O tempo parou.Não como uma metáfora para o medo, não como um devaneio do subconsciente. Mas sim, de forma literal.O vento cessou. Os ecos da batalha morreram. As lâminas que se cruzavam ficaram suspensas no ar como se a própria realidade hesitasse.E então, veio a voz.— Chegou o momento.Não era apenas um som. Era algo mais profundo. Algo que se infiltrava sob a pele, que vibrava nos ossos, que penetrava a mente como dedos invisíveis arrancando cada lembrança, cada sentimento.Os olhos de Ivy estavam fixos nas sombras que se erguiam ao seu redor. Elas eram uma presença viva, pulsante, como se o próprio vazio tivesse encontrado forma.Mas o que realmente fez seu corpo paralisar, o que fez seu coração bater dolorosamente contra suas costelas, foi o olhar de Lucian.Terror.Não medo. Terror.Lucian, o homem que enfrentou exércitos, que cortou gargantas sem hesitação, que nunca recuou diante da morte, estava aterrorizado.E isso significava que ela deveria estar também.— Não... — a vo
O silêncio daquela vozes, seguida da proposta de Lucian, foi pior do que qualquer grito.Ivy sentiu a garganta fechar, o pavor subindo por sua espinha como garras afiadas. As sombras ao redor deles pulsavam, quase como se estivessem saboreando aquele momento.Ela lutou contra a sensação de estar presa, os olhos fixos em Lucian, que se mantinha de joelhos, inabalável, esperando a resposta das vozes.— Você está louco? — sua voz saiu trêmula, a respiração entrecortada pelo desespero. — Você não pode fazer isso, Lucian!Ele não respondeu.Ele não olhou para ela.Não moveu um músculo sequer.Lucian só aguardava.— Lucian, pelo amor da Deusa Solene. — Ivy insistiu, a voz se tornando um grito sufocado. — Isso é suicídio! Você acha mesmo que vou permitir?Ainda, ele se manteve em silêncio.As sombras se moviam como serpentes ao redor deles, murmurando entre si, contemplando a oferta.Ivy sentiu as lágrimas queimarem seus olhos.— Fale comigo! Me olhe, droga!E então, ele olhou.E o que Ivy v
Tudo ao redor vibrava, como se estivesse prestes a desmoronar. As sombras sussurravam, ansiosas. O ar pulsava com uma energia ancestral, sufocante.Lucian segurava o olhar da mãe, os olhos ardendo com uma súplica muda. Ivy sentia o peito rasgar de dentro para fora, cada fibra do seu ser gritando contra aquilo. Mas então...— Isso não pode acontecer. — A voz de Alaric cortou o espaço, firme, inabalável.As sombras estremeceram. Grace virou a cabeça, surpresa. Lucian fechou os punhos.— Você não entende, Alaric… — Grace começou, mas ele já estava caminhando para frente, a mandíbula travada.— Não é assim que funciona! — ele rugiu, o tom carregado de autoridade. — Vocês não podem interferir dessa maneira!O silêncio que se seguiu foi como a calmaria antes da tempestade. As vozes sussurraram entre si, irritadas. Grace franziu o cenho.— Cale-se, Alaric. — Uma das vozes falou, cortante.Ele não recuou.— Isso não pode ser decidido dessa forma. Vocês sabem disso!As sombras se agitaram, imp
O que sobrou daquele ambiente mais parecia como uma enorme lápide.O silêncio absoluto. Implacável.Lucian permaneceu imóvel, o olhar vidrado no vazio onde sua mãe estivera segundos antes. Seu peito subia e descia em respirações irregulares, curtas demais, como se o ar simplesmente se recusasse a entrar.Ivy sentiu o mundo se inclinando ao seu redor. Suas pernas falharam, e ela teria caído se Lucian não estivesse ali, sustentando-a. Mas, ironicamente, ele próprio tremia tanto que parecia que seria ele quem desabaria a qualquer instante.Os dedos de Ivy se fecharam com força ao redor da manga da camisa dele, buscando um ponto de ancoragem.— Lucian… — sua voz saiu falha, quase um sussurro.Ele não respondeu.Um soluço tremeu em seus lábios antes de ser sufocado. O peito dele se contraiu de maneira violenta, e então ele finalmente caiu de joelhos.— Ela… se foi. — Sua voz quebrou.Ivy sentiu os olhos arderem.— Eu sei.A dor que pesava sobre ele era tão palpável que parecia um peso real
