Ivy sentiu os olhares perfurando sua pele enquanto caminhava ao lado de Lucian. Os membros da alcateia estavam em silêncio, mas seus olhos eram cortantes. Ela sabia o que diziam. Sabia o quanto os desprezavam. E pior: sabia que a presença de Lucian ao seu lado não fazia as coisas mais fáceis.
Para todos ali, ela era apenas uma intrusa, a nova Luna que precisaria se provar a todo custo. E Ivy, embora tentasse ocultar, se sentia perdida nesse jogo.
— Você está bem? — A voz de Lucian, finalmente, cortou o silêncio.
Ele a olhava de lado, com seus olhos frios como a noite. Não havia preocupação no tom, apenas uma indiferença calculada.
— Claro. — Ela respondeu, tentando manter a compostura. Ela não iria ceder ao desconforto deles. Não agora, não nunca. — Só me sinto em casa aqui. — Disse com sarcasmo.
Lucian ignorou, sua expressão de pedra nunca vacilando. Eles avançaram mais alguns metros até estarem no lado interno da casa da alcatéia, e seguiram até o que Ivy percebeu, ser o salão de mulheres.
Nesse momento, Lucian para, sem se virar para ela, mas há ordens em sua voz autoritária, como sempre.
— Quando a cerimônia chegar, você precisará demonstrar sua força. Sua autoridade. — Ele deu um passo à frente, olhando para ela com uma intensidade calculada. — A marcação entre nós acontecerá em breve. Eles precisam ver que você é capaz. Não mostre fraqueza.
Os olhos de Ivy se estreitaram. A raiva não a deixava.
— Fraqueza? — ela murmurou com um riso sem graça. — Você quer dizer que eu me vire sozinha, como sempre, sem saber o que fazer, sem nenhuma preparação? — Ela respirou fundo, tentando não perder o controle, mas a frustração estava ali, latente. — Eu poderia saber de algo, Lucian, se você não tivesse matado a minha mãe antes que ela pudesse me ensinar.
Lucian não respondeu imediatamente. Seu olhar estava distante, como se calculasse algo, sem se importar com o peso da dor e raiva que explodiu sobre Ivy. Ele a encarou um momento depois, com um tom quase frio de instrução.
— Seu lugar não é garantir o conforto de todos, Ivy. Aqui, o que importa é a demonstração de força. Quando você tiver a marcação, eles respeitarão sua posição. A cerimônia é o primeiro passo. — Ele diz simplesmente, nada mais.
— Certo... — Ivy resmunga quando sentiu um nó apertando em seu estômago.
Nada daquilo era sobre a cerimônia. Era sobre ser moldada em algo que ela não entendia, não sabia como lidar com todos rituais, cerimônias, bailes...
— E quanto ao resto? — Ivy fala em seguida, lutando para manter o mesmo grau de indiferença de Lucian. — As mulheres da alcateia? Você acha que vou me moldar a elas para ser uma boa Luna? Estão todas me observando, avaliando cada passo que dou...
— Você não precisa agradá-las, Ivy. Só precisa ser... imponente. Conquistar respeito.
Aquelas palavras a irritaram mais do que ela gostaria de admitir. Tudo aquilo, para Lucian, era apenas sobre poder, sobre aparência. Ivy não conseguia acreditar ou aceitar que estava enlaçada com alguém tão vil.
— Por isso, você deve entrar nesse salão e se mostrar apresentável: como uma verdadeira Luna.
Nesse momento, Ivy parou no lugar e cruzou os braços, encarando-o com dureza nos olhos.
— Você não se importa com ninguém, Lucian. Não com elas, não comigo. Só se importa com seu poder. É isso o tempo todo, não é? Como se eu fosse apenas uma peça no seu tabuleiro. Você só quer que eu fique aqui, seguindo regras que nunca entendi, que nunca aprendi de verdade... Porque, no final, o que importa é sua imagem.
Lucian a olhou sem surpresa. Mas a cada palavra que ela falava, o gelo em sua expressão só parecia se tornar mais espesso. Ele se aproximou lentamente, como se quisesse examinar cada nuance em seu rosto.
— Agora você viu? — perguntou, o tom grave e penetrante. — Só agora isso ficou claro para você?
Ivy deu um passo à frente, impulsionada por uma raiva crescente, e sentiu o fogo consumir seu peito. Nesse momento, as mulheres que estavam dentro do salão, começaram a se aproximar para cuidar dela, como se não fosse possível ignorar o momento.
A movimentação ao seu redor aumentava, mas Ivy ainda estava distante, perdida no abismo entre ela e Lucian, os olhos mortais e desafiadores sobre ele.
— Cuidado com o que você diz, Ivy. — Lucian disse, por fim, sua voz agora sem qualquer leveza. — Nem tudo é uma questão de agradar. É sobre sobreviver. E você vai entender isso cedo o suficiente.
