Enzo se aproximou um pouco mais de Megan. Passou por trás dela e sussurrou próximo ao seu ouvido, fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo, mas foi o medo que causou aquela reação.
— Bom, doutora, se você está dizendo, vou considerar isso uma fatalidade. — Ele se virou para os seus homens e ordenou: — Podem soltá-la. Vamos sair daqui.
Megan viu o alívio tomar conta dos rostos de Cibele e Lucas, mas só se sentiria tranquila quando todos aqueles homens tivessem deixado o hospital. Foi então que ela percebeu Enzo se aproximando novamente, ficando de frente para ela.
— Já estamos de saída. Sinto muito por estragar seu plantão, mas eu não podia esperar ser atendido em outro lugar. Caso contrário, acabaria como o meu homem, que morreu. Meu nome é Enzo Duncan. Talvez você já tenha ouvido meu sobrenome. E o seu, doutora?
Megan engoliu em seco ao ouvir a pergunta. Ela não queria, de forma alguma, que ele soubesse seu nome, mas também não sabia se seria prudente mentir.
— Meu nome é Megan. — A resposta saiu curta e direta, evitando mencionar seu sobrenome.
Um sorriso apareceu no rosto de Enzo, e ele tocou suavemente o queixo de Megan antes de se virar e começar a deixar o local com seus homens. Aos poucos, funcionários e pacientes começaram a se mover novamente. Alguns choravam, enquanto outros queriam sair dali o mais rápido possível.
Megan pressionou as sobrancelhas com os dedos, sentindo uma leve dor começar a se instalar. Ela também queria sair de lá quanto antes. Após notar que Linda estava bem e ajudando os pacientes, ela optou por sair pelos fundos.
Dirigindo pela madrugada, Megan observava as ruas desertas, ainda sentindo a insegurança que aquela situação lhe causou. Já passava das duas da manhã, e seu único desejo era chegar em casa o mais rápido possível. Enquanto dirigia, o nome mencionado pelo homem no hospital ecoava em sua mente. Ela sabia que o sobrenome Duncan pertencia a uma família de mafiosos poderosa na região. O temor de que atender o filho do chefe dessa família pudesse trazer problemas a deixava inquieta.
Ao parar no semáforo, Megan aguardava o sinal abrir. As ruas estavam praticamente desertas naquele bairro, algo que ela atribuía ao horário. Quando estava prestes a acelerar, um som alto no vidro do lado do passageiro a fez congelar. Ao olhar, viu um homem armado, com as mãos ensanguentadas. O medo a dominou, deixando-a paralisada, sem saber como reagir.
Ela ponderava suas opções: arrancar com o carro e arriscar ser baleada ou permanecer ali e correr o risco de ser morta de qualquer forma. Era como estar entre a cruz e a espada.
— Abre a porta — ordenou o homem, sua voz firme e ameaçadora.
Sem pensar muito, Megan destravou a porta. Ele entrou rapidamente e deu outra ordem:
— Dirija.
— Se quer o carro, pode levar. Ele tem seguro — disse Megan, a voz trêmula, quase um sussurro.
— Eu não quero seu carro. Só preciso que você dirija. Não importa para onde, apenas me tire daqui, agora! — respondeu o homem, desta vez apontando a arma diretamente para ela.
Megan voltou a dirigir. O sinal já estava aberto, então ela apenas continuou, sem saber para onde ir. Um único lugar veio à sua mente: sua casa. Porque teve essa ideia estúpida, ela não sabia. Estava nervosa demais para pensar com clareza. Como se pudesse ler seus pensamentos, o homem falou enquanto ela seguia:
— Sua casa. Você mora com alguém?
— Não, moro sozinha. — Assim que respondeu, Megan se repreendeu por ser tão sincera.
— Então vamos para sua casa. Preciso tirar essa bala. Não posso nem pensar em ir para minha casa agora — ele disse, esperando que ela cooperasse.
Benjamim estava preocupado de que pudessem estar esperando por ele perto de sua casa. Ele teria que se virar com o ferimento e tentar carregar o celular para entrar em contato com um de seus homens.
Megan lançou um olhar rápido para o ferimento dele, notando a quantidade de sangue que ele havia perdido. Nervosa, um pensamento inquietante surgiu em sua mente: seria possível que aquele homem estivesse envolvido na troca de tiros que resultou no ferimento de Enzo Duncan? Se fosse verdade, a situação seria surreal, e ela estaria em uma enrascada ainda maior.
Outro pensamento a atormentou. Ela havia dito que morava sozinha. Isso significava que ele poderia fazer algo com ela quando chegassem lá. Megan não conseguia acreditar no quão azarada estava sendo e no caos que aquele dia havia trazido, bagunçando todo o controle que ela tinha sobre sua vida.
