Caio o tirou de seus pensamentos ao avisar que haviam chegado. Benjamin conferiu sua arma e a munição antes de descer do carro. Ele nunca saía desarmado, nem mesmo quando ia para a casa dela. Subiu os degraus e tocou a campainha. Tinha a chave do apartamento, mas, naquele momento, não estava com ela. Logo, a porta se abriu, revelando Harper, que o recebeu com um sorriso radiante.
— Entre, eu estava te esperando — disse ela, dando espaço para que ele passasse.
Harper era uma mulher loira, de um metro e sessenta, dona de olhos verdes que pareciam hipnotizar. Aos olhos de todos, era linda e irresistível, capaz de atrair olhares por onde passava. Benjamin deslizou a mão para sua cintura, puxando-a para mais perto, e murmurou com um sorriso provocativo:
— Achei que fosse me esperar vestida com aquela lingerie da foto que me mandou.
Ela arqueou uma sobrancelha, os lábios curvando-se em um sorriso malicioso.
— Pensei que fosse melhor esperar você sem ela.
O tom sensual de sua voz fez o corpo dele esquentar. Harper vestia um robe de seda, e, com um gesto lento e intencional, pegou a mão dele, deslizando-a pela abertura do tecido até suas partes íntimas, deixando claro que, de fato, não havia nada por baixo.
Benjamin apenas sorriu e aproveitou para deslizar as mãos pelo corpo dela, explorando sua pele macia. Quando se inclinou para beijá-la, um reflexo no vidro da cristaleira chamou sua atenção. Seu instinto gritou antes mesmo que pudesse racionalizar.
— Se abaixe! — ele ordenou.
Empurrou Harper para o lado e sacou a arma no mesmo instante em que os disparos começaram. O impacto das balas o atingiu, assim como Harper. A dor veio rápida, quente, mas ele não podia se dar ao luxo de parar. Revidou os tiros enquanto se jogava atrás de uma poltrona para se proteger. Tentou localizá-la, queria saber se ela estava consciente, mas, para sua surpresa, Harper estava rastejando... em direção a quem estava atirando.
Os tiros cessaram. Benjamin apertou a mão contra seu ferimento, avaliando o estrago. A bala tinha atingido sua lateral, doía, mas ele acreditava que conseguiria resistir por tempo suficiente para sair dali.
— Benjamin, por que não sai daí e vamos conversar?
A voz fez seu sangue gelar. Ele a reconheceria em qualquer lugar. Enzo Duncan.
Um gemido fraco veio de Harper, e Benjamin sentiu a raiva crescer.
— Deixe a Harper ir, Enzo. Sou eu que você quer. Ela está ferida.
A resposta veio em forma de uma gargalhada debochada.
— Você ainda não entendeu, Adam. Ela está comigo. Quanto ao ferimento, não se preocupe. Depois que eu lidar com você, vou levá-la para ser tratada adequadamente.
O mundo ao redor de Benjamin pareceu girar. Sua mente recusava-se a aceitar o que acabara de ouvir. Não podia ser verdade.
— O que você quer dizer com "ela está com você"? — sua voz saiu carregada de incredulidade.
— Somos amantes, Benjamin. Se queria que eu falasse com todas as letras, então escute bem: ela usou o aniversário de vocês como desculpa para trazê-lo até aqui, e você caiu feito um pato. Como sempre, confiou demais em suas habilidades e veio sem seus homens. Mas hoje… hoje você vai se dar mal.
A traição queimava em sua mente como uma lâmina quente atravessando sua pele. Harper sabia bem quais eram as regras. Ele sempre foi claro sobre o que aconteceria se alguém o traísse; fosse um dos seus homens ou a mulher ao seu lado. E agora… agora ele estava ali, ferido e feito de idiota.
— Enzo… está doendo. — Harper resmungou, sua voz carregada de dor.
— Não posso fazer nada agora. Espere até eu acabar com ele e só então poderei cuidar de você — a resposta de Enzo veio fria, impaciente. — Não está vendo que também fui atingido? Mesmo assim, não vou desperdiçar essa oportunidade.
