Capítulo 3

Ivy emergiu, tossindo e completamente furiosa. Seus cabelos molhados grudaram no rosto enquanto ela o encarava com ódio puro.

— Você é um tirano! Um monstro!

— E você é teimosa. — Lucian cruzou os braços, observando-a com uma calma que só a irritou mais. — Agora, faça o que pedi, ou a próxima vez não será tão gentil.

Ele saiu do banheiro antes que ela pudesse dizer outra palavra, deixando-a sozinha, molhada e cheia de raiva, mas sem opções. Ivy jurou que ele não venceria, mesmo que tivesse que lutar com cada fibra do seu ser.

Ciente de que naquela altura do tempo, lutar contra Lucian seria uma imensa perca de tempo e ela precisava fazer o que ele ordenara, até certo ponto, para assim conseguir notícias do seu irmão, Ivy mergulha completamente.

Não sabia que precisava de um banho e que se sentia tão suja até o momento em que saiu da banheira e se secou completamente. Se sentiu melhor, e um pouco mais determinada. Esticando as mãos, ela encontrou um vestido azul celeste ao lado do biombo. Ivy se se vestiu rapidamente e em seguida, saiu do banheiro só para bufar de frustração.

— Você estava aqui o tempo todo? — Ela bufou, indignada ao se dar conta que ele estava no quarto ao lado enquanto ela se banhava.

— Então é assim que você agradece pela hospitalidade? — ele perguntou, a voz grave e controlada. — Recusando-se a cooperar, causando problemas para minha equipe?

Lucian se referiu a confusão causada por Ivy anteriormente e ela quase soltou uma gargalhada em sua cara ao notar que ele realmente falava sério.

— Hospitalidade? Você chama isso de hospitalidade? Me arrancar da minha vida, me prender aqui e agora exigir que eu... que eu... me enfeite para você? — Ivy respondeu, dando um passo à frente, o olhar desafiador. — Eu não sou uma de suas lobas obedientes, Lucian.

Ele deu um meio sorriso, mas havia algo perigoso nele.

— Você está certa. Você não é como elas. Você é minha companheira. E, como tal, há certas expectativas.

— Companheira? Eu não sou nada para você! — Ivy gritou, o som ecoando pelo quarto.

Lucian suspirou, aproximando-se. Ela recuou instintivamente, mas sua raiva a impediu de fugir completamente.

— Ivy, é simples. Você já tomou banho e agora precisa se alimentar. E eu não quero ter que usar força.

— Força? Você acha que pode me intimidar? — Ela ergueu o queixo, a fúria cintilando em seus olhos.

Lucian não respondeu. Em vez disso, em um movimento rápido, ele a pegou no colo. Ivy lutou, chutando e batendo em seu peito, mas ele parecia inabalável. Sem uma palavra, ele a levou até a sala de jantar da alcateia, ignorando seus protestos e os olhares dos outros lobos presentes no corredor.

— Se você não fizer isso por vontade própria, eu farei você obedecer — disse ele, inclinando-se para encarar seus olhos furiosos. — Você pode odiar o quanto quiser, mas isso não muda nada.

Lucian colocou Ivy sentada na mesa de jantar, o seu vestido ainda colava um pouco em corpo devido as pequenas gotas de água que ainda escorriam dos seus cabelos cor de fogo. Seus punhos estavam cerrados, mas as lágrimas que ameaçavam cair eram de frustração, não de derrota.

— Você pode me jogar aqui também, mas nunca vou me submeter a você, Lucian. Nunca.

Ele a encarou por um longo momento, a proximidade entre eles, o cheiro amadeirado e desconcertante fez a cabeça de Ivy girar. E por mais que lutasse com todas as suas forças, Ivy acabou por respirar fundo, sentindo ainda mais profundamente aquele aroma perturbador.

— Vamos ver, Ivy. Vamos ver. Mas agora, faça o que é preciso. Você vai precisar de forças para o que está por vir.

A respiração de Ivy se tornou irregular enquanto as ondas de fúria e desespero a dominavam. Ela sentia que a guerra entre eles havia apenas começado.

— O que diabos está por vir? — Ivy rebate sentindo seu coração ricochetear em seu peito. — Amanhã eu serei executada. Você esqueceu?

Ivy bateu em seu peito, tentando o afastar, mas era inútil.

Quando seus olhos cruzaram novamente com os de Lucian, algo se conectou, algo que ia além do ódio, da vingança e da dor. Era um fio invisível que os unia, forte como aço, impossível de ignorar. Ivy sentiu uma onda de emoções conflitantes: raiva, negação, mas também uma sensação profunda de pertencimento que ela não compreendia.

E então veio a dor. Não física, mas emocional, como se o peso de tudo que os separava tivesse se materializado dentro dela. Aquele macho, que havia destruído tudo que ela conhecia, agora era a única pessoa no mundo que seu lobo reconhecia como companheiro. Como poderia a deusa da lua tê-la castigado mais uma vez a entregando ao homem que destruiu toda sua vida matando toda sua família?

Ivy respirou fundo, mas o cheiro dele só intensificava o turbilhão dentro dela.

— Você também sente, não sente? — A voz de Lucian cortou o silêncio, baixa, quase rouca, como se ele estivesse lutando contra as mesmas forças que ela.

Ivy piscou, tentando conter as lágrimas de frustração e confusão que ameaçavam cair. Ela queria gritar, queria negar, mas a conexão que pulsava entre eles era tão real quanto as correntes que prenderam seus pulsos por tanto tempo.

— Não deveria ser assim — ela murmurou, quase inaudível, sua voz carregada de angústia. — Não com você.

Lucian a encarou, os olhos dele queimando com a mesma intensidade que ela sentia. Ele deu um passo à frente, a proximidade fazendo o ar entre eles parecer eletrizado.

— O destino não pergunta o que deveria ser — ele respondeu, a voz carregada de uma emoção que ela não conseguia decifrar.

Naquele momento, Ivy sabia que nada seria como antes. O laço que os unia era inquebrável, uma força primitiva que os amarrava um ao outro, mesmo contra sua vontade. E, no fundo, ela temia o que isso significava.

— Sendo assim, você irá me obedecer e vai se alimentar do jeito que estou ordenando. — Lucian rosna, muito próximo do seu rosto e em seguida, desaparece, indo em direção a cozinha.

No mesmo instante em que Lucian sai daquela sala, Ivy ouviu passos pesados se aproximando, e seu corpo se enrijeceu. Uma mulher alta, de cabelos escuros e olhos faiscantes, parou à sua frente. Ivy reconheceu o desprezo antes mesmo que a mulher dissesse uma palavra.

— Você não deveria estar aqui — disse a loba, sua voz baixa, mas carregada de rancor. — Filha de traidores... Vocês destruíram famílias inteiras. Vocês mataram os meus!

Ivy sentiu a acusação como uma lâmina. Não era a primeira vez que ouvia algo assim, mas desta vez havia algo diferente: uma ameaça latente.

— Eu não fiz nada a você — respondeu, tentando manter a voz firme e sair daquela mesa, mas a sua postura era vacilante e entregava o seu medo.

— Não fez? — a mulher deu um passo à frente, e Ivy instintivamente recuou. — Vocês trouxeram destruição, e agora ousa viver aqui, sob o mesmo teto que nós?

Mas antes que Ivy pudesse responder, a loba avançou, suas unhas se alongando em garras afiadas. 

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