Ivy emergiu, tossindo e completamente furiosa. Seus cabelos molhados grudaram no rosto enquanto ela o encarava com ódio puro.
— Você é um tirano! Um monstro!
— E você é teimosa. — Lucian cruzou os braços, observando-a com uma calma que só a irritou mais. — Agora, faça o que pedi, ou a próxima vez não será tão gentil.
Ele saiu do banheiro antes que ela pudesse dizer outra palavra, deixando-a sozinha, molhada e cheia de raiva, mas sem opções. Ivy jurou que ele não venceria, mesmo que tivesse que lutar com cada fibra do seu ser.
Ciente de que naquela altura do tempo, lutar contra Lucian seria uma imensa perca de tempo e ela precisava fazer o que ele ordenara, até certo ponto, para assim conseguir notícias do seu irmão, Ivy mergulha completamente.
Não sabia que precisava de um banho e que se sentia tão suja até o momento em que saiu da banheira e se secou completamente. Se sentiu melhor, e um pouco mais determinada. Esticando as mãos, ela encontrou um vestido azul celeste ao lado do biombo. Ivy se se vestiu rapidamente e em seguida, saiu do banheiro só para bufar de frustração.
— Você estava aqui o tempo todo? — Ela bufou, indignada ao se dar conta que ele estava no quarto ao lado enquanto ela se banhava.
— Então é assim que você agradece pela hospitalidade? — ele perguntou, a voz grave e controlada. — Recusando-se a cooperar, causando problemas para minha equipe?
Lucian se referiu a confusão causada por Ivy anteriormente e ela quase soltou uma gargalhada em sua cara ao notar que ele realmente falava sério.
— Hospitalidade? Você chama isso de hospitalidade? Me arrancar da minha vida, me prender aqui e agora exigir que eu... que eu... me enfeite para você? — Ivy respondeu, dando um passo à frente, o olhar desafiador. — Eu não sou uma de suas lobas obedientes, Lucian.
Ele deu um meio sorriso, mas havia algo perigoso nele.
— Você está certa. Você não é como elas. Você é minha companheira. E, como tal, há certas expectativas.
— Companheira? Eu não sou nada para você! — Ivy gritou, o som ecoando pelo quarto.
Lucian suspirou, aproximando-se. Ela recuou instintivamente, mas sua raiva a impediu de fugir completamente.
— Ivy, é simples. Você já tomou banho e agora precisa se alimentar. E eu não quero ter que usar força.
— Força? Você acha que pode me intimidar? — Ela ergueu o queixo, a fúria cintilando em seus olhos.
Lucian não respondeu. Em vez disso, em um movimento rápido, ele a pegou no colo. Ivy lutou, chutando e batendo em seu peito, mas ele parecia inabalável. Sem uma palavra, ele a levou até a sala de jantar da alcateia, ignorando seus protestos e os olhares dos outros lobos presentes no corredor.
— Se você não fizer isso por vontade própria, eu farei você obedecer — disse ele, inclinando-se para encarar seus olhos furiosos. — Você pode odiar o quanto quiser, mas isso não muda nada.
Lucian colocou Ivy sentada na mesa de jantar, o seu vestido ainda colava um pouco em corpo devido as pequenas gotas de água que ainda escorriam dos seus cabelos cor de fogo. Seus punhos estavam cerrados, mas as lágrimas que ameaçavam cair eram de frustração, não de derrota.
— Você pode me jogar aqui também, mas nunca vou me submeter a você, Lucian. Nunca.
Ele a encarou por um longo momento, a proximidade entre eles, o cheiro amadeirado e desconcertante fez a cabeça de Ivy girar. E por mais que lutasse com todas as suas forças, Ivy acabou por respirar fundo, sentindo ainda mais profundamente aquele aroma perturbador.
— Vamos ver, Ivy. Vamos ver. Mas agora, faça o que é preciso. Você vai precisar de forças para o que está por vir.
A respiração de Ivy se tornou irregular enquanto as ondas de fúria e desespero a dominavam. Ela sentia que a guerra entre eles havia apenas começado.