Benjamin ouviu tudo. Sentiu a raiva crescer ainda mais. Foi para isso que ela o traiu? Para receber esse tipo de tratamento? Ele respirou fundo, segurando o sangue fervendo dentro dele.
— Se você sobreviver, Harper… tome cuidado para nunca mais cruzar meu caminho.
Ele estava perto da porta. Por sorte, não havia avançado muito para dentro do apartamento, mas sair dali ainda seria um desafio. Precisava se levantar rápido, abrir a porta e escapar. Sabia que Enzo não daria outra chance.
Com um último olhar para a arma e a munição restante, Benjamin apertou o ferimento, sentindo a dor latejar. Precisava se mover, mesmo que isso o fizesse sangrar ainda mais.
Respirou fundo e, num impulso, atirou na direção de Enzo. Não precisava acertá-lo; apenas fazê-lo se esconder por tempo suficiente para abrir a porta. O tempo era seu pior inimigo. Ou sairia dali… ou morreria tentando.
Benjamin se abaixou e continuou atirando enquanto abria a porta. No instante em que conseguiu, praticamente se jogou para fora, sentindo o impacto da queda. O barulho dos disparos recomeçou imediatamente.
Ignorando a dor lancinante do ferimento, ele se levantou o mais rápido que pôde e correu em direção ao elevador, sempre lançando olhares para trás. Por sorte, assim que se aproximou, as portas se abriram e um casal saiu de dentro.
A mulher arregalou os olhos ao vê-lo ensanguentado e armado. O pânico tomou conta dela, e um grito estridente ecoou pelo corredor.
— Saiam do corredor! — Benjamin ordenou, sua voz carregada de urgência.
Sem perder tempo, entrou no elevador e apertou repetidamente o botão para fechar as portas. O som dos disparos soou mais uma vez, e o casal se jogou no chão em desespero. Ele ouviu passos apressados se aproximando; sua munição não duraria muito.
As portas se fecharam. Benjamin soltou um suspiro pesado, sentindo um alívio momentâneo. Voltou a pressionar o ferimento, o sangue quente escorrendo por seus dedos. Pegou o celular com a intenção de ligar para um de seus homens, mas a tela permaneceu apagada. Bateria descarregada.
Agora, só podia contar com a própria sorte. E torcer para não ser alcançado no saguão do prédio. No apartamento de Harper, Enzo observava o rastro de sangue deixado por Benjamin ao fugir. Com a mandíbula travada, deu suas ordens sem desviar os olhos da porta aberta.
— Levem Harper para o nosso ponto seguro. Cuidem do ferimento dela.
Harper gemeu de dor, segurando o próprio machucado enquanto olhava para Enzo com expectativa.
— Você não vem comigo? — perguntou, a voz fraca. Ele sequer olhou em sua direção.
— Eu preciso aproveitar que ele está ferido. Benjamin não pode ter ido longe. E nós precisamos sair antes que a polícia apareça.
Sem mais explicações, fez um sinal para que seus homens cumprissem as ordens. Ele saiu do apartamento, descendo rapidamente para a rua, os olhos varrendo o ambiente à procura do rival. O desgraçado tinha que estar por ali. Enzo percorreu alguns becos, praguejando a cada esquina vazia. Benjamin simplesmente havia desaparecido.
— Merda! — cuspiu as palavras, frustrado. — Desgraçado sortudo… mas vamos ver até onde vai sua sorte.
O som das sirenes já se aproximava. Seu tempo tinha acabado. Com um gesto rápido, chamou seus homens e desapareceu antes que a polícia chegasse.