A escuridão cedia aos poucos.Um sussurro distante, um calor confortável envolvendo seu corpo, um toque familiar em sua pele. Ivy sentia-se flutuando entre o real e o desconhecido, a mente um emaranhado de memórias dispersas, como se estivesse presa em um sonho do qual não conseguia despertar.Mas, então, algo a puxou para a realidade.Seus olhos se abriram lentamente, piscando algumas vezes para se ajustar à luz suave que preenchia o quarto. O teto alto, os detalhes dourados nas molduras, os móveis de madeira escura… reconheceu imediatamente. Estava na mansão de Lucian.Seu corpo ainda parecia pesado, mas percebeu a sensação de lençóis macios contra a pele. O ar tinha um leve cheiro de lareira acesa, misturado ao perfume amadeirado que ela associava apenas a uma pessoa.Lucian.Virando a cabeça, o encontrou ali, sentado ao lado da cama, observando-a com um olhar que misturava alívio e cansaço.— Você acordou — a voz dele era grave, mas carregada de uma ternura que a fez sentir um cal
Ivy piscou, processando as palavras do curandeiro, como se o tempo tivesse desacelerado ao seu redor. O peso daquela revelação atingiu-a como um choque elétrico. Seu coração disparou, sua respiração ficou rasa, e um frio percorreu sua espinha.— O… o quê? — sua voz saiu fraca, quase um sussurro.Lucian também não reagiu imediatamente. Seus olhos escuros estavam fixos no curandeiro, o corpo rígido como se tivesse acabado de ouvir algo impossível.O curandeiro manteve-se impassível, seu olhar afiado fixo nela.— Você está grávida — ele repetiu, cada sílaba carregada de uma certeza inquestionável.O mundo de Ivy girou.Ela levou a mão à barriga instintivamente, como se pudesse sentir algo ali, mas tudo parecia igual. Nenhuma mudança visível, nenhum sinal… e, ao mesmo tempo, tudo dentro dela se transformava em um redemoinho de emoções.Grávida.As palavras ecoavam em sua mente.Ela se virou lentamente para Lucian. Ele ainda estava imóvel, os olhos semicerrados, como se estivesse tentando
O vento soprava suavemente pelas colinas, carregando consigo o aroma de terra molhada e folhas recém-floridas. O céu estava tingido por tons dourados e alaranjados, enquanto o sol começava a se despedir no horizonte. Ivy estava parada na varanda da casa, os olhos voltados para a paisagem vasta à sua frente. Aquele lugar, que antes parecia uma prisão, agora era um lar. Ela passou a mão pela barriga, agora plana, sentindo a lembrança do peso que carregara por meses. Um sorriso suave surgiu em seus lábios quando ouviu um pequeno resmungo atrás de si. — Se você continuar aí fora por muito tempo, ele vai acordar e perceber que você sumiu — Lucian murmurou, encostando-se ao batente da porta. Ivy se virou para encará-lo. Ele parecia exausto, os cabelos bagunçados e a camisa aberta no peito, mas havia um brilho nos olhos dele que a fazia se sentir aquecida por dentro. — Eu só queria respirar um pouco — ela respondeu suavemente. Lucian caminhou até ela, e antes que pudesse reagir, e
— Não importa o que aconteça, Ivy, eles já nos condenaram. O único consolo que me resta é que, ao menos, estaremos juntos até o fim.Os corredores escuros da masmorra vibravam com o eco da voz de Ethan e das gotas d'água que caíam das paredes frias de pedra.Ivy estava sentada contra a parede, o metal gélido das correntes apertando seus pulsos e tornozelos. Ela havia perdido a noção do tempo ali dentro. Dois anos pareciam uma eternidade, um ciclo interminável de escuridão, fome e silêncio quebrado apenas pelos gemidos baixos de dor de seu irmão preso na cela ao lado.— Juntos até o fim, sim. — Ivy finalmente responde. — Mas isso não significa que vamos morrer sem lutar.Ethan não tivera tempo de rebater a resposta coberta de resignação e coragem de sua irmã, porque no mesmo instante, surgiu uma luz no fundo do corredor. A luz fraca das tochas iluminava os passos calculados de Lucian, o alfa. Ele era uma figura intimidante, com ombros largos e olhos que pareciam queimar de raiva ete