— O que diabos está por vir? — Ivy rebate sentindo seu coração ricochetear em seu peito. — Amanhã eu serei executada. Você esqueceu?
Ivy bateu em seu peito, tentando o afastar, mas era inútil.
Quando seus olhos cruzaram novamente com os de Lucian, algo se conectou, algo que ia além do ódio, da vingança e da dor. Era um fio invisível que os unia, forte como aço, impossível de ignorar. Ivy sentiu uma onda de emoções conflitantes: raiva, negação, mas também uma sensação profunda de pertencimento que ela não compreendia.
E então veio a dor. Não física, mas emocional, como se o peso de tudo que os separava tivesse se materializado dentro dela. Aquele macho, que havia destruído tudo que ela conhecia, agora era a única pessoa no mundo que seu lobo reconhecia como companheiro. Como poderia a deusa da lua tê-la castigado mais uma vez a entregando ao homem que destruiu toda sua vida matando toda sua família?
Ivy respirou fundo, mas o cheiro dele só intensificava o turbilhão dentro dela.
— Você também sente, não sente? — A voz de Lucian cortou o silêncio, baixa, quase rouca, como se ele estivesse lutando contra as mesmas forças que ela.
Ivy piscou, tentando conter as lágrimas de frustração e confusão que ameaçavam cair. Ela queria gritar, queria negar, mas a conexão que pulsava entre eles era tão real quanto as correntes que prenderam seus pulsos por tanto tempo.
— Não deveria ser assim — ela murmurou, quase inaudível, sua voz carregada de angústia. — Não com você.
Lucian a encarou, os olhos dele queimando com a mesma intensidade que ela sentia. Ele deu um passo à frente, a proximidade fazendo o ar entre eles parecer eletrizado.
— O destino não pergunta o que deveria ser — ele respondeu, a voz carregada de uma emoção que ela não conseguia decifrar.
Naquele momento, Ivy sabia que nada seria como antes. O laço que os unia era inquebrável, uma força primitiva que os amarrava um ao outro, mesmo contra sua vontade. E, no fundo, ela temia o que isso significava.
— Sendo assim, você irá me obedecer e vai se alimentar do jeito que estou ordenando. — Lucian rosna, muito próximo do seu rosto e em seguida, desaparece, indo em direção a cozinha.
No mesmo instante em que Lucian sai daquela sala, Ivy ouviu passos pesados se aproximando, e seu corpo se enrijeceu. Uma mulher alta, de cabelos escuros e olhos faiscantes, parou à sua frente. Ivy reconheceu o desprezo antes mesmo que a mulher dissesse uma palavra.
— Você não deveria estar aqui — disse a loba, sua voz baixa, mas carregada de rancor. — Filha de traidores... Vocês destruíram famílias inteiras. Vocês mataram os meus!
Ivy sentiu a acusação como uma lâmina. Não era a primeira vez que ouvia algo assim, mas desta vez havia algo diferente: uma ameaça latente.
— Eu não fiz nada a você — respondeu, tentando manter a voz firme e sair daquela mesa, mas a sua postura era vacilante e entregava o seu medo.
— Não fez? — a mulher deu um passo à frente, e Ivy instintivamente recuou. — Vocês trouxeram destruição, e agora ousa viver aqui, sob o mesmo teto que nós?
Mas antes que Ivy pudesse responder, a loba avançou, suas unhas se alongando em garras afiadas.