Megan mal podia esperar para trocar de roupa e voltar para casa. Seu turno havia terminado, e tudo o que desejava era um banho relaxante. Após se despedir de Linda, dirigiu-se ao vestiário para trocar de roupa. Em seguida, voltou ao escritório para pegar seus pertences antes de sair. Já passava da meia-noite, e ela havia realizado várias cirurgias ao longo do dia. Enquanto caminhava em direção à recepção, algo chamou sua atenção: uma movimentação estranha.Gritos ecoaram pelo local, e Megan percebeu que homens armados haviam invadido o hospital, trazendo consigo três homens baleados. Um deles apontou uma arma para Linda e exigiu saber onde estava o médico. Megan sentiu o peso da situação: sua tranquila noite havia sido destruída.— Eu sou médica — declarou, atraindo a atenção dos invasores e afastando-os de sua amiga. Apesar da apreensão, sabia que não podia demonstrar medo.Linda lançou lhe um olhar preocupado, mas Megan manteve a calma e aproximou-se dos feridos. Os homens armados e
Enzo se aproximou um pouco mais de Megan. Passou por trás dela e sussurrou próximo ao seu ouvido, fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo, mas foi o medo que causou aquela reação. — Bom, doutora, se você está dizendo, vou considerar isso uma fatalidade. — Ele se virou para os seus homens e ordenou: — Podem soltá-la. Vamos sair daqui. Megan viu o alívio tomar conta dos rostos de Cibele e Lucas, mas só se sentiria tranquila quando todos aqueles homens tivessem deixado o hospital. Foi então que ela percebeu Enzo se aproximando novamente, ficando de frente para ela. — Já estamos de saída. Sinto muito por estragar seu plantão, mas eu não podia esperar ser atendido em outro lugar. Caso contrário, acabaria como o meu homem, que morreu. Meu nome é Enzo Duncan. Talvez você já tenha ouvido meu sobrenome. E o seu, doutora? Megan engoliu em seco ao ouvir a pergunta. Ela não queria, de forma alguma, que ele soubesse seu nome, mas também não sabia se seria prudente mentir. — Meu nome
Por mais que ele parecesse sincero, Megan sabia que não poderia confiar totalmente. A única coisa que podia fazer, por ora, era ajudar aquele homem e torcer para que ele fosse embora sem lhe causar nenhum mal.— Vamos entrar. Isso aqui não está ficando nada bom. — Benjamim ordenou, apontando com a arma para que ela saísse do carro.Megan obedeceu sem hesitar, mas lembrou-se de sua maleta no banco traseiro. Ao se aproximar da porta do carro, ouviu a voz ríspida dele novamente.— O que está fazendo? Já disse para não tentar nada. Não quero te machucar.— Só quero pegar minha maleta — explicou, levantando uma das mãos em sinal de rendição. — Sou médica. Posso cuidar do seu ferimento.Benjamim manteve a arma apontada para ela, mas fez um gesto breve, permitindo que pegasse o que precisava. Megan foi rápida: pegou a maleta, fechou a porta e seguiu em direção à entrada.Quando abriu a porta da casa, Benjamim cambaleou, quase caindo. Por reflexo, ela o segurou, e seus corpos ficaram perigosa
Megan sentiu o coração acelerar ao vê-lo desmaiado. Com mãos trêmulas, alcançou o aparelho de pressão e verificou seu estado. A pressão de Benjamim havia despencado, e ela precisava agir rápido. Ele não podia morrer ali, não em sua casa. Isso era algo que ela jamais permitiria.— Nem pense em morrer aqui. Você vai sair daqui vivo — murmurou, mesmo sabendo que ele não podia ouvi-la.O suor escorria por seu rosto, misturando-se à tensão que dominava o ambiente. Sem os equipamentos adequados, cada movimento parecia um desafio monumental. Megan limpou a ferida mais uma vez e começou a suturá-la. Em todos os seus anos de medicina, nunca havia sentido tanto medo de perder um paciente. Ele havia sido claro sobre quem era, e o nome que mencionou ecoava em sua mente, inconfundível.Ela não queria se envolver com pessoas perigosas, mas parecia que o destino tinha outros planos. O passado de sua família com mafiosos já havia trazido desgraça suficiente, e agora, ali estava ela, lutando para salv
