Ivy tentou resistir, lutar contra as sensações que inundavam seu corpo. O cheiro de Lucian parecia invadir cada fibra de seu ser, enquanto a conexão que surgia entre eles pulsava como uma corda apertada ao redor de seu coração. Ela sentia o peso de sua fome, de sua fraqueza.
E o seu corpo acabou por ceder, desabando como se finalmente estivesse entregando tudo o que tinha lutado para segurar nos últimos anos. As correntes em seus pulsos tilintaram quando ela caiu no chão de pedra, seu cabelo rubro se espalhando ao redor de seu rosto pálido.
Antes que possa apagar completamente, Ivy sente braços fortes e calorosos amparando sua queda. Aquele toque, aquele calor enviam conjuntos de faíscas sobre todo o seu corpo frágil, a deixando ainda mais desnorteada.
Lucian reage antes que qualquer outro pudesse se mover. Em um movimento rápido, ele a segurou antes que seu corpo atingisse o chão completamente. Sua mão firme a amparou, mas o toque fez o laço entre eles pulsar ainda mais forte. Era insuportável e inegável.
Ivy consegue sentir a própria frieza de sua pele, e ela percebeu com um choque que era mais frágil do que ela havia permitido acreditar. Os dois anos de cativeiro, a falta de comida decente, de luz, de dignidade - tudo havia cobrado seu preço.
— Levem-na de volta à masmorra — ordenou um dos anciãos, tentando restabelecer a ordem.
Lucian se virou lentamente, os olhos cheios de uma fúria contida.
— Não. — Sua voz era baixa, mas carregava o peso de uma autoridade que ninguém ousava questionar. — Ela vem comigo.
Os guardas hesitaram, trocando olhares, mas nenhum deles ousou se mover contra o alfa. Ele ergueu Ivy com cuidado, sua expressão impenetrável, mas dentro dele, uma guerra estava sendo travada.
Enquanto carregava Ivy para longe, o cheiro dela ainda pairando no ar, ele sabia que as coisas haviam mudado. Aquela mulher não era apenas uma prisioneira, nem apenas um inimigo. Ela era sua companheira. E agora, ele teria que decidir o que isso significava.
***
Ivy despertou em um sobressalto, sentindo o cheiro de madeira polida e lavanda; uma combinação que a enojou por saber a quem pertencia. Seu corpo ainda estava exausto, e sua cabeça latejava com a memória do que havia acontecido horas antes.
Ela tenta se levantar da cama, apenas para ser interceptada pelas duas lobas que estavam presentes no quarto em que ela se encontrava.
— Você precisa tomar banho e se arrumar. — disse uma das fêmeas, repetindo a ordem do alfa, uma loba alta de cabelos castanhos presos em um coque apertado. Seu tom era firme, mas havia uma pitada de compaixão em sua voz.
Ivy cruzou os braços, erguendo o queixo em desafio.
— Eu só quero ver meu irmão. Onde está Ethan? O que fizeram com ele?
— Seu irmão está seguro — disse a outra loba, menor e mais jovem, com olhos tão dourados quanto os de Lucian. — O Alfa quer vê-la. É importante que esteja apresentável.
— Apresentável? — Ivy riu com escárnio. — Não vou me enfeitar para o monstro que matou minha família. Podem esquecer!
As lobas trocaram um olhar antes de se aproximarem dela novamente.
— Não é uma escolha, garota. — disse a mais velha. — Faça o que dizemos, ou sofrerá as consequências.
Ivy, com o coração acelerado e a fúria queimando em seu peito, decidiu que não aceitaria aquele tipo de tratamento. Quando as duas lobas a conduziram ao banheiro, ela entrou na banheira cheia de água morna apenas para sair imediatamente. Com um movimento rápido, empurrou Lyra, a loba mais jovem, que tropeçou e caiu no chão.
— Eu não vou me submeter! Vocês podem me forçar a vir para cá, mas não vou me enfeitar para ele — gritou, os punhos cerrados. — Não enquanto meu irmão estiver longe, e eu não tiver respostas!
Helena, a loba mais velha, estreitou os olhos, mas permaneceu estoica.
— O Alfa decidirá como lidar com você — murmurou antes de sair do quarto, puxando Lyra consigo.
Por alguns minutos, o silêncio reinou. Ivy respirava com dificuldade, seu corpo tremendo de raiva e medo. Ela buscou um roupão ao lado e em seguida colocou ao redor de si e encarou o seu reflexo no espelho e tudo que viu foi uma mulher assustada, perdida em um jogo de poder que não compreendia completamente. Além disso, a sua própria aparência fez seu estômago revirar. Estava magra, com olheiras enormes e escuras ao redor do seus olhos índigo.
Naquele momento, ela se dá conta de que apenas não morreu por causa do poder de cura dos lobos, mas seu estado era deplorável. Sua situação era ainda mais cruel por conta das correntes de prata que usara durante os anos em que ficara presa, o que impedia a sua transformação. Ivy sentia-se desprezada, pavorosa e culpava o alfa Lucian por toda a fatalidade que percorria sua existência.
