O carcereiro deu uma risada grave diante da determinação cega e a coragem imprudente de Ivy. Lentamente ele avança em sua direção, o sorriso diabólico presente em seu rosto duro e cruel.
— Ora, ora... a ovelhinha decidiu enfrentar o lobo. Pena que não vai durar muito. — Ele resmunga, ficando cada vez mais próximo.
Ivy tremeu, mas não cedeu. Seu coração batia tão forte que sentia como se fosse rasgar seu peito, mas sua convicção era maior que o medo. Enquanto encarava o carcereiro, ouviu o irmão atrás dela.
— Saia daqui, Ivy! Ele vai te machucar... como fizeram comigo.
— Eu não vou deixar você sozinho — respondeu, sem desviar os olhos do homem à frente.
O carcereiro levantou o chicote novamente, pronto para desferir o golpe, mas algo aconteceu. O som grave de passos ecoou pelo corredor. Pesados, firmes, inconfundíveis.
Lucian. Lucian não hesitou. Um rosnado profundo e ensurdecedor escapou de sua garganta quando entrou com violência no recinto.
O carcereiro hesitou, os olhos piscando na direção do corredor. No instante seguinte, o Alfa apareceu, a aura dominante e ameaçadora enchendo o espaço pequeno da cela. Ele parou à porta, os olhos dourados faiscando com algo que parecia... decepção.
— O que está acontecendo aqui? — a voz de Lucian era calma, mas com um tom letal subjacente.
— Ela... — o carcereiro tentou explicar, apontando para Ivy, mas Lucian já se movia.
— Pare agora!
Com uma rapidez inacreditável, ele agarrou o chicote da mão do homem, arrancando-o com tanta força que o carcereiro cambaleou para trás. Lucian deu um passo à frente, sua altura e força esmagadoras reduzindo o carcereiro ao silêncio.
— Você desobedeceu a minha ordem — Lucian rosnou, cada palavra gotejando perigo. — Eu disse que ele ficaria vivo e inteiro. Você acha que pode desafiar minha autoridade?
— Eu... só... —
Lucian nem o deixou terminar. Em um movimento brutal, Lucian avançou como um predador, agarrando-o pela garganta e jogando-o contra a parede. O carcereiro gemeu de dor, escorregando até o chão, mas Lucian não parecia disposto a mostrar clemência. O impacto foi tão brutal que o homem desabou, sem ar, tossindo em agonia.
Lucian pressionou o pé contra o peito do homem, segurando-o ali enquanto seu olhar furioso caía sobre Ivy. Ivy se virou, os olhos arregalados, enquanto segurava seu irmão em estado lastimável.
Lucian voltou sua atenção para ela, o olhar ardente e dominador, que misturava fúria e confusão.
— E você — disse ele, a voz mais baixa, mas ainda tão intensa que Ivy sentiu o chão tremer. — Parece que subestimei sua teimosia.
Ela engoliu em seco, sem saber como reagir.
— Por que fugiu? — perguntou ele, com a voz grave, quase rouca.
— Como notou minha fuga? — Ivy rebate sua pergunta.
Lucian estreita os olhos para encará-la. O dourado dos seus olhos parece escrutinar a alma de Ivy, onde seu coração b**e aceleradamente, diante da presença e do olhar dominante e inescapável do alfa.
— O seu cheiro é doce e inconfundível, Ivy, responsável por invadir os meus sentidos como uma trilha de fogo, me guiando.
Ivy engole em seco, dando um passo para trás diante daquela revelação e daquele olhar que parecia queimar tudo ao redor. Mesmo assim, Lucian continuou:
— Portanto, eu espero que lembre que mesmo na vastidão da floresta, no meio da noite ou na luz da manhã, eu posso senti-la. Meu lobo ruge dentro de mim, exigindo que a encontre.
Sua voz se torna um sussurro sombrio quando volta a falar:
— Por isso, você jamais poderá fugir de mim.
Ignorando as batidas frenéticas do seu coração, Ivy levantou-se devagar, seus olhos se encontrando com os de Lucian sem medo.
— Mesmo assim, eu não me cansarei até fugir. Porque eu jamais ficaria no mesmo lugar que você — respondeu ela, cada palavra carregada de raiva e dor. — Você arrancou tudo de mim. Minha vida. Meu lar. Minha paz. Agora a única coisa que me restava era meu irmão. E mesmo isso você quer tirar de mim.