Alguns quilômetros de onde Megan enfrentava seu dilema, Enzo foi levado para uma clínica de confiança, a mesma onde Harper havia sido atendida. Enquanto aguardava notícias sobre a garota, ele dava novas ordens aos seus homens.— Encontrem aquele bastardo. Descubram em qual hospital ele está ou em qual viela ele morreu. Só o encontrem, droga! Se ele estiver vivo, deve estar fraco, perdeu muito sangue. Será mais fácil terminar o serviço.As ordens de Enzo eram claras e diretas. Ele estava determinado a descobrir o que havia acontecido depois que Benjamim saiu do apartamento. Aquela pergunta ecoaria em sua mente até que ele obtivesse uma resposta.Enzo queria, a todo custo, provar ao pai que era capaz de cuidar dos negócios. Essa tarefa precisava ser concluída rapidamente e com sucesso. Ele tocou o ombro ferido pela bala, sentindo a dor misturada ao ódio que nutria por Benjamim. No entanto, enquanto fazia o tratamento, a lembrança de Megan invadiu seus pensamentos. Um sorriso de canto su
Megan ainda parecia desacreditada com tudo que estava acontecendo e com o problema no qual havia se metido. Era pedir demais continuar vivendo sua vida pacata? — Preciso levá-lo agora. Quanto mais eu demorar para buscar tratamento, maior será o risco. Posso pedir que mais dois homens que estão lá fora entrem? — ele pediu, respeitoso, já que a casa era dela. Incapaz de responder com palavras, Megan apenas fez um leve gesto com a cabeça, concedendo sua permissão. Caio dirigiu-se à porta e sinalizou para que dois homens entrassem. Assim que chegaram, ele foi direto: — Benjamim está no sofá e está ferido. Peguem-no com cuidado e levem para o carro. Eu vou em seguida. Os dois homens obedeceram sem hesitação e carregaram Benjamim cuidadosamente para fora. Assim que eles saíram, Megan pareceu recobrar a lucidez e se aproximou de Caio.— Aqui está o celular dele. Caio pegou o aparelho, lançou um olhar para Megan, que ainda parecia assustada, agradeceu e reforçou o pedido: — Obrigado por
Andrew se aproximou de Caio, cruzando os braços enquanto fazia a pergunta que ele já esperava. — Já vimos que meu irmão está bem. Agora, explique como isso aconteceu. Caio respirou fundo, o incômodo evidente em sua voz enquanto tentava se justificar: — Eu não estava com ele no momento. Deixei-o no apartamento da Harper. Ele disse que teriam um encontro para comemorar o aniversário deles. — A culpa parecia pesar em cada palavra. Andrew estreitou o olhar, a irritação transparecendo: — Ele sabe que tem inimigos e insiste em sair sozinho. — Seu irmão é bom com armas e com os punhos, você sabe disso. — Caio manteve a firmeza enquanto levantava suas suspeitas. — Mas acredito que ele caiu em uma armadilha. Para capturá-lo dessa forma, só se ele estivesse com a guarda baixa. E, se estava com Harper, como já aconteceu antes, é compreensível que baixasse a guarda. Caio não confiava em Harper. Ele nunca gostou dela. Já a flagrara sendo rude com os funcionários, embora mudasse completament
Megan acordou bem depois do meio-dia, ainda sentindo o peso do cansaço. Talvez todas as mudanças recentes em sua rotina tivessem drenado suas energias. Depois de um banho, decidiu comer fora. Precisava respirar um pouco de ar fresco e se afastar de tudo. Sempre que passava pela sala, a imagem de Benjamim deitado no sofá a assombrava. Megan queria apagar de sua memória a experiência no hospital, assim como aquele cenário familiar que agora parecia estranho.Enquanto se organizava para sair, ela não fazia ideia de que os dois lados da confusão em que se envolvera estavam focados no mesmo objetivo: descobrir sua verdadeira identidade. Se ao menos suspeitasse disso, estaria em pânico naquele momento.Antes de sair, Megan inspecionou cuidadosamente o visor do interfone e as câmeras externas para se certificar de que não havia ninguém à espreita. Com o coração ainda acelerado, trancou as portas, entrou no carro e abriu o portão. Partiu rumo à avenida, sem notar a moto estacionada próximo à