medicina, nunca havia sentido tanto medo de perder um paciente. Ele havia sido claro sobre quem era, e o nome que mencionou ecoava em sua mente, inconfundível.Ela não queria se envolver com pessoas perigosas, mas parecia que o destino tinha outros planos. O passado de sua família com mafiosos já havia trazido desgraça suficiente, e agora, ali estava ela, lutando para salv
Alguns quilômetros de onde Megan enfrentava seu dilema, Enzo foi levado para uma clínica de confiança, a mesma onde Harper havia sido atendida. Enquanto aguardava notícias sobre a garota, ele dava novas ordens aos seus homens.— Encontrem aquele bastardo. Descubram em qual hospital ele está ou em qual viela ele morreu. Só o encontrem, droga! Se ele estiver vivo, deve estar fraco, perdeu muito sangue. Será mais fácil terminar o serviço.As ordens de Enzo eram claras e diretas. Ele estava determinado a descobrir o que havia acontecido depois que Benjamim saiu do apartamento. Aquela pergunta ecoaria em sua mente até que ele obtivesse uma resposta.Enzo queria, a todo custo, provar ao pai que era capaz de cuidar dos negócios. Essa tarefa precisava ser concluída rapidamente e com sucesso. Ele tocou o ombro ferido pela bala, sentindo a dor misturada ao ódio que nutria por Benjamim. No entanto, enquanto fazia o tratamento, a lembrança de Megan invadiu seus pensamentos. Um sorriso de canto su
Megan ainda parecia desacreditada com tudo que estava acontecendo e com o problema no qual havia se metido. Era pedir demais continuar vivendo sua vida pacata? — Preciso levá-lo agora. Quanto mais eu demorar para buscar tratamento, maior será o risco. Posso pedir que mais dois homens que estão lá fora entrem? — ele pediu, respeitoso, já que a casa era dela. Incapaz de responder com palavras, Megan apenas fez um leve gesto com a cabeça, concedendo sua permissão. Caio dirigiu-se à porta e sinalizou para que dois homens entrassem. Assim que chegaram, ele foi direto: — Benjamim está no sofá e está ferido. Peguem-no com cuidado e levem para o carro. Eu vou em seguida. Os dois homens obedeceram sem hesitação e carregaram Benjamim cuidadosamente para fora. Assim que eles saíram, Megan pareceu recobrar a lucidez e se aproximou de Caio.— Aqui está o celular dele. Caio pegou o aparelho, lançou um olhar para Megan, que ainda parecia assustada, agradeceu e reforçou o pedido: — Obrigado por
Andrew se aproximou de Caio, cruzando os braços enquanto fazia a pergunta que ele já esperava. — Já vimos que meu irmão está bem. Agora, explique como isso aconteceu. Caio respirou fundo, o incômodo evidente em sua voz enquanto tentava se justificar: — Eu não estava com ele no momento. Deixei-o no apartamento da Harper. Ele disse que teriam um encontro para comemorar o aniversário deles. — A culpa parecia pesar em cada palavra. Andrew estreitou o olhar, a irritação transparecendo: — Ele sabe que tem inimigos e insiste em sair sozinho. — Seu irmão é bom com armas e com os punhos, você sabe disso. — Caio manteve a firmeza enquanto levantava suas suspeitas. — Mas acredito que ele caiu em uma armadilha. Para capturá-lo dessa forma, só se ele estivesse com a guarda baixa. E, se estava com Harper, como já aconteceu antes, é compreensível que baixasse a guarda. Caio não confiava em Harper. Ele nunca gostou dela. Já a flagrara sendo rude com os funcionários, embora mudasse completament