Ivy estava presa no grande salão, e naquele instante, tudo que ela desejava era desaparecer entre as sombras. O espaço era amplo, com paredes de pedra e tetos altos que amplificavam cada som, mas para ela, parecia sufocante. Porque ela sempre soubera que não era bem-vinda, e a hostilidade estava presente em toda a atmosfera.Principalmente naquele instante, quando aquela loba avançou suas garras afiadas contra ela, os olhos prateados e cobertos por um ódio cego e latente.O movimento foi rápido demais para Ivy reagir, e a garra daquela loba rasgou sua bochecha antes mesmo que ela pudesse chamar por sua loba. Aquela fêmea parece disposta a continuar com seu golpe e Ivy sente seu sangue gelar, porque percebe que não teria chance alguma contra ela. Principalmente com a situação deplorável e fraqueza que seu corpo se encontrava.— Você é tão covarde quanto os fracassados dos seus pais. — A loba volta a rosnar e se prepara para atacar Ivy novamente, que só desvia os olhos e espera pelo gol
O carcereiro deu uma risada grave diante da determinação cega e a coragem imprudente de Ivy. Lentamente ele avança em sua direção, o sorriso diabólico presente em seu rosto duro e cruel.— Ora, ora... a ovelhinha decidiu enfrentar o lobo. Pena que não vai durar muito. — Ele resmunga, ficando cada vez mais próximo.Ivy tremeu, mas não cedeu. Seu coração batia tão forte que sentia como se fosse rasgar seu peito, mas sua convicção era maior que o medo. Enquanto encarava o carcereiro, ouviu o irmão atrás dela.— Saia daqui, Ivy! Ele vai te machucar... como fizeram comigo.— Eu não vou deixar você sozinho — respondeu, sem desviar os olhos do homem à frente.O carcereiro levantou o chicote novamente, pronto para desferir o golpe, mas algo aconteceu. O som grave de passos ecoou pelo corredor. Pesados, firmes, inconfundíveis.Lucian. Lucian não hesitou. Um rosnado profundo e ensurdecedor escapou de sua garganta quando entrou com violência no recinto.O carcereiro hesitou, os olhos piscando na
Os gemidos fracos de Ethan ecoavam na masmorra enquanto dois curandeiros da alcateia o colocavam cuidadosamente em uma maca improvisada.Ivy permaneceu ao lado dele, segurando sua mão com firmeza, sentindo cada fragmento de dor do irmão como se fosse dela mesma.— Você precisa cuidar das suas feridas, Ethan — disse Ivy, a voz embargada.— E você precisa sair daqui — ele respondeu, tossindo. A fraqueza era evidente, mas havia fogo em seus olhos, mesmo quando estavam pesados de exaustão.O curandeiro lhe aplicou um unguento nas feridas abertas enquanto Ivy se inclinava, acariciando os cabelos suados dele.— Não se preocupe comigo. Eu vou dar um jeito, Ethan. Prometo.Mas antes que pudesse dizer mais, a porta de ferro rangeu. Lucian entrou, sua presença preenchendo o espaço como uma tempestade.— Ele vai viver. — Disse Lucian, de maneira seca, com os olhos focados em Ivy. — Agora você vem comigo.Ivy lançou um último olhar ao irmão, sabendo que ele seria levado à enfermaria. Seus lábios
Ivy sentiu os olhares perfurando sua pele enquanto caminhava ao lado de Lucian. Os membros da alcateia estavam em silêncio, mas seus olhos eram cortantes. Ela sabia o que diziam. Sabia o quanto os desprezavam. E pior: sabia que a presença de Lucian ao seu lado não fazia as coisas mais fáceis. Para todos ali, ela era apenas uma intrusa, a nova Luna que precisaria se provar a todo custo. E Ivy, embora tentasse ocultar, se sentia perdida nesse jogo.— Você está bem? — A voz de Lucian, finalmente, cortou o silêncio.Ele a olhava de lado, com seus olhos frios como a noite. Não havia preocupação no tom, apenas uma indiferença calculada.— Claro. — Ela respondeu, tentando manter a compostura. Ela não iria ceder ao desconforto deles. Não agora, não nunca. — Só me sinto em casa aqui. — Disse com sarcasmo.Lucian ignorou, sua expressão de pedra nunca vacilando. Eles avançaram mais alguns metros até estarem no lado interno da casa da alcatéia, e seguiram até o que Ivy percebeu, ser o salão de m