Lucian a olhou por um longo momento, seus olhos analisando cada detalhe de sua expressão, mas em seguida, apenas ignorou a raiva e a dor presente nos olhos de Ivy.
Finalmente, ele se virou para o carcereiro, que ainda estava preso sob seu pé.
— Se machucar qualquer membro sob minha custódia de novo... não verá o nascer do sol — rosnou. Então, com um último olhar de desdém, ele afastou o pé e deu as costas.
Sem mais uma palavra, ele pegou Ivy pelo braço, não com força, mas com firmeza suficiente para fazê-la recuar um passo.
— Você quer protegê-lo? Então prove que é capaz. Porque isso aqui... — ele gesticulou para a cena à sua frente — não é algo que se resolve com bravura e impulsos.
Sem esperar resposta, ele começou a se afastar, tentando arrastar Ivy consigo. Mas Ivy se recusou a sair do lugar, forçando todo o seu corpo a permanecer ali, naquela cela, junto com Ethan.
— Não irei a lugar algum. Ele é o meu irmão e não irei abandoná-lo.
O olhar de Lucian endureceu por um breve instante diante da teimosia desobediente de Ivy, mas antes que ele pudesse responder, o som grave da sentinela da manhã soou, ressoando pelas paredes como um aviso.
Ivy congelou. Ela reconhecia aquele som. O desespero caiu sobre ela como uma onda.
— Não... — sussurrou, com a voz falhando. Seu olhar voou para o irmão, debilitado e encharcado de sangue. — É agora. A execução...
Lucian a observou, notando o pânico tomar conta dela. Ele fechou os olhos por um breve momento, refletindo sobre o caos interno que estava enfrentando. A ideia de vê-la morta apertava seu coração mais do que estava disposto a admitir.
— Ivy... — começou, sua voz carregada de algo diferente agora, um peso. — Escute-me com atenção.
Ela o encarou, com as mãos trêmulas agarrando o braço de seu irmão.
— Você não precisa morrer. Nem ele. Mas vai precisar me ouvir.
Ivy o olhava desconfiada, o olhar oscilando entre ódio e desespero.
Lucian respirou fundo e se aproximou.
— Eu sei o que você significa para mim. E, acredite, isso não é algo que eu queria... Mas não posso mudar que a Deusa da lua escreveu. Não sem destruir ambos. É por isso que estou propondo um acordo.
— Um... acordo? — perguntou ela, com a voz trêmula, enquanto o eco da sentinela continuava a soar.
Lucian assentiu, sua expressão rígida.
— Você vai casar comigo. Aceitar ser minha Luna.
Ivy o encarou como se ele fosse louco, abrindo a boca para retrucar, mas ele levantou uma mão, silenciando-a.
— E, em troca, o seu irmão será libertado. Assim que o casamento for oficializado, ele poderá partir. Sem olhar para trás, sem consequências.
— E o que você ganha com isso? — ela desafiou, ainda lutando contra a ideia e descrente. — O que eu ganho com isso?
— Você ganha tempo. O tempo que precisa para dar à alcateia o que ela espera: um filho homem. Um herdeiro.
Os olhos de Ivy se estreitaram, cheios de incredulidade e nojo.
— Você quer me usar para... ter um filho?
— É isso ou sua morte. — Lucian se inclinou, a voz afiada como uma faca. — Mas, se aceitar o acordo, depois que o nosso filho nascer, você terá minha palavra: poderá ir embora. Para onde quiser. Livre.
Ivy ficou em silêncio, cada músculo de seu corpo tenso, processando as palavras dele.
— E como posso acreditar em você? — ela disparou, com os olhos cheios de lágrimas.
Lucian não respondeu imediatamente. Ele apenas a encarou com intensidade e respondeu:
— Minha palavra é a única coisa que resta deste caos que me tornei. E juro por minha alcateia, pelo meu sangue, que, se fizer sua parte, cumprirei o que prometi.
A decisão pairava no ar como uma tempestade iminente, a sentinela continuando a soar, e Ivy sabia que o tempo estava se esgotando.