O silêncio no carro era constrangedor. Apenas os gemidos e a respiração pesada do homem preenchiam o ambiente. Incapaz de suportar o desconforto, Megan decidiu quebrar o silêncio. Talvez, fazendo perguntas, pudesse descobrir se ele realmente estava envolvido com aquele mafioso.
— Você se meteu em um assalto? — perguntou Megan, olhando para a frente.
— Eu por acaso tenho cara de assaltante? — Benjamim respondeu, lançando lhe um olhar enquanto notava o quanto ela estava nervosa.
— Eu não sabia que eles tinham um biotipo específico — retrucou Megan, arrependendo-se imediatamente. Seu nervosismo estava começando a atrapalhar.
Benjamim estreitou os olhos, observando-a. Pensou consigo mesmo que, além de bonita, ela tinha uma língua afiada.
— Se a sua preocupação é essa, pode ficar tranquila. Não sou assaltante. Isso aqui foi resultado de uma traição da minha namorada. Ou melhor, ex-namorada.
Megan lançou um olhar rápido para ele e depois para o ferimento. Pensou consigo mesma que, no caso dela, a traição de Lucas só lhe rendeu algumas calorias extras do pote de sorvete que devorou e o desgosto que sentiu.
— Bem-vindo ao clube — disse, ainda sem o olhar diretamente.
O nervosismo e a apreensão faziam com que Megan falasse mais do que deveria. Tentou respirar fundo para se acalmar, temendo dizer algo que pudesse irritá-lo de verdade.
Poucos minutos depois, Megan chegou em casa. Após estacionar o carro na garagem, Benjamim fez questão de esclarecer:
— Eu não tenho a intenção de machucar você, então não faça nenhuma idiotice. Só preciso tirar a bala e de um carregador de celular. Prometo que depois vou embora, sem causar nenhum mal a você. — Ele tentou transparecer a maior sinceridade possível.
Foi a primeira vez que Megan o olhou de verdade desde que ele entrou no carro. A claridade não era intensa, mas o pouco que conseguiu ver de seu rosto parecia confirmar que ele estava sendo sincero.
Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosa
Megan sentiu o coração acelerar ao vê-lo desmaiado. Com mãos trêmulas, alcançou o aparelho de pressão e verificou seu estado. A pressão de Benjamim havia despencado, e ela precisava agir rápido. Ele não podia morrer ali, não em sua casa. Isso era algo que ela jamais permitiria.— Nem pense em morrer aqui. Você vai sair daqui vivo — murmurou, mesmo sabendo que ele não podia ouvi-la.O suor escorria por seu rosto, misturando-se à tensão que dominava o ambiente. Sem os equipamentos adequados, cada movimento parecia um desafio monumental. Megan limpou a ferida mais uma vez e começou a suturá-la. Em todos os seus anos de medicina, nunca havia sentido tanto medo de perder um paciente. Ele havia sido claro sobre quem era, e o nome que mencionou ecoava em sua mente, inconfundível.Ela não queria se envolver com pessoas perigosas, mas parecia que o destino tinha outros planos. O passado de sua família com mafiosos já havia trazido desgraça suficiente, e agora, ali estava ela, lutando para salv
Alguns quilômetros de onde Megan enfrentava seu dilema, Enzo foi levado para uma clínica de confiança, a mesma onde Harper havia sido atendida. Enquanto aguardava notícias sobre a garota, ele dava novas ordens aos seus homens.— Encontrem aquele bastardo. Descubram em qual hospital ele está ou em qual viela ele morreu. Só o encontrem, droga! Se ele estiver vivo, deve estar fraco, perdeu muito sangue. Será mais fácil terminar o serviço.As ordens de Enzo eram claras e diretas. Ele estava determinado a descobrir o que havia acontecido depois que Benjamim saiu do apartamento. Aquela pergunta ecoaria em sua mente até que ele obtivesse uma resposta.Enzo queria, a todo custo, provar ao pai que era capaz de cuidar dos negócios. Essa tarefa precisava ser concluída rapidamente e com sucesso. Ele tocou o ombro ferido pela bala, sentindo a dor misturada ao ódio que nutria por Benjamim. No entanto, enquanto fazia o tratamento, a lembrança de Megan invadiu seus pensamentos. Um sorriso de canto su
Megan ainda parecia desacreditada com tudo que estava acontecendo e com o problema no qual havia se metido. Era pedir demais continuar vivendo sua vida pacata? — Preciso levá-lo agora. Quanto mais eu demorar para buscar tratamento, maior será o risco. Posso pedir que mais dois homens que estão lá fora entrem? — ele pediu, respeitoso, já que a casa era dela. Incapaz de responder com palavras, Megan apenas fez um leve gesto com a cabeça, concedendo sua permissão. Caio dirigiu-se à porta e sinalizou para que dois homens entrassem. Assim que chegaram, ele foi direto: — Benjamim está no sofá e está ferido. Peguem-no com cuidado e levem para o carro. Eu vou em seguida. Os dois homens obedeceram sem hesitação e carregaram Benjamim cuidadosamente para fora. Assim que eles saíram, Megan pareceu recobrar a lucidez e se aproximou de Caio.— Aqui está o celular dele. Caio pegou o aparelho, lançou um olhar para Megan, que ainda parecia assustada, agradeceu e reforçou o pedido: — Obrigado por
