Homem ferido

Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.

— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.

Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.

— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.

— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.

Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.

Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosamente próximos. Megan olhou para baixo e viu o sangue ainda escorrendo.

— Apoie-se em mim. Vamos entrar logo. — Sua voz era firme, mas carregada de urgência. — Você já perdeu muito sangue. Isso pode infeccionar. Prometo que não vou fazer nada contra você, mas precisamos cuidar disso agora.

A voz de Megan saiu firme, e naquele momento ela teve que sufocar o medo para assumir sua postura de médica. Apesar de tudo, era uma vida em suas mãos, e ela não poderia simplesmente deixá-lo morrer. Seus rostos estavam muito próximos, e Megan desviou o olhar, incapaz de sustentar aquele contato.

Mesmo que a situação não permitisse que ela o analisasse com calma, era inegável que ele era um homem bonito e atraente. 

— Você tem olhos lindos — disse ele, a voz rouca, mas carregada de uma sinceridade evidente. 

Algo naquele elogio a fez congelar por um instante. Megan o encarou novamente, mas logo desviou, sentindo o peso da situação. Sem dizer mais nada, ajudou-o a entrar. Ele estava fraco, e o sofá de couro seria o único lugar aceitável. Levá-lo para o quarto estava fora de questão, e deitá-lo em sua cama, ainda mais.

— Deite-se. Vou pegar tudo o que preciso para cuidar do seu ferimento — pediu, notando que, mesmo debilitado, ele não soltava a arma.

Megan, sempre meticulosa, tinha em casa quase tudo o que poderia precisar, inclusive anestesia. Suas medidas preventivas, muitas vezes vistas como paranoicas, agora se mostravam indispensáveis. Ela o deixou no sofá e foi buscar os materiais necessários, temendo que a bala ainda estivesse alojada, o que tornaria tudo ainda mais complicado.

Ao voltar para a sala, afastou alguns móveis para criar espaço e colocou luvas e máscara antes de começar o procedimento. A tensão no ar era indescritível naquele momento.

— Vou abrir sua camisa e começar. Evite se mover a partir de agora. Preciso avaliar o estado do ferimento — disse, sua voz demonstrando toda sua urgência.

Benjamim confirmou levemente com a cabeça. Estava sem forças, o sangue perdido cobrando seu preço. Megan limpou o local e sentiu o estômago revirar ao notar que não havia ferimento de saída. O que ela temia havia se confirmado.

— A bala está alojada. Preciso retirá-la. O ideal seria fazer isso em um hospital, mas imagino que você não queira ir para lá — disse, tentando manter a calma.

— Sem hospital. Eles podem me encontrar lá. Não confio em ninguém — murmurou, a voz quase inaudível.

— Então vai ter que confiar em mim. Vou aplicar uma anestesia local e torcer para que funcione. Pelo menos a bala não atingiu nenhum órgão vital, ou você já estaria morto — avisou, pegando a seringa com mãos firmes, apesar do nervosismo.

Benjamim respirou fundo, como se reunir forças fosse um esforço monumental.

— Presta atenção, doutora. Meu nome é Benjamim Brown — disse com dificuldade, cada palavra carregada de peso. — Sou alguém muito influente nesta cidade. Sei tratar bem quem me trata bem, mas posso ser um pesadelo para quem me trai. Pense bem no que vai fazer.

Megan engoliu em seco. A ameaça, disfarçada de aviso, fez seu coração acelerar. Ela apenas assentiu, tentando esconder o tremor nas mãos. Aplicou a anestesia e começou o procedimento, os olhos atentos a cada reação de Benjamim.

A respiração dele estava fraca, e cada tentativa de alcançar o projétil fazia mais sangue escorrer. Megan repetia mentalmente, como um mantra: "Aguente, por favor, aguente." Sem os equipamentos de emergência que teria em um hospital, ela sabia que estava no limite. Rezava para que a situação não piorasse.

— Meu... meu celular — murmurou Benjamim, a voz fraca.

— Não fale nada nem se mova, por favor. Estou quase alcançando a bala. Quando o pior tiver passado, você fala o que precisa — respondeu Megan, sem desviar os olhos do ferimento.

Benjamim obedeceu, limitando-se a lançar um olhar breve para a médica. O suor escorria pela testa dela, evidência do esforço e da concentração. Ele percebeu, naquele instante, que ela estava genuinamente empenhada em salvá-lo. Se ela conseguisse, ele jamais esqueceria o que ela fez por ele.

— Encontrei! — exclamou Megan, com um tom de alívio.

Com movimentos precisos, ela retirou o projétil, colocando-o em uma gaze antes de pressionar o local do ferimento para estancar o sangue. Limpou cuidadosamente o excesso de sangue que escorria, o coração ainda acelerado pela tensão do momento. Quando estava prestes a dizer que o pior havia passado, ouviu o som da arma caindo no chão.

Megan ergueu os olhos rapidamente e viu o rosto de Benjamim. Ele estava desacordado.

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