Os gemidos fracos de Ethan ecoavam na masmorra enquanto dois curandeiros da alcateia o colocavam cuidadosamente em uma maca improvisada.Ivy permaneceu ao lado dele, segurando sua mão com firmeza, sentindo cada fragmento de dor do irmão como se fosse dela mesma.— Você precisa cuidar das suas feridas, Ethan — disse Ivy, a voz embargada.— E você precisa sair daqui — ele respondeu, tossindo. A fraqueza era evidente, mas havia fogo em seus olhos, mesmo quando estavam pesados de exaustão.O curandeiro lhe aplicou um unguento nas feridas abertas enquanto Ivy se inclinava, acariciando os cabelos suados dele.— Não se preocupe comigo. Eu vou dar um jeito, Ethan. Prometo.Mas antes que pudesse dizer mais, a porta de ferro rangeu. Lucian entrou, sua presença preenchendo o espaço como uma tempestade.— Ele vai viver. — Disse Lucian, de maneira seca, com os olhos focados em Ivy. — Agora você vem comigo.Ivy lançou um último olhar ao irmão, sabendo que ele seria levado à enfermaria. Seus lábios
Ivy sentiu os olhares perfurando sua pele enquanto caminhava ao lado de Lucian. Os membros da alcateia estavam em silêncio, mas seus olhos eram cortantes. Ela sabia o que diziam. Sabia o quanto os desprezavam. E pior: sabia que a presença de Lucian ao seu lado não fazia as coisas mais fáceis. Para todos ali, ela era apenas uma intrusa, a nova Luna que precisaria se provar a todo custo. E Ivy, embora tentasse ocultar, se sentia perdida nesse jogo.— Você está bem? — A voz de Lucian, finalmente, cortou o silêncio.Ele a olhava de lado, com seus olhos frios como a noite. Não havia preocupação no tom, apenas uma indiferença calculada.— Claro. — Ela respondeu, tentando manter a compostura. Ela não iria ceder ao desconforto deles. Não agora, não nunca. — Só me sinto em casa aqui. — Disse com sarcasmo.Lucian ignorou, sua expressão de pedra nunca vacilando. Eles avançaram mais alguns metros até estarem no lado interno da casa da alcatéia, e seguiram até o que Ivy percebeu, ser o salão de m
Ivy se virou em frente ao espelho pela última vez enquanto as mulheres ao seu redor terminavam de ajustar o seu vestido. O azul celeste abraçava seu corpo delicadamente, realçando a palidez de sua pele e o brilho de seus olhos intensos. Apesar da indignação de ser moldada como um objeto, por um momento, ela não reconheceu o próprio reflexo.Ela mal suportava o peso daqueles toques "delicados". Como alguém poderia achar que um vestido ou cabelos trançados poderiam mascarar o furacão que ela sentia por dentro? Ela não era apenas outra peça naquele jogo implacável. Não poderia ser.Antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, a porta do quarto se abriu, revelando Lucian.— Está pronta? — ele perguntou, sua voz firme preenchendo o ambiente antes que pudesse vê-la completamente.Quando seus olhos a captaram, Lucian parou. Ele não era um homem facilmente surpreendido, mas ali estava ela, uma versão de Ivy que ele não esperava. Seu olhar deslizou do cabelo vermelho, agora caind
O peso no ar parecia maior conforme os anciãos avançavam em direção a Ivy. Eles eram vultos de autoridade, com passos lentos e olhares que intimidavam até os lobos mais experientes. Ivy respirou fundo, seus dedos entrelaçados em um esforço visível para disfarçar o nervosismo.Quando ficaram próximos, ela os saudou com um pequeno aceno de cabeça, mantendo um tom educado, embora sua voz traísse um leve tremor. — É uma honra conhecê-los pessoalmente, senhores. — Ivy falou, tentando manter um sorriso, apesar de não tolerar nem um pouco a existência daqueles homens.No entanto, Ivy percebeu que se quisesse sobreviver naquele lugar, precisaria aprender a fingir e ignorar seus reais sentimentos.Mesmo assim, os anciãos sequer reagiram a sua tentativa de aproximação. Suas expressões permaneceram imóveis, suas vozes inaudíveis enquanto sussurravam entre si. Sem nem dirigir uma palavra a Ivy, ou mísero olhar, fizeram um gesto chamando Lucian.— Alfa. Precisamos falar em particular. — a voz gra