Minutos depois, passos firmes e lentos ecoaram pelo corredor. O ar ficou pesado, e Ivy soube que ele estava perto antes mesmo de vê-lo. A porta se abriu, e lá estava Lucian, com sua presença avassaladora. Ele usava roupas simples, mas a aura de autoridade que emanava dele era impossível de ignorar.
— Um escândalo por um banho? — Sua voz era baixa, mas carregada de um tom perigoso.
— Não quero conversar com você. — Ivy rebateu, puxando o roupão ao redor de si com mais força. — Quero meu irmão.
Lucian fechou a porta com um movimento calmo, o clique da tranca soando como um trovão no silêncio do quarto. Ele deu um passo em direção a ela, e Ivy se obrigou a não recuar, mesmo quando o cheiro amadeirado e intimidante dele invadiu seus sentidos.
— Quero conversar com você. — ele disse, como se sua decisão fosse incontestável. — Mas antes, você vai tomar banho e se alimentar.
— Eu disse que não vou. — Ivy começou, mas sua frase foi interrompida quando Lucian cruzou a distância entre eles em um movimento rápido e a ergueu como se ela não pesasse nada.
— Solte-me! — ela gritou, socando o peito dele. — Eu odeio você!
— Pode me odiar depois. — ele disse, sem sequer piscar diante de sua resistência.
Com passos firmes, ele a levou até a banheira. Ivy se debateu com mais força, mas não teve chance quando ele a jogou na água quente sem hesitar.
Ivy emergiu, tossindo e completamente furiosa. Seus cabelos molhados grudaram no rosto enquanto ela o encarava com ódio puro.— Você é um tirano! Um monstro!— E você é teimosa. — Lucian cruzou os braços, observando-a com uma calma que só a irritou mais. — Agora, faça o que pedi, ou a próxima vez não será tão gentil.Ele saiu do banheiro antes que ela pudesse dizer outra palavra, deixando-a sozinha, molhada e cheia de raiva, mas sem opções. Ivy jurou que ele não venceria, mesmo que tivesse que lutar com cada fibra do seu ser.Ciente de que naquela altura do tempo, lutar contra Lucian seria uma imensa perca de tempo e ela precisava fazer o que ele ordenara, até certo ponto, para assim conseguir notícias do seu irmão, Ivy mergulha completamente.Não sabia que precisava de um banho e que se sentia tão suja até o momento em que saiu da banheira e se secou completamente. Se sentiu melhor, e um pouco mais determinada. Esticando as mãos, ela encontrou um vestido azul celeste ao lado do biomb
Ivy estava presa no grande salão, e naquele instante, tudo que ela desejava era desaparecer entre as sombras. O espaço era amplo, com paredes de pedra e tetos altos que amplificavam cada som, mas para ela, parecia sufocante. Porque ela sempre soubera que não era bem-vinda, e a hostilidade estava presente em toda a atmosfera.Principalmente naquele instante, quando aquela loba avançou suas garras afiadas contra ela, os olhos prateados e cobertos por um ódio cego e latente.O movimento foi rápido demais para Ivy reagir, e a garra daquela loba rasgou sua bochecha antes mesmo que ela pudesse chamar por sua loba. Aquela fêmea parece disposta a continuar com seu golpe e Ivy sente seu sangue gelar, porque percebe que não teria chance alguma contra ela. Principalmente com a situação deplorável e fraqueza que seu corpo se encontrava.— Você é tão covarde quanto os fracassados dos seus pais. — A loba volta a rosnar e se prepara para atacar Ivy novamente, que só desvia os olhos e espera pelo gol
O carcereiro deu uma risada grave diante da determinação cega e a coragem imprudente de Ivy. Lentamente ele avança em sua direção, o sorriso diabólico presente em seu rosto duro e cruel.— Ora, ora... a ovelhinha decidiu enfrentar o lobo. Pena que não vai durar muito. — Ele resmunga, ficando cada vez mais próximo.Ivy tremeu, mas não cedeu. Seu coração batia tão forte que sentia como se fosse rasgar seu peito, mas sua convicção era maior que o medo. Enquanto encarava o carcereiro, ouviu o irmão atrás dela.— Saia daqui, Ivy! Ele vai te machucar... como fizeram comigo.— Eu não vou deixar você sozinho — respondeu, sem desviar os olhos do homem à frente.O carcereiro levantou o chicote novamente, pronto para desferir o golpe, mas algo aconteceu. O som grave de passos ecoou pelo corredor. Pesados, firmes, inconfundíveis.Lucian. Lucian não hesitou. Um rosnado profundo e ensurdecedor escapou de sua garganta quando entrou com violência no recinto.O carcereiro hesitou, os olhos piscando na
