Capítulo 7

Ivy sentiu os olhares perfurando sua pele enquanto caminhava ao lado de Lucian. Os membros da alcateia estavam em silêncio, mas seus olhos eram cortantes. Ela sabia o que diziam. Sabia o quanto os desprezavam. E pior: sabia que a presença de Lucian ao seu lado não fazia as coisas mais fáceis.

 Para todos ali, ela era apenas uma intrusa, a nova Luna que precisaria se provar a todo custo. E Ivy, embora tentasse ocultar, se sentia perdida nesse jogo.

— Você está bem? — A voz de Lucian, finalmente, cortou o silêncio.

Ele a olhava de lado, com seus olhos frios como a noite. Não havia preocupação no tom, apenas uma indiferença calculada.

— Claro. — Ela respondeu, tentando manter a compostura. Ela não iria ceder ao desconforto deles. Não agora, não nunca. — Só me sinto em casa aqui. — Disse com sarcasmo.

Lucian ignorou, sua expressão de pedra nunca vacilando. Eles avançaram mais alguns metros até estarem no lado interno da casa da alcatéia, e seguiram até o que Ivy percebeu, ser o salão de mulheres.

Nesse momento, Lucian para, sem se virar para ela, mas há ordens em sua voz autoritária, como sempre.

— Quando a cerimônia chegar, você precisará demonstrar sua força. Sua autoridade. — Ele deu um passo à frente, olhando para ela com uma intensidade calculada. — A marcação entre nós acontecerá em breve. Eles precisam ver que você é capaz. Não mostre fraqueza.

Os olhos de Ivy se estreitaram. A raiva não a deixava.

— Fraqueza? — ela murmurou com um riso sem graça. — Você quer dizer que eu me vire sozinha, como sempre, sem saber o que fazer, sem nenhuma preparação? — Ela respirou fundo, tentando não perder o controle, mas a frustração estava ali, latente. — Eu poderia saber de algo, Lucian, se você não tivesse matado a minha mãe antes que ela pudesse me ensinar.

Lucian não respondeu imediatamente. Seu olhar estava distante, como se calculasse algo, sem se importar com o peso da dor e raiva que explodiu sobre Ivy. Ele a encarou um momento depois, com um tom quase frio de instrução.

— Seu lugar não é garantir o conforto de todos, Ivy. Aqui, o que importa é a demonstração de força. Quando você tiver a marcação, eles respeitarão sua posição. A cerimônia é o primeiro passo. — Ele diz simplesmente, nada mais.

— Certo... — Ivy resmunga quando sentiu um nó apertando em seu estômago.

Nada daquilo era sobre a cerimônia. Era sobre ser moldada em algo que ela não entendia, não sabia como lidar com todos rituais, cerimônias, bailes...

— E quanto ao resto? — Ivy fala em seguida, lutando para manter o mesmo grau de indiferença de Lucian. — As mulheres da alcateia? Você acha que vou me moldar a elas para ser uma boa Luna? Estão todas me observando, avaliando cada passo que dou...

— Você não precisa agradá-las, Ivy. Só precisa ser... imponente. Conquistar respeito.

Aquelas palavras a irritaram mais do que ela gostaria de admitir. Tudo aquilo, para Lucian, era apenas sobre poder, sobre aparência. Ivy não conseguia acreditar ou aceitar que estava enlaçada com alguém tão vil.

— Por isso, você deve entrar nesse salão e se mostrar apresentável: como uma verdadeira Luna.

Nesse momento, Ivy parou no lugar e cruzou os braços, encarando-o com dureza nos olhos.

— Você não se importa com ninguém, Lucian. Não com elas, não comigo. Só se importa com seu poder. É isso o tempo todo, não é? Como se eu fosse apenas uma peça no seu tabuleiro. Você só quer que eu fique aqui, seguindo regras que nunca entendi, que nunca aprendi de verdade... Porque, no final, o que importa é sua imagem.

Lucian a olhou sem surpresa. Mas a cada palavra que ela falava, o gelo em sua expressão só parecia se tornar mais espesso. Ele se aproximou lentamente, como se quisesse examinar cada nuance em seu rosto.

— Agora você viu? — perguntou, o tom grave e penetrante. — Só agora isso ficou claro para você?

Ivy deu um passo à frente, impulsionada por uma raiva crescente, e sentiu o fogo consumir seu peito.  Nesse momento, as mulheres que estavam dentro do salão, começaram a se aproximar para cuidar dela, como se não fosse possível ignorar o momento.

A movimentação ao seu redor aumentava, mas Ivy ainda estava distante, perdida no abismo entre ela e Lucian, os olhos mortais e desafiadores sobre ele.

— Cuidado com o que você diz, Ivy. — Lucian disse, por fim, sua voz agora sem qualquer leveza. — Nem tudo é uma questão de agradar. É sobre sobreviver. E você vai entender isso cedo o suficiente.

Ela queria gritar, mas não conseguiu, pois logo aquelas mulheres começaram a puxa-la para dentro daquele salão. O vazio entre eles estava se alargando, não porque ele estivesse distante fisicamente, mas porque ela simplesmente não saberia jamais como preencher esse espaço.

As mulheres começaram a tratá-la, passando as mãos com precisão em seus cabelos e pele, mudando seus trajes com olhos dissimulados e sutis sorrisos de aprovação. Mas Ivy sabia o que acontecia ali. Elas não a viam como uma verdadeira Luna. Ela sentiu cada toque delas como uma tentativa de conformá-la, de “fazer dela algo que ela não era”.

— Espero que você entenda o quanto esse dia é crucial. Mais do que a aparência, o que você transmite será seu verdadeiro poder. — Disse Lucian, olhando uma última vez para ela. — Sabe o que fazer... Agora faça. Nos encontraremos em algumas horas.

Ivy o observou sair, e por um instante, o som de seus passos ecoando pelo corredor frio foi tudo o que ela ouviu. Ela estava sozinha de novo, cercada por pessoas que a tocavam, mas ninguém ali a via como realmente era.

Ela estava perdida, sozinha num lugar onde não se encaixava, mas o que mais a incomodava era a frieza do homem cruel que ela passaria a dividir os seus dias.

Naquele instante, desejou que a sua vida fosse curta.

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