Ela queria gritar, mas não conseguiu, pois logo aquelas mulheres começaram a puxa-la para dentro daquele salão. O vazio entre eles estava se alargando, não porque ele estivesse distante fisicamente, mas porque ela simplesmente não saberia jamais como preencher esse espaço.
As mulheres começaram a tratá-la, passando as mãos com precisão em seus cabelos e pele, mudando seus trajes com olhos dissimulados e sutis sorrisos de aprovação. Mas Ivy sabia o que acontecia ali. Elas não a viam como uma verdadeira Luna. Ela sentiu cada toque delas como uma tentativa de conformá-la, de “fazer dela algo que ela não era”.
— Espero que você entenda o quanto esse dia é crucial. Mais do que a aparência, o que você transmite será seu verdadeiro poder. — Disse Lucian, olhando uma última vez para ela. — Sabe o que fazer... Agora faça. Nos encontraremos em algumas horas.
Ivy o observou sair, e por um instante, o som de seus passos ecoando pelo corredor frio foi tudo o que ela ouviu. Ela estava sozinha de novo, cercada por pessoas que a tocavam, mas ninguém ali a via como realmente era.
Ela estava perdida, sozinha num lugar onde não se encaixava, mas o que mais a incomodava era a frieza do homem cruel que ela passaria a dividir os seus dias.
Naquele instante, desejou que a sua vida fosse curta.
Ivy se virou em frente ao espelho pela última vez enquanto as mulheres ao seu redor terminavam de ajustar o seu vestido. O azul celeste abraçava seu corpo delicadamente, realçando a palidez de sua pele e o brilho de seus olhos intensos. Apesar da indignação de ser moldada como um objeto, por um momento, ela não reconheceu o próprio reflexo.Ela mal suportava o peso daqueles toques "delicados". Como alguém poderia achar que um vestido ou cabelos trançados poderiam mascarar o furacão que ela sentia por dentro? Ela não era apenas outra peça naquele jogo implacável. Não poderia ser.Antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, a porta do quarto se abriu, revelando Lucian.— Está pronta? — ele perguntou, sua voz firme preenchendo o ambiente antes que pudesse vê-la completamente.Quando seus olhos a captaram, Lucian parou. Ele não era um homem facilmente surpreendido, mas ali estava ela, uma versão de Ivy que ele não esperava. Seu olhar deslizou do cabelo vermelho, agora caind
O peso no ar parecia maior conforme os anciãos avançavam em direção a Ivy. Eles eram vultos de autoridade, com passos lentos e olhares que intimidavam até os lobos mais experientes. Ivy respirou fundo, seus dedos entrelaçados em um esforço visível para disfarçar o nervosismo.Quando ficaram próximos, ela os saudou com um pequeno aceno de cabeça, mantendo um tom educado, embora sua voz traísse um leve tremor. — É uma honra conhecê-los pessoalmente, senhores. — Ivy falou, tentando manter um sorriso, apesar de não tolerar nem um pouco a existência daqueles homens.No entanto, Ivy percebeu que se quisesse sobreviver naquele lugar, precisaria aprender a fingir e ignorar seus reais sentimentos.Mesmo assim, os anciãos sequer reagiram a sua tentativa de aproximação. Suas expressões permaneceram imóveis, suas vozes inaudíveis enquanto sussurravam entre si. Sem nem dirigir uma palavra a Ivy, ou mísero olhar, fizeram um gesto chamando Lucian.— Alfa. Precisamos falar em particular. — a voz gra
Assim que Lucian entrou naquela sala com os anciões, Ivy começou a caminhar entre as pessoas, tentando não chamar atenção. Cada riso distante e olhar furtivo parecia uma crítica velada, como se ela fosse uma intrusa no mundo ao qual Lucian pertencia. A sensação de deslocamento era sufocante.Talvez voltar para o quarto fosse a melhor opção.Enquanto atravessava o salão, ela tentou desviar de um dos serviçais carregando bandejas. Sua atenção dispersa, somada ao tumulto ao redor, fez com que esbarrasse na pessoa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta: o equilíbrio perdido, a bandeja balançando no ar, e a certeza de que cairia no chão com um estrondo.Mas, antes que pudesse atingir o solo, mãos firmes a seguraram pela cintura, erguendo-a de volta com facilidade. Ivy ergueu os olhos rapidamente, o coração batendo descompassado. A figura que a amparava era alta, poderosa e imediatamente familiar. O olhar claro e penetrante era inconfundível.— Você está bem? — perguntou o homem, sua voz