Assim que Lucian entrou naquela sala com os anciões, Ivy começou a caminhar entre as pessoas, tentando não chamar atenção. Cada riso distante e olhar furtivo parecia uma crítica velada, como se ela fosse uma intrusa no mundo ao qual Lucian pertencia. A sensação de deslocamento era sufocante.Talvez voltar para o quarto fosse a melhor opção.Enquanto atravessava o salão, ela tentou desviar de um dos serviçais carregando bandejas. Sua atenção dispersa, somada ao tumulto ao redor, fez com que esbarrasse na pessoa, e tudo pareceu acontecer em câmera lenta: o equilíbrio perdido, a bandeja balançando no ar, e a certeza de que cairia no chão com um estrondo.Mas, antes que pudesse atingir o solo, mãos firmes a seguraram pela cintura, erguendo-a de volta com facilidade. Ivy ergueu os olhos rapidamente, o coração batendo descompassado. A figura que a amparava era alta, poderosa e imediatamente familiar. O olhar claro e penetrante era inconfundível.— Você está bem? — perguntou o homem, sua voz
O ar da noite era morno, perfumado pelo aroma das flores do jardim da alcateia. A lua cheia pairava alta no céu, sua luz prateada iluminando tudo com um brilho mágico e quase irreal.Ivy caminhava ao lado de Alaric, o coração inquieto, ora observando o homem que parecia impenetrável, ora se perdendo na beleza do cenário.— Não esperava que o jardim fosse tão... calmo — Ivy comentou, tentando quebrar o silêncio enquanto seus passos ecoavam em uníssono no caminho de pedra.— Surpreendente vindo de Lucian, não acha? — Alaric replicou, a voz carregada de uma ironia sutil, que fez Ivy desviar os olhos, sem saber como reagir.Eles atravessaram um caminho lateral e passaram diante de uma sala anexada à casa principal. As janelas estavam entreabertas, e Ivy mal pôde conter o susto ao ouvir a voz grave e autoritária de Lucian de dentro.— ... deixe que ele faça isso. Se é guerra que ele está pensando em criar, vai ter. Minha palavra segue imutável. Vamos aguardar, mas, se for necessário que ha
Alaric deu um passo para trás, ainda sorrindo, mas seus olhos brilharam com algo mais. Algo que Lucian não parecia ter percebido.— Interessante... — murmurou Alaric antes de se virar para Ivy, dando-lhe um olhar de despedida que a fez estremecer. — Conversaremos em outra ocasião. Boa noite, Ivy.Ele saiu sem pressa, deixando Lucian e Ivy a sós sob a luz prateada da lua. E, enquanto Ivy encarava o alfa, que parecia pronto para explodir, seu coração batia descontrolado.O que quer que estivesse acontecendo ali, ela sabia que estava no centro de algo muito maior do que poderia imaginar.Lucian não dissera mais nada, enquanto a noite parecia ainda mais escura enquanto ele guiava Ivy de volta à mansão principal.Ele permaneceu em silêncio, mas a fúria em cada passo seu falava mais do que qualquer palavra. Ivy quase podia ouvir o zumbido de sua raiva contida.O ar de dentro da mansão estava diferente, carregado, como se refletisse o humor de Lucian. Quando chegaram ao corredor, em direção
Capítulo 13A mansão estava envolta em um silêncio inquietante, interrompido apenas pelos estalos das madeiras antigas e o uivo ocasional do vento lá fora. Ivy caminhava de um lado para o outro no grande salão, sua inquietação evidente enquanto olhava repetidamente para a porta principal. Barulhos vindos da floresta haviam perturbado sua noite, sons que não pareciam naturais, como rosnados e gritos abafados.Ela estava ansiosa e cheia de medo, seus pensamentos eram um turbilhão. Algo estava acontecendo, e a ausência de Lucian tornava a espera ainda mais insuportável.Horas mais tarde, a porta da frente se abriu.Lucian entrou como uma tempestade, e a visão dele fez Ivy parar no meio do salão, enquanto seu coração parava por um momento ao vê-lo. Ele estava coberto de sangue, sujeira e folhas, os olhos dourados brilhando com uma intensidade assustadora, como brasas sob a pouca luz.— Lucian! — Ivy exclamou, correndo até ele, embora hesitasse antes de se aproximar completamente. — O que