Os gemidos fracos de Ethan ecoavam na masmorra enquanto dois curandeiros da alcateia o colocavam cuidadosamente em uma maca improvisada.Ivy permaneceu ao lado dele, segurando sua mão com firmeza, sentindo cada fragmento de dor do irmão como se fosse dela mesma.— Você precisa cuidar das suas feridas, Ethan — disse Ivy, a voz embargada.— E você precisa sair daqui — ele respondeu, tossindo. A fraqueza era evidente, mas havia fogo em seus olhos, mesmo quando estavam pesados de exaustão.O curandeiro lhe aplicou um unguento nas feridas abertas enquanto Ivy se inclinava, acariciando os cabelos suados dele.— Não se preocupe comigo. Eu vou dar um jeito, Ethan. Prometo.Mas antes que pudesse dizer mais, a porta de ferro rangeu. Lucian entrou, sua presença preenchendo o espaço como uma tempestade.— Ele vai viver. — Disse Lucian, de maneira seca, com os olhos focados em Ivy. — Agora você vem comigo.Ivy lançou um último olhar ao irmão, sabendo que ele seria levado à enfermaria. Seus lábios
Ivy sentiu os olhares perfurando sua pele enquanto caminhava ao lado de Lucian. Os membros da alcateia estavam em silêncio, mas seus olhos eram cortantes. Ela sabia o que diziam. Sabia o quanto os desprezavam. E pior: sabia que a presença de Lucian ao seu lado não fazia as coisas mais fáceis. Para todos ali, ela era apenas uma intrusa, a nova Luna que precisaria se provar a todo custo. E Ivy, embora tentasse ocultar, se sentia perdida nesse jogo.— Você está bem? — A voz de Lucian, finalmente, cortou o silêncio.Ele a olhava de lado, com seus olhos frios como a noite. Não havia preocupação no tom, apenas uma indiferença calculada.— Claro. — Ela respondeu, tentando manter a compostura. Ela não iria ceder ao desconforto deles. Não agora, não nunca. — Só me sinto em casa aqui. — Disse com sarcasmo.Lucian ignorou, sua expressão de pedra nunca vacilando. Eles avançaram mais alguns metros até estarem no lado interno da casa da alcatéia, e seguiram até o que Ivy percebeu, ser o salão de m
Ivy se virou em frente ao espelho pela última vez enquanto as mulheres ao seu redor terminavam de ajustar o seu vestido. O azul celeste abraçava seu corpo delicadamente, realçando a palidez de sua pele e o brilho de seus olhos intensos. Apesar da indignação de ser moldada como um objeto, por um momento, ela não reconheceu o próprio reflexo.Ela mal suportava o peso daqueles toques "delicados". Como alguém poderia achar que um vestido ou cabelos trançados poderiam mascarar o furacão que ela sentia por dentro? Ela não era apenas outra peça naquele jogo implacável. Não poderia ser.Antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, a porta do quarto se abriu, revelando Lucian.— Está pronta? — ele perguntou, sua voz firme preenchendo o ambiente antes que pudesse vê-la completamente.Quando seus olhos a captaram, Lucian parou. Ele não era um homem facilmente surpreendido, mas ali estava ela, uma versão de Ivy que ele não esperava. Seu olhar deslizou do cabelo vermelho, agora caind
O peso no ar parecia maior conforme os anciãos avançavam em direção a Ivy. Eles eram vultos de autoridade, com passos lentos e olhares que intimidavam até os lobos mais experientes. Ivy respirou fundo, seus dedos entrelaçados em um esforço visível para disfarçar o nervosismo.Quando ficaram próximos, ela os saudou com um pequeno aceno de cabeça, mantendo um tom educado, embora sua voz traísse um leve tremor. — É uma honra conhecê-los pessoalmente, senhores. — Ivy falou, tentando manter um sorriso, apesar de não tolerar nem um pouco a existência daqueles homens.No entanto, Ivy percebeu que se quisesse sobreviver naquele lugar, precisaria aprender a fingir e ignorar seus reais sentimentos.Mesmo assim, os anciãos sequer reagiram a sua tentativa de aproximação. Suas expressões permaneceram imóveis, suas vozes inaudíveis enquanto sussurravam entre si. Sem nem dirigir uma palavra a Ivy, ou mísero olhar, fizeram um gesto chamando Lucian.— Alfa. Precisamos falar em particular. — a voz gra
Assim que Lucian entrou naquela sala com os anciões, Ivy começou a caminhar entre as pessoas, tentando não chamar atenção. Cada riso distante e olhar furtivo parecia uma crítica velada, como se ela fosse uma intrusa no mundo ao qual Lucian pertencia. A sensação de deslocamento era sufocante.Talvez voltar para o quarto fosse a melhor opção.Enquanto atravessava o salão, ela tentou desviar de um dos serviçais carregando bandejas. Sua atenção dispersa, somada ao tumulto ao redor, fez com que esbarrasse na pessoa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta: o equilíbrio perdido, a bandeja balançando no ar, e a certeza de que cairia no chão com um estrondo.Mas, antes que pudesse atingir o solo, mãos firmes a seguraram pela cintura, erguendo-a de volta com facilidade. Ivy ergueu os olhos rapidamente, o coração batendo descompassado. A figura que a amparava era alta, poderosa e imediatamente familiar. O olhar claro e penetrante era inconfundível.— Você está bem? — perguntou o homem, sua voz