Ivy se virou em frente ao espelho pela última vez enquanto as mulheres ao seu redor terminavam de ajustar o seu vestido. O azul celeste abraçava seu corpo delicadamente, realçando a palidez de sua pele e o brilho de seus olhos intensos. Apesar da indignação de ser moldada como um objeto, por um momento, ela não reconheceu o próprio reflexo.Ela mal suportava o peso daqueles toques "delicados". Como alguém poderia achar que um vestido ou cabelos trançados poderiam mascarar o furacão que ela sentia por dentro? Ela não era apenas outra peça naquele jogo implacável. Não poderia ser.Antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, a porta do quarto se abriu, revelando Lucian.— Está pronta? — ele perguntou, sua voz firme preenchendo o ambiente antes que pudesse vê-la completamente.Quando seus olhos a captaram, Lucian parou. Ele não era um homem facilmente surpreendido, mas ali estava ela, uma versão de Ivy que ele não esperava. Seu olhar deslizou do cabelo vermelho, agora caind
O peso no ar parecia maior conforme os anciãos avançavam em direção a Ivy. Eles eram vultos de autoridade, com passos lentos e olhares que intimidavam até os lobos mais experientes. Ivy respirou fundo, seus dedos entrelaçados em um esforço visível para disfarçar o nervosismo.Quando ficaram próximos, ela os saudou com um pequeno aceno de cabeça, mantendo um tom educado, embora sua voz traísse um leve tremor. — É uma honra conhecê-los pessoalmente, senhores. — Ivy falou, tentando manter um sorriso, apesar de não tolerar nem um pouco a existência daqueles homens.No entanto, Ivy percebeu que se quisesse sobreviver naquele lugar, precisaria aprender a fingir e ignorar seus reais sentimentos.Mesmo assim, os anciãos sequer reagiram a sua tentativa de aproximação. Suas expressões permaneceram imóveis, suas vozes inaudíveis enquanto sussurravam entre si. Sem nem dirigir uma palavra a Ivy, ou mísero olhar, fizeram um gesto chamando Lucian.— Alfa. Precisamos falar em particular. — a voz gra
Assim que Lucian entrou naquela sala com os anciões, Ivy começou a caminhar entre as pessoas, tentando não chamar atenção. Cada riso distante e olhar furtivo parecia uma crítica velada, como se ela fosse uma intrusa no mundo ao qual Lucian pertencia. A sensação de deslocamento era sufocante.Talvez voltar para o quarto fosse a melhor opção.Enquanto atravessava o salão, ela tentou desviar de um dos serviçais carregando bandejas. Sua atenção dispersa, somada ao tumulto ao redor, fez com que esbarrasse na pessoa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta: o equilíbrio perdido, a bandeja balançando no ar, e a certeza de que cairia no chão com um estrondo.Mas, antes que pudesse atingir o solo, mãos firmes a seguraram pela cintura, erguendo-a de volta com facilidade. Ivy ergueu os olhos rapidamente, o coração batendo descompassado. A figura que a amparava era alta, poderosa e imediatamente familiar. O olhar claro e penetrante era inconfundível.— Você está bem? — perguntou o homem, sua voz
O ar da noite era morno, perfumado pelo aroma das flores do jardim da alcateia. A lua cheia pairava alta no céu, sua luz prateada iluminando tudo com um brilho mágico e quase irreal.Ivy caminhava ao lado de Alaric, o coração inquieto, ora observando o homem que parecia impenetrável, ora se perdendo na beleza do cenário.— Não esperava que o jardim fosse tão... calmo — Ivy comentou, tentando quebrar o silêncio enquanto seus passos ecoavam em uníssono no caminho de pedra.— Surpreendente vindo de Lucian, não acha? — Alaric replicou, a voz carregada de uma ironia sutil, que fez Ivy desviar os olhos, sem saber como reagir.Eles atravessaram um caminho lateral e passaram diante de uma sala anexada à casa principal. As janelas estavam entreabertas, e Ivy mal pôde conter o susto ao ouvir a voz grave e autoritária de Lucian de dentro.— ... deixe que ele faça isso. Se é guerra que ele está pensando em criar, vai ter. Minha palavra segue imutável. Vamos aguardar, mas, se for necessário que ha