O ar da noite era morno, perfumado pelo aroma das flores do jardim da alcateia. A lua cheia pairava alta no céu, sua luz prateada iluminando tudo com um brilho mágico e quase irreal.Ivy caminhava ao lado de Alaric, o coração inquieto, ora observando o homem que parecia impenetrável, ora se perdendo na beleza do cenário.— Não esperava que o jardim fosse tão... calmo — Ivy comentou, tentando quebrar o silêncio enquanto seus passos ecoavam em uníssono no caminho de pedra.— Surpreendente vindo de Lucian, não acha? — Alaric replicou, a voz carregada de uma ironia sutil, que fez Ivy desviar os olhos, sem saber como reagir.Eles atravessaram um caminho lateral e passaram diante de uma sala anexada à casa principal. As janelas estavam entreabertas, e Ivy mal pôde conter o susto ao ouvir a voz grave e autoritária de Lucian de dentro.— ... deixe que ele faça isso. Se é guerra que ele está pensando em criar, vai ter. Minha palavra segue imutável. Vamos aguardar, mas, se for necessário que ha
Alaric deu um passo para trás, ainda sorrindo, mas seus olhos brilharam com algo mais. Algo que Lucian não parecia ter percebido.— Interessante... — murmurou Alaric antes de se virar para Ivy, dando-lhe um olhar de despedida que a fez estremecer. — Conversaremos em outra ocasião. Boa noite, Ivy.Ele saiu sem pressa, deixando Lucian e Ivy a sós sob a luz prateada da lua. E, enquanto Ivy encarava o alfa, que parecia pronto para explodir, seu coração batia descontrolado.O que quer que estivesse acontecendo ali, ela sabia que estava no centro de algo muito maior do que poderia imaginar.Lucian não dissera mais nada, enquanto a noite parecia ainda mais escura enquanto ele guiava Ivy de volta à mansão principal.Ele permaneceu em silêncio, mas a fúria em cada passo seu falava mais do que qualquer palavra. Ivy quase podia ouvir o zumbido de sua raiva contida.O ar de dentro da mansão estava diferente, carregado, como se refletisse o humor de Lucian. Quando chegaram ao corredor, em direção
lA mansão estava envolta em um silêncio inquietante, interrompido apenas pelos estalos das madeiras antigas e o uivo ocasional do vento lá fora. Ivy caminhava de um lado para o outro no grande salão, sua inquietação evidente enquanto olhava repetidamente para a porta principal. Barulhos vindos da floresta haviam perturbado sua noite, sons que não pareciam naturais, como rosnados e gritos abafados. Ela estava ansiosa e cheia de medo, seus pensamentos eram um turbilhão. Algo estava acontecendo, e a ausência de Lucian tornava a espera ainda mais insuportável. Horas mais tarde, a porta da frente se abriu. Lucian entrou como uma tempestade, e a visão dele fez Ivy parar no meio do salão, enquanto seu coração parava por um momento ao vê-lo. Ele estava coberto de sangue, sujeira e folhas, os olhos dourados brilhando com uma intensidade assustadora, como brasas sob a pouca luz. — Lucian! — Ivy exclamou, correndo até ele, embora hesitasse antes de se aproximar completamente. — O que aconte
— Você é impossível! — Ivy exclamou, o coração acelerado e a voz embargada pela mistura de indignação e... algo mais que ela não ousava nomear.Lucian apenas riu baixinho enquanto Ivy corria, para longe dele e daquele quarto.Quando já estava distante, Ivy sentiu o sangue subir ao rosto, a respiração ainda agitada. O olhar de Lucian estava gravado em sua mente, tão intenso e desafiador que quase a fez derreter no lugar.Ela desceu as escadas em silêncio, tentando manter a compostura, o coração batendo descontrolado, e Ivy levou a mão até o peito. O calor que se instalou em seu corpo era inusitado, e um tipo de excitação que ela não sabia como explicar se espalhou por ela.Era uma sensação quase absurda, e ela se odiava por isso.Se odiava por ter, mesmo que por um segundo, se sentido atraída por um homem tão cruel, tão autoritário, que não parecia ver nada além de seu próprio domínio.Ivy afastou esses pensamentos. Não queria sentir aquilo. Não podia.***No dia seguinte, Ivy acordou
O rosto de Lucian permaneceu impassível quando aquela mulher entrou, mas havia algo em seus olhos — uma mistura de reconhecimento e... irritação?Ivy não sabia dizer ao certo, mas sentiu seu coração apertar ainda mais. Quem era ela e qual sua relação com Lucian?— Então sou eu o quê? — Ivy se volta para a mulher em sua frente, agora menos intimidada do que antes, coberta de irritação e determinação. — Eu deveria conhecer você?Os olhos daquela mulher escanearam Ivy sem qualquer disfarce e cheios de indiferença, antes de se voltarem para Lucian, que continuava imóvel na varanda.Um sorriso quase imperceptível surgiu no canto dos lábios dela, enquanto declarava em alto e bom som:— Espero não ter chegado em um momento inconveniente. Parece que as coisas aqui andam... movimentadas.Lucian não reage de imediato ao que aquela mulher falara, pelo contrário, parecia calcular friamente quais seriam os seus próximos passos.Ivy espera que ele faça algo, ou que aquela mulher também reaja e fale