Andrew se aproximou de Caio, cruzando os braços enquanto fazia a pergunta que ele já esperava. — Já vimos que meu irmão está bem. Agora, explique como isso aconteceu. Caio respirou fundo, o incômodo evidente em sua voz enquanto tentava se justificar: — Eu não estava com ele no momento. Deixei-o no apartamento da Harper. Ele disse que teriam um encontro para comemorar o aniversário deles. — A culpa parecia pesar em cada palavra. Andrew estreitou o olhar, a irritação transparecendo: — Ele sabe que tem inimigos e insiste em sair sozinho. — Seu irmão é bom com armas e com os punhos, você sabe disso. — Caio manteve a firmeza enquanto levantava suas suspeitas. — Mas acredito que ele caiu em uma armadilha. Para capturá-lo dessa forma, só se ele estivesse com a guarda baixa. E, se estava com Harper, como já aconteceu antes, é compreensível que baixasse a guarda. Caio não confiava em Harper. Ele nunca gostou dela. Já a flagrara sendo rude com os funcionários, embora mudasse completament
Megan acordou bem depois do meio-dia, ainda sentindo o peso do cansaço. Talvez todas as mudanças recentes em sua rotina tivessem drenado suas energias. Depois de um banho, decidiu comer fora. Precisava respirar um pouco de ar fresco e se afastar de tudo. Sempre que passava pela sala, a imagem de Benjamim deitado no sofá a assombrava. Megan queria apagar de sua memória a experiência no hospital, assim como aquele cenário familiar que agora parecia estranho.Enquanto se organizava para sair, ela não fazia ideia de que os dois lados da confusão em que se envolvera estavam focados no mesmo objetivo: descobrir sua verdadeira identidade. Se ao menos suspeitasse disso, estaria em pânico naquele momento.Antes de sair, Megan inspecionou cuidadosamente o visor do interfone e as câmeras externas para se certificar de que não havia ninguém à espreita. Com o coração ainda acelerado, trancou as portas, entrou no carro e abriu o portão. Partiu rumo à avenida, sem notar a moto estacionada próximo à
Benjamim despertou lentamente, piscando para ajustar a visão enquanto analisava o ambiente ao seu redor. Ele se lembrava de estar na casa da mulher que o ajudou, mas percebeu que já não estava mais lá. Agora estava em outro lugar. Seus olhos recaíram sobre o braço, onde viu o cateter conectado a um soro. Foi nesse momento que percebeu estar em uma clínica ou hospital. Levantando o olhar, avistou Caio sentado em uma cadeira próxima, os olhos fixos em algo no iPad. Ele parecia tão concentrado que nem notou que Benjamim havia acordado. — Muito trabalho ou está vendo pornografia? — provocou Benjamim, arrancando Caio de sua concentração. Caio ergueu os olhos do iPad, surpreso, e se aproximou da cama. — Como você está se sentindo? — perguntou, com um tom genuinamente preocupado. — Como alguém que levou um tiro — respondeu Benjamim, esboçando um meio sorriso. — Pelo visto, está bem. Já está até fazendo piadas. Mas, falando sério, está mesmo se sentindo bem? — insistiu Caio, com o
Melinda entrou e a abraçou, deixando as lágrimas rolarem. Megan, sem entender o que estava acontecendo, fechou a porta com um leve empurrão e retribuiu o abraço.— Linda, o que aconteceu? Por que está chorando assim? Você está me assustando — perguntou, visivelmente preocupada.Melinda afastou-se lentamente, enxugando as lágrimas, e puxou Megan em direção ao sofá. Sentou-se e começou a explicar:— Não tivemos a oportunidade de conversar direito no hospital. Eu esperava fazer isso depois do expediente, mas toda aquela loucura aconteceu... Agora estou aqui. Me desculpe por vir sem avisar.— Ei, não precisa pedir desculpas. Sabe que sempre estarei aqui por você. — Megan a consolou, enxugando uma lágrima que ainda descia pelo rosto da amiga. — Agora, me conte o que aconteceu.— Depois que você saiu da festa, chegamos a cantar os parabéns. Eu tentei manter a calma, achando que poderíamos conversar direito, mas acabamos brigando novamente.Naquele momento, Megan compreendeu que o assunto er